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Pesquisadoras do LMD apresentam trabalhos em workshop sobre mídia, informação e ciência de dados

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Por Helena Amaral

 

As pesquisadoras do Laboratório de Mídia Digital (LMD), Larissa Rodrigues Natalino e Helena Amaral, apresentaram trabalhos no I Workshop on Media, Information and Data Science (WMIDS), realizado de forma online nos dia 29 e 30 de junho. Organizado pelo Grupo de Pesquisas em Tecnologias e Computação Aplicada à Informação e Comunicação (GTA) da Universidade Federal de Goiás (UFG), o evento teve como objetivo incentivar discussões sobre o uso de tecnologias na geração de informações no contexto da mídia.

 

Inspirada por situações vivenciadas por pessoas próximas, a mestranda Larissa Rodrigues Natalino abordou a utilização do WhatsApp como ferramenta de ensino remoto no período de pandemia, marcado pela suspensão das atividades escolares presenciais. A elaboração do artigo foi orientada pelo professor Carlos Pernisa Júnior, coordenador do LMD, e feita em parceria com a irmã da pesquisadora, Maria Luiza Rodrigues Natalino, que é mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e cuja dissertação abordou a incorporação de tecnologias digitais em escolas da educação infantil. 

É possível acessar a apresentação na íntegra no seguinte link: Para além das fake news: O WhatsApp como instrumento de educação

 

A investigação teve como objeto uma escola pública de educação infantil de uma cidade do interior de Minas Gerais, que autorizou a realização da pesquisa sob condição de que fosse mantida sua anonimidade. Conforme explicado por Larissa em sua apresentação, a instituição de ensino tem feito uso do WhatsApp para estabelecer contato entre a equipe pedagógica e os responsáveis pelos alunos. Para tanto, foram criados grupos que representam cada uma das turmas, os quais integram professores, diretores, pedagogos e os pais dos estudantes. Os grupos são usados para envio e recebimento de atividades que devem ser realizadas pelos alunos junto com seus responsáveis.

 

De acordo com a mestranda, no momento estão sendo desenvolvidas atividades semanais. Para tanto, os profissionais desenvolvem um planejamento, que contempla informações sobre a atividade a ser desenvolvida, seus objetivos e o campo de experiência que a tarefa visa desenvolver no aluno. Nesta especificação são levadas em consideração as diretrizes estabelecidas na Base Nacional Comum Curricular do Ministério da Educação (MEC). “A professora, então, manda um texto explicando o que deve ser feito, e a atividade em si é demonstrada por meio de um vídeo. Os pais respondem com vídeos e fotos de seus filhos”, explica Larissa, ao apresentar imagens capturadas de um grupo de WhatsApp de uma turma de berçário.

 

A pesquisa também contou com a aplicação de questionários junto a seis profissionais da instituição de ensino, cujo objetivo foi o de buscar respostas a perguntas que surgiram durante a investigação. A primeira delas foi com relação ao cumprimento das atividades propostas pelos alunos. A maioria dos respondentes, que atuam em turmas do berçário, do maternal e do primeiro período, afirmou que de 51 a 75% dos alunos têm desenvolvido as atividades propostas.

 

Os profissionais também foram questionados sobre o cumprimento das diretrizes estabelecidas pelo MEC nas atividades intermediadas pelo WhatsApp. Todos os seis disseram se utilizar das referências disponibilizadas pela Secretaria Municipal de Educação e nas Diretrizes da Base Comum Curricular na elaboração das tarefas.

 

Por fim, duas questões abertas buscaram investigar as principais dificuldades encontradas no modelo de aulas remotas. Na primeira delas, os profissionais foram questionados sobre qual tem sido o maior desafio em desenvolver as atividades. De acordo com Larissa, a partir das respostas observou-se “que os pais se tornaram o principal agente social nesse novo modelo de sala de aula virtual, e eles representam o grande desafio dos professores, pois os professores agora dependem dos responsáveis para manter essa conexão entre eles e os alunos”. A pesquisadora acrescenta, ainda, que os profissionais reconhecem a realidade dos pais que trabalham e têm pouco tempo para realizar as atividades com os filhos. “Eles também destacam que têm dificuldade para desenvolver atividades, considerando os recursos que as famílias têm em casa”, complementa a mestranda.

