Expressões como “amor à primeira vista”, “borboletas na barriga”, “alma gêmea” e outras do gênero são formas lúdicas usadas para tentar explicar o que para muitos não tem explicação: a paixão. Mas será que realmente não existe uma resposta física para esse ato tão comum e ao mesmo tempo complexo em que acontece durante toda a vida humana?
Neste domingo, 12, quando é comemorado o Dia dos Namorados, deixamos de lado todas as licenças poéticas da data e fomos atrás da ‘fórmula do amor’, buscando entender o que ocorre com os nossos corpos quando nos apaixonamos ou nos “prendemos por vontade” ao amor. Em conversa com o professor da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Marcos Brandão, doutor em química pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), procuramos entender como nosso corpo reage e funciona quando vivenciamos esses sentimentos.
Amor
Ao longo dos anos o amor sempre foi um dos maiores contrassensos vividos pela humanidade. Com o poder de unir nações, mexer com a cabeça dos homens e mulheres mais poderosos do mundo e ditar os rumos da história. Esse, com certeza, é um dos sentimentos mais presentes em nossas vidas.
Ao ser traduzido em palavras por poetas e escritores, o amor sempre foi conhecido como uma contradição da natureza humana. Luiz de Camões disse que o “amor é fogo que arde sem se ver”; Mario Quintana que “amar é mudar a alma de casa”; e Carlos Drummond conclui que “se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis.”.
Se pela escrita esse sentimento é sempre caracterizado pela falta de objetividade, na área biológica não precisa dar tantas voltas para encontrar a resposta para o ato de amar. A resposta pode estar na produção de ocitocina, mais conhecida como “hormônio do amor”. A ocitocina é produzida no hipotálamo e cumpre diversas funções no organismo, entre elas a de desenvolver apego e empatia entre pessoas.
Diferente da paixão, motivada em grande escala por hormônios sexuais, o amor se baseia em algo mais estável. Para se ter uma noção da influência deste hormônio na construção do sentimento, é durante o parto ou na amamentação que o corpo da mulher produz grande quantidade de ocitocina, o que explica o chamado maior dos amores, o amor de mãe.
Brandão explica que a ocitocina é a grande responsável pela construção de relacionamentos na vida das pessoas, sendo que no caso do amor, por se tratar de uma relação baseada na confiança e na estabilidade, ela cumpre papel biológico fundamental. “A ocitocina é o ‘hormônio do amor’, porque no amor você está mais estabilizado, mais calmo, mais afetivo, já não tem mais aquela tensão tão grande da paixão. O amor constrói mais, por isso, falo que a ocitocina é o hormônio do afeto, o amor precisa desse pilar do afeto. ”
Paixão
Diferente do amor, a paixão é instantânea. É aquela sensação da boca seca, das pernas tremendo e da falta de ar. A paixão é eletrizante. É intensa. É quente. É o coração que pula no peito. É agir antes de pensar e não ter medo nenhum da entrega.
Ao contrário do amor que demanda certa conexão e construção de relacionamento, com certeza grande parte dos homens e mulheres já sentiu os efeitos da paixão. Seja através do olhar, da fala, ou mesmo no pensamento, é comum se encontrar apaixonado por alguém.
Assim como no amor, também existe um processo químico que explica toda essa entrega entre duas pessoas. Esse pico de emoções pode ser explicado pela produção de adrenalina. “O batimento cardíaco aumenta, assim como o calor, e isso é em função da adrenalina, que aumenta o fluxo sanguíneo”, comenta Brandão.
Podemos dizer que a paixão é mesmo um turbilhão de hormônios. A testosterona e a progesterona apresentam pico de produção entre os apaixonados e são eles que provocam o sentimento de euforia.
Mas se você é daqueles que acredita que se apaixonar é uma perda de tempo, pense novamente. Além dos vários benefícios que a paixão traz para a alma das pessoas, fisicamente também já foram comprovados ganhos para os envolvidos na relação. Segundo o pesquisador, “recentemente, foi detectada uma substância chamada NGF (Neuronal Growth Factors – fator de crescimento neural) que é importante para o crescimento, manutenção e sobrevivência de determinados neurônios (células nervosas). Nas pessoas apaixonadas, foi detectada essa NGF, que aumenta, por exemplo, seu poder de memória”.
Dieta da paixão
Já não é de hoje que muita gente apela para os mais diversos truques na busca de encontrar a pessoa amada. Vale deixar Santo Antônio de castigo, fazer simpatia, ou mesmo procurar a cartomante que ‘traz a pessoa amada em até três dias’. Na cultura popular também tem gente que afirma ser possível ‘pegar’ o par perfeito pela barriga. Mas será que isso funciona mesmo?
Sim, os alimentos influenciam de maneira significativa no comportamento afetivo das pessoas. Difícil de acreditar? Pense naquele jantar romântico, onde não pode faltar um bom vinho e aquela seleção especial de queijos. Segundo Brandão, estes alimentos não estão ali somente pelo apelo emotivo, mas sim pelos compostos químicos. “No vinho tem uma substância chamada resveratrol, que aumenta a concentração de testosterona (hormônio do prazer, da libido) no nosso organismo. Já os queijos possuem aminas, compostos orgânicos que aumentam a produção de algumas enzimas para que ocorra o processo metabólico, enzimas essas que metabolizam também a dopamina e a serotonina, conhecidos hormônios do prazer. Essa influência dos alimentos em relações afetivas se repete em casos como o das comidas consideradas afrodisíacas como as ostras, a catuaba e a pimenta, por exemplo.
Além dos alimentos, alguns hábitos diários também causam interferência nos relacionamentos. “No verão, quando tomamos muito sol, os níveis de vitamina D aumentam, aumentando, assim, o nível dos hormônios sexuais, como a testosterona”, explica o professor.
Mas vale lembrar que, acima de tudo, a química explica apenas a reação dos nossos corpos, nenhum cientista ainda foi capaz de compreender a origem do sentimento, elucida Brandão. “Acho que a química não consegue explicar a origem nem da paixão nem o amor. Para mim, esses dois só podem ser explicados pela alma. E é bom que seja assim, é bom que o amor não seja científico, e sim espiritual. O amor está na alma e é bom que fique por lá”.