A metodologia a ser utilizada neste programa incorpora os princípios que fundamentam iniciativas de extensão, oferecendo suporte à formação e à geração de trabalho e renda. Afirma-se a importância da práxis na ação extensionista, espaço em que o conhecimento pode ser produzido ou transformado em relação dialética, superando visões reducionistas e mecanicistas fundamentadas em processos relacionais que não conduzem à formação de pensamento crítico. A ação deve, antes, se voltar à integração de diferentes práxis que procurem colocar em evidência a contradição e o conflito como condições do viver no mundo. Essa concepção encontra lugar na educação popular, pedagogia crítica que embasa o entendimento tanto do processo de extensão, quanto da atuação universitária junto aos coletivos de economia solidária.
A diversidade, a interdisciplinaridade, a intersetorialidade, a compreensão de que os saberes populares guardam uma rica prática cotidiana que devem ser problematizados buscando-se dela extrair a teoria, revestindo-a de cientificidade em um processo que adota a análise da realidade como um rico complexo de determinações, são expostos por Gadotti (2002) como os princípios que norteiam a educação popular. Incorporam ainda os espaços formais e não formais como propiciadores dessa epistemologia, não condicionando o processo de aprendizagem a nenhum limite.
Isso posto, destaca-se que o aporte ideológico da extensão e educação popular têm norteado o trabalho da Intecoop/UFJF desde a sua criação, em 1998. Assim, as ações da incubadora voltam-se ao acompanhamento e assessoria a coletivos de trabalhadores para a construção conjunta de alternativas que levem à geração de trabalho e renda, por meio de um conhecimento socialmente referenciado que possa, ainda, promover a emancipação e autonomia dos sujeitos envolvidos sejam eles discentes, docentes, técnicos ou trabalhadores.
O processo metodológico a ser desenvolvido pelo programa de extensão ocorrerá a partir de diagnóstico socioeconômico dos grupos, passando pela mobilização, articulação e formação em diferentes temáticas (trabalho e economia solidária; democracia, participação; cooperativismo, redes solidárias; direito do trabalho; oficina sobre administração; agroecologia, certificação participativa, autogestão, políticas públicas); formalização do coletivo (quando for o caso); acompanhamento da gestão; busca conjunta de estratégias de comercialização e participação em Fóruns e Redes; estabelecimento de práticas de comunicação interna e externa.
A proposta é criar espaços nos quais os sujeitos ultrapassem os limites de suas iniciativas autogestionárias e através da interação propiciada, possam ser estimulados para o pensar coletivo sobre “como fazer”, “como resolver”, “como agir”, “como intervir a partir de um projeto, de uma ideia” (GOHN, 2017, p. 20). A perspectiva é que dessa interação possam surgir reflexões novas e mais aproximadas às necessidades percebidas pelos sujeitos. Nesse sentido, a incubadora não se furta a incorporar a óptica dos setores populares no desenvolvimento científico, tecnológico, artístico e cultural gerado na Universidade, reconhecendo que existem outras formas de conhecimento surgidas da prática de pensar e agir de inúmeros segmentos da sociedade. O programa tem três fases centrais no processo de assessoria aos grupos incubados: Fase 1 de pré-incubação, na qual ocorre a aproximação com os grupos candidatos à incubação, realizando uma análise de viabilidade associativa/cooperativa e econômica e introdução à economia popular solidária e autogestão; Fase 2 de incubação, na qual os diversos tipos de assistência (jurídica, contábil, administrativa, formativa e de comunicação) são disponibilizadas aos grupos prezando pelo desenvolvimento e emancipação dos mesmos; Fase 3 processo de desincubação, ao observar o desenvolvimento dos grupos e o alcance das metas e indicativos esperados, percebendo a autonomia e pleno desenvolvimento do grupo, o mesmo passa pelo processo gradual de desincubação com o programa.
Todo processo é desenvolvido junto aos coletivos com acompanhamento de estudantes. Cada um desses coletivos possuirá um estudante mobilizador que aciona os demais docentes e professores dos projetos que se organizarão para o atendimento de demandas por meio dos núcleos de formação em economia solidária, jurídico e contábil, planejamento e gestão, comunicação.