1 – Metais demais
2 – Mar quente põe em risco indústria do camarão
3 – Contraceptivo masculino mostra eficácia de 98,8%
4 – Ovário artificial funciona
1 – Metais demais
Pesquisa indica que solo de parques públicos em São Paulo tem elevada concentração de metais potencialmente tóxicos, como chumbo e arsênio
Jussara Mangini escreve para a Agência Fapesp:
Estudo sobre o teor de metais em solos superficiais de 14 parques públicos do município de São Paulo revelou elevada presença de metais potencialmente tóxicos, como chumbo, cobre e arsênio. As concentrações estão acima dos valores de referência definidos pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) e acima de valores de intervenção em países como Alemanha e Holanda, o que poderia representar risco para a saúde dos frequentadores. Durante dois anos, de 2006 a 2008, a química Ana Maria Graciano Figueiredo, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), coletou e analisou amostras de solos urbanos dos seguintes parques da capital paulista: Luz, Buenos Aires e Trianon, na região central; Vila dos Remédios, Cidade de Toronto e Rodrigo Gáspari (zona Norte); Ibirapuera e Guarapiranga (zona Sul); Carmo, Raul Seixas e Chico Mendes (zona Leste); Raposo Tavares e Alfredo Volpi (zona Oeste). A amostra foi definida pela abrangência de várias regiões da cidade e pela localização. A ideia foi estudar parques em pontos com diferentes densidades de tráfego de veículos, uma vez que estudos em cidades como Madri, Palermo, Hong Kong e Paris associaram o aumento na concentração de metais em solos urbanos à elevação da poluição por metais no meio ambiente, como os originados pela deposição atmosférica de partículas geradas pelo tráfego de automóveis. Em uma pesquisa preliminar, Ana Maria analisou a concentração de platina, paládio e rádio elementos comumente presentes nos catalisadores dos automóveis em solos adjacentes à rodovia dos Bandeirantes. A pesquisadora observou que, quanto mais próximo à estrada, maior era a concentração desses elementos e de materiais relacionados ao tráfego (como chumbo, cobre e zinco) e vice-versa. A experiência inspirou o trabalho nos parques da metrópole. Com autorização e apoio do Departamento de Áreas Verdes (Depave) da Prefeitura de São Paulo, foram coletadas amostras do solo de cada um dos parques, em profundidades de 0 a 20 centímetros, e em linhas cruzando os parques, a cada 30 metros de distância, buscando maior representatividade na coleta. O material foi reunido especialmente em locais com maior frequência, como áreas de lazer, playground, áreas de práticas esportivas e de caminhada. As amostras foram analisadas por ativação de nêutrons instrumental e fluorescência de raios X, técnicas que apresentam alta sensibilidade e exatidão na análise quantitativa e qualitativa do material, sem destruí-lo, explicou Ana Maria. O foco da análise foi observar as concentrações de chumbo, cobre, cromo, zinco, cobalto, bário, arsênio e antimônio, por apresentarem riscos à saúde humana e serem os mais comumente encontrados em casos de contaminação de solos, disse. Ana Maria explica que metais são naturalmente encontrados em solos. Porém, em altas concentrações, qualquer um dos elementos encontrados na amostra pode oferecer riscos à saúde, até mesmo o zinco, que é essencial à saúde. Os valores de referência da Cetesb são equivalentes a um solo considerado limpo, ou seja, cuja concentração está dentro de padrões naturais, acrescentou. Realizado com apoio da Fapesp na modalidade Auxílio a Pesquisa Regular, o estudo revela que, com exceção do cobalto, todos esses elementos estão presentes no solo dos parques analisados em quantidade acima dos valores de referência da Cetesb e de agências reguladoras de países como Holanda e Alemanha.
