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Pesquisar para Transformar: Sobre as Feiras de Ciências e sua importância para o Letramento Científico

Por: Fernanda Bassoli e Ana Carolina Costa Resende .

   

   Qual o papel das Feiras no ensino de Ciências e no desenvolvimento do letramento científico? Acreditamos, a partir de nossa experiência com alunos e alunas das turmas de 8° ano do Ensino Fundamental, que a participação deles nesse tempo e espaço é central. 

    Nós, professores de ciências, aprendemos que nossa disciplina requer um ensino contextualizado, que faça sentido nas vidas e no cotidiano de nossos alunos. Além disso, no nosso Colégio de Aplicação João XXIII buscamos que os alunos compreendam a realidade de forma crítica (estabelecendo inter-relações entre o local, nacional e global) a partir do desenvolvimento de seu protagonismo e do reconhecimento desses enquanto agentes de transformação. Para tanto, entendemos que desenvolver uma atitude científica é tão importante quanto ensinar conceitos. E como temos buscado seguir nesse caminho? 

    Ao longo do ano letivo de 2019, desenvolvemos um trabalho voltado para a promoção da Cultura de Sustentabilidade, tema do Projeto Coletivo de Trabalho do Ensino Fundamental II. Foram oito meses de intenso trabalho que envolveu três ciclos de problematização, pesquisa e socialização dos resultados, de modo que o tema foi ganhando um aprofundamento a cada ciclo, à medida que as habilidades relacionadas à pesquisa científica foram sendo progressivamente desenvolvidas. 

    Os alunos usaram a metodologia da pesquisa-ação colaborativa na elaboração de seus trabalhos, o que demonstra que os saberes e métodos da academia podem ser transpostos e usados na educação básica, trazendo mais rigor aos trabalhos desenvolvidos e, principalmente, promovendo o desenvolvimento de uma atitude científica. 

    Antes de prosseguirmos relatando o desenvolvimento do trabalho é importante trazer o que entendemos como atitude científica. Para tal, é necessário revisitar os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino de Ciências que, visando superar o estilo enciclopédico, pautado pela memorização acrítica e descontextualizada de conceitos, traz uma ressignificação para os conteúdos, classificados em: conceituais, procedimentais e atitudinais. Desta forma, gostaríamos de dar destaque ao desenvolvimento de procedimentos e atitudes. 

    O desenvolvimento de procedimentos, tais como a observação, a experimentação, a comparação, o estabelecimento de relações entre fatos ou fenômenos e ideias, a leitura e a escrita de textos científicos, a organização de informações por meio de desenhos, tabelas, gráficos, esquemas e textos, a proposição de suposições, o confronto entre suposições e entre elas e os dados obtidos por investigação, a proposição e a solução de problemas, constituem-se como aprendizagens fundamentais para o letramento científico, no entanto devem estar vinculados aos conceitos e atitudes que envolvem o desenvolvimento de posturas e valores, como, por exemplo, a colaboração, a curiosidade, a investigação, o respeito à diversidade de opiniões, a persistência na busca e compreensão das informações, a valorização da vida em sua diversidade, a preservação do ambiente, o respeito à individualidade e à coletividade.

    Em consonância com a filósofa Marilena Chauí, entendemos que a atitude científica representa um pensamento crítico sobre um conhecimento científico, provocando no sujeito uma compreensão ampliada sobre como usar esse conhecimento para entender e mudar o mundo. Significa incorporar ao cotidiano uma atitude investigativa, pautada na observação curiosa e no questionamento. Logo, entendemos que o letramento científico não pode se dar sem o desenvolvimento da atitude científica, a qual não se desenvolve fora da trama de saberes tecida com os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais que abordamos.

    Voltando-nos ao relato do trabalho que desenvolvemos, a partir dos ciclos de problematização, pesquisa e socialização que realizamos a atitude científica foi se construindo, sendo os seminários e feiras de ciência, momentos importantes de trocas de conhecimento e de reflexão.  Desta forma, os primeiros resultados da pesquisa-ação foram apresentados nas turmas na forma de seminários, após a crítica coletiva foram reelaborados e ampliados, sendo apresentados na Mostra de Ciências e Matemática da Escola e, por fim, após mais um processo de reelaboração foram apresentados na Feira de Ciências da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

    É importante destacar que todo o processo foi feito sob co-orientação, refletindo não somente na formação dos estudantes, como também na formação docente, tendo em vista os ricos processos de troca que se estabeleceram entre a professora efetiva, a professora residente, os licenciandos (bolsistas do PIBID) e os alunos da educação básica. Sendo assim não só a atitude científica dos alunos era aguçada como os processos de formação docente também eram fortalecidos. 

    Foi e está sendo gratificante para nós orientar e acompanhar os grupos de trabalho, o desenvolvimento dos temas e o aprendizado dos alunos. E também é perceptível o compromisso de alguns grupos e a dedicação com o trabalho. Dessa forma, sentem- se felizes em compartilhar suas pesquisas, propostas e ações concretas. É preciso admitir que não foi fácil. Foi um trabalho ardiloso e até mesmo desgastante em vários momentos. Orientar quinze grupos de trabalho com temas diferentes e nem todos com o mesmo grau de motivação e comprometimento, foi um desafio. 

    Por fim, nos cabe reconhecer que tanto nós mestres como nossos alunos somos produtores de conhecimento, pois estamos no mundo, somos sujeitos da história e agentes de transformação, somos humanos. 

 

Mostra de Trabalhos da Semana de Ciências e Matemática do CAp João XXIII (Agosto de 2019).

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