Marcos Chein: "sou profundamente grato ao trabalho de cada pró-reitor, cada diretor, cada coordenador, pessoas que arregaçaram as mangas, saíram de suas salas e foram a campo, o que foi essencial para a sensação de dever cumprido no término desta gestão"

Marcos Chein: “Sou profundamente grato ao trabalho de cada pró-reitor, cada diretor, cada coordenador, pessoas que arregaçaram as mangas, saíram de suas salas e foram a campo, o que foi essencial para a sensação de dever cumprido no término desta gestão”

O vice-reitor Marcos Chein, concluiu, na quarta-feira, dia 6, um período de quatro meses à frente da gestão da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Nesta data, completou o ciclo iniciado em setembro de 2014 pelo ex-reitor Júlio Chebli (que renunciou em novembro de 2015) e tomou posse em Brasília o novo reitor eleito pela comunidade acadêmica, Marcus David. O Portal da UFJF entrevistou Marcos Chein a respeito de sua experiência neste período de gestão, como Vice e como Reitor em exercício, e de suas reflexões sobre os desafios enfrentados e os avanços conquistados.

O período, que teve início em setembro de 2014, foi bastante atípico. Além de uma drástica redução orçamentária, 2015 foi marcado por um longo período de greves de servidores técnico-administrativos e docentes que durou de fins de maio a meados de outubro. Esses fatores impactaram significativamente pontos importantes da gestão universitária. Em que pesem esses percalços, Chein encerra o mandato com uma análise sobre as conquistas do período, enfocando a questão organizacional e a transparência como pontos fundamentais nesta etapa de desenvolvimento da instituição.

Portal: Qual a filosofia de gestão que norteou as ações do reitorado?

Marcos Chein: Inicialmente, procuramos buscar uma procedimentalização das ações, o que significa não só legalizar, mas regulamentar e aprimorar os processos dentro da Universidade. Isso porque acreditamos que quanto maior o nível de regulamentação, menor a possibilidade de concessão de privilégios e também de perseguições dentro da instituição. Outra questão muito importante foi uma luta pela organização administrativa e a valorização do Técnico-administrativo em Educação como especialista em suas áreas dentro da universidade – profissionais que têm expertise e condições de avaliar o melhor funcionamento dos processos na instituição. Enfim, procuramos sempre nos orientar por uma construção coletiva de ações e decisões político-administrativas.

Portal: Quais as mudanças priorizadas pela gestão?

Marcos Chein:  Promovemos mudanças no sentido de pararmos de correr riscos desnecessários. Nos primeiros meses da gestão percebemos que havia uma série de demandas de órgãos de controle e órgãos judiciais que cobravam respostas da Universidade e adequações. A UFJF possui autonomia administrativa e financeira, mas precisa dar conta do que faz com o dinheiro público, ter responsabilidade com esse dinheiro e justificar quando questionada. Nesse sentido, o cuidado com a informação na gestão foi preponderante. Nos últimos quatro meses em que substituí de forma mais definitiva o reitor, o objetivo central da administração foi o diálogo e a prestação de contas, deixando a comunidade tanto interna quanto externa informada. Nesse sentido, sou profundamente grato ao trabalho de cada pró-reitor, cada diretor, cada coordenador, pessoas que arregaçaram as mangas, saíram de suas salas e foram a campo, o que foi essencial para a sensação de dever cumprido no término desta gestão.

O mais interessante que pude perceber no encerramento deste ciclo é a superação daquela noção do gestor como um ente isolado e todo-poderoso

 

Portal: Em relação à gestão. quais os principais avanços e conquistas que você destacaria ?

Marcos Chein: Depois de muito trabalho, conseguimos instalar o Fórum de Segurança que era um compromisso nosso com os estudantes presentes na ocupação da reitoria ocorrida em maio e junho de 2015. Também podemos destacar o pagamento das bolsas de apoio e todas as demais, mesmo nesse período de cortes. Atividades rotineiras como assinaturas de contratos, licitações e respostas aos órgãos de controle também devem ser destacadas. Procuramos dar respostas diretas e francas, em uma mudança de atitude em relação tanto às cobranças de órgãos de controle internos e externos, quanto dos órgãos judiciais. Buscamos nesse período mostrar que a UFJF está disposta a mudar sua postura para o que for benéfico, sobretudo, ao interesse público e ao ensino, à pesquisa e à extensão, que é o tripé que norteia nossas ações dentro da Universidade. Também destaco a criação dos novos portais da UFJF, no sentido de ampliar o acesso à informação e promover maior diálogo com nossos públicos, interno e externo. Há, ainda, as reformas no processo de planejamento, como a criação do escritório de processos, que vejo que pode vir a gerar frutos no futuro, sem falar da maior aproximação física e estrutural dos técnicos responsáveis pela regulação e pelo censo acadêmico.

Portal: Em relação à melhoria no ensino e ações ligadas ao bem-estar do estudante, o que merece destaque?

