Somente a luz de um olhar atento pode realizar a difícil arte de esculpir o tempo e revelar o instante exato de uma cena memorável. Uma coleção desses momentos raros é possível encontrar na mostra fotográfica “Olhares imersos”, de Humberto Nicoline, que está em cartaz até de de março no Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Sob a curadoria de Nina Mello, a exposição reúne 80 imagens, sendo 75 inéditas, em preto e branco e captação analógica, de pessoas, lugares, animais e crianças, em situações tenras, inusitadas, de espanto e beleza em diversos lugares do Brasil e do mundo. Tiradas, em muitos casos, no intervalo entre a cobertura de uma pauta e outra – Nicoline tem experiência de mais 30 anos como fotojornalista – as obras revelam a necessidade da competência técnica e artística para o registro do momento, necessidade essa que justifica o nome da exposição.
“Quando as câmeras eram analógicas o custo do processo fotográfico era muito alto: filmes, produtos químicos, manutenção do laboratório, cópias e o arquivamento dos negativos. Isso obrigava o fotógrafo a pensar muito antes de acionar o disparador. E mais: a fotometragem e o foco eram manuais, o que exigia mais habilidade e concentração. Era preciso estar mais imerso, absorto mergulhado naquilo que estava registrando. A imersão na situação fotográfica antecipava a imersão dos banhos químicos da revelação”, explica Nicoline.
Outra opção estética que chama a atenção é o uso do preto em branco, inclusive em imagens originalmente coloridas. “O P&B é mais direto para quem vê. Faz com que observador pegue o que é essencial na imagem e não se perca, ainda que cada um faça uma leitura própria”, ressalta o fotógrafo.
Destaque também é a exposição dos negativos originais que podem ser vistos por meio de um negatoscópio especialmente construído para mostra. O mecanismo permite ao visitante comparar a reprodução com o original, rever as obras de diferentes perspectivas.
Segundo Nicoline, “Olhares imersos” é fruto de sua circunstância profissional mas, sobretudo, de sua benéfica obsessão de registrar episódios marcantes que, muitas vezes, poderiam passar despercebidos. “Sempre tive o hábito de carregar uma máquina fotográfica, com pelo menos duas objetivas, por onde ando. De forma compulsiva, venho registrando e arquivando estes fotogramas desde 1981, quando comecei a trabalhar profissionalmente em jornais. Em 2003, quando substituí as câmeras analógicas pelas de captação digital, decidi guardar os fotogramas, sem ter a pretensão de um dia promover uma exposição. São imagens captadas nas beiras de estradas, janelas dos automóveis, nas chegadas e partidas de tantos lugares que jamais imaginei ver, sentir, cheirar, degustar, dialogar e, principalmente, ter a oportunidade de fotografar.”
O fotógrafo
Humberto Nicoline é jornalista e repórter fotográfico, formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Entre 1981 e 1989 trabalhou no jornal “Tribuna de Minas” em Juiz de Fora e em Belo Horizonte. Foi membro do conselho editorial da revista de artes “D’Lira” em 1983. De 1990 a 2003 trabalhou como repórter fotográfico e editor adjunto de fotografia no jornal “Hoje em Dia”, em Belo Horizonte, além de ter exercido a função de editor de fotografia do jornal “Panorama”, entre 2003 2007.
Foi premiado em concursos de fotografia nacionais e internacionais, como o World Press Photo; o Nikon Photo Contest International; o Salon Internacional Centro Argentino Fotográfico; o Concurso Internacional de Fotografia de La RedMercociudades; o Concurso Nacional de Fotografia do Centro Cultural Sérgio Buarque de Hollanda; e o Concurso Nacional de Fotografia da Arfoc-MG e Belotur.
Atuou em coberturas em todo território nacional e em países da América do Sul, da Europa e da África, com destaque para os torneios de futebol Copa Mercosul e Copa Libertadores da América, três grandes prêmios de Fórmula 1 e o Grande Prêmio Rio 400 de Fórmula Indy, além da nomeação de cardeais na Cidade do Vaticano. Em 2009, lançou o livro documental de fotografias “JF Anos 80” com 302 páginas e 280 imagens. Atualmente, trabalha como fotógrafo freelancer.
O Mamm fica localizado na rua Rua Benjamin Constant 790, no Centro da cidade. A exposição pode ser visitada de terça a sexta-feira, das 9h às 18h; e sábados, domingos e feriados, das 13h às 18h.
Outras informações: (32) 3229-7650 (Mamm-UFJF)