Saber os hábitos de baleias e estimar quantas habitam determinada área do mar podem colaborar para evitar que elas sejam mortas em atividades de pesca, ajudar a redefinir rotas de tráfego marinho, apontar se há redução da espécie e mesmo auxiliar para não competirem com pescadores na busca por alimento. No entanto, o caminho até a identificação do comportamento e da contagem não é simples, exige uma série de conhecimentos interligados, da biologia à engenharia elétrica, em um campo ainda com lacunas para serem exploradas. É o que têm buscado as equipes do professor Artur Andriolo, do Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas – Comportamento e Biologia Animal da UFJF, e da pesquisadora Elizabeth Thorp Küsel, da Universidade Estadual de Portland, nos Estados Unidos.
A pesquisadora brasileira veio à UFJF dar sua primeira palestra em português, na última quarta-feira, 16, inclusive com a presença da mãe e do pai – ex-oficial da marinha brasileira e o primeiro a fazer perguntas. Elizabeth e Andriolo se encontraram pela primeira vez há pouco mais de um mês, em novembro, durante congresso da Sociedade Americana de Acústica.
Os dois pesquisadores trabalham em projetos diferentes, sem associação ou vínculo institucional, mas as pesquisas desenvolvidas por ambos podem ser complementares no futuro. Andriolo e sua equipe identificaram o trajeto adotado por baleias jubarte do litoral brasileiro até a Antártica, usando equipamento monitorado via satélite implantado em nadadeira. Leia reportagem na Revista A3, da UFJF, sobre essa pesquisa.
Há quatro anos, os pesquisadores locais partiram para novo foco de trabalho: buscam caracterizar os sons emitidos por cetáceos – ordem de mamíferos que inclui baleias, golfinhos e botos. Já foram elaborados estudos com orcas, golfinhos rotadores e baleias cachalotes. Identificar o espectro sonoro de cada animal – sua frequência, potência, variações – é essencial para apontar hábitos de uma espécie, saber como se expressam acusticamente. Andriolo trabalha com projetos de bioacústica, incluindo a elaboração de equipamentos de registro de áudio. “Temos o sinal acústico. Mas há perguntas mais complexas: Quantos indivíduos tem? Esse número é constante ou vem se reduzindo ao longo de anos? Por que motivo? Há alguma influência de atividade humana?”, questiona o pesquisador.
Sensores e submarino
“Trabalho do tipo como o desenvolvido por Andriolo de identificar o comportamento acústico é muito importante para estudos que objetivam saber a densidade populacional”, afirma Elizabeth. A partir da abundância dos sons emitidos e de sua análise é possível estimar a quantidade de animais presentes em uma área. Quanto mais sons emitidos, mais alta a probabilidade de indivíduos. Consideradas as diferenças, seria como estimar a quantidade de pessoas em uma multidão a partir dos sons que emitem. O trabalho sobre densidade populacional é desenvolvido pela professora, nos Estados Unidos, e em outras partes do mundo, como a ilha de Sardenha, na Itália. Elizabeth estudou a quantidade de falsas-orcas. Em um dos estudos apontou a probabilidade de mais de 1.300 animais em ilha do Havaí, nos Estados Unidos.
O grupo de pesquisa de que faz parte conjugou conhecimentos de oceanografia, matemática, estatística, biologia e engenharia elétrica para poder inferir a densidade populacional dos animais. A própria pesquisadora está em seu segundo doutorado nos Estados Unidos, em Engenharia Elétrica, após ter feito um em Matemática e se graduado em Oceanografia, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Elizabeth e seu grupo elaborou uma metodologia, com base em modelo matemático e estatístico, que não havia sido usado em estudos anteriores, para estimar a densidade populacional. Foi preciso saber onde, como e quando o animal estava em um área (os seus hábitos), calcular a probabilidade de detecção dos sinais sonoros, a melhor distância, as possíveis distorções da propagação acústica na água, conhecer o ambiente marinho e o comportamento acústico das baleias. Foi importante saber diferenciar a vocalização delas do emaranhado de sons captados, que inclui ruídos de chuva, embarcações e mesmo outros animais. A partir do conhecimento do cetáceo estudado, programas ajudam a reconhecer o espectro sonoro em que ele se encaixa.
Para chegar à estimativa, Elizabeth utilizou nas primeiras coletas de 2007 a 2011 um hidrofone – tipo de sensor capaz de captar sons debaixo d’água. Nas buscas mais recentes, como no Golfo do México, foi desenvolvido um tipo de mini-submarino (glider) e adaptado um gravador, com o apoio de estudantes de Engenharia Elétrica, para saber como está a população de cetáceos após vazamento de petróleo. Os dois equipamentos acoplados seguem orientação e programação via satélite. As técnicas empregadas pela pesquisadora e os registros e análises realizados por Andriolo abrem perspectivas para novos estudos.
Outras informações:
(32) 2102-3223 (Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas – Comportamento e Biologia Animal da UFJF)
Laboratório de Ecologia Comportamental e Bioacústica do ICB/UFJF
Projeto em que Elizabeth küsel atuou de 2007 a 2011 para estimativa de densidade de cetáceos – Decaf
Reportagem na Revista A3 sobre monitoramento de baleias