 

A segunda questão buscou investigar quais foram as principais mudanças na rotina de trabalho dos profissionais da educação, que, conforme explicado por Larissa, estão trabalhando na sede da escola. De acordo com a mestranda, eles relataram que, apesar de estarem na instituição, faltam recursos informáticos para que consigam desenvolver as atividades multimídia e participar das palestras oferecidas pela Secretaria Municipal de Educação para capacitação dos professores. Os profissionais destacaram, ainda, se tratar de uma nova experiência, com a qual estão aprendendo na prática.

 

Dentre as conclusões obtidas na investigação, os pesquisadores destacam que a gratuidade, a interface simples e a popularidade do WhatsApp são características que facilitam sua utilização como ferramenta para aulas remotas, principalmente no contexto da educação pública, infantil e de pandemia. No entanto, observou-se que as tecnologias estão sendo usadas mais como meio de troca de informações, mas não estão sendo aplicadas como interfaces interativas. Deste modo, os smartphones são utilizados pelos envolvidos como ferramenta para registro de fotos, vídeos e comunicação entre as pessoas, funções convencionais do aplicativo.

 

TELEJORNALISMO PÚBLICO NO CONTEXTO DE PANDEMIA

 

No trabalho apresentado no I Workshop on Media, Information and Data Science (WMIDS), a doutoranda em comunicação e integrante do LMD, Helena Amaral, abordou o papel das emissoras públicas de TV no contexto da pandemia a partir da análise de conteúdos noticiosos veiculados pela JFTV Câmara.

 

É possível acessar a apresentação na íntegra no seguinte link: O papel das TVs públicas no contexto da pandemia de Covid 19: análise dos conteúdos noticiosos da JFTV Câmara

 

Partindo do pressuposto de que toda emissora estatal é pública, embora nem toda emissora pública seja estatal – apontado pelos jornalistas Eugênio Bucci, Marco Chiaretti e Ana Maria Fiorini no material “Indicadores de qualidade nas emissoras públicas – Uma avaliação contemporânea” (UNESCO, 2012) -, a pesquisadora se propôs a investigar se e de que maneira preceitos atribuídos ao telejornalismo público estão sendo contemplados pela JFTV Câmara na cobertura de temas relacionados à Covid 19.

 

Emissora da Câmara Municipal de Juiz de Fora (CMJF), a JFTV Câmara está no ar em sinal aberto e digital desde maio de 2017, no dial 35.1. O canal integra a Rede Legislativa de TV Digital e dispõe do recurso da multiprogramação, exibindo também, a partir de subcanais, as programações da TV Câmara (dos Deputados, 35.2), da TV Assembleia (de Minas Gerais, 35.3) e da TV Senado (35.4).

 

Dentre as produções próprias da emissora figuram os conteúdos noticiosos e informativos, objeto de análise da doutoranda no trabalho apresentado no WMIDS 2020. Exibidos diariamente em bloco único, sem horário fixo na grade – tendo em vista as imprevisibilidades de duração das sessões plenárias, veiculadas ao vivo pela JFTV Câmara -, estes materiais comumente vão ao ar antes das transmissões das reuniões ordinárias e são reprisados após o final destas.

 

Conforme explicado por Helena, com fins comparativos, foram selecionados dois momentos distintos da cobertura da pandemia de Covid 19 pela emissora juizforana. Para tanto, o recorte contempla duas semanas: a primeira delas corresponde ao período entre os dias 16 e 22 de março, quando a CMJF suspendeu os serviços prestados ao público; ao passo em que a segunda contempla os dias 18 a 24 de maio, semana na qual Juiz de Fora aderiu ao Minas Consciente, programa elaborado pelo Governo de Minas para orientar os municípios na retomada das atividades econômicas.

 

A consulta aos materiais foi feita no canal da Câmara Municipal no YouTube, sendo encontrado um total de 14 vídeos relacionados à cobertura da pandemia, sete em cada semana investigada. Pautada pela Análise da Materialidade Audiovisual, método voltado às investigações do telejornalismo, a doutoranda estabeleceu quatro eixos principais de pesquisa: tema, abordagem, fontes e adaptações.

 

Para cada um deles, foram estabelecidas perguntas-chave, elaboradas com base em princípios atribuídos ao telejornalismo público. Assim, como explicitado pela doutoranda em sua apresentação, no eixo tema buscou-se investigar, por exemplo, se os assuntos abordados interferem no exercício de direitos pelos cidadãos e cidadãs juizforanos; no eixo abordagem, por sua vez,  dentre outras coisas, buscou-se entender em que medida as informações dadas contribuem para o ganho de autonomia pelos munícipes; já no eixo fontes, foram elencadas todas as fontes consultadas, os tempos de fala de cada uma, se houve diversidade étnica-racial e de gênero. Por fim, o eixo adaptações se voltou a uma análise das estratégias – narrativas, de cobertura, de apuração, etc. – adotadas pelas repórteres para resguardar as medidas de proteção, bem como se essas estratégias comprometeram, de alguma foram, a apuração e apresentação das informações.

