No dia de hoje, em que se comemora o dia do profissional de Educação Física, prestamos uma homenagem a esses profissionais com excelente texto para reflexão do prof. Dr. Apolônio Abadio do Carmo.
A lógica capitalista de mercado fez do movimento humano, desde meados do século XX uma mercadoria de troca e do corpo belo, saudável e bem cuidado seu grande alvo. Para isso, com auxilio da mídia, faz apologia á saúde, cria indústrias voltadas para a produção de alimento, roupas, bebidas, energéticos e medicamentos.
Essa concepção de corpo somada à falta de equipamentos modernos e condições dignas de trabalho docente nas escolas tem esvaziado e desmotivado a participação dos alunos ás aulas de Educação Física. Ao mesmo tempo, enquanto as academias se multiplicam país a fora, cada uma mais moderna que a outra, oferecendo aos usuários uma cadeia invejável de produtos, a Educação Física Escolar continua a mesma, espaços precários e improvisados; uma bola para quarenta alunos; professores mal pagos e expostos a todo tipo de intempérie.
Por mais criativo que seja o professor de Educação Física o aluno percebe o choque entre a “corpolatria” vendida nas academias e os conteúdos oferecidos nas escolas. Esse descompasso faz com que surjam atestados médicos duvidosos, faltas constantes e sem consequências, inatividade e aumento de peso das crianças; agressões a professores e outras atitudes degradantes e incompatíveis com o ato educativo.Some-se a isso o fato de que a Educação Física, ao longo de sua existência sempre priorizou exercícios centrados na contração muscular, na hipertrofia, no rendimento, na eficiência, buscando desenfreadamente a vitória e a medalha.
As consequências disso para o corpo humano são por demais conhecidas: aumento de lesões, uso indiscriminado de anabolizantes sem mencionar as consequências nefastas das “formulas mágicas” de emagrecimento, hipertrofias e cirurgias modeladoras. Infelizmente os estudiosos da Educação Física, cuja pedra de toque é o corpo humano em movimento, tem preferido disciplinar suas mentes em férreas estruturas intelectuais e discutir entre si, tal ou qual concepção, crê cada um, na exatidão de seu próprio conceito de corpo e na falsidade do conceito alheio.
O conceito de movimento humano hegemônico alude à realidade, mas não é a realidade do movimento e, mais, não pode ser a realidade porque não o expressa em todas as suas dimensões. É parcial e limitado à contração, ao macro, ao visível; reverter esse ideário é a grande meta desse século. Por essa e outras razões o desafio atual, no campo da Educação Física, não se restringe apenas em analisar criticamente as atividades físicas e movimentos desportivos, desvelando seu maior ou menor grau de alienação, controle e liberdade do corpo, mas em identificar e reorganizar, o movimento humano de modo que os profissionais da área em espaços escolares e não escolares possam utilizá-los como ferramenta educativa nas perspectivas da diversidade humana, docência ampliada, inclusão social e educacional.
Parabéns aos abnegados professores e professoras de Educação Física pelo seu dia e por conseguirem com tão pouco, superar as mazelas sociais e disseminar, dentro do possível, ações educativas consequentes. Resistem porque sabem que a ignorância, a violência e a pobreza são unidades indissolúveis e precisam ser superadas.
Apolonio A. do Carmo Professor de Educação Física Inativo UFU