Representando a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) entre os conferencistas convidados para integrar a 73ª edição da Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a pesquisadora Rossana Melo apresentou micrografias – ou seja, imagens obtidas por meio de microscópios – coletadas ao longo de anos de estudo em Biologia Molecular. Durante a apresentação, mediada pelo pesquisador Hélio Chiarini Garcia (UFMG), Rossana demonstrou o teor artístico que permeia o processo científico e como, por meio da sensibilidade, é possível chamar a atenção de jovens e adultos para a importância da ciência.
“As micrografias, além de servirem como documentação científica, são verdadeiros trabalhos de arte abstrata. As imagens encantam e também sempre ensinam muita coisa – e, através da conexão estabelecida pela beleza das mesmas, é possível aproximar as pessoas da ciência”, defende a pesquisadora. Durante a conferência, Rossana compartilhou sua própria trajetória na carreira acadêmica, discorreu sobre o valor da pesquisa básica e atestou a necessidade da divulgação científica, além de debater com o colega Hélio Garcia.
Citando o extenso trabalho no âmbito da UFJF, Rossana Melo destacou o grupo de pesquisa junto à Universidade. “Nosso grupo vem utilizando várias formas de microscopia, principalmente a eletrônica, para estudar a arquitetura e o comportamento de células do sistema imune em situação de saúde e de doença. Um dos nossos focos são os eosinófilos, que constituem cerca de 5% do sangue de indivíduos adultos saudáveis, mas, em diversas doenças – infecciosas, alérgicas e autoimunes –, o número dessas células aumenta acentuadamente.”
“Queremos entender o papel dos eosinófilos. Esse é um tipo de pesquisa básica, ou seja, ela produz conhecimentos fundamentais que fornecerão a base para o estabelecimento de, por exemplo, tratamentos de doenças”, resume. “A aplicação de microscopia, tanto do microscópio de luz quanto do eletrônico, em conjunto com outras estratégias metodológicas, permite visualizar dentro dessas células e investigar como elas reagem e liberam seus produtos – que podem atuar a favor ou, quando em excesso, contra o nosso organismo.”
Ao final de sua participação, Rossana reforçou a necessidade de um posicionamento firme frente à desvalorização da ciência. “A situação que vemos hoje no Brasil é inaceitável; a ciência, além de atuar como um fator de desenvolvimento, guia as ações e políticas públicas em momentos de crise e de emergência, como a pandemia de Covid-19. Pelo menos, deveria ser dessa forma.” A pesquisadora fez, então, coro ao presidente eleito da SBPC, Renato Janine Ribeiro: “Concordo quando ele diz que é uma questão de ética por parte dos cientistas se posicionarem contra o negacionismo. Porque é uma luta pela vida e pelo meio ambiente, não apenas uma questão partidária. É, antes de tudo, uma questão ética.”