1 – Afinal, quanto carbono uma árvore sequestra?
2 – As florestas da Antártica
3 – COP 15: Países ricos defendem que só nações mais pobres recebam recursos para combater o aquecimento do planeta
4 – Guerra de informação
5 – Década atual é a mais quente da história
1 – Afinal, quanto carbono uma árvore sequestra?
A internet está cheia de calculadoras para identificar quantas árvores precisamos plantar para compensar nossas emissões de gás carbônico e, com isso, reduzir nossa parcela de culpa pelo efeito estufa. O problema é que, por trás de cada uma dessas calculadoras, metodologias e referências distintas fazem com que os resultados variem bastante. Afinal, uma muda de jequitibá cresce de forma e com velocidade completamente distinta de uma muda de picea (espécie de clima frio) plantada na Rússia.
Diante dessa dúvida, fomos a campo para verificar com quanto contribuímos para fixação de carbono a partir do plantio de espécies nativas da Mata Atlântica. O trabalho, publicado agora pela revista Metrvm, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) da Universidade de São Paulo (USP), avalia os modelos de biomassa florestal e o teor de carbono de espécies nativas amplamente utilizadas em áreas de restauração florestal no Estado de São Paulo.
O modelo gerado estima o carbono fixado pelas árvores num horizonte de 20 anos, tendo como variável dependente o diâmetro das árvores. Ou seja, agora, para povoamentos de Mata Atlântica semelhantes aos medidos, pode-se estimar o teor de carbono fixado pelas árvores a partir de uma simples medição de diâmetro delas. Porém, para que o modelo apresente uma confiabilidade maior, será necessário que sejam feitas remedições bianuais, nas mesmas árvores, para que o modelo seja constantemente ajustado e seu grau de confiabilidade vá aumentado com o tempo.
Na etapa do projeto já desenvolvida, além da coleta de amostras para análises laboratoriais, de carbono e densidade básica, foram também medidos outros elementos, como o diâmetros e o comprimento do tronco das árvores, e o peso da madeira e das folhas. Foram avaliadas áreas de quatro reflorestamentos distintos implantados entre 2000 e 2005 no estado de São Paulo.
Os resultados mostram que há grande variação no crescimento das florestas plantadas com essências nativas. Além de aspectos de clima e solo locais, essas diferenças se devem aos tratos culturais recebidos pelas plantas e à qualidade das mudas plantadas.
O material genético também faz diferença, visto que, em cada região, os plantios foram executados por diferentes instituições. Não obstante, cada região tem uma idade de plantio distinta da outra, o que acaba impossibilitando a definição de uma curva de crescimento comum.
Os cálculos resultaram numa estimativa média de 249,60 quilogramas de CO2 equivalente fixados, até o vigésimo ano, pelas árvores amostradas. Porém, dadas todas as restrições da pesquisa, aliadas ao fato de a curva de crescimento das árvores provavelmente não ser linear, concluiu-se que esse indicador poderia estar superestimado. Para que pudesse ser feito um cálculo mais exato seria necessário acompanhar a curva de crescimento das árvores por mais tempo. Como indicado acima, esse acompanhamento já está previsto na continuidade da pesquisa.
O problema é que a demanda por um índice de compensação de CO2-equivalente é imediata, sendo necessário agora um número para balizar as conversões feitas no Brasil.
Assim, com uma atitude conservadora, foram adotados os resultados identificados na pior amostra observada (na região de Valparaíso-SP), tendo sido projetada a captação de 140 kg CO2-equivalente por árvore aos 20 anos de idade. Desse modo, enquanto não dispusermos de uma curva de crescimento totalmente confiável, podemos trabalhar com o número de 7,14 árvores da Mata Atlântica para compensar cada tonelada de CO2-equivalente emitida. Fonte: Jeanicolau Simone de Lacerda(*), Portal do Meio Ambiente
2 – As florestas da Antártica
Exposição de fósseis mostra diversidade da vegetação do continente gelado há dezenas de milhões de anos
O paleontólogo Alexander Kellner, autor da coluna Caçadores de fósseis, convida os leitores cariocas ou de passagem pelo Rio para visitar a exposição Fósseis do continente gelado, que reúne material coletado em uma expedição recente à Antártica coordenada por ele. A mostra acontece no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e será aberta ao público a partir da próxima terça-feira, 8 de dezembro.
A expedição realizada pela equipe de Kellner em 2006 e 2007 durou dois meses e meio, dos quais 37 dias foram passados em um acampamento na ilha James Ross, na ponta da Península Antártica. Kellner fez um relato da viagem em sua coluna assim que retornou ao Rio.