Valores e parâmetros
Algumas concentrações de metais chamam atenção. Foram encontradas elevadas concentrações de chumbo nos parques Buenos Aires (439 mg/kg), Luz (209 mg/kg), Trianon (230 mg/kg) e Aclimação (260 mg/kg). Essas quantidades estão acima do Valor de Intervenção Agrícola (VI) para o metal, que é de 180 mg/kg. O indicador é usado pela Cetesb para apontar a partir de qual concentração algum elemento pode oferecer riscos potenciais, diretos ou indiretos, à saúde humana, considerando a exposição a solos genéricos (existem valores para solo residencial e industrial). Tanto o Parque Buenos Aires como o da Luz têm concentração de cobre de até 382 mg/kg e 324mg/kg, respectivamente, quantidade superior ao VI, definido em 200 mg/kg e acima dos parâmetros internacionais (190 mg/kg). Já o Trianon, com 106 mg/kg de cobre está acima do Valor de Prevenção (VP) da Cetesb, que define a concentração de determinada substância, acima da qual podem ocorrer alterações prejudiciais à qualidade do solo e da água subterrânea. Para o cobre, o VP é 60 mg/kg. O nível de concentração de cromo nos parques Ibirapuera (121mg/kg), Aclimação (112), Luz (146), Buenos Aires (105) e Vila dos Remédios (103) estão acima do VP, que a Cetesb estabelece em 75 mg/kg. Com exceção dos parques Alfredo Volpi, Raul Seixas, Carmo e Guarapiranga, todos os demais estão com concentração de zinco acima do Valor de Referência de Qualidade (VRQ), definido pela Cetesb como parâmetro para solo limpo ou para qualidade da água subterrânea, disse Ana Maria. Para cromo, o VRQ é 60 mg/kg. Vale destacar que o Parque Buenos Aires tem concentração de cromo de 423 mg/kg, o que supera o parâmetro de prevenção da Cetesb, que é de 300 mg/kg. Os valores de bário encontrados nos parques Toronto (875 mg/kg) e Rodrigo de Gáspari (936 mg/kg) excedem os valores de referência da Holanda, onde possivelmente seria recomendada uma investigação. Guarapiranga, Vila dos Remédios, Luz, Trianon e Aclimação estão com concentração de bário acima do Valor de Intervenção sugerido pela Cetesb. O antimônio é outro metal presente em quantidade acima do VI (5mg/kg), especialmente nos parques da Luz (11,5 mg/kg) e Buenos Aires (12 mg/kg). A concentração de arsênio é de 39 mg/kg nos parques Ibirapuera, Aclimação, Trianon e Vila dos Remédios; 40mg/kg no parque Chico Mendes e 56 mg/kg no da Luz, todos acima dos valores de intervenção da Cetesb e da Holanda, que estão fixados em 35 mg/kg. Os parâmetros da Cetesb são os únicos disponíveis para solos do Estado de São Paulo. Porém, os valores da companhia se baseiam em resultados de análises realizadas com auxílio de ácidos, enquanto as técnicas de ativação de nêutrons instrumental e fluorescência de raios X são valores totais, uma vez que não há dissolução do material, o que pode ocasionar diferenças nos resultados, ressaltou Ana Maria.
Riscos à saúde
Para a pesquisadora do Ipen, a influência da qualidade do solo na saúde de seres humanos tem sido pouco estudada e mesmo subestimada. Por meio da ingestão de solo aderido à pele ou aos dedos, inalação e absorção dérmica, os componentes minerais, químicos e biológicos dos solos podem ser prejudiciais à saúde, apontou. Segundo Ana Maria, a ingestão de solo tem sido reconhecida como a mais importante fonte de contaminação por chumbo, especialmente por crianças, que são mais suscetíveis. Elevadas concentrações de metais no solo têm sido relacionadas a altas concentrações de metais no sangue de crianças. Retardamento do desenvolvimento cognitivo e atividade intelectual prejudicada em crianças têm sido relacionados a exposição a chumbo, por exemplo, disse. Os resultados do estudo foram publicados em artigo no Journal of Radionalytical and Nuclear Chemistry em março e serão apresentados no Congresso Brasileiro de Geoquímica, em outubro, em Ouro Preto. Em continuidade à sua investigação, a pesquisadora está analisando também a característica dos solos da marginal Pinheiros, marginal Tietê, Rebouças, Tiradentes, Radial Leste, Jacu Pêssego e 23 de Maio.
