1 – Na trilha dos répteis que sobraram
2 – Pesquisadores elaboram lista de plantas que só existem na Chapada Diamantina
3 – Mapa mostra impactos climáticos de um mundo 4º C mais quente
1 – Na trilha dos répteis que sobraram
Das 68 espécies de serpentes registradas na cidade de São Paulo nos últimos cem anos, 32 não são mais encontradas
Devido à localização geográfica, com área que apresenta características de vegetação típica do Cerrado e da Mata Atlântica, o município de São Paulo reúne grande diversidade de répteis. Mas das 68 espécies de serpentes registradas nos últimos cem anos, 32 não são mais encontradas no município, segundo pesquisa.
O objetivo do trabalho, publicado na revista Biota Neotropica do programa Biota-FAPESP, foi organizar e mapear cada uma das espécies de répteis presentes no município de São Paulo e reunir dados sobre a história natural do grupo, incluindo o tipo de bioma no qual é encontrado, hábitat, substrato e hábitos alimentares.
De acordo com Ricardo Jannini Sawaya, um dos autores do artigo, o trabalho faz parte de um esforço conjunto da equipe do Butantan e de colegas de outras instituições, na tentativa de organizar informações da biodiversidade dos répteis que ocorrem no Estado. Os pesquisadores já finalizaram mapas de distribuição desses animais na cidade.
“Como muitas das espécies são arborícolas e dependem da vegetação, elas são as primeiras a sentir os efeitos da perda da cobertura vegetal na cidade. Não entrariam, necessariamente, em uma lista de extinção estadual ou nacional, mas poderiam estar extintas localmente, o que implicaria a perda da população que ocorre no município de São Paulo”, disse Sawaya, pesquisador do Laboratório de Ecologia e Evolução do Instituto Butantan, à Agência Fapesp.
O trabalho traz resultados preliminares do projeto de pesquisa conduzido por ele e intitulado “Diversidade, distribuição e conservação da Herpetofauna do Estado de São Paulo”. O projeto tem apoio da Fapesp na modalidade Auxílio à Pesquisa – Jovem Pesquisador.
As 97 espécies de répteis registradas na capital paulista no último século, levantadas a partir de registros e coleções científicas, compreendiam dois quelônios (tartarugas), um crocodiliano, 19 lagartos, sete anfisbenídeos (conhecidos como cobras-cegas, parentes próximos dos lagartos) e 68 serpentes.
Segundo a pesquisa, 51 espécies de répteis não foram registradas nos últimos seis anos no município. Mas o fato de o estudo não ter identificado registro não implica que todas essas espécies estejam extintas no município. Isso porque, segundo Sawaya, serpentes são de difícil amostragem. “Mas várias dessas espécies podem mesmo ter sido extintas localmente”, apontou.
O levantamento de espécies coletadas no município de São Paulo e recebidas pelo Instituto Butantan nos últimos anos foi parte do estudo realizado por outro autor do trabalho, o doutorando Fausto Erritto Barbo, bolsista da Fapesp. O estudo permitiu identificar pelo menos 36 espécies de serpentes que ocorrem na região. Além dessas serpentes, pelo menos quatro lagartos e cinco cobras-cegas ainda ocorrem na região.
Das espécies encontradas no município, cerca de 70% da fauna de lagartos e 40% das serpentes são espécies típicas de ambientes florestais. A maior parte das espécies de serpentes é terrícola (38%) ou subterrânea/criptozóica (25%), com menos arborícolas (18%) e aquáticas (9%) – o restante se encaixa em mais de uma categoria. Dos lagartos, 63% são predominantemente terrícolas e os demais são arborícolas.
Em relação à dieta, os lagartos se alimentam de insetos e cerca de 50% das espécies de serpentes comem exclusivamente – ou predominantemente – anfíbios anuros (sapos, rãs ou pererecas). Outros répteis Squamata são característicos de formações abertas e também encontrados no Cerrado do interior paulista.
Início em workshop do Biota
De acordo com Sawaya, os estudos sobre répteis em São Paulo são raros e fragmentados. “Temos informações dispersas, na literatura, de algumas das espécies mais comuns que abordam apenas um dos aspectos da dieta ou onde ocorrem, por exemplo. Mas praticamente não existem dados sobre a diversidade, biologia e distribuição de répteis que ocorrem no município de São Paulo, assim como no Estado”, afirmou.
O projeto pretende mapear espécies não só de répteis mas também de anfíbios em todo o Estado de São Paulo. “Estamos concluindo a organização dos bancos de dados de répteis de coleções científicas referentes a outros municípios paulistas e o próximo passo é realizar trabalhos de campo em locais onde não há amostragem, que correspondem a lacunas de informação da biodiversidade do Estado”, disse.
