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Da travessia ao atalho

A realidade educacional contemporânea escancara um paradoxo decisivo: somos dotados da capacidade de aprender e de transformar o mundo pelo conhecimento, mas, cada vez mais, preferimos os atalhos. Aulas que exigem esforço, disciplina e concentração são frequentemente substituídas pelo consumo imediato de conteúdos na internet, apresentados por youtubers que reduzem temas complexos a explicações rápidas e simplificadas. Essa tendência não apenas empobrece o processo de aprendizagem, mas revela uma sociedade que privilegia a velocidade ao invés de valorizar o esforço e a dedicação.

Guimarães Rosa nos lembra que “…o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”, e nessa breve sentença se condensa uma verdade pedagógica e existencial. A travessia é o processo, o caminho, o esforço que molda o sujeito ao longo da vida. É nela que se dá a verdadeira aprendizagem, que não se resume a acumular informações, mas a transformar a si mesmo pelo exercício do pensar, do refletir e do elaborar.

O atalho dispensa o esforço, nega o tempo e desvaloriza o processo. Ele oferece a ilusão da conquista imediata, mas sem consistência. É nesse ponto que se revela a contradição da cultura atual: buscamos resultados sem vivência, respostas sem perguntas, conclusões sem reflexão. Essa lógica fragiliza a educação, porque aprender não é apenas chegar a um resultado correto, mas vivenciar a experiência que dá sentido ao conhecimento.

A travessia exige disciplina, humildade e abertura para o novo. Ela se constrói em diálogo com o professor, na paciência do estudo e no enfrentamento das dificuldades. O atalho, ao contrário, exclui a mediação, marginaliza o docente e transforma o saber em mera informação. Nessa perspectiva, o estudante pode até resolver problemas imediatos, mas perde a oportunidade de se formar integralmente.

Essa mentalidade alcança o espaço acadêmico: trabalhos prontos, resumos e respostas instantâneas, alimentam a ilusão de que aprender é apenas reproduzir informações. Muitos estudantes, em vez de elaborar o próprio pensamento, se limitam a replicar o que já está disponível, negando o exercício da crítica e da construção pessoal. Sendo assim devemos buscar o contexto da travessia, pois o importante não é o ponto de chegada, mas aquilo que se torna ao longo do caminho.

 

Texto de Robson Ribeiro – professor, teólogo, historiador e filósofo – publicado na Tribuna de Minas de 14 set. 2025.