(Agência Fapesp, 8/5)
2 – Mar quente põe em risco indústria do camarão
Aquecimento global influi no ciclo de vida da espécie
Uma indústria pesqueira de US$ 500 milhões pode ser vulnerável à mudança climática. Um estudo publicado hoje sugere que o aquecimento do oceano pode bagunçar o ciclo de vida de uma espécie comercial de camarão, levando-o a pôr ovos quando não há comida para alimentar suas larvas. Qualquer dano aos estoques do camarão-ártico – uma variedade pequena, popular em saladas no hemisfério Norte – poderia desencadear um efeito cascata na cadeia alimentar oceânica e afetar desde algas até bacalhaus, afirmaram especialistas canadenses. “O camarão é o equivalente marinho do canário na mina de carvão. É um indicador da mudança climática”, disse Peter Koeller, do Instituto de Oceanografia de Bedford. Ele é o autor principal do estudo, publicado na revista “Science” Koeller e colegas afirmam que o camarão coordena o período de acasalamento para que seus ovos eclodam na época do ano em que as algas que alimentam suas larvas são mais abundantes. “Eles evoluíram para se acasalar no ano anterior, na época certa para aproveitar a proliferação das algas na primavera [boreal]”, disse Koeller.
Os ovos levam entre 6 e 10 meses para incubar no inverno. “Mas a mudança climática poderia cortar a ligação entre temperatura do mar e comida”, afirmou. Temperaturas mais altas poderiam fazer o acasalamento ocorrer mais cedo. Dessa forma, os ovos eclodiriam antes do pico de florescimento das algas, matando as larvas de fome. Esse efeito, no entanto, não foi observado pelo estudo. Essa espécie responde por 70% das 500 mil toneladas de camarão de água fria pescadas por ano no mundo todo.
(Folha de SP, 8/5)
Estudo feito na China com 1.045 homens férteis usou injeção de testosterona. Outras pesquisas realizadas com o hormônio indicaram riscos como potencialização de câncer e infertilidade, de acordo com especialistas
Gabriela Cupani e Julliane Silveira escrevem para a “Folha de SP”; Um estudo chinês traz resultados promissores para o desenvolvimento de um anticoncepcional hormonal para homens. O ensaio clínico de fase três (última etapa antes de o fármaco ser aprovado para comercialização) foi feito com 1.045 homens chineses de 20 a 45 anos e mostrou que uma injeção mensal de 500 mg de testosterona misturados com óleo de semente de chá tem eficácia de 98,8%. A pílula anticoncepcional feminina, por exemplo, tem eficácia de 97% a 99%. Todos os voluntários possuíam parceiras férteis de 18 a 38 anos, tinham filhos e histórico médico normal. Após dois anos de acompanhamento, ocorreram nove gravidezes entre as parceiras dos 733 homens que completaram o estudo -o que sugere um índice de falha do método de 1,2%. Os pesquisadores afirmam no trabalho que o uso mensal do fármaco oferece “contracepção efetiva, reversível e confiável”. Segundo eles, o óleo de semente de chá propicia uma melhor dispersão do hormônio pelo organismo. A pesquisa foi publicada em março no “Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism”. “A novidade do estudo é a forma de administração em intervalos de um mês – em outros estudos, a administração era semanal. Na pesquisa, o veículo usado [o óleo] garante uma absorção mais lenta”, diz o endocrinologista Ricardo Meirelles, presidente da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia). O hormônio é injetado por via intramuscular, fica no músculo e passa para a circulação sanguínea aos poucos, sendo absorvido gradativamente. Isso garante níveis mais estáveis de testosterona, afirma Meirelles.
Contras.
