Resistência, esperança e coletividade são as palavras que definem o Espetáculo Abayomi, que durante os três dias de apresentação no Cine Teatro Central, encheu a plateia. Com muita música, dança e elementos circenses, a peça coordenada pelos professores Frederico Crochet e Adriane Tomaz, teve como elenco a Trupe do João e alunos que participam dos projetos de extensão de dança e atividade circenses.

 

A lenda de Abayomi une fatos históricos e contos folclóricos. Uma das versões diz que para acalentar seus filhos durante as viagens a bordo dos navios negreiros, as mães africanas rasgavam retalhos de suas roupas e a partir deles criavam pequenas bonecas, feitas de tranças ou nós, que serviam como amuleto de proteção. As bonecas ficaram conhecidas como abayomi.

 

Em outra concepção, existem lendas que contam a história da princesa Abayomi, cujo nome significa “Encontro Precioso”, em Iorubá. Essa princesa teve sua tribo invadida por europeus que dizimaram parte da população e amarraram os sobreviventes para escravizá-los. Enquanto seus captores estavam distraídos, Abayomi utilizou suas habilidades corporais para se libertar e salvar a tribo. Para enganar os inimigos, a tribo substituiu os prisioneiros por bonecas de pano e, quando os europeus se deram conta da troca, imaginaram que tinha acontecido uma feitiçaria e fugiram assustados.

 

Ambas as versões foram mostradas na peça. Com o uso de movimentos corporais, acrobacias e músicas tribais, as cenas despertaram a atenção do público. Patrícia Cesário Silva é mãe da aluna Ana Beatriz do 4º ano, que participa do projeto de extensão de circo. Ela conta que adorou o espetáculo e que ficou emocionada na cena do navio negreiro, que contava com efeitos de luz e som representando trovões. “Tinha elementos da cultura africana que eu nem conhecia e eu achei muito interessante.”

 

Sophia Rocha de Oliveira, aluna do 6º ano, também participou da peça. Ela conta que já conhecia a história da abayomi graças a uma professora de geografia que a mostrou para a turma, numa atividade em que fizeram a boneca. Ela, que já havia participado de duas outras apresentações no colégio, diz que ficou emocionada por causa da história negra e de volta às raízes. “Eu gostei da experiência de participar dessa peça, teve alguma coisa de especial nela.”

 

A ideia do espetáculo Abayomi surgiu no ano passado, quando Adriane Tomaz, professora do Departamento de Educação Física, assistiu a uma contação de histórias sobre a boneca, feita pelo grupo de estudos de práticas corporais afro descendentes do Colégio. Ela, que não conhecia a lenda, conta que ficou encantada e no momento já começou a ter ideias iniciais para uma possível apresentação. Pouco tempo depois, coincidentemente, dentro das atividades previstas para as turmas do 5º ano, aconteceu uma oficina de bonecas abayomis, fazendo a história cruzar seu caminho mais uma vez. Adriane entrou em contato com o professor de Artes e amigo, Frederico Crochet, que também se interessou pela ideia. “A história apareceu por coincidência em dois momentos seguidos, nós não fomos buscar”.

 

Frederico conta que “Coincidiu que o grupo já havia sugerido como tema geral para um próximo trabalho a África, então foram várias coincidências que se juntaram para fazer esse espetáculo”. Segundo ele, a intenção de trabalhar com a África era valorizar essa cultura, que pode ser considerada nossa cultura de origem. “Nós temos um país em que a cultura é muito enriquecida pela cultura africana. A gente sente a necessidade que nossos alunos negros tenham orgulho das próprias raízes e que os alunos brancos também tenham, além de respeitarem”.

 

O professor destaca que 25 de maio, segundo dia de apresentação do espetáculo, foi comemorado o dia da África. Fato curioso porque não era a previsão inicial de apresentação e por um imprevisto ela acabou acontecendo nessa data.

 

Em relação ao processo de produção do espetáculo, Frederico, responsável pelo roteiro, conta que como em todas as peças, esta demandou muito trabalho e dedicação. “Definido o tema, existe a necessidade de adaptação da história para um roteiro de apresentação de acordo com as potencialidades do grupo”. Para isso, são feitas reuniões para que o elenco sugira ideias. Ele explica sobre a dimensão artística da produção: “Os números são ensaiados separadamente, só mais para o final que a gente consegue juntá-los para que todos consigam ver o espetáculo como um todo e entender a qual parte cada um pertence.”

 

A produção do espetáculo começou em Outubro do ano passado e desde o início conta com peças fundamentais para sua realização. Adriane destaca que o apoio dos bolsistas, direção do Colégio e profissionais que dão o suporte técnico, são essenciais para que tudo dê certo. São tarefas de responsabilidade e que demandam o empenho de toda equipe. Além disso, alguns professores fizeram parte do elenco esse ano, agregando ao espetáculo.

 

Adriane conta que Abayomi foi um espetáculo especial para ela, porque dentre nove apresentações em que esteve envolvida, foi a primeira em que participou do elenco. Além disso, sua parceria com Frederico Crochet foi fundamental no desenvolvimento da peça. Segundo os professores, não era a intenção inicial criar um espetáculo como atividade interdisciplinar para os alunos. Foi um encontro pessoal que permitiu com que acontecesse dessa maneira. “A gente divide essa tarefa de responsabilidade. Mas a gente entende que a gente precisa de uma afinidade que nós temos e que é preciosa.”, conta Adriane.

 

No ano em que Frederico começou a trabalhar no C.A. João XXIII, Adriane já tinha um projeto de dança e fazia pequenas apresentações na escola. “Eu sempre tive o desejo de enriquecer essa apresentação que acontecia no final do ano, fazer isso crescer. O que nos uniu foi a arte”. Para Frederico o trabalho acaba se tornando interdisciplinar pela forma como eles atuam. “Quando nós nos juntamos, uniu o útil ao agradável. As dificuldades que aparecem, nós conseguimos ultrapassar justamente por essa união, por essa responsabilidade”.

 

Abayomi é o terceiro espetáculo que acontece no Central e desde que a Trupe começou a se apresentar lá as Escolas Públicas da cidade são convidadas. “Quando a gente veio para o Central, já veio com esse intuito. Primeiro porque já tínhamos um grupo muito grande, hoje com quase 100 pessoas no elenco, além disso, havia a vontade de fazer um espetáculo maior, abrindo para a comunidade”, explica Adriane. Na noite de estreia, cada aluno do elenco pôde levar dez convidados e nos outros dois dias as Escolas Públicas formaram o público. “Ampliar isso para as escolas da rede pública no sentido de garantir que esses alunos tenham acesso a esse espaço cultural da cidade, que é um espaço importante, que muitas dessas crianças às vezes passam a vida escolar sem ter sequer entrado aqui”, completa.

 

As crianças foram calorosas e reagiam aos movimentos do espetáculo com gritos de animação e palmas. Para Cláudia Valssis, diretora da Escola Municipal Gabriel Gonçalves da Silva, a iniciativa foi importante porque os estudantes da Escola Pública, geralmente não tem oportunidade de frequentar esse espaço. “É uma importância cultural mesmo, a gente está trazendo essa cultura da África para eles. Eles já tinham essa noção, então eu tenho certeza que foi muito legal esse espetáculo para eles, muito enriquecedor.”

 

Brenda Correia Leite é do 8º ano da mesma escola. Ela diz que não conhecia a lenda especificamente e que gostou da experiência porque não costuma ir ao teatro. “Além de ser uma coisa nova, a gente aprende e eu acho bem interessante sair do ambiente do colégio para conhecer outros universos culturais”.

 

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