1 – FLORESTA WI-FI
2 – GIGANTES DO CO2 QUEREM DAR AS MÃOS PELO CLIMA
1 – FLORESTA WI-FI
Estudo piloto com rede de sensores sem fio será feito na Mata Atlântica para ajudar na montagem de projeto maior para a Amazônia
Uma rede experimental de 50 sensores sem fios para captar em tempo real variações de temperatura e umidade deverá ser instalada em setembro em São Luiz do Paraitinga (SP), numa área do Parque Estadual da Serra do Mar. A teia de sensores deverá permanecer em operação por um mês nessa porção da Mata Atlântica e funcionará como estudo piloto para analisar a viabilidade e esboçar o desenho de um projeto muito mais ambicioso: montar uma rede semelhante, mas maior, talvez com milhares de sensores, para recolher dados ambientais em uma área de 10 quilômetros quadrados da Amazônia.
Estamos procurando formas baratas de observar a floresta em tempo real e em três dimensões, diz o pesquisador Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coordenador do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais. Dependendo dos custos de implantação, podemos ter mais ou menos sensores. Hoje o Brasil já conta com um sistema de torres dotadas de sensores para realizar medições na Amazônia e em outras partes do país, mas a nova iniciativa terá como objetivo fornecer informações climáticas mais detalhadas e quase instantâneas sobre uma porção da floresta.
Segundo Nobre, o país precisa de mais e melhores dados sobre a Amazônia para aprimorar os modelos sobre o clima no país. O climatologista teve a ideia de propor uma rede de sensores robustos, de baixo custo e operação remota para observar a Amazônia depois de ter conhecido no ano passado o trabalho da Microsoft Research. Esse braço da gigante norte-americana do software se dedica à pesquisa básica e aplicada na área de computação científica e engenharia de programas e já trabalhou na implantação de redes similares em algumas partes dos Estados Unidos. No Alasca, pesquisadores da Microsoft Research participaram da montagem de uma rede para observar a retração de geleiras. Uma reunião de trabalho realizada hoje (27/05) na sede da Fundação com parceiros brasileiros e do exterior da iniciativa começou a detalhar o projeto.
O estudo piloto será realizado na Mata Atlântica paulista porque o local é muito mais acessível para os pesquisadores testarem um embrião da teia de sensores remotos do que a longínqua Amazônia. O miniprojeto na Serra do Mar vai dar uma boa ideia das dificuldades e limitações de montar e manter uma rede com essas caracterísicas. Além de dados sobre temperatura e umidade, os sensores sem fio na Amazônia também poderão fornecer informações sobre o balanço de carbono, diz Humberto Ribeiro da Rocha, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP), que está diretamente envolvido na montagem do estudo piloto. Ainda nesta semana, Rocha vai levar os americanos Rob Fatland, da Microsoft Research, e Doug Carlson, da Johns Hopkins University, para conhecer a área em São Luiz do Paraitinga onde serão instalados os 50 sensores.
Um dos problemas de uma rede sem fio de sensores é resistir aos efeitos da umidade e manter a vida útil de sua bateria”, afirma Carlson, que atou em projetos similares de monitoramento ambiental de tartarugas e de uma área na cidade norte-americana de Baltimore. A vida útil da bateria dos sistemas até agora usados pelo norte-americano é de cerca de um ano.
Fonte: Pesquisa FAPESP Online
2 – GIGANTES DO CO2 QUEREM DAR AS MÃOS PELO CLIMA
Em paralelo a segunda rodada de negociações de Bonn, os Estados Unidos ensaiam um acordo bilateral com a China para tentar resolver as divergências em torno do tratado pós-2012
Enquanto delegações de quase 200 países viajavam para Bonn, na Alemanha, nesta semana, o comissário especial do clima dos Estados Unidos, Todd Stern, se preparava para pegar um avião para um destino um pouco mais distante a China.
