Alunos dos sextos anos do Ensino Fundamental II se reuniram com discentes de licenciatura em História da Universidade Federal de Juiz de Fora para trocar experiências e conhecimentos do aprendizado em História.
A atividade foi promovida pela professora de História do Colégio João XXIII, Fabiana Rodrigues, e contou com apoio da professora da Faculdade de Educação da UFJF, Sônia Regina Miranda, que conduziu, junto com Fabiana, a conversa com os estudantes da UFJF sobre a construção de conhecimento e formas de aprendizado diferenciadas fora da sala de aula que envolvam os alunos e melhorem a fixação do conteúdo aprendido.
O diálogo começou com os alunos do João XXIII explicando o trabalho que desenvolveram durantes as aulas de história, cujo objetivo era compreender a historicidade por traz das diferentes linguagens e tecnologias criadas pelo homem. Os estudantes falaram sobre o início do projeto, e contaram como a professora os estimulou a desvendar as pistas deixadas pelas pinturas do paleolítico, capazes de revelar os modos de viver das pessoas desse período. Para desenvolver um pensamento histórico acerca das mudanças e permanências nessas práticas humanas de registros, eles produziram suas próprias marcas registrando informações sobre o do momento atual, a partir de uma linguagem que lhes é própria: os emojis.
Segundo Fabiana, este tipo de interação estimula uma produção de conhecimento exponencial, pois coloca os alunos do Ensino Fundamental como produtores de conhecimento e a troca contribui para a formação dos futors profissionais de História. “Atividades como essas, em que a estrutura convencional de sala de aula é modificada, amplia o olhar de todos nós sobre o processo de aprendizagem. Existe um senso comum, de cultura de escola, que a sala de aula possui uma hierarquia em relação ao saber, onde o professora é o sujeito que transfere o conhecimento para o aluno. Ao sair dessa lógica fixa, o professor e o aluno assumem protagonismo na produção de conhecimento. E ao meu ver, essa é a potencialidade da escola. Quando os alunos do Ensino Fundamental dividem suas experiências com os alunos da graduação ambos passam a entender que existe um lugar de fala legítima e profundamente formativa para todos em sala de aula”, explica.
Beatriz Almeida Campos, do 6º ano A, diz que conversar com estudantes da UFJF sobre o trabalho que fez foi totalmente diferente e divertido. “Achei legal poder falar sobre o nosso trabalho. Foi diferente e não fiquei com vergonha. Gosto muito de história, e queria mostrar tudo o que eu aprendi sobre os homens do passado, que mesmo sem um sistema de escrita, criaram estratégias para se comunicar. Eu acredito que daqui a algum tempo tudo deve ser tecnológico, mais evoluído”.
De acordo com a professora Sônia, trazer os alunos da universidade ao Colégio é uma forma de preparo e capacitação. “Meus alunos participaram de dois movimentos: o primeiro é para que eles tenham a dimensão da relação com o mundo real, na disciplina que dou, Metodologia do Ensino de História, isso está muito presente. Nela são realizadas atividades na cidade, na rua e nas escolas. Isso é um componente da disciplina. A possibilidade de vir ao Colégio é muito formativa para os alunos porque ela traz esse elemento da experiência completa, da força do instante que não é restituída. Não conseguimos fazer isso de novo, e se fizer não será a mesma atividade, os instantes, insights e alunos serão outros”, comenta.
Para a docente, experiências como essas geram um contexto de formação riquíssimo e possibilita a discussão sobre o trabalho intelectual do professor de história na escola no ensino fundamental, que envolve escolhas teóricas densas. “A conversa com a professora Fabiana ajuda os alunos a terem uma noção interdisciplinar, já que a atividade desenvolvida pela professora Fabiana aliou os conhecimentos de história aos de ciências”, afirma.
Outro ponto que Sônia destaca é a importância da filosofia do Colégio de Aplicação João XXIII para o desenvolvimento de diferentes formas de aprendizado. “O João XXIII nasce em torno de um sonho que é ser um colégio de aplicação da Universidade. Ser um colégio de aplicação significa ser um colégio aberto para a formação de professores, mas aberto para a problematização, experimentação, construção de alternativas novas, isso é o DNA do Colégio. Esse trabalho coordenado pela Fabiana restitui esse DNA substantivo que é o exercício da experimentação pedagógica, a construção de alternativas que favoreçam o acesso ao conhecimento, como ele permite trabalhar como formadora de professores na universidade sob o que significa a real relação com o saber. Em tese, vemos aqui todos os elementos da dispersão: indisciplina, agitação, tudo isso está presente. Mas eles demonstraram de forma clara e evidente que se constituiu uma relação com o saber. Essa relação é forte e densa. Eles não só aprenderam o conteúdo, como eles estão empoderados em relação a ele. Os estudantes conseguem falar do trabalho feito e da unidade aprendida mesmo depois daquilo ter terminado, devido à forma de trabalho”, destaca
Hilda Lany Rabelo Lima, estagiária e estudante de história, vê nesse processo de construção a importância do professor como mediador. “Como futuros docentes de história precisamos ver formas diferentes de aprendizado que trabalhem com conexões de presente-passado, justamente pra que os alunos não pensem que a história diz respeito somente ao que aconteceu há muito tempo atrás”, explica.
A aluna do 3º período do curso de História da UFJF, Gabriela Rodrigues de Castro, relata que a maioria dos alunos que fazem licenciatura gostam da arte da docência, mas que durante um período houve uma falta de disciplinas que capacitassem e preparassem os alunos para a futura profissão. “Dar aula não é fácil, é desafiador. Adquirir um conhecimento é uma coisa, mas ofertar ferramentas para o aluno desenvolver o pensamento dele sobre alguns temas é algo totalmente diferente. Tenho certeza que não estaria tão satisfeita se não tivesse as matérias de licenciatura logo no inicio do meu curso, pois o que gosto é a história aliada a docência. Na faculdade, vemos um academicismo muito grande na elitização das palavras nos artigos, por isso, muitas vezes títulos de jornalistas falando sobre história fazem mais sentido para as pessoas”, comenta.
“O que a Sônia faz é um movimento intelectual continuo, ela oferta ferramentas para o aluno criar seu próprio pensamento. A história faz conexões toda hora. A matéria que ela ensina nos ajuda a saber ensinar pois quando entramos na faculdade não sabemos. Visitando o Colégio vemos a realidade da sala de aula, enriquecendo nossa formação com a prática que é mínima, no curso de história tão teórico. Esse momento é um manejo de ver como será nossa futura profissão, de como funciona. Experiência como professor nós ainda não temos. A visita proporciona um aprendizado insubstituível, pois vivenciamos isso. Vejo um intercâmbio de aprendizado continuo porque para os alunos, atividades assim estimulam o gosto pela escola. Educação não é engolir conteúdo, mas também trocar experiências” destaca.