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Pesquisadoras do LMD participam do Simpósio Nacional do Rádio

Artigo apresentado pela doutoranda Luana Viana traça um panorama das pesquisas sobre podcasting em eventos nacionais da comunicação.

Artigo apresentado pela doutoranda Luana Viana traça um panorama das pesquisas sobre podcasting em eventos nacionais da comunicação.

 

Por Helena Amaral

 

As pesquisadoras Luana Viana e Helena Amaral, integrantes do Laboratório de Mídia Digital (LMD), participaram da quarta edição do Simpósio Nacional do Rádio, realizada entre os dias 5 e 7 de maio. Organizado pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), o evento foi realizado de forma online e teve como tema “100 anos de rádio: democracia e cidadania nas ondas sonoras”.

 

Na quarta-feira (5), a doutoranda Luana Viana apresentou o trabalho “Estudos sobre podcasts: aspectos do estado da arte das pesquisas sobre rádio e mídia sonora”. Considerando o crescimento na produção e no consumo de podcasts nos últimos anos e o cenário das pesquisas sobre o tema no campo da comunicação, Viana se propôs a investigar como os estudos de rádio e mídia sonora abordam produções e temas relativos ao podcast a partir de seus modos específicos de compreendê-lo.

 

Para tanto, a pesquisadora realizou um levantamento nos anais dos principais eventos nacionais da Comunicação, a saber: Encontro Nacional de História da Mídia (Alcar); Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós); Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom) e Encontro Anual da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor).

 

As buscas foram direcionadas para as pesquisas relacionadas aos estudos de rádio e mídia sonora, entre os anos de 2004 e 2019, a partir do uso do termo podcast nos títulos e palavras-chave dos papers. Como resultado do levantamento, foram encontrados 34 trabalhos. Nestes, a pesquisadora buscou observar cinco aspectos principais: (I) as definições de podcast construídas; (II) os referenciais teóricos mais acionados – se mais voltados para as mídias digitais ou sonoras; (III) as metodologias utilizadas nos estudos; (IV) as características apontadas, em termos de audiência, produção e transmissão, e (V) as palavras-chave indicadas.

 

Dentre outros resultados, Viana observou não haver um autor chave que dê base às conceituações de podcast, tendo sido adotados conceitos propostos pelos primeiros pesquisadores do tema ou construídas conceituações pelos e pelas próprias autoras dos trabalhos investigados. No que diz respeito aos referenciais teóricos, identificou uma prevalência daqueles relacionados à área de rádio e mídia sonora, utilizados em mais de 20 dos papers analisados. Teorias da cibercultura e da mídia digital, por sua vez, foram utilizadas em pouco mais de cinco textos.

 

No que diz respeito ao quesito características apontadas pelos autores e autoras, Viana identificou predomínio das seguintes atribuições: “autônoma”, para a audiência; “descentralizada” e “autônoma”, para a produção, e “assíncrona”, “automatizada” e “on demand” para a transmissão. Nas palavras-chave, por sua vez, prevaleceu o termo podcast, seguido por rádio, podcasting, comunicação, rádio expandido e mídia sonora.

 

Logo, como ressaltado por Luana Viana em sua apresentação, os resultados apontam, dentre outras questões, para a necessidade de se investir em propostas metodológicas específicas para a mídia sonora; a prevalência de um referencial teórico que provém dos estudos de rádio, e o fato de que, se inicialmente as pesquisas se voltavam a discussões sobre a pertença – ou não – do podcast ao rádio, hoje o foco está nas possibilidades narrativas e nas formas de financiamento de mídia.

 

 

Mulheres, rádio e podosfera

Na mesma seção do Simpósio Nacional de Rádio, Luana Viana também apresentou a pesquisa “A podosfera é delas? Um panorama brasileiro sobre podcasts apresentados apenas por mulheres”, realizada em co-autoria com a pesquisadora Yasmin Winter, graduada em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). No trabalho, as autoras abordam a relação histórica das mulheres com o rádio e apresentam um panorama sobre os podcasts produzidos por mulheres no Brasil.