A impressão que ficou é que aquele é um ambiente de grande fragilidade, lembra-se o paleontólogo. James Ross tem pouca vida, nem a vida marinha é abundante. Paradoxalmente, trata-se também de um ambiente inóspito, que pode ser agressivo. Houve uma tempestade de neve que chegou a arrebentar a barraca de um membro da nossa expedição, conta Kellner.
A expedição foi um sucesso do ponto de vista científico: foram trazidas de lá mais de duas toneladas de rochas e fósseis, entre árvores, peixes, répteis e organismos invertebrados. O resultado revelou um cenário bem diferente do panorama dominado pelo branco da Antártica atual. Os fósseis mostram que a ilha James Ross era coberta por uma extensa floresta entre 70 e 80 milhões de anos atrás, conta Kellner.
A exposição a ser inaugurada no Museu Nacional reúne os principais achados da expedição, incluindo a réplica em tamanho real do busto de um plesiossauro, um tronco de árvore com 80 milhões de anos e a réplica de um tubarão. A mostra tem ainda uma parte dedicada à Antártica atual, que realça o contraste com o ambiente verdejante que ali reinou no passado.
O visitante poderá experimentar parte do encanto que o continente gelado exerceu sobre nosso colunista. Já conheci vários lugares do mundo, mas nenhum é tão fascinante quanto a Antártica, afirma. Kellner ficou tão impressionado que está escrevendo um relato romanceado de sua experiência vai se chamar Mistério sobre o gelo, revela ele em primeira mão. Fonte: Ciência Hoje Online
Fósseis do Continente Gelado: o Museu Nacional na Antártica
De 08/12/2009 a 30/04/2010
De terça a domingo, das 10h às 16h.
Entrada: R$ 3,00. Grátis para crianças até 5 anos e pessoas acima de 60. Crianças entre 6 e 10 anos pagam R$ 1.
Local: Museu Nacional – Quinta da Boa Vista, s/n
São Cristóvão, Rio de Janeiro (RJ).
Telefone: (21)2562-6042
3 – COP 15: Países ricos defendem que só nações mais pobres recebam recursos para combater o aquecimento do planeta
O mecanismo, estimado pela União Europeia em 100 bilhões por ano no período 2013 a 2020, é o principal meio de financiamento de ações para prevenir e minimizar os efeitos do aquecimento global.
Fundo do clima pode excluir Brasil. Com a União Europeia à frente, governos de países industrializados se recusam a repassar recursos dos fundos de Adaptação e Mitigação aos grandes países emergentes, como o Brasil. A discussão ocorreu ontem, nos bastidores do primeiro dia da 15ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-15), em Copenhague.
Negociadores europeus e sul-americanos ouvidos pelo Estado alertam que, sem o entendimento sobre o repasse de recursos dos fundos, as chances de acordo são reduzidas. Os debates sobre financiamento devem ser os mais complexos da COP-15. Não há consenso nem sobre a administração do fundo nem sobre seu montante total e muito menos sobre a divisão dos valores, assunto que provoca divergência ainda maior entre os diplomatas europeus. Para eles, a crise econômica marcada pelo mau desempenho de países industrializados e pela boa performance dos grandes emergentes como China, Índia e Brasil alterou as condições de negociação entre Bali, em 2007, e Copenhague, em 2009.
A arquitetura do Protocolo de Kyoto previa fluxos significativos de recursos migrando para China, Índia e Brasil. Hoje, acreditamos que, quanto maiores as necessidades de recursos de um país, mais ele precisa receber, disse ao Estado o negociador da União Europeia, Artur Runge-Metzger, em referência às nações menos desenvolvidas, como as africanas.
O ex-ministro do Meio Ambiente da França e embaixador encarregado das negociações do clima, Brice Lalonde, confirma a posição. Na Europa, nos perguntamos se os emergentes devem receber recursos do Fundo de Adaptação ou se o mais plausível seria que apenas os países menos desenvolvidos, como os da África, tenham acesso, afirmou. O mundo mudou após a crise, e o papel dos emergentes não é mais o mesmo.
Ontem, Luiz Alberto Figueiredo, diretor do Departamento de Meio Ambiente do Itamaraty, um dos brasileiros responsáveis pelas negociações, reconheceu que nações industrializadas vêm fazendo manobras para privar os emergentes de recursos. Um dos problemas da COP-15 é a falta de um engajamento claro sobre o financiamento das ações dos países em desenvolvimento, afirmou, referindo-se também às nações emergentes. Se não houver financiamento adequado aos países em desenvolvimento será muito difícil sair de Copenhague com um acordo.
