O pesquisador convidado para participar do Ciclo de Conferências Científicas do Instituto de Ciências Biólogicas (ICB) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Giovane Tortelote, expôs seu trabalho junto à equipe de criação do Biobanco Nacional de Células-tronco de pluripotência induzida, as chamadas células iPS, nesta terça-feira, dia 26. Tortelote apresentou os métodos utilizados para disponibilizar os materiais biológicos do biobanco para todas as pesquisas no país – e como, através deles, é possível obter curas e novos tratamentos para distúrbios genéticos, como a Síndrome de Down, e doenças como uma das maiores epidemias do século, a doença renal crônica (DRC), cujos sintomas silenciosos podem atingir cerca de 15 milhões de brasileiros, segundo dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN).
Entenda o potencial das células-tronco iPS
“Nossas células-tronco têm a capacidade, depois de geradas em nosso organismo, de se dividir e, quando estimuladas de uma determinada forma, se transformar em qualquer tipo de célula”, explica Tortelote. “No entanto, as células-tronco que nós produzimos também possuem um limite biológico de divisão, ou seja, só conseguem se dividir um certo número de vezes. As células-tronco iPS, no entanto, não obedecem a esse limite e ainda apresentam vantagens éticas.”
Um exemplo destas vantagens é que, com a descoberta científica das células iPS – ou seja, de que era possível reprogramar uma célula adulta para operar as mesmas funções de uma célula-tronco embrionária, como o poder de se transformar em células destinadas à variadas partes do organismo – elimina-se o dilema ético de manipulação de embriões humanos, a polêmica que cerca o uso de células-tronco embrionárias até hoje. Já com o advento das iPS, é possível a disponibilização do material biológico das mesmas em um biobanco nacional, como expõe Tortelote, e sua utilização para obtenção de novos fármacos, estudos e tratamentos de doenças. “Além disso, o risco de rejeição no corpo do paciente, com o uso das células iPS, é praticamente inexistente. Temos a oportunidade de fazer uma medicina individualizada. Somando tudo, podemos concluir que esse tipo de célula é uma ferramenta única para estudos de biologia celular e molecular de doenças específicas.”
“Ciência não pode ser fechada, mas sim divulgada”
Tortelote ainda reforça a importância de se realizar palestras em instituições de grande porte como a UFJF, que converge estudantes, docentes e pesquisadores, além de abrir suas portas para todo público interessado no assunto. “A ciência não pode ser fechada, mas sim divulgada e traduzida não só para alunos, futuros médicos, enfermeiros, farmacêuticos e cientistas, mas também para a população em geral”, alega o pesquisador. “Isso é preciso para estimular essa conscientização e incentivo da pesquisa nacional, e só tende a contribuir e fomentar ações a favor do cenário científico do país.”
Regeneração: alternativa além dos transplantes
PhD com experiência em fisiologia humana e cultura de tecidos, área dedicada ao desenvolvimento de tecidos e células separados de um organismo, o pesquisador Giovane Tortelote trabalha junto a um grupo de cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) na construção do biobanco nacional, inclusive na área de implementação de formas de utilização de células-tronco iPS como uma ferramenta regenerativa de partes do corpo humano.
“Fui convidado a fazer parte do projeto e estou muito satisfeito com a participação e o resultado que estamos obtendo”, expressa Tortelote. “O potencial a longo prazo do biobanco a nível nacional, para nossa pesquisa e tratamento de todos nossos pacientes, é enorme. Essa é a maior motivação de todas.”
A iniciativa da criação do biobanco recebeu financiamento do Ministério da Saúde e pretende, ainda, disponibilizar dados sobre seu material através da internet. “O Brasil precisa avançar em termos de pesquisa e investimento em regeneração celular e de órgãos”, aponta Tortelote. “Atualmente, a cada dez pessoas na fila de transplante, oito estão à espera de um rim. No tratamento de doenças renais crônicas (DCR), é preciso investir em alternativas à hemodiálise e ao transplante que, muitas vezes, pode ser insuficiente: tanto o órgão doado pode não passar no teste de qualidade, quanto não durar ou se adaptar no corpo do paciente.”
Segundo dados de 2015 da SBN, o panorama relativo às DRC, tanto mundial quanto nacional, é preocupante: aproximadamente 500 milhões de pessoas no mundo apresentam algum tipo de disfunção renal; no Brasil, os gastos com transplante e tratamento chegam à marca de um bilhão e quinhentos mil reais. Segundo Tortelote, o uso de células-tronco iPS para uma terapia celular renal seria uma forte candidata para combater a doença de uma maneira mais viável, especialmente para o próprio paciente.
Outras informações:
(32) 2102-3201 / (32) 2102-3202 (Instituto de Ciências Biológicas – ICB)
Ciclo de conferências aborda criação de biobanco nacional de células-tronco