 

Em um primeiro momento, as pesquisadoras fazem uso das quatro fases de desenvolvimento do rádio elencadas por Luiz Artur Ferraretto (2012) – implantação (1910-1930), difusão (1930-1960), segmentação (1950-2000) e convergência (1990-atualmente) – para traçar um paralelo com acontecimentos sociais relacionados às mulheres, destacando aqueles que dizem respeito à participação delas no rádio.

 

Na sequência, são apresentados os resultados de um levantamento empírico sobre a produção de podcasts brasileiros por mulheres. Para a coleta de dados, que foi feita até dezembro de 2019, foram utilizadas redes sociais digitais – Instagram, Facebook e Twitter – e feitas pesquisas em sites e plataformas de streaming. Foram identificadas 172 produções, nas quais foram analisados os seguintes aspectos: principais temas discutidos, formato, número de apresentadoras, data de lançamento do primeiro episódio, periodicidade, número de episódios lançados até o período final da coleta e relação mercadológica.

 

Como primeiros apontamentos, dentre outras questões, as autoras ressaltam que os temas não se limitam àqueles já estigmatizados em relação às mulheres, mas sim transitam entre os diferentes campos de conhecimento; que em mais de 75% das produções predomina o formato debate; que mais de 92% dos podcasts pesquisados são produções independentes, ao passo que apenas 4,6% advêm de veículos de comunicação; e que, entre os anos analisados, 2019 foi aquele no qual as mulheres mais ocuparam a podosfera nacional.

 

A pesquisadora Helena Amaral investigou a prestação de serviços no podcast universitário “Coronavírus em Xeque” (PPGCOM-UFPE).

A pesquisadora Helena Amaral investigou a prestação de serviços no podcast universitário “Coronavírus em Xeque” (PPGCOM-UFPE).

 

Podcasts universitários e prestação de serviços

 

No dia 6 de maio, a doutoranda Helena Amaral apresentou o trabalho “A prestação de serviços em podcasts universitários: análise do ‘Coronavírus em Xeque’”. A proposta da pesquisa foi investigar em que medida e de que maneiras podcasts produzidos no âmbito das universidades podem atuar na prestação de serviços à sociedade.

 

Para tanto, tomou-se como objeto de análise o podcast do projeto “Coronavírus em Xeque”, iniciativa de combate à desinformação desenvolvida pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (PPGCOM-UFPE). Veiculados semanalmente, os episódios continham um balanço do que foi discutido nos drops ao longo da semana. Estes últimos, por sua vez, consistiam em programas sonoros de até três minutos, com depoimentos e orientações de especialistas sobre algum aspecto da desinformação no contexto da pandemia de Covid-19.

 

Entre abril e agosto de 2020, foram irradiados 20 episódios do podcast, veiculados nas emissoras de rádio da UFPE – Paulo Freire AM e Universitária FM – e disponibilizados no site do projeto e em plataformas de música. Deste total, cinco foram selecionados para a análise.

 

Para a investigação, levou-se em consideração as interfaces entre rádio e prestação de serviços, bem como o caráter público das emissoras e da instituição de ensino superior nas e pelas quais o podcast foi produzido e irradiado. A partir do estabelecimento de alguns eixos de análise, foram investigadas questões como o fornecimento das informações necessárias para o acesso a serviços públicos abordados nos conteúdos; a contribuição dos temas para o exercício de direitos pelos e pelas cidadãs; se as abordagens contribuem para o ganho de autonomia por estes e estas, e se os temas foram contextualizados em profundidade, de forma a possibilitar sua compreensão pelos e pelas ouvintes.

 

De forma geral, observou-se importantes contribuições do podcast “Coronavírus em Xeque” ao ganho de autonomia decisória pelos cidadãos e cidadãs – tal como a partir de esclarecimentos sobre a não comprovação de eficácia de alguns medicamentos no combate à doença, munindo-os dos dados necessários à escolha pelo uso ou não destes remédios –; ao exercício de direitos pelos e pelas ouvintes – como a partir de abordagens que tornam claras quais são as atribuições dos poderes em níveis federal, estadual e municipal, capacitando os sujeitos a cobrarem determinadas ações junto às instâncias competentes –; e à formação crítica e cidadã dos e das ouvintes – em especial no que diz respeito a esclarecimentos sobre manipulação de vídeos e dados e funcionamento das chamadas “bolhas digitais”.