Segundo Figueiredo, os países aceitam mais a criação de um fundo de curto prazo, chamado Fast Start Fund, como o que estabelece US$ 10 bilhões ao ano até 2013. Porém, eles não querem se comprometer com recursos no longo prazo.
A posição europeia encontra respaldo também nos Estados Unidos. Ontem, Jonathan Pershing, o principal negociador americano, disse que o país está disposto a fazer a sua parte na contribuição dos US$ 10 bilhões. Mas fez questão de ressaltar que os recursos seriam para as nações mais vulneráveis e menos desenvolvidas o que não inclui o Brasil.
Segundo avaliação de outro integrante da delegação brasileira, no Congresso americano atualmente é mais problemática a aprovação de recursos para emergentes do que a adoção de metas de cortes das emissões de gases-estufa. Um exemplo prático do impasse é o mecanismo de Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (Redd). As negociações, diz o embaixador brasileiro Sergio Serra, estão avançadas. No entanto, se não for definido um pacote econômico, o mecanismo que interessa diretamente ao Brasil não terá como ser implementado.
ORIGEM DOS RECURSOS
O fundo é formado por 2% dos recursos do chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), instrumento criado pelo Protocolo de Kyoto para agregar dinheiro para que países menos industrializados promovam o desenvolvimento sustentável. Hoje, o fundo tem cerca de 266 milhões, mas até 2012 poderá receber de 100 milhões a 400 milhões por ano. Fonte: Andrei Netto e Afra Balazina, O Estado de S.Paulo de 08.12.2009.
4 – Guerra de informação
Vazamento de documentos revela divergências entre países ricos e emergentes
Deborah Berlinck e Roberta Jansen escrevem para “O Globo”:
Um racha Norte-Sul, entre países ricos e em desenvolvimento, se instalou na terça-feira (8/12), no segundo dia da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-15), em Copenhague, pondo em risco o sucesso de uma reunião que já começou cheia de desacordos.
Dois documentos vazados terça-feira (8/12) na cúpula – um escrito pela Dinamarca, em nome de um grupo de países ricos; e outro elaborado por China, Brasil, Índia e África do Sul – mostram duas visões radicalmente opostas: um enterra o Protocolo de Kioto, divide os países pobres e enfraquece o papel da ONU; enquanto o outro insiste que só será possível um acordo em Copenhague com base em Kioto e na Convenção do Clima, de 1992.
O vazamento dos dois textos no mesmo dia revela a disposição dos dois blocos de travar uma guerra de informação por meio da imprensa e das ONGs como mecanismo de pressão. O documento dinamarquês, divulgado pelo jornal inglês “The Guardian”, privilegia os ricos, ao levar os países em desenvolvimento a assumirem metas de redução de emissões de gases do efeito estufa que não são previstos pela Convenção do Clima e Kioto.
– Tanto quanto pude examiná-lo, há muitas lacunas. Não é suficientemente incisivo (o texto) no financiamento e é exigente na mitigação – disse o embaixador extraordinário para Mudanças Climáticas no Brasil, Sergio Serra, sobre o texto dinamarquês.
Já o diretor do grupo do G-77 – que reúne os países em desenvolvimento – Lumumba Stanislaus Di-Aping, foi menos diplomático:
– O mais grave do texto dinamarquês é que ele destrói a Convenção.
Nações pobres preparam uma terceira proposta
A batalha de esboços começou na semana passada, quando o governo dinamarquês – que quer, a qualquer preço, que Copenhague dê certo – apresentou um texto a um grupo de países, entre eles o Brasil.
– Houve uma discussão intensa – contou Serra. – O entendimento, na ocasião, foi que o documento estava atropelando as negociações.
A reação foi tão grande que, segundo Serra, os dinamarqueses resolveram retirar o documento de circulação. Mas o estrago já estava feito. Em reação ao movimento dos países ricos, China, Brasil, Índia e África do Sul apresentaram um outro texto, obtido pelo Globo, que apresenta uma visão oposta.
O texto, de nove páginas, reafirma o Protocolo de Kioto, ampliando as metas de redução de emissões dos países ricos depois de 2012, cria um Fundo Global do Clima e um mecanismo para transferência de tecnologia pelos países ricos. O texto reafirma o que foi definido na reunião de Bali, há dois anos, que os países em desenvolvimento devem ter metas voluntárias de redução da curva de crescimento de suas emissões.
