INTRODUÇÃO
Durante muito tempo as pessoas que tinham o trabalho de pesquisar e escrever as histórias do povo brasileiro, deixaram bastante a desejar quando tratavam da História das pessoas pretas. A contribuição do povo negro não era esquecida, porém, quando lembrada, era sempre relacionada a escravidão e as violências que essa população sofreu ao longo da História do Brasil.
“Eu passei a minha infância toda na escola buscando um reconhecimento da minha história, que eu recebia da minha família, com as matérias que os professores de história passavam. Eu tinha uma angústia muito grande porque eu gostava de História, e por outro lado, eu não me via na história do meu país e da minha cidade. E nos poucos momentos que a população negra aparecia, era de uma forma que me causava dor e sofrimento, pois o negro era retratado apenas como escravo e não como escravizado.” – Rita de Cássia Felix, historiadora e professora.
Como nos mostra a professora Rita, a História Negra, quando é olhada apenas a partir da escravidão, constrói uma noção de que as pessoas pretas só contribuíram para a formação do Brasil como escravas. Isso é um grande erro pelas seguintes razões: A primeira é que ninguém nasce escravo. O que acontece é que em determinados momentos históricos existem códigos sociais que podem levar uma pessoa a essa condição. Quando isso acontece, essa pessoa é violentamente escravizada não por sua culpa ou por simplesmente “aceitar” essa condição, mas sim pela ação da sociedade em que vive ou viveu. Repetimos, ninguém nunca veio ao mundo naturalmente como escravo.
A segunda é que as histórias das pessoas pretas no Brasil vão muito além dos acontecimentos ligados a violência da escravidão. Mesmo durante o período escravista, e também depois da abolição que veio após o povo negro vencer muitas batalhas e desafios, incontáveis foram as formas de resistência e os episódios e processos históricos que tiveram pessoas negras no lugar de protagonistas.
A cidade de Juiz de Fora é exemplar no que diz respeito ao protagonismo negro. Em razão do plantio do café, esta foi uma região que recebeu uma enorme quantidade de pessoas pretas escravizadas. Estima-se que durante o século XIX, entre 1850 e 1870, havia cerca de 20.000 pessoas em situação de escravização. Isso demonstra que os laços das pessoas negras da região são antigos, e formam importantes redes desde o período do cativeiro que se estendiam por toda Zona da Mata. Depois que a escravidão acabou e a economia do café começou a se enfraquecer, muita gente dos pequenos municípios da região como Rio Novo, Piau, Coronel Pacheco, Paula Lima, Matias Barbosa, Bicas e muitos outros vieram buscar oportunidades de recomeçar a vida em Juiz de Fora durante o século XX, em um período histórico que atualmente chamamos de pós-abolição.
Elas migravam para a cidade em busca de melhores condições de vida, e mesmo se deparando com difíceis situações geradas pelo preconceito e exclusão social, perseveraram e se estabeleceram por essas terras. Dessa maneira, apesar de por muito tempo ter sido algo apagado, hoje sabemos que haviam pessoas pretas em diversas posições em Juiz de Fora e que ajudaram a construir a história da cidade junto com tantas outras que com o passar do tempo foram chegando das localidades vizinhas.
Assim, o objetivo deste projeto é contar um pouco sobre essas memórias que durante muito tempo foram deixadas de lado, e conhecer mais sobre o passado da cidade de Juiz de Fora e das pessoas pretas que por aqui viveram e vivem. Este é o projeto Caminhos da Ancestralidade!
SOBRE O ACERVO
O projeto Caminho da Ancestralidade, assim, se constitui como um acervo de história oral didático voltado para a preservação da memória negra em Juiz de Fora. As entrevistas do acervo são realizadas por alunos de escolas de Juiz de Fora instruídos pelos aplicadores do projeto com base no material de apoio produzido pela Damata Cultural. Em resumo, aos alunos é proposto que se realize entrevistas do tipo história de vida com pessoas negras da cidade, preferencialmente idosas, que façam parte do seu convívio.
O material de apoio “Caminhos da Ancestralidade” pode ser acessado através do link a seguir:
MATERIAL DE APOIO – CAMINHOS DA ANCESTRALIDADE
O Acervo do projeto Caminhos da Ancestralidade pode ser acessado através do link a seguir:
ACERVO CAMINHOS DA ANCESTRALIDADE
APOIADORES DO PROJETO:
O projeto Caminhos da Ancestralidade é uma realização da Damata Cultural, dentro das contrapartidas sociais do projeto “Slam da História”, com os seguintes apoios:
Apoio institucional: LABHOI/AFRIKAS UFJF
Apoio Didático: GEPACEH UFJF
Apoio Cultural: FUNALFA – Edital Quilombagens 2021
Autoria: Luís Roberto Silva Cruz – Historiador e Produtor