 

Dentre os resultados apresentados pela pesquisadora, destacam-se a prevalência de temas relacionados a ações do poder público – tais como medidas tomadas pela Prefeitura de Juiz de Fora e ações de fiscalização pelos vereadores em unidades básicas de saúde -; a prevalência de fontes oficiais, o que pode ser compreendido como consequência das medidas preventivas tomadas em função da pandemia, além de baixa diversidade étnico-racial – observada somente em um dos 14 conteúdos – e de gênero – de 34 fontes ouvidas no período, somente cinco eram mulheres – entre os entrevistados e entrevistadas.

 

No comparativo entre os dois períodos analisados, a pesquisadora destaca dois pontos principais. O primeiro deles é que, diferentemente da primeira semana investigada, na segunda foram observadas a adoção de medidas de prevenção, tais como o uso de máscaras por fontes e repórteres e o manuseio dos microfones pelos próprios entrevistados e não pelos jornalistas, como é comumente feito no telejornalismo.

 

Observou-se, ainda, que as matérias veiculadas na segunda semana analisada são mais completas em termos de informações, medidas e previsões, o que pode ser atribuído ao fato de que, no primeiro período analisado, a pandemia ainda estava no início e o poder público ainda buscava entender seus impactos e possível expansão.

 

O WMIDS 2020

 

De caráter multidisciplinar, o I Workshop on Media, Information and Data Science (WMIDS) integrou mais de 30 pesquisadores de diversas áreas, da biblioteconomia à comunicação, cujos trabalhos abordaram temas como a atuação do bibliotecário nas redes digitais; os contextos histórico, social e cultural da divulgação cientifica no Brasil; a literacia digital na era multimídia; o jornalismo de automação; a pós-verdade e as fake news no contexto da pandemia da Covid 19 e a construção de redes de ativismo no ambiente digital.

 

A programação do evento, que foi realizado de forma online e exibido ao vivo no canal do Grupo de Pesquisas em Tecnologias e Computação Aplicada à Informação e Comunicação (GTA) no YouTubetambém foi composta por palestras e uma mesa redonda. Na abertura, realizada na manhã do dia 29 de junho, a professora Danielle Sanchez, da Universidade Nova Lisboa, abordou a utilização de gráficos de conhecimento para análise de redes sociais a partir da exibição de investigações realizadas por ela sobre grupos portugueses de extrema direita.

 

A primeira manhã de atividades também foi composta por uma palestra do Doutor em Sociologia e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Leonardo Nascimento, e do cientista de dados, Bruno Lucian. Em sua apresentação, Nascimento propôs reflexões epistemológicas sobre o uso de dados digitais nas pesquisas das Ciências Sociais. Já Lucien, a partir da apresentação de projetos dos quais participou quando trabalhou na Rede Globo, abordou a utilização de dados no jornalismo.

 

Em seu segundo dia, o WMIDS teve como palestrantes as professoras Inês Amaral, da Universidade de Coimbra, e Raquel Recuero, da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Em sua apresentação, Inês abordou o papel das mídias digitais no surgimento de novas formas de ativismo, bem como sua utilização na potencialização de movimentos sociais já existentes. Raquel Recuero, por sua vez, abordou as inter-relações estabelecidas entre as “câmaras de eco” e a circulação de (des)informações em mídias sociais.

 

As atividades da manhã de terça-feira (30/06) também incluíram uma mesa redonda com o tema “Informação em tempos de pandemia da Covid 19”, com participação dos pesquisadores Nina Santos (Universidade Federal da Bahia – UFBA), Marcelo Alves (Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM) e Raquel Recuero (Universidade Federal de Pelotas – UFPEL).

 

No encerramento do evento foi realizada a palestra “Inteligencia colectiva y estratégias transmedia em el marco da Covid 19”, ministrada na noite de terça-feira pela professora Maria Isabel Villa Montoya, da Universidad EAFIT, da Colômbia.

 

Os vídeos de todas as palestras e apresentações de trabalho estão disponíveis no canal do GTA no YouTubeA publicação dos trabalhos completos está prevista para o segundo semestre de 2020.