Além de garantir o ingresso de estudantes de baixa renda no ensino superior, um dos compromissos da universidade pública é assegurar sua permanência. Sendo assim, os alunos da graduação que se enquadram no perfil socioeconômico determinado, com renda per capta familiar de até 1,5 salário mínimo por mês, têm direito aos programas de apoio estudantil ofertados pela instituição. De acordo com o resultado da V Pesquisa do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Universidades Federais, realizada pelo Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Estudantis (Fonaprace) da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), mais de 35% dos estudantes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) participam ou já participaram de programas de assistência.
A UFJF oferece diferentes modalidades de assistências para estudantes que se enquadram no perfil, como Bolsa Permanência, Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) e os auxílios moradia, alimentação, transporte e creche. Os valores variam entre R$ 321 e R$ 500 mensais, além de auxílio-transporte e acesso gratuito ao restaurante universitário (RU). As bolsas Pnaes e Permanência não podem ser acumuladas, porém é permitido o acúmulo dos diferentes auxílios, de acordo com o perfil socioeconômico do grupo familiar. Atualmente os programas atendem cerca de 3.400 alunos, compreendendo 20% dos estudantes regularmente matriculados em cursos de graduação.
Inclusão e permanência
De acordo com o pró-reitor de Assistência Estudantil, Marcos Freitas, o objetivo dos programas é ampliar as condições de permanência dos discentes, a fim de diminuir os efeitos das desigualdades sociais e promover a inclusão através da educação. “A importância desses projetos é imperativa. Temos estudantes sem a menor condição de se manter na universidade se não receberem algum tipo de apoio. Por exemplo, a gente tem alunos em que a renda per capita não chega a meio salário mínimo”.
Os dados são confirmados pela Pesquisa Nacional, que constatou que quase 70% dos estudantes da UFJF têm renda familiar mensal per capita de até 1,5 salário mínimo.Freitas destaca que a mudança do perfil dos estudantes amplia a necessidade deste tipo de suporte. “Nos últimos anos a Universidade começou a receber pessoas de uma camada social que antes não estava no ensino superior”. Com esse novo quadro, muitos dependem da assistência estudantil para concluir o percurso universitário. “E o processo de inclusão depende também da oferta de condições adequadas para que este aluno possa ser capaz de transformar sua realidade a partir de uma formação”.
Esta é a motivação da estudante de Serviço Social, Laysa Duque, que recebe a bolsa Pnaes desde 2016, quando ingressou na Faculdade. “Se não fosse este apoio, eu não teria conseguido me manter até hoje”, afirma. Morando sozinha em Juiz de Fora, ela conta que é a primeira da família a cursar o ensino superior. “A primeira até entre os meus primos”. Para ela, a assistência estudantil representa a possibilidade de concluir um grande sonho. “Estar na universidade é o resultado de todo o esforço que meus pais fizeram para que eu conseguisse chegar até aqui. Meu pai é pedreiro e minha mãe sempre foi do lar, eu vim para mostrar que outra realidade é possível. Pretendo continuar sendo motivo de orgulho.”
O estudante de Engenharia Elétrica, Jefferson Pereira, também conta com a bolsa Pnaes desde 2016 para concluir os estudos. “Minha mãe é empregada doméstica, ganha um salário mínimo e tem dificuldade de garantir o sustento de dois filhos na universidade. Então o auxílio é muito importante pra cobrir essas lacunas”. Jefferson é de Rio Pomba (MG) e, segundo ele, a jornada acadêmica não permite conciliar os estudos com atividades extras; por isso a assistência estudantil é primordial. “Para mim, o ensino superior, público e gratuito é a oportunidade de alcançarmos nossos sonhos. Meu plano é retornar para a sociedade, por meio dos conhecimentos e técnica adquiridos aqui, todo o apoio que a UFJF tem me dado ao longo dos anos”, diz.
Longe de casa
“Se não tivesse a bolsa eu simplesmente teria que largar o curso e voltar para minha cidade”, conta Mauricio Nascimento, aluno do segundo ciclo do Instituto de Artes e Design (IAD), que saiu de Valença (RJ) para cursar o ensino superior. Ele recebe os auxílios moradia e alimentação desde 2015 e acredita que o apoio é fundamental para sua permanência em Juiz de Fora. “Sem esse suporte seria muito difícil pagar o meu aluguel e comer. Porque mesmo o RU sendo muito barato, para quem veio de fora e não tem ajuda financeira, acaba sendo um custo alto no fim do mês”. O RU da UFJF oferece almoço e jantar, por R$1,40, e desjejum, por R$ 0,50. O aluno beneficiado com o auxílio alimentação tem acesso livre às refeições servidas todos os dias, incluindo sábados e domingos.
De acordo com Freitas, o ideal seria um investimento maior na educação pública para que houvesse uma bolsa que desse conta do estudante se manter de forma adequada. “Só que não é assim. Recebemos uma verba anual e ela não dá conta. Como esse dinheiro é finito, usamos a lógica da equidade, oferecendo mais para quem tem menos”. Conforme Freitas, o aluno deve entregar alguns documentos que serão analisados por assistentes sociais a partir de indicadores que irão classificá-los em cinco grupos. “O grupo 1 enquadra aquelas pessoas que estão com mais dificuldades e o 5 as que apresentam uma condição um pouco melhor, mesmo dentro do limite de renda per capita de um salário mínimo e meio”, explica. Para o pró-reitor, a falta de assistência estudantil impactaria a Universidade de forma contundente.
É o caso da estudante Juliana Castro Lopes, que saiu de Palma (MG) para estudar Turismo. Ela recebe a bolsa Pnaes desde o início do curso e atualmente reside na Moradia Estudantil. “Minha mãe é empregada doméstica e meu irmão também estuda em outra universidade. Ela não ganha muito, então a bolsa ajuda a me manter na cidade para que ela não precise tirar do dela e me mandar, porque muitas vezes eu que me sinto na responsabilidade de ajudá-la”. Juliana conta que, antes do auxilio, chegou a cogitar o trancamento do curso. “Sem a bolsa eu não estaria aqui. No ano passado eu tinha feito o pedido da bolsa, mas houve uns problemas e o processo demorou mais do que eu esperava. Eu quase tive que trancar e voltar para a minha cidade, a sorte foi que a dona de uma república entendeu a minha situação e me deixou ficar um tempo sem pagar até eu conseguir o apoio”.
O processo
O processo de assistência estudantil funciona em fluxo contínuo, ou seja, não há período específico para inscrição, o estudante pode pedir assistência durante todo o ano letivo, seguindo as orientações da Pró-reitoria de Assistência Estudantil (Proae).
Outras informações
(32) 2102-3777 – Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (Proae)