A economia solidária tem ganhado destaque no Brasil como uma alternativa ao
modelo econômico tradicional, caracterizado pela competição e concentração de renda.
Fundamentada na autogestão, cooperação e solidariedade, essa abordagem busca promover
trabalho digno, inclusão social e justiça econômica. Para que esse modelo seja
verdadeiramente emancipador, é essencial que dialogue profundamente com as questões
raciais, considerando que a população negra é a mais afetada pelas desigualdades estruturais
no país (ALBUQUERQUE, 2024; MEDEIROS, 2006).
Historicamente, a população negra no Brasil tem sido sistematicamente marginalizada
dos direitos econômicos, políticos e sociais. O racismo estrutural não apenas nega
oportunidades, mas também impõe obstáculos concretos à mobilidade social. Nesse contexto,
iniciativas de economia solidária oferecem um terreno fértil para práticas de resistência
coletiva e construção de alternativas de sustento. Contudo, tais práticas só serão
verdadeiramente transformadoras se incorporarem de maneira explícita as pautas de raça e
gênero, reconhecendo as especificidades das experiências negras na sociedade brasileira
(COSTA; JESUS, 2017; GAIGER et al., 2018). Estudos indicam que a economia solidária no
Brasil tem potencial para enfrentar desigualdades raciais e de gênero (ALBUQUERQUE,
2024).
No entanto, é crucial que as políticas públicas reconheçam o papel fundamental da
raça nas dinâmicas de exclusão. Isso implica não apenas garantir recursos e apoio
institucional, mas também fomentar políticas de reparação que contemplem a diversidade de
vivências da população negra. A convergência entre economia solidária e movimento negro
revela-se, portanto, como uma estratégia poderosa de resistência, permitindo a criação de
espaços de autonomia onde saberes ancestrais, experiências coletivas e práticas de cuidado
ganham centralidade (SANTOS; CARNEIRO, 2008).
A economia solidária, quando orientada por princípios antirracistas, torna-se uma
ferramenta potente de transformação. Ela desafia as lógicas de exclusão do capitalismo e
oferece um horizonte de possibilidades onde a solidariedade, a coletividade e a justiça racial
são os pilares de uma nova forma de organização social (FRANÇA FILHO, 2015).
No Brasil, onde o racismo estrutura as desigualdades econômicas, essa junção entre
luta negra e práticas solidárias não é apenas desejável — é urgente e necessária para a
construção de uma sociedade mais justa e igualitária (LAVILLE; GAIGER, 2009; SINGER;
SOUZA, 2000).
Referências
ALBUQUERQUE, Dandara V. de. Economia solidária e mercado de trabalho para as
mulheres negras: aproximações críticas. 2024. Disponível em:
https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/63092. Acesso em: 9 abr. 2025.
ASSEBURG, Hans B.; GAIGER, Luiz Inácio (Org.). Ação pública e economia
solidária: uma perspectiva internacional. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.
MEDEIROS, Marcelo. A economia solidária diante das desigualdades. Dados, v. 49, n. 1, p.
29–61, 2006. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/dados/a/M4jcqRcZqp8jSJM7TcKqbGH/. Acesso em: 9 abr. 2025.
COSTA, Bianca A. L.; JESUS, Paulo de. A economia solidária no Brasil: uma
trajetória de conformação enquanto movimento social? Mundo do Trabalho Contemporâneo,
v. 2, n. 2, p. 241–264, 2017. Disponível em:
https://periodicos.unb.br/index.php/mtc/article/view/7192. Acesso em: 9 abr. 2025.
GAIGER, Luiz Inácio; KUYVEN, Patrícia Dimensões e tendências da economia
solidária no Brasil. Sociologias, v. 20, n. 48, p. 168–206, 2018. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/se/a/GR4dLfxTZz8dnvM4BT4FTwz/. Acesso em: 9 abr. 2025.
OLIVEIRA, Gustavo M. de. Avivar a autonomia: movimentos sociais, economia
solidária e experimentações democráticas para além do Estado. Revista Direito e Práxis, v. 6,
n. 11, p. 1–25, 2015. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rdp/a/xB3n6VmLB8F7gGwjnqTs6QN/. Acesso em: 9 abr. 2025.
SANTOS, Aline M. dos; CARNEIRO, Vanderson G. O movimento da economia
solidária no Brasil: uma discussão sobre a possibilidade da unidade através da diversidade.
e-cadernos CES, n. 2, 2008. Disponível em: https://journals.openedition.org/eces/1260.
Acesso em: 9 abr. 2025.
SINGER, Paul; SOUZA, André Ricardo de. A economia solidária no Brasil: a
autogestão como resposta ao desemprego. São Paulo: Contexto, 2000.