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Convidados da HQweek! debatem realidade do mercado brasileiro de quadrinhos

Por Helena Amaral

 

Na noite dessa quinta-feira (28/05) foi realizada mais uma mesa redonda da HQweek!. Mediada pelo organizador do evento e pesquisador do Laboratório de Mídia Digital (LMD – UFJF), Stanley Teixeira, a sessão teve como tema “Retratos da leitura no Brasil: hábitos digitais, mercado nacional e eventos”. Participaram do debate Afonso Andrade, coordenador do Festival Internacional de Quadrinhos (FiQ!) de Belo Horizonte (MG); Márcio Paixão Júnior, produtor cultural e organizador do Dia Internacional da Animação, em Goiânia (GO); e Rodney Buchemi, quadrinista profissional e professor de desenho artístico fundamental da escola de artes visuais Casa dos Quadrinhos, na capital mineira.

 

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Ao traçar um panorama do mercado brasileiro de HQs, Andrade destaca que atualmente o mesmo é formado por dois segmentos principais: o mercado “tradicional”, integrado por editoras e cujos produtos são destinados a pontos de venda, e o mercado independente, caracterizado, principalmente, pelas autopublicações. Neste último, as despesas de produção são assumidas pelos próprios quadrinistas, que se valem de estratégias diversas, como financiamento coletivo e pré-vendas, para arrecadar os recursos necessários.

 

Ao contrário da primeira forma de mercado, o independente é formatado e voltado, principalmente, para vendas online ou em eventos do setor. Neste contexto, como ressaltado por Afonso Andrade, estes eventos passam a ter um papel mercadológico estratégico para os quadrinistas, além de se tornarem um grande ponto de contato entre os artistas e seu público.

 

Márcio Paixão Júnior corrobora a fala de Andrade ao ressaltar que eventos como a FiQ!, a Bienal de Quadrinhos de Curitiba e outros não são apenas um momento de encontro e de troca de experiências, mas são fundamentais mercadologicamente. Para o produtor cultural, estes eventos se tornaram o grande ponto de sobrevivência para autores e editoras independentes. “Quem vive nesse universo das pequenas editoras, do quadrinho independente brasileiro, entende, na pele, o impacto dessa pandemia, porque o quadrinho brasileiro é trabalhado e vendido tête-à-tête, olho no olho, principalmente nos eventos”, ressaltou.

 

Neste cenário, o digital aparece como suporte possível aos quadrinhos, evidenciando uma relação que, como ressaltado por Afonso Andrade, não é exclusiva deste momento de pandemia. Ele destacou que em meados da década de 90, quando a internet começava a se popularizar, os custos com as publicações impressas eram altos, em função dos preços do papel, levando muitos quadrinistas a fazer uso do novo suporte para divulgar e publicar seus trabalhos.

 

Andrade relembrou, ainda, que muitos autores de tirinhas iniciaram suas publicações na internet e demoraram a publicá-las na forma impressa. Como exemplo, cita Alexandre Beck, criador do personagem Armandinho, sucesso nas redes sociais. De acordo com Afonso, somente depois de já conhecido na internet, Beck começou a publicar em papel, principalmente para vender nos eventos.

 

Este cenário, porém, é marcado por um paradoxo: como ressaltado por Márcio Paixão Júnior, embora os quadrinhos tenham migrado cedo para o digital, têm mais dificuldades de desapego do físico. Na visão do produtor cultural, a forma e outras características que são únicas às histórias em quadrinhos são fatores responsáveis pela manutenção das publicações impressas.

 

Afonso Andrade faz coro ao colega de debate ao ressaltar que o formato é um dos atrativos das HQs. Para ele, a edição do quadrinho, colocá-lo em determinado formato e tipo de papel, bem como a escolha das cores a serem usadas, “é tão importante quanto a história que está sendo narrada ali”.

 

A migração dos quadrinhos para o digital também envolve questões relacionadas às tecnologias e suportes de produção, distribuição e consumo. Um dos aspectos apontados pelos debatedores é a limitação dos leitores digitais atualmente existentes. Como apontado por Andrade, por exemplo, a tecnologia usada por quem comercializa HQs digitais é o Digital Rights Management (DRM), que só permite a fruição do conteúdo no leitor disponibilizado pela empresa distribuidora daquele material.

 

Para Rodney Buchemi, que acredita que o público brasileiro é mais visual do que leitor, as plataformas digitais também precisam investir em atrativos. “Eu acho que o que falta para o segmento digital entrar em equilíbrio com a mídia física é exatamente um atrativo a mais, que o físico já tem [como a possibilidade de folhear as páginas, por exemplo]”, argumentou.

 

Em um mercado cada vez mais dominado por grandes corporações, Márcio Paixão Júnior defende uma aproximação, compreensão e estímulo às pequenas empresas do setor. “Se a gente quiser, em algum momento, transformar a realidade da leitura no Brasil, o mercado dos quadrinhos, essa coisa do pequeno é que a gente tem que buscar apoiar, porque é daí que vai gerar uma diversidade”, argumentou. “A gente tem que entender a importância de tudo: da loja, do evento de quadrinho, do autor, e criar aproximações. Neste espectro, o digital faz muita diferença e tem muita importância”, complementou.

 

Uma certeza neste cenário é a possibilidade de coexistência entre as mídias física e digital. Para Márcio Paixão, não se trata de meios conflitantes. “O digital, muitas vezes por estar ali gratuito, fácil e acessível é uma porta de entrada para um autor que você tem interesse nele”, afirmou. Rodney Buchemi também acredita na coexistência das duas mídias e na possibilidade de equilíbrio entre ambas, uma vez que há público e demanda para os dois produtos, cujas características possibilitam experiências diferenciadas aos leitores.