Bromeliaceae registrada em São Gonçalo do Rio Preto, Parque Estadual do Rio Preto

Ao longo dos últimos vinte anos, o biólogo e pesquisador Pedro Nobre vem realizando expedições para registros fotográficos de espécies vegetais e animais por todo o Brasil. O acervo pessoal reúne em torno de dez mil imagens. Agora, uma boa parte dessa coleção estará reunida e disponível para consulta no projeto Lafam, Laboratório de Fotografia Ambiental. O projeto pretende reunir pesquisadores e ambientalistas em uma mesma plataforma colaborativa, de acesso online. O site ainda nem foi lançado e já conta com mais de quinhentas fotos. Os registros inseridos no sistema são previamente avaliados, revisados e catalogados para que as informações científicas a respeito da espécie possam ajudar outros pesquisadores na identificação e, dessa forma, auxiliar em outras pesquisas e criar uma memória ambiental dos ecossistemas visitados. A ideia é construir um grande banco de dados ambiental de forma participativa, de forma que os registro feitos pelos ambientalistas possam comunicar-se entre si. É um projeto de extrema relevância científica e ambiental e pode contribuir, por exemplo, para discussões atuais sobre as ameaças de degradação e mudanças climáticas.

A Serra do Espinhaço, onde ocorre a maior parte dos campos rupestres no Brasil é uma das áreas registradas que mais preocupam o pesquisador. Ela briga mais da metade das espécies ameaçadas de extinção do estado de Minas Gerais. São áreas de expressiva biodiversidade, com ocorrência de grande número de nascentes e uma composição única de espécies, originalmente instaladas em quartzitos, arenitos e formações ferrosas. “Dentre os biomas brasileiros, o cerrado é o mais ameaçado, devido à sua facilidade de desflorestamento e presença de grandes áreas planas. Os afloramentos rochosos guardam uma importante biodiversidade que traz informações importantes de tempos passados”, afirma o biólogo.

Serra do Pires em Congonhas

A Cadeia do Espinhaço situada no Planalto de Diamantina, com muitas espécies raras e endêmicas, é o centro de diversidade para vários grupos de plantas e abriga aproximadamente 10% da diversidade da flora do Brasil, reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, como Reserva da Biosfera.

Para o pesquisador, mostrar para a população a biodiversidade é uma importante forma de conscientização e para isso, é preciso traduzir as informações científicas em uma linguagem acessível, permitindo a participação de toda a sociedade na tomada de decisão e formulação de políticas públicas sustentáveis. “Muitas vezes, a ausência de preservação passa pelo descaso e o desconhecimento, que juntos, permitem de forma alienada o avanço destrutivo de um falso progresso. Precisamos conhecer para preservar, mas esse conhecimento tem que ser acessível a todos os setores da sociedade. É através do conhecimento da biodiversidade que podemos valorizá-la”, afirma.

Os registros do Laboratório de Fotografia Ambiental podem ajudar a sociedade a reconhecer o potencial ambiental brasileiro e denunciar os diversos impactos impostos a ele. Nesse sentido, a imagem tem um papel fundamental, com grande poder de comunicação, denúncia, divulgação, conscientização e documentação de espécies e ambientes. As mudanças climáticas, resultado da ação desenfreada de políticas econômicas não sustentáveis, representam riscos reais. Alguns estudos mostram que a elevação das temperaturas está fazendo o mundo perder espécies a uma taxa 1.000 vezes maior do que em qualquer outro momento na história. Um milhão de espécies estão em risco de extinção nas próximas décadas.

Piperaceae . Registrada na Serra do Pires em Conconhas

De acordo com o pesquisador e jornalista Ricardo Reis, um dos responsáveis pela organização dos dados no portal, os registros do Lafam poderão servir de referência para estudos que podem auxiliar nas tomadas de decisão com base em informações científicas e assim, pressionar os órgãos públicos a defender a biodiversidade em contraposição às politicas de desenvolvimento que não levam em consideração a preservação do meio ambiente. “É uma forma de contribuir para conscientizar a população e determinar o que aconteceu, o que acontece e o que acontecerá com a biodiversidade”, afirma Ricardo.

Pelas imagens que compõem o banco de dados, além de poder já ser considerado uma referência para consulta, os resultados futuros das pesquisas a partir do acervo do Lafam poderão impactar inclusive o entendimento sobre as transformações e impactos em diversos ecossistemas.

O Laboratório de Fotografia Ambiental estará disponível para acesso em meados de novembro de 2024 em http://lafam.bio.br