No dia 23 de julho de 2025, os alunos da disciplina de Botânica participaram de uma visita ao Horto de Plantas da Faculdade de Farmácia guiados pelos alunos do projeto de extensão do Horto e pela professora Luciana Chedier.
Veja aqui algumas fotos:





Durante a visita foram destacadas algumas das espécies vegetais presentes no horto além da importância científica, social e ecológica deste espaço conforme relatado abaixo:
Plantas em Destaque
Mamona (Ricinus communis)
Mamona é uma planta bastante conhecida na cultura popular. Seu emprego na indústria de cosmético é extremamente amplo pois dela é extraído o óleo de rícino, sendo utilizado como matéria-prima em batons, hidratantes e produtos capilares. Na medicina tradicional a mamona é utilizada como laxativo natural e por seus efeitos anti-inflamatórios.
Entretanto o risco se apresenta nas sementes, que contem ricina uma substância extremamente tóxica, que ainda não possui antidoto eficiente em casos de envenenamento por ela.
Espada de São Jorge (Dracaena trifasciata)
A Espada de São Jorge é uma planta ornamental bastante comum no Brasil, que além da sua utilização em decoração, resistência, fácil cultivo e na cultura popular e religiosa, também tem sido alvo de pesquisas para isolamento de substâncias antimicrobianas.
Entretanto, é considerada uma planta de baixa toxicidade para consumo humano, apresentando maior risco para crianças e animais domésticos como cachorros. Já que os sintomas são mais graves se comparados a um quadro de intoxicação em adultos.
Manjericão (Ocimum basilicum)
Popularmente conhecido na culinária, o Manjericão não é apenas empregado no preparo de alimentos como também aparece na medicina fitoterápica e na aromaterapia.
Na medicina tradicional é utilizado para tratamento de tosse e problemas digestivos. Seu óleo essencial tem sido alvo de pesquisas por seus efeitos calmantes e redutores de estresse.
Boldo (Plectranthus sp)
Mesmo que seja conhecido popularmente como boldo, a planta encontrada popularmente nos jardins das casas brasileiras e aqui no Horto da Faculdade de Farmácia não são boldos verdadeiros. O boldo é originalmente uma planta do Chile cujo o nome científico é Peumus boldus, entretanto o que se é encontrado no Brasil são espécies completamente diferentes sendo pertencentes ao gênero Plectranthus, muitas vezes chamados de boldo da terra.
É importante notar que mesmo que o boldo popular seja diferente do boldo verdadeiro e consequentemente não apresente o alcaloide boldina que é a molécula principal com ação farmacológica, o boldo da terra também tem ação farmacológica hepatoprotetora e antiespasmódica mas devido a outro conjunto de moléculas diferentes.
Artemisia (Artemisia vulgaris)
É uma planta empregada como fitoterápico e tem seu uso popular voltado principalmente para cólicas menstruais e anti-inflamatórias. Porém seu destaque atual gira em torno do tratamento da malária, onde geralmente se é empregado a cloroquina, porém o Plasmodium já apresenta resistência a essa droga. Então entra a artemisia que possui artemisina que possuem atividade antimalárica podendo ser utilizada sozinha ou em conjunto com a cloroquina, gerando resultados muito positivos no tratamento da malária.
Entretanto é uma planta que seu uso apresenta riscos a grávidas, uma vez que tem efeito abortivo.
Carqueja (Baccharis trimera)
A carqueja é uma planta empregada tanto na medicina popular quanto nos fitoterápicos. Atualmente seu destaque se deve ao fato de ajudar a regular a glicemia sanguínea e a pressão sanguínea, podendo então auxiliar em pacientes com diabetes e hipertensão.
Porém é importante notar que seu uso precisa ter acompanhamento médico dependendo da frequência, já que possui interação medicamentosa com outros hipoglicemiantes como Metformina. Isso porque os dois são hipoglicemiantes, podendo levar a uma abrupta e indesejada queda da glicemia no sangue.
Valeriana (Valeriana officinalis)
Usada principalmente por seus efeitos calmantes, empregada no tratamento fitoterápico para ansiedade e insônia. Pode ser consumida na forma de chá, tintura ou a droga vegetal seca na forma de capsulas.
Não é uma planta nativa do Brasil tendo sido introduzida pelos europeus.
Erva Baleeira (Cordia verbenacea)
Uma planta brasileira que é considerada uma PANC (Planta Alimentícia Não Convencional) usada como tempero devido tanto ao seu sabor e aroma, sendo popular também como substituta de carne de frango para pessoas que não a consomem já que é popularmente tem um sabor de “caldo de galinha”.
Além dos fins culinários, a planta também possui efeitos anti-inflamatórios e analgésicos podendo ser consumida na forma de chá. Em 2005 a UNICAMP desenvolveu uma pomada com o nome comercial Acheflan utilizando o óleo essencial da planta para o tratamento de dor muscular.
Importância Científica, Social e Ecológica do Horto
Como exemplificado pela descrição de algumas espécies presentes no horto, o emprego das plantas permeia tanto o aspecto da saúde como o uso tradicional e de fitoterápicos, quanto o de pesquisas visando o estudo de moléculas com ação farmacológica ou de interesse comercial.
No Brasil, cerca de 80% da população utiliza medicamentos fitoterápicos ou caseiros como forma de tratamento primário, sendo importante principalmente para populações de baixa renda que não tem acesso a recursos médicos. A conscientização do uso permeia não só a divulgação, mas o uso consciente afim de evitar intoxicações.
O estudo de princípios ativos das plantas é ainda hoje o maior precursor no desenvolvimento de novos medicamentos, seja pelo isolamento de algum composto ou pela mimetização deles com fins terapêuticos utilizando síntese química e modificação molecular. As plantas medicinais não só têm impacto no desenvolvimento de alopáticos, mas são largamente utilizadas na medicina popular, conhecimento passado de maneira geracional.
É importante notar que o cultivo é uma forma de conservação por mostrar o valor dessas plantas e sua importância na manutenção da saúde da população, sendo que algumas plantas medicinais são ameaçadas de extinção seja pelo desmatamento ou pela substituição de espécies não nativas do Brasil.
Logo projetos como o Horto da Faculdade de Farmácia não só evidenciam o potencial de muitas dessas plantas pelo estudo e pesquisas acerca de seu uso, como também se torna um local onde é possível que esse conhecimento do emprego de plantas medicinais seja fomentado e distribuído para a população, existindo até a possibilidade e viabilização de mudas.
Referências
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