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Convidados do LMD Lives discutem desafios nos estudos em podcasting

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 Por Helena Amaral

 

Embora o objeto não seja novo – as transmissões via podcasting tiveram início na primeira metade dos anos 2000 – e a despeito do crescimento na produção, circulação e consumo de podcasts – um levantamento feito pela plataforma Podcast Stats Soundbites aponta que, em 2019, o Brasil era o segundo maior mercado de downloads de podcast do mundo -, os pesquisadores do tema ainda encontram uma série de dificuldades epistemológicas na condução de seus estudos, tais como aquelas relacionadas à ausência de referenciais teóricos, conceituais e metodológicos que abranjam especificidades dos produtos de podcasting.

 

A temática balizou as discussões da quarta edição do LMD Lives, realizada na última segunda-feira (06/07). O debate foi conduzido pela doutoranda em Comunicação (PPGCOM – UFJF) e integrante do Laboratório de Mídia Digital (LMD), Luana Viana, e pelo professor do Programa de Pós- Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso (PPGCOM – UFMT), Luãn Chagas. A partir da apresentação de três tópicos principais, os pesquisadores abordaram desafios relativos aos estudos em podcasting.

 

O primeiro aspecto apontado pelos debatedores relaciona-se às definições teóricas das pesquisas sobre podcasting. Conforme ressaltado por Luana Viana, nos primeiros anos, as teorias empregadas nas investigações do tema eram mais embasadas na mídia digital, em detrimento de estudos sobre o rádio e as mídias sonoras, por exemplo. Deste modo, as abordagens voltavam-se, em sua maioria, para temas como cibercultura, mídias digitais e Internet, já que o podcasting trazia como possibilidade a convergência de diferentes mídias – texto, imagem e vídeo – ao formato sonoro.

 

Este cenário caracteriza-se por uma indefinição do que é o podcast, apesar de suas características serem alvos de constantes discussões e análises pelos pesquisadores de rádio e mídia sonora. As abordagens que excluem o caráter radiofônico dessa nova mídia restringem os olhares sobre a mesma ao desconsiderar as intersecções entre podcasts e outros produtos audiofônicos.

 

O segundo desafio dos estudos em podcasting apontado por Viana e Chagas diz respeito às ferramentas metodológicas usadas nestas investigações. De acordo com os pesquisadores, ainda existe uma lacuna de métodos voltados aos podcasts, bem como aos estudos de rádio e das mídias sonoras em geral. Deste modo, os trabalhos relacionados à investigação destes objetos caracterizam-se pela adaptação de metodologias e técnicas já existentes – tais como Análise Crítica da Narrativa, Análise de Conteúdo, pesquisa de campo e entrevistas.

 

Apesar da carência de ferramentas metodológicas especificas para estes tipos de mídia, o professor da UFMT ressaltou que diversos autores têm se dedicado a pensar a estética radiofônica e as gramáticas próprias do podcast. Ainda conforme destacado por Chagas, pesquisadores e pesquisadoras do tema já vêm abordando os aspectos narrativos dos produtos audiofônicos, radiofônicos e de podcasting, o que fornece dimensões de análise para se pensar nas características próprias destes objetos.

 

Ele, que também é coordenador do Projeto em Rádio e Podcast (Comunicast), evidenciou que reconfigurações da gramática sonora observadas na elaboração de podcasts jornalísticos provocam novas formas de pesquisar e de se pensar estes produtos. A respeito destas reconfigurações, Chagas argumentou que, se com o surgimento dos radiojornais ocorre o que o pesquisador Eduardo Meditsch chama de superação eletrônica do gênero gráfico, na medida em que passam a ser pensadas as características próprias e especificidades da linguagem sonora, “hoje nós temos uma nova superação eletrônica do gênero gráfico, só que ao contrário: ao invés de os profissionais do rádio pensarem as características próprias do áudio, diferentes do impresso, são os jornalistas do impresso que estão tendo que pensar em gramáticas próprias de áudio para poder construir seus podcasts”.

 

Neste contexto de adoção dos podcasts pelos diferentes veículos da mídia noticiosa, Luana Viana observou que, muitas vezes, o canal de podcast de uma emissora de rádio vira um repositório para os programas que foram veiculados no dial. “Mas o podcast tem potência para ser muito mais do que isso! Ele abre espaço para uma narrativa muito mais complexa”, defendeu a doutoranda.

 

Por fim, os pesquisadores apontaram as dificuldades de mapeamento dos podcasts como um dos desafios da investigação empírica destes objetos. Luana pontuou que, teoricamente, o acesso a dados sobre a audiência nas plataformas digitais deveria ser mais fácil do que no rádio tradicional, uma vez que aquelas possibilitam a contagem dos números de acesso e de downloads. No entanto, como ressaltado pela doutoranda, novos desafios se impõem a estas mensurações, tais como as configurações dos sites, dos agregadores de podcasing e das interfaces de programação dos aplicativos.

 

Os desafios de mensuração também se fazem presentes na classificação e, portanto, na busca de “tipos” específicos de podcasts – tais como educativos, informativos, artístico-culturas, etc. Há de se considerar ainda, como ressaltado por Chagas, que muitas vezes podcasts produzidos fora das regiões Sudeste e Sul não são contemplados pela curadoria dos aplicativos, bem como o fato de que muitos agregadores de podcast funcionam de acordo com o proposto por organizações de mídia – o que impacta nos conteúdos ofertados e na forma como estes são apresentados nestas plataformas.

 

Diante deste cenário, o professor da UFMT defendeu que os pesquisadores e pesquisadoras não devem repetir o que fazem os algoritmos. Ou seja, ao invés de limitar, devem ampliar os olhares sobre os produtos de podcasting. Essa preocupação se reforça ao considerarmos que, conforme destacado por Chagas, muitos podcasts cumprem ações locais importantes, “inclusive dentro de alguns locais que a gente pode chamar de vazios ou desertos noticiosos, porque, por mais que ele não chegue do outro lado do pais, ele chega na comunidade que está ao redor dele e cumpre uma função muito específica”.

 

DÚVIDAS DO PÚBLICO

 

Ao final da explanação os debatedores responderam a algumas questões enviadas pelo público. Os questionamentos versaram sobre temas como o potencial de democratização da informação a partir do uso de podcasts, a abrangência das classificações destes produtos, os formatos de podcast predominantes no Brasil e o que define o caráter profissional ou amador de um podcast. Confira aqui as considerações feitas pelos pesquisadores sobre estas e outras questões.