“Essas informações fornecerão dados importantes, incluindo a ocorrência de répteis remanescentes de Cerrado ou Mata Atlântica, se são restritos a áreas abertas ou florestais ou que tipo de substrato utilizam”, completou. Segundo o pesquisador, ao conhecer a distribuição de cada espécie é possível ter uma ideia de qual está ameaçada, informação básica para definir áreas prioritárias para conservação.
Ele conta que, embora o projeto não esteja inserido no Biota-Fapesp, ele colabora com outros projetos do programa. “Na realidade, o projeto nasceu a partir de um workshop promovido pelo Biota-Fapesp. Como o grupo de especialistas em répteis e anfíbios não havia conseguido mapear a diversidade desses animais no Estado, o encontro nos encorajou a fazer a pesquisa”, contou.
Além de Sawaya, assinam o artigo na Biota Neotropica Otavio Augusto Marques, Donizete Neves Pereira, Fausto Erritto Barbo e José Valdir Germano. Todos trabalham ou realizam pós-graduação no Instituto Butantan.
Para ler o artigo “Os répteis do município de São Paulo: diversidade e ecologia da fauna pretérita e atual”, disponível na biblioteca on-line SciELO: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-06032009000200014&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
(Alex Sander Alcântara, da Agência Fapesp, 4/10)
2 – Pesquisadores elaboram lista de plantas que só existem na Chapada Diamantina
Os servidores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), lotados no Parque Nacional da Chapada Diamantina, na Bahia, estão elaborando uma lista das espécies endêmicas (só existem em determinado local) da flora do parque. Nesse meticuloso trabalho, eles têm se deparado com muitas novidades
Até agora, segundo o chefe-substituto da unidade, o analista ambiental Cezar Neubert Gonçalves, foram descobertas mais de 10 espécies novas de vegetais, além das 243 listadas no plano de manejo. No entanto, como é comum nesse tipo de pesquisa, os dados ainda precisam de revisão, para se ter certeza científica de que as plantas catalogadas são realmente novas.
A lista, ainda segundo Cesar, é feita por meio de extensiva revisão bibliográfica. Um vasto número de trabalhos é consultado para se chegar a uma conclusão final. “Em alguns casos, fazemos trabalhos em campo na tentativa de confirmar ou encontrar certas plantas”, acrescenta ele. Por isso, nem sempre, os resultados são os esperados.
“Por exemplo, estivemos procurando uma planta descrita na década de 80, chamada Rayleya bahiensis (não tem nome popular), encontrada numa região onde fica um assentamento de trabalhadores rurais. Infelizmente não encontramos mais a planta. Ela pode não estar extinta, mas a população que serviu de base para descrevê-la está lá. Assim, a listagem pode nos dar referências do que procurar e onde procurar. Tanto é que vamos tentar localizar, num mapa, a distribuição de cada espécie,” explica Gonçalves.
Apesar de algumas dificuldades, certos achados do grupo de pesquisadores do parque podem facilitar novos direcionamentos. “Descobrimos que os endemismos na chapada se concentram em alguns grupos que têm maior número de espécies, principalmente em famílias botânicas como Melastomataceae e Fabaceae, que representam, juntas, 96 das 255 espécies. Também há muitos outros grupos botânicos que têm apenas uma ou duas espécies endêmicas,” relata.
Na busca por padrões para esses endemismos, conforme conta Cezar Gonçalves, ficou claro que a maioria das espécies é composta por ervas ou arbustos, com, relativamente, poucas árvores, o que é um reflexo do predomínio de formações abertas no local. A Chapada Diamantina é a parte norte da Cadeia do Espinhaço, que começa em Minas Gerais. “As espécies exclusivas dessa a região são consequência do fato de que as montanhas locais criam microclimas diferenciados das áreas ao redor. Assim, elas acabam se tornando refúgios para as espécies não adaptadas ao clima dominante. Com o tempo, essas populações isoladas acabam se diferenciado das demais similares e viram novas espécies.”
Essa explicação para a existência de espécies endêmicas na chapada não é única. Outra possibilidade, ressalta o chefe-substituto do parque, é a de que alguns grupos estavam na região há muito tempo, do ponto de vista geológico. “Por isso, podem ter sido isolados quando as montanhas ergueram-se em relação as áreas vizinhas. Diferenciar numa única explicação é muito difícil e demandará muito estudo,” reitera.
A única certeza nesse caso, afirma Cezar Gonçalves, é a de que as listas de espécies endêmicas serão sempre preliminares. Primeiro, especificamente em relação aos dados já colhidos, é preciso revisar alguns grupos, remover nomes que não são botanicamente aceitos por alguma razão. Segundo, a listagem, mesmo ao final dos trabalhos, vai continuar sendo preliminar porque em todos os anos novas espécies são descobertas na região. “Neste ano, já temos uma que foi acrescentada à lista, publicada há uns dois meses, e nós mesmos temos uma espécie nova de orquídea para descrever no final do ano”, informou o analista.