O uso desse método anticoncepcional ainda causa preocupação na comunidade médica. Vários estudos com a testosterona vêm sendo realizados nos últimos anos, baseados no fato de que a aplicação dessa substância no organismo impediria a ação dos hormônios FSH e LH, que são responsáveis por estimular a produção de espermatozoides. No entanto, apresentaram fatores de risco como potencialização de câncer, infertilidade e baixa ação contraceptiva. Alguns trabalhos anteriores apontaram que o método pode ser irreversível – o excesso de hormônio, a longo prazo, pode atrofiar os testículos e levar à infertilidade. “Muitos estudos não tiveram sucesso pois esbarraram na questão da fertilidade masculina”, afirma o urologista Celso Marzano. Apesar de os pesquisadores chineses afirmarem que os níveis de espermatozoides voltaram ao normal seis meses após a interrupção da aplicação de testosterona, especialistas acredita que estudos de prazo mais longo sejam necessários para confirmar a reversibilidade do método. Outro problema apontado pelos médicos ouvidos pela Folha é a contraindicação no caso de câncer de próstata. O uso em excesso de testosterona poderia favorecer o desenvolvimento de um tumor já existente. “Não é possível afirmar, do ponto de vista oncológico, que o seguimento de dois anos é o tempo adequado”, diz Nilson Roberto de Melo, presidente da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia). Os voluntários da pesquisa chinesa ainda relataram como efeitos colaterais, dor no local da injeção, maior incidência de acne e oscilações de humor.
(Folha de SP, 8/5)
Órgão consegue amadurecer óvulos fora do corpo e é esperança para concepção.
Um ovário humano cultivado em laboratório a partir de frações de tecido ovariano foi capaz de fazer com que um óvulo imaturo se tornasse apto a ser fertilizado. O avanço oferece uma esperança para as mulheres que querem ser mães e tiveram o órgão destruído. O tratamento para o câncer é um dos mais agressivos para os ovários e o desenvolvimento de um órgão artificial ofereceria às mulheres que se submeteram a essas terapias mais chances de concepção. Atualmente, as únicas coisas que podem ser feitas nesses casos são a extração e o congelamento dos óvulos antes do início do tratamento ou optar pelo transplante de tecido ovariano, um método ainda experimental. Entretanto, se houver a possibilidade de amadurecer óvulos fora do corpo, muitos óvulos imaturos poderiam ser estocados para amadurecimento posterior. O avanço poderia ainda ser crucial para a pesquisa. Cientistas poderão testar, por exemplo, o efeito de toxinas ou outras substâncias no amadurecimento dos óvulos. Para criar o ovário artificial, Sandra Carson e Stephan Krotz, do Hospital de Mulheres e Crianças de Providence, em Rhode Island, usaram células que formam a parte externa do folículo que recobre o óvulo. Eles obtiveram as células de ovários removidos de mulheres jovens por outras razões. De um outro grupo de mulheres que se submetiam a tratamento de fertilização, os cientistas extraíram células presentes no fluido que envolve os óvulos. Estas células são responsáveis pela produção do hormônio estradiol, que auxilia na maturação dos óvulos. Num molde feito de gel em formato de colmeia foram acomodadas as células. Um óvulo humano ainda imaturo foi então colocado no molde, juntamente com o hormônio estimulante, que ajuda no desenvolvimento dos óvulos mas não é produzido nos ovários. Após 72 horas, o óvulo alcançou o amadurecimento necessário para ser fecundado. Neste ponto, o óvulo apresenta o chamado corpo polar uma estrutura que só é produzida num óvulo maduro. O estudo foi apresentado no último dia 2, no encontro da Sociedade de Fertilização da Nova Inglaterra, em New Hampshire. O próximo passo será testar se o ovário artificial seria capaz de amadurecer óvulos ainda mais jovens, também chamados de células primordiais, que as mulheres possuem aos milhares. Nosso objetivo é pegar óvulos muito imaturos e conseguir amadurecê-los afirmou Carson. Krotz acredita que o processo levaria dez dias, em oposição aos 280 que o organismo feminino necessita para tal amadurecimento. De acordo com os cientistas, os óvulos amadurecem mais rapidamente fora do corpo, provavelmente porque o ovário artificial não apresenta fatores produzidos normalmente pelo corpo e que inibem o amadurecimento.
(O Globo, 8/5)