* Terra, família e mobilidade social de egressos do cativeiro – América Portuguesa, século XVIII
Coordenadora: Profa. Mônica Ribeiro de Oliveira
Financiamento: Fapemig
Descrição: Projeto de pesquisa aprovado pelo Edital Universal da Fapemig CHE – APQ-02304-17 Espacialmente, a pesquisa concentra-se nos sertões da Mantiqueira, incluindo uma série de povoados que foram ganhando importância ao longo do processo histórico. Nas primeiras décadas, a análise prende-se à Borda do Campo e, depois, com o lento processo de interiorização da ocupação e crescimento em importância de pequenos arraiais, a pesquisa concentra-se em outros cinco povoados da Mantiqueira. Estes espaços foram tomados como base e referência para o acompanhamento do percurso da gente de cor e liberta das amarras da escravidão, negros ou índios e suas gerações sucessivas. No entanto, estas deverão ser reconstituídas a partir das frentes familiares e suas inter-relações, em um amplo esforço de entendimento das redes relacionais. Junto a este processo torna-se importante a avaliação da qualidade do homem livre que se instalou na região. Essa questão remete à discussão sobre a contínua produção de hierarquias cruzadas às distintas categorias raciais que emergem na América Portuguesa, fruto da significativa presença africana, suas manumissões e a miscigenação com indígena. Vinculada a essa discussão emerge a questão do uso social da cor e não necessariamente da raça para demarcação das diferenças no interior da população local. Um outro importante objetivo é verificar as possibilidades e os significados da mobilidade social para esse grupo. Considero que, na conjuntura do século XVIII na América Portuguesa e por meio da experiência concreta dos indivíduos e grupos, a mobilidade social poderia ser realmente dificultada, no entanto, não era inalcançável e se caracterizava por distintos traços. O acesso autônomo a terra, a constituição de uma família, a reunião dos saberes artesanais para produção dos itens básicos de consumo, a maior autonomia feminina, a posse de escravos, a vivência comunitária, dentre outros, são fatores que os distanciavam da experiência pregressa do cativeiro e os colocavam em outros lugares na experiência de liberdade naqueles sertões. Perceber esses diferentes modos de viver a liberdade ao longo das gerações constitui o meu principal objetivo.
* Pobres do Ouro: trajetórias de indivíduos e famílias não brancas na América Portuguesa
Coordenadora: Profa. Mônica Ribeiro de Oliveira
Financiamento: CNPq
Descrição: Análise de trajetórias de indivíduos e famílias do sertão de Minas Gerais que antes viviam sob o cativeiro e depois reconstruíram suas vidas no mundo dos livres, suas possibilidades de acumulação, a recriação de identidades, as estratégias de sobrevivência familiar, as alternativas de ascensão social e, por outro lado, a reiteração destas relações de dependência. Enfim, meus protagonistas são os homens e mulheres pobres da sociedade agrária mineradora, produtivos, em sua maioria roceira, autônoma ou situada em terras de outrem, o grupo formado por negros, pardos livres e outras qualidades de mestiços. É meu objetivo analisar como se criavam as hierarquias sociais em um contexto institucionalmente e economicamente débil, sem a presença de um Estado forte, capaz de regular as relações entre os indivíduos nas diversas instâncias da vida, seja na religiosidade, na sociabilidade, na aquisição de bens (terras e escravos, por exemplo), como também na instância da fiscalidade (traço marcante da sociedade mineradora). Nesse contexto analiso o papel exercido pelo parentesco neste grupo. O estabelecimento de laços consanguíneos e rituais cumpriria a função de recriação de laços em uma sociedade formada por libertos e mestiços de toda ordem e, ao mesmo tempo, serviam para reforçar as relações de poder, através das redes verticais. Está claro na historiografia que as tentativas de controle por parte da Coroa esbarravam continuamente na atuação dos líderes locais que, muitas vezes, não tinham interesses em se submeter às suas intromissões, mas que, no entanto, estendiam suas redes de influência aos extratos mais baixos da sociedade, o que me leva a questionar até que ponto estas relações clientelísticas estabilizavam esta sociedade ou criavam tensões? Uma outra importante questão que tem que ser problematizada é o grau de participação do índio nesta sociedade marcada pela presença de distintas hierarquias e diferentes gradações de cor. Os índios coloniais, provenientes de diversos grupos étnicos, desenraizados de suas aldeias, sobreviventes das primeiras entradas, viviam em vilas e lugarejos de Minas Gerais. Destaca-se a multiplicidade de misturas aonde não se reconheciam mais os brancos, índios e negros, mas mulatos, pardos, cabras e caboclos, enfim um universo mestiço.