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Luana Viana defende primeira tese do PPGCOM-UFJF

Por Helena Amaral

 

Defesa de tese Luana Viana_banner

 

Na tarde do dia 03 de junho, a integrante do Laboratório de Mídia Digital (LMD) Luana Viana defendeu sua tese de doutorado, intitulada “Jornalismo narrativo em podcasting: imersividade, dramaturgia e narrativa autoral”. A defesa, a primeira de doutorado realizada pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (PPGCOM-UFJF), foi realizada de forma online. Além do orientador do trabalho, Prof. Dr. Carlos Pernisa Júnior (UFJF), compuseram a banca examinadora a Profª Dra. Debora Lopez (UFOP), o Prof. Dr. Marcelo Kischinhevsky (UFRJ), a Profª Dra. Iluska Coutinho (UFJF) e o Prof. Dr. João Paulo Malerba (UFJF).

 

Pesquisadora de rádio e mídia sonora desde a graduação, em sua tese Luana Viana volta seu olhar a produções jornalísticas em podcasting. A inspiração para a pesquisa, ela conta, veio do enquadramento de produções do tipo ao conceito de radiojornalismo narrativo, feito em artigo publicado por Kischinhevsky em 2017. Para o desenvolvimento do estudo, a discente tomou como base quatro dos elementos apontados pelo pesquisador ao se referir a estas produções, a saber: (01) a construção de uma narrativa potencialmente imersiva; (02) a emergência do narrador; (03) o uso de ganchos que remetem à dramaturgia; e (04) uma apuração exaustiva.

 

Partindo do pressuposto de que o áudio é imersivo por essência, Luana se propõe a investigar quais estratégias utilizadas pelo narrador potencializam a experiência imersiva do ouvinte. Para tanto, toma como objeto de estudo o podcast O caso Evandro”, produzido por Ivan Mizanzuk. Lançado em 2018, o podcast jornalístico-investigativo conta a história do desaparecimento de uma criança na cidade de Guaratuba, no litoral do Paraná, em 1992.

 

Para responder à questão proposta, Luana se volta a outro pilar apontado por Marcelo Kischinhevsky: a emergência do narrador. A partir deste elemento, constrói seu objetivo de pesquisa, que é identificar e entender o lugar do narrador no jornalismo narrativo em podcasting. Tal abordagem coloca em evidência o caráter metajornalístico destas produções, nas quais tanto o jornalismo quanto o jornalista são personagens das histórias.

 

No percurso da pesquisa sobre o metajornalismo, destaca-se a realização de um doutorado-sanduíche na Universidade do Minho (Braga, Portugal), no segundo semestre de 2021, durante o qual Luana teve a oportunidade de aprofundar seus estudos teóricos sobre o tema. Na ocasião, ela foi orientada pela Profª Dra. Madalena Oliveira (UMinho), que, além da trajetória de pesquisa em rádio e mídia sonora, aborda o jornalismo como personagem das narrativas jornalísticas em sua tese. “A ida a Portugal me permitiu compreender melhor o papel do jornalismo e do jornalista, e poder desenvolver um olhar próprio do que acontece em podcasts narrativos. Foi fundamental para fortalecer a minha base teórica em relação a esse papel do jornalismo dentro das suas próprias produções”, conta Viana.

 

Fator central da pesquisa, o metajornalismo também evidencia outros dois pontos considerados por Luana em sua análise. Enquanto a emergência do narrador, ao caracterizar-se por um compartilhamento de experiências deste com os ouvintes, aponta para uma apuração exaustiva, a abordagem do jornalismo e do jornalista como personagens da história, por sua vez, somada à construção de um enredo, configuram a adoção de componentes da dramaturgia.

 

 

Partindo de quatro elementos principais, Luana Viana se propõe a investigar quais estratégias utilizadas pelo narrador potencializam a experiência imersiva do ouvinte

Partindo de quatro elementos principais, Viana se propõe a investigar quais estratégias utilizadas pelo narrador potencializam a experiência imersiva do ouvinte

 

 

 

Desafios metodológicos da pesquisa em rádio e mídia sonora

 

Um dos pontos observados em comentários dos(as) examinadores(as) foi a inclusão de discussões metodológicas sobre a pesquisa em rádio e mídia sonora no capítulo dois da tese, no qual Luana Viana investiga a narrativa como abordagem emergente para a análise de objetos do referido campo.

