Por Beatriz Lucchesi
O terceiro dia de atividades da HQWeek! 2021 teve início na tarde dessa quarta-feira (28/07), com quatro apresentações de artigos em sessão coordenada pelo mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (PPGCOM-UFJF) e integrante do Laboratório de Mídia Digital (LMD), Felipe Panisset. Toda a programação do evento está acontecendo de forma remota e pode ser acompanhada no canal da HQWeek! no YouTube.
A estudante de Jornalismo da UFJF, Leonor Goliatti, trouxe o tema “Jornalismo em Quadrinhos: uma análise de TIRA”. No trabalho, a estudante analisa o livro-reportagem TIRA: a história de três abortos, produzido pelos jornalistas Nathalia Fonseca e Eduardo Nascimento, com ilustrações da artista visual Berta V. A obra traz ilustrações e dados sobre o número de procedimentos realizados pelo SUS após um aborto.
Leonor ressaltou o fato de que a reportagem preserva a confidencialidade das fontes e, através das ilustrações dos quadrinhos, é possível distingui-las. A estudante buscou identificar características do jornalismo em quadrinhos com o jornalismo, tomando como base a metodologia crítica da narrativa e a construção da reportagem em quadrinhos. O resultado de sua investigação apontou para a confirmação de que o espaço do jornalismo em quadrinhos é profícuo para abordar temas ligados à violência contra a mulher.
Dando sequência às apresentações, o professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Hermes Renato, e a Mestra em Artes Visuais (UNICAMP), Tatiane Colevati, apresentaram um trabalho sobre o processo criativo em quadrinhos humorísticos.
O professor e a pesquisadora fizeram um estudo de caso sobre a história em quadrinhos Hellpets, criada por Tatiane em 2014. Ela buscou criar a HQ trazendo aspectos mitológicos do cotidiano e tratando sobre a violência animal. Para criar a obra, Tatiane e Hermes fizeram um estudo sobre o processo criativo na construção de quadrinhos, concluindo a pesquisa em 2016.
A análise de Hellpets foi feita com base na semiótica de Charles S. Peirce. Sob tal perspectiva, uma das questões destacadas por Tatiane é que a manifestação do artista não está necessariamente ligada à percepção do espectador, porque a interpretação é livre e depende do repertório deste último. Para ela, “no momento em que o artista concebe a sua obra ele perde o domínio dessa obra”.
Os dois também fizeram uso da linha teórica da “Crítica Genérica”, que, conforme explicado pelo professor Hermes Renato, observa os documentos e processos, ou seja, as etapas, não o quadrinho em si, mas como ele foi desenvolvido. Tatiane observou, ainda, que no “conteúdo” há uma necessidade de expressão do artista, a qual está relacionada com a forma.
O Doutorando em Letras pela UFJF, Bernard Martorini, apresentou o trabalho “Composição, ritmo e layout em Jimmy Corrigan”. O discente abordou o layout dos quadrinhos como uma ferramenta de produção de efeito narrativo, analisando a história Jimmy Corrigan: o menino mais esperto do mundo, do quadrinista Chris Were. O quadrinho mostra o encontro do personagem Jimmy com o pai que nunca conheceu, ocasião em que conhece também o avô.
Além do estranho reencontro, a história também visita a infância de seu avô. Em uma narrativa intercalada, os três personagens – o pai, o filho e o avô – possuem a mesma aparência, cada um com sua idade. Ao falar sobre a distribuição de elementos, Bernard ressaltou que o layout também transmite uma determinada informação da relação de dependência e interdependência dos elementos presentes nos quadrinhos. No quadrinho de Jimmy Corrigan, o discente mostrou o efeito de monotonia que a disposição do layout pode gerar e destacou a importância da forma.
A última a se apresentar foi a Doutoranda em Comunicação (PPGCOM –UFJF), Gabriele Teodoro, com o trabalho “HQ Murilo Brasiliensis”, resultado da união de artistas do Instituto de Artes e Design da UFJF. O trabalho traz a perspectiva de como as histórias em quadrinhos podem ser elementos para a aprendizagem e uma ferramenta para o ensino interdisciplinar. Gabriele buscou usar a poesia e os quadrinhos como instrumento de disseminação. Na história, é usada a figura do poeta Murilo Mendes, natural de Juiz de Fora.
A HQ foi criada para ser usada como material didático em escolas de ensino fundamental, permitindo que os leitores interajam com a narrativa. A história conta diferentes momentos da vida de Murilo Mendes e encontros com personalidades que são importantes na poesia e na pintura. Gabriele escolheu desenvolver sua pesquisa sobre o autor pela importância dele no modernismo e por ele ser juiz-forano.