Ainda segundo Cezar, à medida que o conhecimento sobre as espécies aumenta, algumas plantas que eram tidas como endêmicas são descobertas em outros locais. “Uma sapucaia encontrada nas matas de lençóis, agora foi detectada em florestas na região próxima ao recôncavo baiano. O que faremos é tentar concluir a lista como uma síntese do que se sabe hoje sobre plantas exclusivas da Chapada Diamantina, sabendo que no ano que vem ela, com certeza, estará defasada.”
Todo esse trabalho desenvolvido pela equipe do Parque Nacional da Chapada Diamantina faz parte de um esforço para melhor compreensão da biodiversidade da região. “O próximo passo é identificarmos a distribuição das espécies, algo fundamental para a sua preservação. Vale destacar que, das 255 espécies, 68 estão na lista oficial das plantas ameaçadas de extinção e muitas outras nem foram avaliadas durante a elaboração da lista, até porque boa parte era desconhecida. Há muito trabalho pela frente”, conclui César.
(Informações da Assessoria de Comunicação do ICMBio)
3 – Mapa mostra impactos climáticos de um mundo 4º C mais quente
Representação gráfica foi encomendada pelo governo britânico
Um mapa destaca alguns dos impactos que podem ocorrer caso a temperatura média global aumente em 4°C acima dos níveis pré-industriais. O gráfico apresenta os resultados de um estudo elaborado pelo Met Office Hadley Centre a pedido do Departamento de Energia e Mudanças Climáticas (DECC) do governo britânico.
O estudo foi desenvolvido se baseando em cenários de emissões feitos pelo IPCC. Com base no nível de emissão, os cientistas do Met Office e instituições parceiras fizeram projeções do aumento de temperatura da Terra e os efeitos que essa elevação causaria.
O trabalho mostra que um aumento médio de 4°C na temperatura global não irá se espalhar uniformemente pelo planeta. A terra irá se aquecer mais rapidamente que o mar, e as altas latitudes, particularmente o Ártico, terão elevações maiores de temperatura. A média da temperatura em terra será de 5,5°C acima dos níveis pré-industriais.
O mapa destaca os efeitos severos na oferta de água, produção agrícola, temperaturas extremas e seca, o risco de incêndios florestais e elevação do nível do mar.
No Brasil, a temperatura aumentará entre 5°C no litoral e 8° no interior do país. Isto aumenta o risco de incêndios florestais, que além de mais freqüentes serão mais difíceis de controlar. As colheitas das plantações dos principais cereais das principais áreas de produção mundial irão decair. Além disso, haveria uma diminuição de até 70% nos reservatórios de água.
Metade das geleiras do Himalaia será significantemente reduzida até 2050, o que levará 23% da população da China a ser privada da fonte de água do degelo durante a estação seca. Os impactos mostrados no mapa são apenas uma seleção daqueles que podem ocorrer.
O documento foi lançado no Museu de Ciência de Londres por David Miliband, ministro de Relações Exteriores do Reino Unido e Ed Miliband, ministro de Energia e Mudanças Climáticas, juntamente com o cientista-chefe do Reino Unido, John Beddington.
“Se as emissões continuarem nos níveis atuais, a média de temperatura global provavelmente irá crescer em 4°C até o fim deste século ou até bem mais cedo. A ciência nos mostra que nós teremos impactos amplos e severos em todas as partes do mundo, então precisamos agir agora para reduzir emissões e evitar as faltas de água e comida no futuro”, disse Vicky Pope, Chefe da área de Mudanças Climáticas do Met Office.
“Este mapa mostra que os riscos não poderiam ser mais altos nas negociações de Copenhague. Os cientistas ajudaram a ilustrar o efeito catastrófico que resultaram do fracasso de limitar o aquecimento global em 2°C. Com menos de 50 dias antes que um acordo seja feito, o Reino Unido está se esforçando para persuadir o mundo de que precisamos aumentar nossas ambições para que consigamos um acordo que nos proteja de um mundo de 4°C”, disse Ed Miliband, Ministro de Energia e Mudanças Climáticas, que esteve no Brasil em agosto.
David Miliband disse que “nós não podemos lidar com um mundo de 4°C. Este mapa ilustra claramente o desafio que enfrentamos hoje – as mudanças climáticas são um problema verdadeiramente global que precisa de uma solução global e é esta solução que temos nas mãos. Mas para lidar com o problema das mudanças climáticas, todos nós – ministros das relações exteriores, do meio ambiente, da fazenda, de defesa, e todas as partes do governo e da sociedade – temos de trabalhar juntos para manter as temperaturas globais dentro dos 2°C. É apenas fazendo isso que nós poderemos minimizar os enormes riscos de segurança que um futuro mundo com 4°C representa.”
O mapa pode ser acessado pelo link http://www.actoncopenhagen.decc.gov.uk/content/en/embeds/flash/4-degrees-large-map-final
(Portal do Meio Ambiente, 30/10)