– O documento coloca uma outra visão na mesa – constatou Serra. – Devo dizer que ele foi preparado quando já se sabia do outro texto. É um contraponto.
Para Serra, nenhum dos dois documentos – tanto o dos emergentes quanto o dos ricos – vai sair vitorioso:
– Aposto num documento (de um possível acordo) que emane das negociações em curso, que seja ambicioso, mas equilibrado.
Os chineses esnobaram o texto da Dinamarca. O chefe das negociações da China, Su Wei, criticou as propostas da UE e dos EUA.
Segundo ele, o que os ricos estão oferecendo, se fosse dividido por cada cidadão do mundo, daria US$ 2 per capita:
– Com US$ 2, eu não compro nem um café na Dinamarca.
Artur Runge-Metzger, coordenador-chefe da Comissão Europeia, cobrou da China metas mais significativas de redução. Entre os países em desenvolvimento, já surgem também sinais de divisão. Um terceiro rascunho de documento vazado na terça foi elaborado pelo grupo de países mais vulneráveis às mudanças climáticas, como as nações insulares do Oceano Pacífico.
Para Lumumba, a iniciativa dos países insulares é compreensível, mas não configura um racha na posição do G-77, que, segundo ele, ficará unido até o fim.(O Globo, 9/12)
5 – Década atual é a mais quente da história
Temperaturas entre 2000 e 2009 estão, em média, 0,4°C mais elevadas, afirma Organização Meteorológica Mundial
Reinaldo José Lopes escreve para a “Folha de SP”:
Os anos que vão de 2000 a 2009 correspondem, por enquanto, à década mais quente da história desde que medições confiáveis começaram, em meados do século 19. A década de 2000 supera com folga os anos 1990, derrubando a tese de que o aquecimento global teria “estacionado” ou até “começado a diminuir” a partir de 1998 -ano que, isoladamente, é o mais quente já registrado.
Os dados, divulgados durante a conferência climática de Copenhague pela OMM (Organização Meteorológica Mundial), indicam que 2009 provavelmente será o quinto ano mais quente da história, com temperatura 0,44°C superior à média do período de referência, que vai de 1961 a 1990. Este ano registrou um dos outonos mais quentes da história no Sul do Brasil, e temperaturas acima de 40°C no centro da Argentina.
“Sólido”
“Ainda temos um mês até o fim do ano, e esperamos divulgar os dados totalmente consolidados em março de 2010, mas podemos dizer que o resultado até aqui é bastante sólido”, disse Michel Jarraud, secretário-geral da OMM. “Certamente 2009 estará entre os dez anos mais quentes da história.”
Um fator importante para o calor de 2009 é a ação de um El Niño, fenômeno caracterizado pelo aquecimento anormal das águas equatoriais do oceano Pacífico. O mesmo tipo de evento contribuiu para os termômetros em alta durante 1998. Nos últimos meses, as consequências foram sérias para vários países em desenvolvimento. Na Índia, uma onda de calor matou 150 pessoas em maio, enquanto o norte da China viveu o ano mais quente de sua história, com temperaturas de verão acima de 40°C.
“Os dados não surpreendem”, disse à Folha o físico Paulo Artaxo, especialista em mudanças climáticas da USP. “O que esses e outros dados mostram, sem praticamente nenhuma exceção, é que o aquecimento supera muito o que esperaríamos de fatores naturais, de qualquer lado que você olhe a questão.”
Para Artaxo, a média de temperaturas elevadas ao longo das décadas de 1990 e 2000 “é muito mais representativa” do que anos quentes isolados. “Mas é claro que o ideal é você ter uma série histórica de 30 anos, 50 anos, um século”, diz.
Apesar da aparente robustez dos resultados, a primeira pergunta feita por jornalistas a Jarraud na terça-feira (8/12) envolvia o uso de dados da Universidade de East Anglia (Reino Unido). Os climatologistas da instituição foram afetados por um roubo de e-mails, perpetrado por hackers, os quais tentaram usar as mensagens como prova de que os pesquisadores manipulavam seus estudos.
“Sim, usamos os dados deles, mas também utilizamos dois conjuntos independentes de dados [da Nasa e da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA]. E, como vocês podem ver, as três curvas são quase idênticas”, afirmou.
Jarraud reforçou que “passamos por uma tendência clara de aquecimento”, mas disse que ainda é cedo para dizer se a próxima década será mais quente que as últimas duas. (Folha de SP, 9/12)