 

Dentre os muitos fatores que embasam os debates acerca dos desafios da pesquisa metodológica na área, a integrante do LMD destaca a complexidade da linguagem radiofônica, que é composta por elementos diversos, tais como o silêncio, a palavra, a música e os efeitos sonoros. “Essa linguagem já é complexa, e a gente precisa de ferramentas que deem conta do que a gente vai abordar a partir da sonoridade”, diz. “E o que a gente percebe nos trabalhos é que há a aplicação de metodologias que vêm muitas vezes do impresso, da Web… Então, isso deixa de fora o eixo principal das nossas pesquisas, que é o som”, complementa.

 

Tais desafios se fazem evidentes no trabalho de Luana. Para investigar o podcast “O caso Evandro”, ela recorre a uma adaptação da Análise Crítica da Narrativa – proposta pelo professor Luiz Gonzaga Motta -, feita pela pesquisadora Mirian Quadros para a análise de produções radiojornalísticas. A esta abordagem, foi preciso, ainda, fazer outros ajustes, que dessem conta de características que diferenciam o radiojornalismo das produções em podcasting.

 

A discente conta que, em sua análise, buscou valorizar a linguagem radiofônica, levando em conta suas características, bem como os aspectos estéticos e técnicos das produções jornalístico-narrativas em podcasting. A partir de três planos principais de análise – a saber, o plano da expressão, o da estória e o da metanarrativa -, Luana estabelece categorias e operadores de análise voltados à investigação de aspectos como enredo dramático, palavra, trilha sonora, efeitos sonoros e jornalismo em primeira pessoa. Todos esses aspectos são analisados do ponto de vista de suas contribuições para a imersividade do ouvinte.

 

No que diz respeito às estratégias do narrador na potencialização da imersividade, ponto principal da análise proposta na tese, pode-se destacar alguns aspectos observados na investigação. No plano da expressão, por exemplo, a análise do operador “palavra”, componente da categoria de análise “linguagem radiofônica”, apontou para o uso de estratégias como falas diretas do narrador com o ouvinte e a realização de perguntas direcionadas ao público. Estas últimas, observa Luana, têm intuito de despertar a curiosidade do ouvinte, promover reflexões sobre parte da trama e explicar/contextualizar situações e circunstâncias.

 

A construção de imersividade a partir do narrador também é identificada no operador de análise “jornalista”, componente do plano da estória. Neste caso, a pesquisa se propõe a mapear circunstâncias nas quais o jornalista se coloca no centro do relato, usando como critério de análise as vezes em que o narrador faz uso da primeira pessoa, tanto no singular quanto no plural. No que diz respeito ao uso da primeira pessoa do plural, Luana Viana aponta duas situações principais observadas na investigação: quando o “nós” se refere ao narrador e sua equipe, e quando o “nós” se refere ao narrador e ao ouvinte. No primeiro caso, o “nós” é usado, majoritariamente, para explicar processos de apuração/jornalísticos, já o segundo uso aponta para o estabelecimento de uma situação de proximidade entre narrador e ouvinte, fazendo com que ambos ocupem o mesmo lugar na trama.

 

No que diz respeito ao uso da primeira pessoa do singular, a pesquisa apontou seis situações principais na qual a tática é empregada: para explicar o envolvimento do narrador com o fato; para compartilhamento de sentimentos e sensações do jornalista com o ouvinte; para compartilhamento de opiniões do narrador; para demonstrar as limitações do jornalismo em encontrar a verdade dos fatos; para retratar erros, falhas ou informações incompletas; e para explicar os processos de apuração e as decisões tomadas na construção do conteúdo.

 

Em resposta à questão principal, a pesquisa levou à identificação de três estratégias principais utilizadas pelo narrador para potencializar a imersividade do ouvinte: em um nível mais superficial/perceptível, figuram táticas relacionadas à função estética; em nível intermediário, enquadram-se estratégias relacionadas à criação de imagens mentais para o ouvinte através do som; e, em um terceiro nível, encontram-se elementos usados na criação de laços afetivos com o ouvinte.

 

Os resultados obtidos confirmam a hipótese apresentada por Viana, que argumenta que, ao ser acionado pelo narrador, o metajornalismo não só vai além da retratação do ofício e da técnica, como também reforça o discurso da verdade presente nas narrativas. Além disso, o estudo aponta para o fato de que, embora carregado de heranças das mídias tradicionais, o podcast constitui-se como um novo meio sonoro, autônomo. Para a pesquisadora, no caminho para fidelização do ouvinte – não só dos podcasts, mas também de outras produções sonoras – a imersividade deve ser considerada. O desafio, ela finaliza, é continuar observando os desdobramentos que têm sido trilhados pelo podcasting.