Por Thamiris Dornelas.
O fim do ano letivo se aproxima. Com ele, o cansaço, a impaciência. Terminamos o ano com a missão de definir quais alunos serão aprovados, e já nos falta fôlego para continuar insistindo na tarefa de educar. É inevitável não atentarmos e sobrevalorizarmos os percalços do caminho. Mas numa época que em geral é tão difícil para os professores, por que não olharmos para as conquistas que tivemos?
Neste semestre, recebi um grupo de estagiárias que me acompanharam na observação e na docência em minhas turmas. Há professores que não se sentem confortáveis em receber pessoas que não fazem parte do cotidiano da sala de aula. A experiência me mostra algo bem diferente. Outros olhares nos fazem pensar e refletir sobre nossas próprias ações. Analisando os relatos que elas fizeram ao longo do processo, me permiti olhar para o semestre, para o ano, e identificar ações muito relevantes. Fizemos muitas atividades. Lúdicas, interdisciplinares, práticas. Desenvolvemos sequências didáticas inovadoras. E, sobretudo, resgatamos o interesse por aprender de muitos alunos.
Comecei a me lembrar de como eram as turmas que recebi no início do ano, como eram os alunos. Lembro-me de um aluno extremamente retraído, contido, que não participava verbalmente das aulas, que sofria em silêncio com o bullying e se via incapaz de dizer não àqueles que julgava como amigos, mas que estabeleciam no contexto escolar uma relação nociva com ele. Lembro-me de uma aluna que se negava a fazer provas e não participava de nenhuma atividade, pois vinha se relacionando mal com os colegas e queria deixar a escola, usando o mal rendimento como modo de convencer a família a optar por sua transferência. E como não me lembrar de uma aluna que, na sua dificuldade de receber carinho, agia de forma agressiva com professores e colegas, e desenvolvia uma ansiedade que aparecia em todas as suas avaliações, na letra, no apagar e refazer as respostas, na falta de organização?
Tomar ciência de todas essas demandas não é tarefa fácil. Mais difícil que identificar esses problemas, é saber como e quando intervir. Não há receita de bolo para solucionar essa equação, mas posso dizer que uma coisa funciona: o aluno não é um número, e suas notas não representam todo o conjunto de habilidades e conhecimentos que ele possui, tampouco aquilo que ele pode construir. O aluno é um ser humano, como eu e você. E mesmo em sua imaturidade, ele tem sonhos, conflitos, desejos, habilidades, limitações. Ele tem o desejo de ser visto, cuidado. E muitas vezes apenas o olhar, um sorriso, um leve carinho, o perdão por um pequeno deslize, estabelecem uma relação de afeto e cumplicidade entre aluno e professor que quebra imediatamente diversas barreiras que impediam a aprendizagem dos conteúdos escolares. Muitas vezes, basta demonstrar que se importa.
Hoje, caminhando para o encerramento das atividades, vejo este mesmo aluno, antes quieto, sorrindo mais, interagindo socialmente com outros colegas, dando seus primeiros passos numa relação de autoconfiança consigo mesmo. Vejo uma aluna se empenhando para permanecer na escola e se relacionando melhor com os colegas. Vejo avaliações mais limpas e realizadas com tranquilidade, vejo sorrisos, vejo os sonhos aparecendo.
Ser professor nunca foi nem será um mar de rosas. Mas essas relações transformam. Nos transformam. E só por isso, já teria valido tudo a pena.