Em uma apresentação no Centro para o Progresso Americano, em Washington, Stern disse nesta quarta-feira (3) que os Estados Unidos pretendem fechar um acordo bilateral com os chineses neste ano para permitir avanços no encontro de Copenhague com relação ao acordo global que irá substituir o Protocolo de Quioto. Nenhum acordo será possível se não acharmos um caminho conjunto com a China, afirmou.
A China, junto a outros países em desenvolvimento como o Brasil e a Índia, argumenta que o grupo não deve ter metas obrigatórias de redução de gases do efeito estufa por pelo menos mais uma década, uma idéia que não agrada aos Estados Unidos.
Países desenvolvidos que concordarem em tomar uma forte ação não irão aceitar um mundo na qual os competidores econômicos tenham permissão para andarem livres com relação às emissões de CO2, comentou Stern.
Ele contesta a posição chinesa argumentando que, mesmo se todas as outras nações do mundo fora a China reduzirem 80% as emissões entre agora e 2050, as emissões da China sozinha levariam a uma concentração de mais de 540 partes por milhão.
Stern viaja para Pequim no sábado (6), acompanhado pelo secretário assistente de energia para políticas e assuntos internacionais, David Sandalow, e o chefe do Escritório de Políticas de Ciência e Tecnologia da Casa Branca, John Holdren. Junto com eles irão ainda representantes da Agência de Proteção Ambiental e do Departamento do Tesouro.
O comissário norte-americano defende que os países em desenvolvimento adotem medidas quantificáveis no novo tratado climático, mas que não precisam necessariamente ser igual a das nações ricas.
Se os dois Golias da atualidade podem juntar as mãos e chegar a um acordo para formar uma parceria climática e energética de longo prazo, isto irá realmente mudar o mundo, afirmou Stern.
Meta ambiciosa
Líderes chineses defendem que os países ricos assumam como meta a redução de 40% das emissões de 1995 em 2020. A principal legislação em tramitação no Congresso dos EUA prevê apenas uma queda de 4% as emissões de 1990 em 2020.
O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas sugere um corte de 25 a 40% nas emissões globais de gases do efeito estufa para que a temperatura não aumente mais de dois graus com relação aos níveis pré-industriais. Porém para Stern, este objetivo de corte de 40% proposto pela China “não é real.
O comissário afirmou que o apoio tecnológico e monetário que será dado pelos EUA aos países em desenvolvimento terá um papel importante nas negociações internacionais nos próximos meses, mas ele se nega a aceitar a sugestão chinesa de que o país dedique de 0,5 a 1% do Produto Interno Bruto (PIB) para a assistência tecnológica e adaptação internacional. Eles não podem estar falando sério, comentou.
Fim dos projetos de compensação
A meta defendida pela China é a mesma proposta pela ONG Friends of the Earth que paralelo ao encontro de Bonn lança a campanha Demand Climate Change, na qual pede um acordo climático global forte e justo.
Contudo, a ONG pede que os cortes nas emissões sejam promovidos dentro do território dos países ricos e não através da compra de créditos de carbono ligados a projetos desenvolvidos no exterior.
As compensações de carbono não estão fazendo nada para combater as mudanças climáticas, estão colocando a vida e o modo de vida de milhões de pessoas em risco e estabelecendo desigualdades entre os níveis de emissões de países ricos e em desenvolvimento”, disse Chris Crean, da Friends of the Earth britânica, ao jornal Birmingham Post.
Segundo a ONG, a compensação de emissões através de projetos em países em desenvolvimento está falhando em reduzir as emissões de carbono e, ao invés disso, está permitindo que países ricos continuem emitindo enquanto pagam para que outros o façam por eles.
No relatório Distração perigosa, a Friends of the Earth declara que gostaria de ver os países em desenvolvimento ganhando dinheiro para adaptar-se aos efeitos das mudanças climáticas e para promover o crescimento de suas economias usando tecnologias limpas.
Fonte: Paula Scheidt, CarbonoBrasil/Grist/Birmingham Post