Por Leonardo M. Frossard, membro da Comissão de Implantação do Parque Científico e Tecnológico da UFJF.
Este artigo surgiu de uma série de lives que o Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia – CRITT/UFJF promoveu para disseminar temas relacionados a empreendedorismo e inovação. Quando fui convidado, em junho de 2020, a participar destas lives, surgiu o questionamento: Temos um ecossistema de inovação em Juiz de Fora?
Mas enfim, o que é um ecossistema de inovação?
Nas últimas décadas, presenciamos a evolução da ciência e de tecnologias com o surgimento de novas empresas, produtos, serviços e modelos de negócios inovadores, como: Google, Facebook, Spotify, Apple, Airbnb, Netflix, Waze e muitos outros que revolucionaram a forma como interagimos e consumimos estes produtos. Todas estas evoluções surgiram em ambientes que tem como principais características, a interação e a cooperação de diversos atores para o desenvolvimento de negócios e regiões. Daí surge o conceito de Ecossistema de Inovação.
Na literatura, existem diversos modelos para definir estes ambientes. Mas aqui, vou apresentar o modelo de ecossistema do Massachusetts Institute of Technology (MIT). No estudo “Uma abordagem do MIT para a Inovação: Ecossistemas, capacidades e partes interessadas”, o MIT apresentou uma proposta para a compreensão dos ecossistemas de inovação (Budden e Murray, 2019).
Modelo Ecossistema – MIT
Fonte: (Budden e Murray, 2019)
Os autores apresentam o modelo de ecossistema de inovação representado por uma pirâmide. Na base estão as “Instituições Bases” que incluem as leis, regulamentações, normas e todas as regras que facilitem a realização de negócios. Acima, tem-se a “Capacidade de inovação (I-CAP)” e a “capacidade empreendedora (E-CAP)”. Entende-se por capacidade de inovação o investimento em Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) e a habilidade de gerar ideias, pesquisas e inovação. A capacidade de empreender, diz respeito a competência do ecossistema em gerar startups e empresas de tecnologia, em todas as fases (ideação, validação, tração e Scale-up) (Budden e Murray, 2019).
A interação da I-CAP e E-CAP geram os inputs, que são os insumos:
- Capital Humano (habilidades empreendedoras e geração de conhecimento);
- Financiamento (presença de capital de risco e condições tributárias favoráveis);
- Infraestrutura (ambientes para instalação de empresas, com estrutura moderna, adequada e internet de alta velocidade);
- Demanda (demanda para os outputs da inovação por parte de empresas e diferentes organizações do sistema); e,
- Cultura e Incentivos (incentivos para a escolha do empreendedorismo como carreira). (Budden e Murray, 2019; Budden, Murray e Turskaya, 2019).
A interação desses insumos ligados as vantagens comparativas da região (clusters e potencialidades locais) geram negócios orientados para a inovação de alto impacto. Os principais indicadores de impacto do ecossistema de inovação, neste modelo, são: a elevação do PIB per capita da região, o número e qualidade dos empreendimentos voltados para soluções inovadoras e o número de empregos qualificados.
Países e regiões que conseguiram unir esses atributos se destacaram no desenvolvimento de tecnologias e inovações, gerando empregos e renda. Dentre os que atingiram esse patamar, podemos destacar Estados Unidos, Israel, Coreia do Sul, União Europeia, Portugal, dentre outros. Esse movimento é mais recente no Brasil, mas vem avançando nos últimos anos. Em 2012, havia 2.519 Startups cadastradas na StartupBase da Associação Brasileira de Startups – ABStartups, saltando para 10.795 em 2019 e atualmente, são 14.151 Startups (janeiro de 2022). O estado com maior volume de Startups é São Paulo (4.008), seguido por Minas Gerais (1.247) e Rio Grande do Sul (959).
Mas, em nossa região temos um ecossistema para suporte as startups e empresas de tecnologia?
