Marcone Augusto Leal de Oliveira, professor do Departamento de Química, foi um dos que participaram da campanha (Foto: Caique Cahon)

Marcone Augusto Leal de Oliveira, professor do Departamento de Química, foi um dos que participaram da campanha (Foto: Caique Cahon)

A campanha “Quantos professores negros você tem?” (#nãoécoincidência) desenvolvida pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) como parte das celebrações do mês da Consciência Negra, no ano passado, ganhou novo fôlego esta semana, com o crescimento da repercussão nas redes sociais. Ao todo, postagens relacionadas à campanha viralizaram em sites de valorização da cultura negra, de notícias e de entretenimento. Foram mais de 32 mil curtidas e de sete mil compartilhamentos trazendo à tona a discussão apresentada pela UFJF durante mais de um mês de debates e discussões, sobre a baixa presença de professores/as negros/as nas salas de aula, a implementação da Lei 10.639/03 e 11.645/08 na educação básica, graduação e pós, religiões afro-brasileiras, questões sobre afrodescendência e periferia na literatura brasileira, injúria racial e crime de racismo, saúde, corpo e racismo, o negro no cinema entre muitos outros temas.

Segundo a diretora de Ações Afirmativas da UFJF, Carolina Bezerra, a repercussão, mesmo que tardia, é importante para voltar a atenção da sociedade sobre essas questões tão urgentes. “Campanhas como essa são pensadas com embasamento teórico dos estudos na área das teorias racistas e anti-racistas e das relações étnico-raciais, aliada aos estudos e pesquisas no campo da comunicação, a partir da escuta atenta e cuidadosa das reivindicações e demandas dos movimentos sociais.”

Ainda conforme Carolina, essas campanhas alcançam além de alunos/as, professores/as e TAEs , também a comunidade externa e a sociedade civil. No processo de elaboração da peça, foram convidados/as todos/as os/as professores/as que identitariamente se reconhecem como negros/as na universidade. “O convite foi feito independentemente do grupo político ou da filiação partidária a qual pertençam, demonstrando também que a elaboração de políticas públicas e institucionais nessa área, não podem prescindir da dimensão ética, política e plural que agrega e acolhe todos os grupos existentes em uma universidade.”

Segundo levantamento recente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)  de um total de 383.683 docentes de instituições de ensino superior públicas e particulares do país, apenas 5.154 se declararam negros, o que representa 1,34%. Na UFJF, segundo levantamento da Diretoria de Ações Afirmativas, foram cerca de 20 em um universo de mais de mil professores.

Na continuidade do trabalho referente a outros índices alarmantes relacionados à população negra, a diretora de Ações Afirmativas participou, no último fim de semana, nas cidades de Além Paraíba, Leopoldina e Cataguases, de uma série de debates sobre o genocídio da juventude negra no Brasil, a convite do relator da CPI que investigou o assassinato de jovens negros e pobres no país, deputado Federal Reginaldo Lopes e do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputado Estadual Cristiano Silveira. “Nosso intuito foi aproximar a academia do poder público, articulando o ensino, a pesquisa e a extensão, que trabalham com esses temas, a fim de subsidiar a elaboração de políticas públicas para combater e sensibilizar a população sobre o genocídio da juventude negra. Segundo o relatório da CPI 80% dos jovens que morrem no Brasil são negros. Enquanto houve queda de 32,3% no homicídio de brancos entre 2002 e 2012, o de jovens negros cresceu 32,4% no mesmo período”, destaca Carolina.

A apresentação do relatório será trazida para Juiz de Fora no próximo mês, em um evento da UFJF em parceria com a Câmara Municipal, Secretaria Estadual de Educação e integrantes do movimento negro.

Atualizada em 11/02 às 16h