Sete horas de viagem e trilhas íngremes separam o grupo de pesquisa formado por professores e técnicos do João XXIII, da aldeia de indígenas Guarani, cravada em uma das encostas da Serra da Bocaina em Paraty. Em uma localidade preservada, de águas transparentes que brotam do chão abrindo caminho em direção ao mar, a tribo Mbyá ocupa uma clareira em meio a uma densa porção de mata atlântica.
O cacique conta que os indígenas se instalaram no local há quase cem anos, mas o assentamento foi demarcado apenas em 1991. As famílias que vivem ali, cerca de quarenta indígenas, procuram preservar a cultura e a identidade dos povos originários, através dos hábitos alimentares, da oralidade e dos rituais que reúnem cânticos, música, danças e uma forte crença espiritual.
Duas dessas manifestações, o Xondaro e o Tangará, são objetos de estudo do projeto “Danças tradicionais da escola: a construção da identidade brasileira por meio da discussão da diversidade”. A pesquisadora e professora do João XXIII/UFJF, Drª Cátia Duarte, explica que a pesquisa permite registrar e levar esse conhecimento aos alunos, ressignificando as danças tradicionais que são obrigatórias na escola. “O Xondaro é uma dança feita por homens guerreiros que buscam fortalecer o modo de ser guarani, pedindo a proteção e a inspiração de Nhanderu, sua maior divindade. Já o Tangará é uma dança feminina onde os papéis são bem definidos, com movimentos inspirados nos pássaros, que representam alegria, liberdade e reflexão. As mulheres expressam a proteção, de forma acolhedora, a resistência do povo Guarani-Mbyá, e a ligação da alma feminina com o universo”, explica a professora.
Com a permissão do cacique e do pajé foi possível participar e registrar os rituais no opy, a casa de reza. As cerimônias contam com a participação de um coral indígena que entoa cânticos na língua nativa e celebra o espírito da floresta, a colheita e a união da comunidade.
Nino, vice-cacique da aldeia, se orgulha de ainda conseguir manter as tradições vivas e passar para as crianças o conhecimento de seus ancestrais. No prédio da escola, feito de pau a pique, os alunos aprendem o português, depois do guarani. O professor indígena convive alguns meses com as crianças antes de iniciar as aulas.
Em maio, há a possibilidade de realizar um grande evento de Juiz de Fora, reunindo indígenas da região de Paraty que possibilitará o diálogo da UFJF, representada pelo projeto coletivo de trabalho dos terceiros anos do Ensino Médio do João XXIII, com esses povos.