1 – Brasil, lar do estranho crocodilo-tatu
2 – Espermatozoide de proveta
Animal com carapaça e mania de cavar buracos viveu há 90 milhões de anos. Fóssil está em exposição no Jardim Botânico do Rio
Carlos Albuquerque escreve para O Globo:
Um bicho muito esquisito andava pelo interior de São Paulo há 90 milhões de anos. Era o Armadillosuchus arrudai, um crocodilo que vivia muito mais na terra do que na água, possuía uma verdadeira armadura que cobria o seu dorso e tinha a estranha mania de escavar a terra para se abrigar.
Por essa inusitada combinação de características, esse fóssil foi apresentado ontem, pela primeira vez, por pesquisadores do Departamento de Geologia da UFRJ, pelo seu nome popular: crocodilo-tatu. A cerimônia se deu na abertura da exposição Visões da Terra, no Museu do Meio Ambiente, no Jardim Botânico, onde o crocodilo-tatu encontra-se em exibição a partir de hoje.
Trata-se de uma espécie única e totalmente distinta de todos os crocodilos que conhecemos afirma Ismar de Souza Carvalho, autor de um estudo sobre a descoberta do fóssil, publicado na Journal of South America Earth Sciences. Não há relatos de um animal semelhante em todo o mundo.
Brasileiríssimo, portanto, o Armadillosuchus arrudai nome dado em homenagem ao pesquisador Tadeu Arruda, que o descobriu é natural da Bacia Bauru, que abrange o interior dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná, uma região rica em fósseis.
Foram necessários mais de quatro anos até que conseguíssemos reconstruir o seu esqueleto a partir dos restos encontrados em rochas conta Ismar.
Uma vítima das mudanças climáticas
Pesando cerca de 120 kg e medindo dois metros, dono de um focinho curto e estreito, o animal é um exemplo das estratégias de sobrevivência ao clima e aos predadores durante o Cretáceo, período de intenso calor, causado por um efeito estufa natural, em que as temperaturas durante o dia atingiam os 45 graus Celsius.
Era um ambiente de clima seco e quente, com chuvas episódicas, mas muito intensas. Esse fóssil mostra a capacidade que os crocodilos tinham de se adaptar àquelas condições inóspitas.
Outra característica inusitada do crocodilo-tatu era a sua capacidade de mastigar, desconhecida em todos os crocodilos existentes hoje.
Ele tinha uma estrutura dentária diferente dos crocodilos que conhecemos, que mordem e engolem. Isso permitia que consumisse uma variedade maior de alimentos, incluindo moluscos, vegetais e ocasionalmente animais maiores explica o pesquisador.
Com suas garras potentes, o animal podia também escavar a terra para se abrigar e se proteger de predadores.
Ele só não conseguiu se proteger das mudanças no clima. Quando este se tornou mais úmido e chuvoso, esse animal ficou fora do seu ambiente e desapareceu.
(O Globo, 8/7)
Cientistas usam célula-tronco de embrião para produzir sêmen humano
Pela primeira vez, espermatozóides humanos foram criados em laboratório. O estudo, de cientistas britânicos, torna realidade um tema antes só cogitado pela ficção científica. E aumenta a esperança de que homens hoje totalmente inférteis possam um dia ter filhos biológicos, mesmo sendo incapazes de fabricar o gameta masculino. Os espermatozóides foram desenvolvidos a partir de células-tronco extraídas de um embrião masculino de cinco dias.
A pesquisa, publicada na revista Stem Cells and Development, levanta questões éticas à respeito da segurança do procedimento e ao futuro do papel dos homens.
Alguns especialistas, no entanto, receberam a experiência com ceticismo. Eles argumentam que não foram criados espermatozóides autênticos, mas células semelhantes a estes.
Se a técnica desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Newcastle, liderados por Karim Nayernia, se mostrar de fato viável, um único embrião masculino poderia, em tese, fornecer uma linhagem de células-tronco; que, armazenada, seria usada como suprimento ilimitado de espermatozóides. E teoricamente não haveria necessidade de outros homens para reprodução.
Em resposta, os autores destacam que as células-tronco a partir do qual os espermatozoides foram desenvolvidos só poderiam ser obtidas a partir de um embrião masculino contendo cromossomo sexual Y (o masculino). Portanto, pelo menos um homem seria necessário.
Seria possível dispensar os homens. Mas só se você quiser produzir uma população com o mesmo tamanho e forma, porque ela teria a mesma origem genética masculina. Não vejo a reprodução humana como algo puramente biológico. Há aspectos emocionais, sociais e éticos. Fazemos pesquisas para ajudar homens inférteis, e não para substituir um processo reprodutivo disse Nayernia.
Na experiência, os espermatozóides obtidos eram plenamente maduros e funcionais.
E numa pesquisa paralela, ainda incompleta, o mesmo grupo está usando células-tronco de pele para obter espermatozóides com a mesma composição genética das células da qual se originaram. Isto permitiria a homens estéreis ter filhos biológicos.
Os resultados são promissores afirmou Nayernia Em alguns meses, devemos publicar um artigo relatando esse trabalho.
Já os esforços para produzir espermatozoides a partir de células-tronco de mulheres fracassaram. Essa técnica seria útil, por exemplo, para permitir a um casal de lésbicas gerar filhos biológicos aparentados com ambas as mulheres. Mas os cientistas dizem que os genes do cromossomo Y são essenciais para maturação de espermatozóides.
Há três anos, Nayernia liderou um grupo de cientistas da Universidade de Gottingen, na Alemanha, que obteve, pela primeira vez, células reprodutivas masculinas em laboratório a partir de células-tronco embrionárias de camundongos. E produziram sete animais. Mas eles morreram logo ao nascer.
A recente descoberta é mais um passo no caminho para encontrar uma cura para a infertilidade masculina. De acordo com a legislação vigente, investigadores estão proibidos de usar espermatozoides (ou óvulos) produzidos em laboratório e conhecidos como in vitro derivados (IVD, na sigla em inglês) para tratar pacientes. Porém, a experiência é permitida para pesquisa.
O grande desafio, dizem especialistas, é produzir um espermatozoide comprovadamente funcional. Segundo Azim Surani, professor de fisiologia e reprodução da Universidade de Cambridge, ainda há um longo caminho antes de se obter células sexuais masculinas autênticas.
Já o professor Robin Lovell Badge, do Instituto Nacional de Investigação Médica do Reino Unido, disse que apesar das dificuldades, é possível que os autores tenham feito progressos na obtenção de espermatozoides a partir de células-tronco embrionárias humanas in vitro. Isto será muito importante para a pesquisa e, em última análise, embora ainda nada esteja definido, para tratamentos de fertilidade.
(Jeremy Laurence, do Independent)
(O Globo, 8/7)