Paulo Menezes
Assim como o nosso instinto de preservação nos livra – ou pelo menos tenta nos livrar – do constante risco da morte, também deveria ser a educação. Ninguém, em sã consciência, se atira do alto de um prédio. A sensação de perigo nos faz recuar. Para muitos o medo é tão grande que nem permite chegar perto de uma janela mais alta. Por outro lado, ninguém sente medo de trafegar em um carro a 100 km/hora. Qual é o risco de morte envolvido nessas duas situações?…
Vamos analisar a pergunta inicial com algum conhecimento de Física básica do 1º ano do Ensino Médio. Podemos estipular que um prédio de dez andares tem aproximadamente 30 metros de altura (+/- 3 m por andar). Um corpo que cai dessa altura (h), sujeito à aceleração da gravidade (g = 9,8 m/s²), atinge o solo com uma velocidade de aproximadamente 25m/s, algo em torno de 90 km/hora. Isso significa que o impacto da queda é até um pouco menor que o impacto de um carro a 100 km/hora.
Provavelmente, a maioria dos leitores deste texto irá ponderar que a queda seria praticamente fatal, enquanto que no acidente de carro esta fatalidade é bem reduzida. Isso se deve aos equipamentos de segurança e a proteção parcial que a carcaça do veículo oferece. O automóvel é um advento muito novo para o ser humano – pouco mais de 100 anos – enquanto que o risco das quedas sempre esteve presente durante toda a evolução do homem. Por isso, entendemos melhor o perigo quando miramos a calçada do alto de um prédio do que quando estamos trafegando de automóvel.
Quanto tempo ainda havemos de esperar para entendermos os riscos da velocidade excessiva? Um bom material educativo produzido pela Fiat Automóveis, na década de 1990, nos diz que: “Dirigir um carro significa tomar continuamente uma série de decisões (andar, frear, acelerar, dar seta, etc.) e estas decisões devem ser tomadas rapidamente. Algumas decisões podem ser desastrosas se não levarem em consideração a nossa velocidade.” Para se ter uma ideia, a 25 m/s (90 km/h) uma distração de um segundo equivale a uma distância percorrida de 25m. Recentemente, foi lançada uma campanha que alerta para esse risco, quando o motorista utiliza o celular ao dirigir. E isso é apenas um pequeno exemplo.
Infelizmente, na escola não entendemos por que temos que estudar esta ou aquela matéria. Às vezes nem o próprio professor sabe ao certo porque está ensinando aquilo. Simplesmente o faz porque está no programa ou porque “cai no vestibular”. Porém, a resposta é muito simples. A Educação Básica serve ao propósito humano de educar para a vida e pela vida. Aprender Física ou qualquer outra disciplina pode ajudar a entender melhor os riscos que a vida nos impõe, permitindo uma ação consciente sobre o que fazemos dela. Pense nisso!
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