Em vez de palestra, haverá prosa. No lugar de coffee break, café com broa. É essa a combinação que será oferecida aos participantes do 5º Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários. A opção pela culinária e linguagem informal na programação está relacionada à proposta desses tipos de espaços culturais: a valorização da vivência, do saber e da memória locais. Quadros de heróis nacionais e mobiliário nobre, por exemplo, não são o foco desses espaços, mas sim depoimentos de moradores, objetos e atividades de arte-educação que dialogam com a realidade local, como no Museu da Maré, no Rio de Janeiro, e no Ecomuseu da Amazônia, em Belém, cujos representantes estarão no encontro. O evento trará também convidados de mais regiões do Brasil, da Argentina, do México e da Itália a partir de quarta-feira, dia 14, a sábado, 17, no Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
A proposta central do evento é compreender como essas instituições museológicas contribuem para o bem viver, além de verificar como se organizam, se financiam e colaboram para a preservação do patrimônio cultural. Conforme explica um dos coordenadores do Encontro professor Marcos Olender, o saber popular salvaguardado e irradiado por esses museus e o diálogo com o conhecimento acadêmico têm o potencial de oferecer caminhos alternativos para uma das buscas primordiais do homem, a felicidade, o bem viver. Isso porque, na concepção desses grupos, a estrutura social não tem de estar sob a égide da aquisição material, do consumismo, das relações coisificadas e da estrutura vertical de poder. O Encontro se propõe a verificar se e como essas experiências ocorrem, uma vez que os museus e outras ações do gênero são pontos privilegiados que organizam, fortalecem e difundem o conhecimento popular.
O conceito de bem viver é originado do termo “sumak kawsay”, no idioma quéchua, falado em regiões do altiplano andino da Bolívia, do Equador e do Peru, de acordo com a professora Raphaela Corrêa – também na coordenação do evento. Nessa concepção, ações políticas, culturais e ambientais são contrapostas à ideia de desenvolvimentismo econômico, regulação apenas macroeconômica do mercado e homogeneidade cultural e social. O conceito visa ao respeito à diversidade social, à natureza e ao multiculturalismo, incluindo as práticas e as experiências comunitárias, que construam caminhos para uma vida mais harmônica, em plenitude.
Conhecimento popular e acadêmico
O evento é mais uma das atividades que indicam o reforço do interesse das instituições acadêmicas em comunidades tradicionais, sejam quilombolas, ribeirinhas ou de pequenos agricultores. Nessa aproximação, a produção científica, acadêmica, seria uma das formas de produção de saber e não a única considerada válida. Para isso, o Encontro mescla debates, oficinas – entre as quais sobre gestão de patrimônio arqueológico e biomapa -, visitas técnicas a quilombolas e a assentamento do Movimento Sem-Terra, exposição de artigos, lançamento de livros e música com o Batuque Afro-brasileiro de Nelson Silva, de Juiz de Fora. Nesta edição, o evento também homenageia o artista plástico e poeta Militão dos Santos, que retrata a vida cotidiana do interior do país, festas populares e paisagens em seus quadros.
Para debater o tema central, da relação entre bem viver e a relação com cultura e museus, a antropóloga mexicana Teresa Morales Lersch apresentará sua experiência à frente da Rede de Museus Comunitários da América e da União de Museus Comunitários de Oaxaca, estado localizado no Oeste mexicano. A associação americana congrega 17 instituições de 12 países com o objetivo de fortalecer a identidade e a autonomia dos museus afiliados, promovê-los e trocar experiências. Desde 2000, organiza encontros internacionais, capacitações e outras atividades.
Ainda no primeiro dia do evento, a líder quilombola Sebastiana Silva (dona Tiana) relatará histórias de luta, fé e resistência sobre a Comunidade Quilombola Carrapatos da Tabatinga, em Bom Despacho, na região Centro-Oeste de Minas Gerais. O reconhecimento do território como remanescente de refúgio de escravos é uma das conquistas locais, assim como a manutenção do moçambique, dança de matriz africana, cujo grupo na região tem dona Tiana como capitã e guardiã.
A programação do Encontro traz ainda a argentina Maribel Garcia, da Rede de Museus dos Povos de Olavarría, a representante do Museu Comunitário da Maré, Cláudia Rose Ribeiro, e um professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) para conversarem sobre concepções e contribuições dos museus comunitários, pontos de memória e ecomuseus para o patrimônio cultural. Ao fim do evento, será elaborada a Carta de Recomendações do 5º Encontro para ser encaminhada a órgãos internacionais.
Inscrição
A organização do encontro reabrirá, no primeiro dia de atividades, as inscrições presenciais. O processo on-line está encerrado. A taxa de R$ 150 para profissionais e de R$ 75 para estudantes deve ser paga na hora. O evento é realizado pela UFJF e pela Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários com o apoio de museus, institutos, secretarias e coletivos.
Confira a programação completa do 5º Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários
Outras informações: 5º Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários
eiemc2015@gmail.com