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Mangás, Superboy, representações femininas e LGBTQIA+ foram temas da primeira sessão de artigos da HQWeek!

Por Monique Campos

 

A HQWeek! 2021 teve início na tarde da segunda-feira (26) com quatro apresentações de artigos em sessão coordenada pelo mestrando do PPGCOM/UFJF e integrante do Laboratório de Mídia Digital, Felipe Panisset. Toda a programação do evento está acontecendo de forma remota e pode ser acompanhada no canal do Youtube da HQWeek!.

 

A estudante de Biblioteconomia da Unesp de Marília-SP, Fernanda Lacerda Santana, trouxe como tema “O impacto da bomba e da Segunda Guerra Mundial visto pelos mangás atuais”. O mangá como conhecemos – personagens de olhos grandes, redondos e expressivos – surge após 1945 como forma de entretenimento; antes desse período, muitas publicações que originaram esse formato foram censuradas e interrompidas por vários governos japoneses, já que tinham conteúdos críticos e sátiras, segundo mencionou a estudante. Fernanda Lacerda cita, como importante referência, Osamu Tezuca, conhecido como “o pai do mangá moderno” e fundador desse estilo nos quadrinhos japoneses. Atualmente, existem vários gêneros de mangás.

 

Utilizando-se da Semiótica da Cultura, a estudante analisou dois mangás específicos e suas referências à Segunda Guerra Mundial: Attack on Titan ou Shingeki no Kyojin e Fullmetal Alchemist ou Hagane no Renkinjutsush. As duas obras trazem cenas, personagens, mortes que não foram esquecidas, retratando que os aspectos da Segunda Guerra são feridas muito presentes na história nipônica e atingem a consciência coletiva. A Segunda Guerra é um universo marcante nos roteiros dos mangás atuais.

 

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Na sequência, o publicitário e mestre em Ciência da Linguagem pela Universidade Católica de Pernambuco (UCP), Marcelo Travassos, apresentou o artigo “Ficção e realidade presente na narrativa ‘Super Boy says: It´s fun to help others!’”. Superman é o primeiro super-herói do gênero “revista em quadrinhos” e demonstra toda uma relação entre um personagem ficcional e a realidade social. Tendo como base a teoria de Paul Ricouer sobre as proximidades entre ficção e realidade, Travassos apresentou o contexto histórico norte-americano pós 1929 que fundou todo um cenário de criação do personagem Superman.

 

O caso específico analisado pelo publicitário nasceu do projeto Quadrinhos da Assembleia Nacional de Bem-Estar Social, durante uma parceria estabelecida entre governo e DC Comics, o que se deu no ano de 1949. A proposta era desenvolver quadrinhos com mensagens sociais, o que gerou a história “Superboy says: ‘it´s fun to help others’”, lançada em revista no ano de 1960. Travassos analisa, portanto, os aspectos narrativos da história que visava propagar a participação de jovens em serviços comunitários e o vínculo à imagem de heroísmo.

 

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O estudante secundarista da cidade de São Paulo, Kevin Santos, apresentou o roteiro de um quadrinho que desenvolveu quando fez o curso de programação de jogos do grupo CSGames/PUC-SP, parceiro na realização da HQWeek!. O estudante criou a narrativa “Ushangra e Inaha ligados por um fio” em que os protagonistas, com habilidades especiais, são capturados por um governo autoritário que não permite a vida em sociedade das pessoas com habilidades especiais. Kevin traz para o roteiro da HQ questões sobre a escravização de povos, a intolerância e os relacionamentos homo-afetivos. O objetivo, segundo ele, é representar temas LGBTQIA+ colocando-os em protagonismo durante toda a narrativa.

 

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Fechando a tarde de apresentações, a mestre em Letras (Literatura) pela Universidade de São João del-Rey (UFSJ), Jéssica Mônica de Carvalho, colocou em discussão o tema “Repensando espaços femininos no universo dos quadrinhos: a representação da personagem Nimona”. A graphic novel Nimona, que chegou ao Brasil em 2016, traz as histórias de uma protagonista menina, metaforma, anti-heroína, que deseja ser comparsa do maior vilão de todos os tempos.

 

Para refletir sobre os aspectos relevantes de Nimona, Jéssica faz uma contextualização da entrada das mulheres escritoras no mercado de quadrinhos norte-americano, uma história marcada por diversos apagamentos, como, por exemplo, a necessidade do uso de pseudônimos e a exclusão da autoria feminina. Durante anos da trajetória das HQs americanas, as narrativas foram criadas por e para homens. Nimona representa uma série de conquistas e mudanças de perspectivas, pois quebra muitos estereótipos das personagens femininas nos quadrinhos: sexualizadas, com roupas curtas e corpos nos padrões comerciais. Noelle Stevenson, criadora de Nimona, constrói uma personagem que se destaca por ser muito segura de si, debochada, com seu próprio estilo e que tem uma força de convencimento a partir de argumentação, conforme destacou a participante da HQWeek!.

 

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