Marcos Chein: A discussão sobre a moradia estudantil, com a criação da comissão formada por estudantes, professores, TAEs e pela administração com o objetivo não só de criação de um regulamento de uso do espaço mas também de apontar reformas necessárias para a ocupação do espaço foi um ponto muito importante. As ações da Diretoria de Ações Afirmativas, criada nesta gestão, e suas várias campanhas, como a Semana da Mulher, o Mês da Consciência Negra, o combate à transfobia (Libera meu xixi), entre outras, mostraram que a Universidade se posiciona em debates relativos à vida cotidiana da sociedade, enfrentando as opressões e combatendo os preconceitos. Além disso, aprovamos projetos pedagógicos próprios para sete cursos do campus de Governador Valadares: Administração, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Educação Física, Farmácia e Nutrição. Buscamos a valorização e a reestruturação dos cursos de Licenciatura e estabelecemos um plano de ação com vistas ao oferecimento de apoio pedagógico, psicológico e financeiro aos estudantes. Na questão da internacionalização também tivemos avanços, alcançamos a marca de 137 convênios bilaterais, estabelecidos diretamente com instituições estrangeiras, envolvendo 25 países, contando com o vínculo com quatro redes internacionais, chegando a um total de 232 instituições em 45 países. Só em 2015 foram abertos 11 novos convênios.

Portal: E quanto à pesquisa e à extensão?

Marcos Chein: Deixamos clara nossa preocupação em aproximar a Universidade da comunidade. Tivemos várias ações extensionistas, que, além de ampliarem este diálogo, também promoveram melhorias no ensino e na pesquisa. Na pós-graduação tivemos avanços muito relevantes. Foram aprovados três doutorados: Saúde Coletiva, Educação Física e Comportamento e Biologia Animal; dois mestrados acadêmicos: Administração e Ciências da Reabilitação e Desempenho Físico-funcional (Fisioterapia); dois mestrados profissionais: ProfBio (em Juiz de Fora e em Valadares) e Administração Pública; e para o Campus de Governador Valadares, foi aprovada a associação ao Programa Multicêntrico de Pós-Graduação em Bioquímica e Biologia Molecular (PMBqBM), com Mestrado e Doutorado. Um avanço importante também foi a reativação das reuniões periódicas do Fórum de Coordenadores de Pós-graduação, o que facilitou diagnosticar as necessidades de cada programa para possibilitar um atendimento mais eficaz. Mesmo sendo um ano de crise, conseguimos 601 bolsas de extensão, sendo 535 em projetos (347 em execução) e 61 em programas (20 em execução), atendendo um público estimado de 450 mil pessoas. Levando em consideração os cursos e os eventos conseguimos atingir com nossa política de extensão um público de 55 mil pessoas, com aproximadamente 30 mil certificados emitidos.

Portal: Mesmo com cortes orçamentários, houve conclusões relativas à melhoria da infraestrutura da UFJF.

Marcos Chein: É importante destacar que o setor que sofreu as mais fortes restrições orçamentárias foi o orçamento de capital, no qual estão os recursos para obras. Neste cenário, nossa orientação foi a de concluir as obras em estágio mais avançado e priorizar as que mais impacto trazem para a vida acadêmica. Foram concluídas as obras dos prédios da primeira plataforma do campus (Letras); a reforma do prédio do Centro de Gestão do Conhecimento Organizacional (CGCO); a reforma do prédio do DCE; além das obras civis para a implantação do Jardim Botânico. Houve, também, a finalização da implantação das luzes de LED; a complementação do novo prédio da Faculdade de Medicina; a ampliação do laboratório de Zoologia do Centro de Biologia da Reprodução (CBR); e a ampliação do estacionamento da quarta plataforma (Critt/IAD/Engenharia). Também está bem avançada (94%) a construção do Centro Didático de Astronomia, que contempla o planetário e observatório e a construção do prédio da Fisioterapia (86%). E o melhor: estamos terminando o reitorado com as finanças em dia.

Portal: Qual foi o seu balanço pessoal sobre seu período à frente da reitoria?

Marcos Chein: O mais interessante que pude perceber no encerramento deste ciclo é a superação daquela noção do gestor como um ente isolado e todo-poderoso. O reitorado é um processo coletivo. Quando chamo TAEs, docentes e estudantes para discussão, objetivo criar um ambiente propício para um trabalho coletivo. Sem essas pessoas, não teria conseguido terminar o meu trabalho e o mandato com tantos avanços. Foram muitas reuniões que trouxeram soluções e novos olhares para tomadas de decisões. Não acho que a Universidade precise de grandes reformas. Acho que precisa de reformas em pequena escala, pontuais, em que possamos perceber que o trabalho de pessoas, às vezes subaproveitadas, ganha uma nova e maior dimensão com o diálogo. E assim estas pessoas fornecem subsídios para que o reitor possa tomar as melhores decisões.

Portal: Como foi o processo de transição?

Marcos Chein:  Um dos pontos da transparência que falamos se refletiu na intensa troca de informação durante o processo de transição. Procuramos detalhar todos os nossos problemas e obstáculos para os novos gestores. É uma preocupação que sempre tive comigo como educador: de entregar tudo aquilo que sabemos para o outro, devemos ser generosos e doar tudo o que temos durante o processo de construção coletiva de uma universidade mais humana, acolhedora e plural.