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Diversidade, inclusão e legitimação das HQs dão o tom da conversa na abertura oficial da HQWeek! 2021

Stanley Teixeira_abertura oficial

Por Helena Amaral

 

No final da tarde dessa segunda-feira (26/07), foi realizada a abertura oficial da HQWeek! 2021, que acontece até o dia 30 de julho, de forma online. A cerimônia contou com a participação de representantes da equipe organizadora desta segunda edição do evento. Integraram a conversa o pesquisador do Laboratório de Mídia Digital da Universidade Federal de Juiz de Fora (LMD-UFJF), Stanley Teixeira; a professora Kelly Cezar, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), coordenadora do grupo de pesquisa Tecnologias Digitais na Educação (TEDE); Ciro Marcondes, professor da Universidade Católica de Brasília (UCB) e membro-fundador do site Raio Laser, e o professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e coordenador do grupo de pesquisa CSGames, Hermes Renato.

 

Dando início às falas, Stanley Teixeira contou que a HQWeek! foi idealizada a partir de uma inquietação pessoal sobre a possibilidade de utilização do eye tracking – tecnologia que faz uso de câmeras, como as dos smartphones e tablets, para monitorar o movimento dos olhos – na leitura de e-books. A ideia inicial do pesquisador era fazer uso do sistema, que permite identificar para que ponto da tela a pessoa está olhando, para ativar recursos sonoros inseridos ao longo das narrativas, criando uma ambientação acústica da história.

 

Em apresentação da proposta aos e às demais integrantes do LMD, foi sugerida a utilização do recurso nas histórias em quadrinhos. “Eu fui para casa com aquela ideia e comecei a pensar: ‘será que fãs se interessariam pela leitura de uma HQ eletrônica? Será que os quadrinistas, os profissionais, se interessariam em desenhar para esse formato?’”, contou Teixeira. Para sanar sua dúvida, Stanley teve a ideia de promover um evento no qual fãs, acadêmicos e profissionais da área pudessem debater sobre os impactos das tecnologias no mercado e na linguagem das HQs. Nascia, assim, a HQWeek!.

 

A primeira edição resultou em parcerias e novidades na programação. Estas últimas se deram a partir de feedback recebido dos e das participantes: as oficinas, o torneio de Fortnite e as sessões de lançamentos foram incluídas na programação de 2021 após indicações do público.

 

 

 

Já no que diz respeito às parcerias, uma delas se deu com o grupo de pesquisa Tecnologias Digitais na Educação (TEDE), coordenado pela professora Kelly Cezar. A docente, que desenvolve pesquisa e elaboração de HQs Sinalizadas – quadrinhos desenvolvidos na Língua Brasileira de Sinais (Libras) -, apresentou trabalho na primeira edição da HQWeek!.

 

Em sua fala na abertura oficial da edição 2021, Kelly Cezar ressaltou que os surdos não se identificavam com as histórias em quadrinhos convencionais. Dessa forma, o projeto de criação de HQs Sinalizadas vem atender a um pedido da comunidade surda por histórias que tenham personagens com os quais se identifiquem; pela possibilidade de participarem da criação dos roteiros; e por um hibridismo linguístico – imagens/ilustrações, vídeos em Libras e o português mais acessível aos surdos.

 

Kelly relembrou, ainda, que no dia 26 de julho é comemorado o Dia do Tradutor/Intérprete de Libras. Ela aproveitou a ocasião para parabenizar e agradecer aos e às interpretes que atuaram e vão atuar em algumas das atividades da HQWeek! 2021, ressaltando que a acessibilidade linguística para os surdos, na sua maioria, é garantida por esses profissionais.

 

Da primeira edição da HQWeek! também se deu a parceria com a equipe do site de crítica de quadrinhos Raio Laser, representada na cerimônia de abertura por Ciro Marcondes. Os integrantes do blog, que completa dez anos em 2021, ajudaram a formar as mesas de debates do evento.

 

Em comparação oportuna com o skate, esporte recém-integrado aos Jogos Olímpicos e que rendeu duas medalhas para o Brasil nas Olimpíadas de Tóquio, Marcondes ressaltou que, dentre várias mídias e formas de expressão, “as HQs são um tipo de cultura, expressão e mídia que foi marginalizado, censurado e até perseguido, em vários momentos da história”.

 

O editor-chefe do site Raio Laser também destacou a atuação de artistas, editores e acadêmicos na luta pela legitimação dos quadrinhos junto a outras mídias. “Eu acho que as histórias em quadrinhos têm que manter um pouco desse espírito que o skate trouxe para as Olimpíadas, que é de você se legitimar, mas sem perder sua originalidade, sua liberdade radical – de criar, de ser a forma de arte que vai longe nas suas fantasias, nas suas maneiras de expressar, nas suas maneiras de conformar a realidade e, também, de transformá-la”, complementou.

 

Em sua fala, Ciro Marcondes também ressaltou a proximidade da HQWeek! 2021 com os games, que diz serem uma espécie de mídia irmã das HQs, e que, assim como os quadrinhos, também buscam legitimação. A fala de Marcondes foi corroborada pelo professor Hermes Renato, que observou que até pouco tempo atrás o game não era considerado arte, situação que só mudou após sua utilização em uma exposição feita nos Estados Unidos. Ainda segundo o docente, o mesmo se deu com as HQs, que apenas depois de serem integradas à pop art, passaram a ser consideradas como uma forma de comunicação.

 

O coordenador do CSGames complementou dizendo haver uma convergência entre estas formas de comunicação e exemplificou citando aproximações entre quadrinhos e games. Ao falar sobre essas proximidades, acabou fazendo um spoiler sobre a próxima edição da HQWeek!: a possibilidade de inserção dos games no escopo temático do evento! “Não sei como é que vai chamar! HQGamesWeek!?”, brincou com Stanley Teixeira.

 

A íntegra da cerimônia de abertura pode ser conferida no canal da HQWeek! no YouTube.