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Direitos humanos e transfobia

Com o intuito de esclarecer  a comunidade acadêmica e a  população, a pedido da Tribuna de Minas, escrevi o artigo: Direitos Humanos e Transfobia, publicado no último domingo, dia 29 de novembro, na Coluna “Artigo do Dia”. Boa leitura e boas reflexões a todos e todas!

 

Por CAROLINA DOS SANTOS BEZERRA, DIRETORA DE AÇÕES AFIRMATIVAS DA UFJF

No dia 25 de novembro, a Universidade Federal de Juiz de Fora lançou a campanha: “Respeito à diversidade”, que desde então tem tido uma grande repercussão na imprensa local e nacional. Diferentes pessoas se posicionam, uns contra, outros a favor, os argumentos são diversos, mas o que mais me impressionou em tudo isso é o discurso de ódio, a fobia, o desconhecimento e o preconceito expressos nos comentários de tantas pessoas. É sabido que o racismo, o preconceito e a discriminação têm sido pauta e tema dos organismos internacionais e das agendas políticas, exatamente por cada vez mais terem um impacto determinante no desenvolvimento político e cultural dos países; ou seja, um país antidemocrático, que não respeita e defende os direitos humanos, com vários índices de violência e extermínio de grupos secular e historicamente marginalizados, definitivamente, é um país que também terá o seu desenvolvimento científico, tecnológico e educacional comprometidos.

O Brasil lidera o ranking mundial de assassinatos de gays, lésbicas, travestis e transexuais. Esse dado deveria envergonhar a todos nós, assim como o fato de que 70% dos jovens que morrem no Brasil são negros e o assassinato de mulheres negras ter subido em 20% , enquanto que o de mulheres brancas caiu em 10%!

Um país que mata a sua população negra, que mata as suas mulheres, suas mães e filhas e a sua juventude na idade mais fértil só pode ter alguma coisa de errado com seus valores. Quantas vidas, quantos projetos, sonhos e possibilidades de projetos existenciais são cotidianamente ceifados? Assim sendo, as políticas de ação afirmativa visam garantir direitos fundamentais a grupos aos quais esses direitos são negados, onde o Estado brasileiro não garante o direito mais básico e fundamental, que é o direito à vida! E o que fazemos frente a esse cenário? Uma das estratégias metodológicas de elaboração de políticas públicas e institucionais é o da prevenção e sensibilização da população com relação a grupos que sofrem extrema violência, preconceito e discriminação, buscando minimizar e diminuir a violência e a intolerância contra eles. O grupo LGBTTI (lésbicas, gays, travestis, transexuais e intersexuais) é um desses grupos, portanto, esse foi o foco da discussão e o principal objetivo da campanha: “Respeito à diversidade”, a garantia de não submeter à violência, à barbárie e ao constrangimento o indivíduo que simplesmente não se identifica biologicamente com o sexo com o qual nasceu.

Quando eu me nego a utilizar o mesmo banheiro que um homem trans e uma mulher trans, eu estou engendrando a mesma lógica de exclusão, desigualdade e violência que engendra todos os preconceitos, não se trata de intimidade, os banheiros possuem cabines individuais! Se trata de não reconhecer no outro a mesma humanidade que eu possuo, os mesmos direitos que eu possuo, se trata de ver no outro algo com o qual eu não quero conviver e nem me relacionar! Qual é o nosso medo? Contágio? Contaminação?

A campanha seguirá, e o nosso comprometimento também, com uma universidade pública, gratuita e de qualidade que cumpre o seu papel social por meio do ensino, da pesquisa e da extensão de levar conhecimento, informação e a luta pela garantia de direitos a toda a população, repudiando o racismo, o preconceito e a discriminação contra qualquer ser humano que seja!