Apresentações de experiências positivas e debate sobre iniciativas inovadoras no ensino marcaram, nesta quarta, 1º, o lançamento da nona edição da Revista A3, da UFJF. O evento, realizado na Faculdade de Educação (Faced), teve o objetivo de expandir a matéria de capa “Em busca de uma escola inclusiva e transformadora”, que abordou o case do Centro Educacional de Referência Herval da Cruz Braz, em Juiz de Fora. O evento reuniu docentes, alunos, técnicos e representantes da administração superior da Universidade, educadores do Colégio João XXIII e de escolas estaduais e municipais da cidade, além da comunidade em geral.
Professor da UFJF e líder do Grupo Multidisciplinar Equidade, Políticas e Financiamento da Educação Básica no Brasil, Eduardo Magrone contou sobre sua pesquisa no Herval, cujo desafio da gestão escolar e do corpo docente era obter resultados positivos de alunos renegados em outras escolas, alguns com três reprovações, muitos com notificações de indisciplina e de atos condenados no ambiente de ensino.
Segundo Magrone, a gestão desenvolvida no período da pesquisa na instituição é exemplo de uma política de inclusão do aluno, independentemente do seu perfil. “Focado em trabalhar com estudantes com altos índices de repetência e grandes probabilidades de evasão escolar, o Centro foi capaz de formar uma equipe coesa, que possibilitou o projeto”, explicou. Para ele, além de recursos e vontade política, também é preciso uma mudança da própria cultura escolar. “É necessário lembrar que a qualidade não é ausente na educação brasileira. Precisamos trabalhar para evidenciá-la.”
Muito com pouco
Em seguida, a professora do Colégio de Aplicação João XXIII, Rosângela Ferreira, expôs o projeto As múltiplas linguagens no ensino de geografia e história: dimensões de letramento. O projeto, que recebeu distinção do Ministério da Educação (MEC) como prática inovadora, busca ampliar o vocabulário das crianças nos campos de história e geografia por meio de leituras planejadas coletivamente. Utilizando linguagens lúdicas e técnicas (de literatura a mapas), Rosângela busca promover a exploração da experiência dos alunos de ensino fundamental sob uma reflexão crítica.
“Nosso objetivo é romper com visões de mundo unilaterais, trabalhar com eixos temáticos multidisciplinares e promover inclusão e aceitação da diversidade dos alunos. O resultado disso é o reconhecimento desse trabalho de formiguinha, especialmente vinda de outros educadores. No João XXIII, isso significou a incorporação dessa metodologia. Na educação e na pesquisa, nós precisamos fazer muito com pouco”, observou.
Coube à diretora da Escola Estadual Maria Ilydia Resende, Marines Miranda Esteves, a terceira fala do evento. Gestora do colégio que atende os bairros Olavo Costa, Vila Ozanan e Furtado de Menezes, seu primeiro desafio foi lidar com os diversos problemas sociais que envolviam a Escola. Ela apontou, com visível satisfação, que não existem mais sinais de vandalismo no espaço de ensino, tendo sido construído um sentimento de pertencimento com os alunos.
Entre as reformas promovidas na instituição estão algumas literais – como a restauração da Sala de Recursos, voltada para o ensino especial, e da quadra poliesportiva – e outras estruturais, como a criação do Grêmio Estudantil. Iniciativas para a inclusão das comunidades e do corpo docente e para o desenvolvimento do projeto Roda de Conversa: Papo Firme. Nesse, egressos do colégio conversam com os alunos atuais, incentivando a entrada para o ensino superior.
Deficiência do olhar
Já a subsecretária de Articulação das Políticas Educacionais, Andréa Borges de Medeiros, abordou as políticas que vêm desenvolvendo à frente da pasta, com foco na inclusão de alunos com necessidades especiais. Segundo ela, o grande desafio é pensar uma educação inclusiva e emancipatória na escala da rede municipal, que abrange 55 mil alunos e 15 mil professores e cuja estrutura oferecida pelos colégios municipais atualmente inclui 44 salas de recursos, distribuídas em 40 escolas e atendendo 650 alunos com deficiência.
Além disso, o trabalho de inclusão passa pela formação de professores especializados às necessidades específicas dessas turmas, disponibilização de professores e técnicos de libras e elaboração de técnicas pedagógicas integradoras. Tudo isso construído do diálogo entre o poder público e representantes dos gestores e alunos da rede municipal. “Frequentemente, a deficiência do nosso olhar sobre o outro é muito mais deficiente e limitadora do que a própria deficiência. É preciso promover o protagonismo dos alunos, sua ocupação do espaço, no ensino e na cidade”, disse.
Para além dos pares
O evento contou com a presença da pró-reitora de Pós Graduação e Pesquisa, Mônica Ribeiro de Oliveira; do vice-diretor da Faculdade de Educação, Paulo Henrique Dias Menezes; e do pró-reitor adjunto de Graduação, Cassiano Caon Amorim. Eles enfatizaram a importância de uma publicação cultural e científica como a A3, no sentido de difundir os estudos desenvolvidos na instituição não apenas para os pares dos pesquisadores, mas para outras áreas dentro da academia e para a comunidade em geral.
O diretor de Imagem Institucional da UFJF, Márcio Guerra, enfatizou a A3 como forma de valorizar os pesquisadores da instituição. “A revista cumpre sua função de dar um retorno para a comunidade acadêmica e para a própria sociedade brasileira sobre o que está sendo produzido dentro do âmbito universitário e sobre os desdobramentos das pesquisas realizadas. E este é o papel da Universidade.”
A nona edição da Revista A3 está disponível on-line pelo link.