Juiz de Fora, tem uma população estimada de 577.532 habitantes, com Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 0,778 e PIB per capita de R$ 32.864,04 (IBGE, 2022). Em 2019, a ABStartup com o apoio de lideranças e empreendedores locais realizaram o estudo “Mapeamento de Comunidades Emergentes Região Sudeste 2019”. O estudo avaliou a Comunidade de Startups Zero40 Ecossistema Empreendedor, que surgiu como uma iniciativa para estímulo ao empreendedorismo, inovação e integração dos atores para desenvolvimento econômico da região. O Mapeamento avaliou a comunidade em 6 eixos:
- Cultura: eventos, programas de empreendedorismo e cases de sucesso.
- O ecossistema realiza diversos eventos para disseminação do empreendedorismo e inovação por instituições e empreendedores locais.
- São ofertados diversos programas de empreendedorismo, como: Oficina de Ideação e Modelagem de Negócios e Speed Lab (Critt/UFJF); Bootcamp e Startup Day (Sebrae); dentre outros.
- O ecossistema possui diversos cases de sucesso, de empresas e startups: Kranio, Handcon, Nvoip, Ipixel, SemSenha, Nova Prolink, dentre outras.
2) Densidade: locais de interação e ambientes de apoio à negócios.
- A cidade possui diversos espaços para a interação de empreendedores e startups: coworking, incubadora de empresas e encontra-se em implantação o Parque Científico e Tecnológico da UFJF. E diversos grupos que geram interação e conhecimento para o ecossistema, como: Google Business Group (GBG), Google Developers Group (GDG), Grupo de Trabalho Desenvolvimento e Inovação na Mata Mineira (GDI – Mata), dentre outros.
3) Acesso a Capital: presença de investidores anjos e capital semente
- O ecossistema possui poucas iniciativas de investimentos locais em empresas e startups. Existem casos de startups que receberam investimentos, mas a cidade precisa atrair investidores. Restrito a aporte de recursos de alguns empresários investidores da cidade.
4) Ambiente Regulatório: Leis e incentivos para apoio a criação e desenvolvimento de empresas e startups.
- A cidade possui legislação que apoia empresas de TI, com redução de ISS de 5% para 2%.
- A Secretaria de Desenvolvimento Econômico Trabalho e Turismo, criou em 2018, o Conselho de Municipal de Desenvolvimento e Tecnologia da Informação (CONDETI) – o conselho tem o objetivo de discutir e criar uma lei de inovação para a cidade para apoio e atração de empresas e startups de tecnologia.
5) Talentos: Universidades e programas de formação de talentos para geração e desenvolvimento de ideias e startups.
- Juiz de Fora é um polo de ensino e pesquisa da região, com 13 instituições de ensino (universidades, faculdades): UFJF, IFSuldeste, Uniacademia, Granbery, Machado Sobrinho, Vianna Junior, Universo, Estácio, dentre outras.
6) Acesso a Mercado: Número de startups, público-alvo, fase e modelo de receita
- O Ecossistema empreendedor de Juiz de Fora, tem 70 startups cadastradas na StartupBase. Destas, 49,4% tem como clientes – empresas (B2B), 20,3% empresas e consumidores finais (B2B2C) e 8,7% consumidores finais (B2C). Quanto as fases de desenvolvimento das startups, 6,8% estão na fase de ideação, 30,4% operação e 30,4% estão no estágio tração. Apenas 7,2% encontram-se na fase de Scale-up, o que pode indicar a necessidade de programas de apoio a fase de escalonamento das startups e de aporte de investimento nesta fase. E por fim, as startups do ecossistema de Juiz de Fora utilizam como modelo de receita o SaaS (Software as a Service) – 37,7%, Marketplace – 10,1% e Consumer – 5,8%.
E aí, com as informações apresentadas temos um ecossistema de inovação?
A resposta a esta pergunta é que Juiz de Fora possui um ecossistema de inovação “em ativação”, ou seja, o ecossistema possui cases de sucesso e as redes de relacionamento estão construídas. Mas para ampliar a atuação e fortalecer o ecossistema é preciso uma maior interação e colaboração entre os atores, com ações coordenadas de programas de empreendedorismo que incentive, inicialmente, a geração de ideias de negócios. Seguindo por iniciativas para suporte a startups nas fases de operação, tração e Scale-up, com articulação para aporte de investimento nessas empresas. Ajuste no ambiente regulatório, com aprovação de leis para redução de carga tributária e incentivos para a formação e atração de mão-de-obra qualificada.