1 – Sequestro oceânico de CO2 falha em teste
2 – Decreto de Lula acaba com cavernas no país
3 – Maior aglomeração de animais é flagrada
Experimento em grande escala no Atlântico Sul contraria proposta de “adubar” oceanos com ferro para mitigar efeito estufa. Ideia era estimular produção de algas para capturar o carbono, mas esses organismos acabaram devorados por predadores
Claudio Angelo escreve para a “Folha de SP”:
A natureza acaba de pregar uma peça em cientistas que testavam uma nova técnica contra o aquecimento global. Um experimento em larga escala realizado no Atlântico Sul para testar essa técnica, a fertilização dos oceanos com ferro, mostrou-se um fracasso.
Os resultados do teste, divulgados ontem por pesquisadores da Alemanha e da Índia, lançam um balde de água fria na chamada geoengenharia, nome dado às soluções tecnológicas mirabolantes para amenizar a mudança climática.
De todos os esquemas de geoengenharia já propostos (coisas que incluem até mandar guarda-sóis gigantes para o espaço, por exemplo), a fertilização dos oceanos é o que tem o maior potencial.
A ideia é relativamente simples: despejar quantidades maciças de ferro na superfície de oceanos em altas latitudes, onde há muitos nutrientes na água, mas pouca clorofila.
Carbono trancado
O ferro funcionaria como “adubo”, estimulando o crescimento de algas unicelulares. Essas algas passariam, então, a fazer fotossíntese, retirando gás carbônico da água e produzindo oxigênio. Ao morrerem e se depositarem no fundo do mar, elas ajudariam a manter esse carbono “trancafiado”. Com menos CO2 dissolvido, o oceano poderia absorver o excesso de carbono lançado na atmosfera pelos humanos.
A proposta teórica da fertilização com ferro de grandes áreas dos oceanos foi feita pela primeira vez em 1990 pelo cientista americano John Martin, mas foi testada em campo apenas dez vezes.
Em todos esses testes o ferro lançado na água de fato estimulava a multiplicação de algas e a fotossíntese, mas o efetivo “enterro” do carbono e quanto CO2 poderia ser absorvido por ano não puderam ser medidos.
Entra em cena o Lohafex, um experimento conduzido por dois meses no tempestuoso Atlântico Sul por um grupo do Instituto Alfred Wegener, da Alemanha, e do Instituto Nacional de Oceanografia de Goa.
A região foi escolhida por ter maior potencial de sequestro de carbono do que as áreas do oceano Austral onde outros experimentos semelhantes foram realizados, e por ter tipos diferentes de alga.
A bordo do navio quebra-gelo alemão Polarstern, o grupo de pesquisadores despejou 6 toneladas de ferro no mar ao longo de 300 quilômetros quadrados. Como era esperado, a “adubação” realmente estimulou o crescimento de algas (ou fitoplâncton), que dobraram sua biomassa em um período de duas semanas.
E foi aí que o tiro literalmente começou a sair pela culatra. O excesso de fitoplâncton logo chamou atenção de copépodes, microcrustáceos que se alimentam de algas. Com comida de sobra, os copépodes se multiplicaram, o que por sua vez atraiu anfípodes (grupo de crustáceos maiores).
Algas erradas
Depois de 39 dias, segundo um comunicado à imprensa do Instituto Alfred Wegener, as concentrações de clorofila na área adubada entraram em declínio e tudo o que sobrou foi “um cardume de anfípodes bem-nutridos”. O sequestro de carbono obtido com o experimento foi “desprezível”.
Segundo o oceanógrafo Victor Smetacek, um dos líderes da pesquisa, estimativas anteriores sugeriam que até 1 bilhão de toneladas de carbono poderiam ser sequestradas pela fertilização. “Nossos resultados mostram que essa cifra é otimista demais”, afirmou Smetacek à Folha.
O problema, diz, foi que as algas “erradas” se multiplicaram – e não as chamadas diatomáceas, que têm uma carapaça calcária que as protege contra predadores.
Naquela região, o mar é pobre em silício, elemento que as diatomáceas usam para fazer sua carapaça. Portanto, a multiplicação das algas “certas” foi baixa. “Não houve tempo para produzir biomassa em excesso que afundasse depois”, disse o pesquisador.
(Folha de SP, 25/3)
2 – Decreto de Lula acaba com cavernas no país
Supremo pede ao presidente explicações sobre a medida
Liana Melo escreve para “O Globo”:
O Brasil está correndo o risco de ficar sem cavernas no futuro próximo. O decreto 6.640, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 7 de novembro, permite destruir cavernas e grutas espalhadas pelo país.
O decreto classifica as cavernas em quatro categorias, pelo grau de relevância: máximo, alto, médio e baixo. Apenas as cavidades consideradas de máxima relevância serão poupadas da destruição. As demais poderão ser eliminadas.
Especialistas em espeleologia calculam que existam no país, segundo dados do Cadastro Nacional de Cavernas do Brasil, cerca de 4.672 cavernas.
Para ambientalistas, o governo cedeu às pressões de setores econômicos, como o de mineração e o elétrico. O estado de Minas Gerais é o recordista em cavernas, com 1.656; depois vêm Goiás (665), Bahia (540) e São Paulo (520).
A Sociedade Brasileira de Espeleologia recorreu à Procuradoria Geral da República pedindo uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o decreto.
A ação já foi iniciada. Ontem, o presidente Lula recebeu ofício do ministro Eros Grau, do STF, pedindo explicações sobre a medida. A notícia foi publicada com exclusividade pelo Blog Verde.
Além do presidente Lula, o STF vai ouvir a Advogacia Geral da União e o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, autor da ação direta de inconstitucionalidade ajuizada no STF, em 10 de março.
– Este decreto subverte o modelo constitucional e altera o regime jurídico de preservação de espaços territoriais especialmente protegidos – explica o procurador, que pediu a suspensão da validade do decreto, “em vista da possibilidade de que empreendimentos econômicos sejam de pronto instalados, em detrimento do patrimônio espeleológico brasileiro”.
Foi às vésperas da “canetada”, como classifica o presidente da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), Emerson Gomes Pedro, que os especialistas em cavidades naturais tomaram conhecimento do decreto 6.640, que modificou o 99.556, de 1990.
Além do Judiciário, a medida também está sendo questionada no Legislativo. O deputado Antonio Carlos Mendes Tamer (PSDB/SP) apresentou projeto pedindo a suspensão do decreto.
A proposta foi parar na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados.
– Cerca de 70% das cavernas estão correndo risco de desaparecer, o que constitui uma ameaça sem precedentes ao meio ambiente e ao patrimônio cultural de nosso país – protesta Gomes, para quem não há indício de que as cavernas estejam dificultando o desenvolvimento da economia brasileira.
(O Globo, 25/3)
Pesquisadores observam pela primeira vez cardumes que cobrem quilômetros de oceano
Com ajuda de técnicas de teledetecção, um grupo de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) conseguiu, pela primeira vez, estudar a movimentação de um extenso cardume, reunindo milhões de peixes. Esses cardumes arenques são as maiores aglomerações de animais do planeta e chegam a ocupar uma área de dezenas de quilômetros quadrados.
O fato, inédito, publicado na revista “Science”, pode explicar melhor o comportamento desses animais e também ajudar nos esforços de preservação dos estoques marinhos.
– Se todos vissem a grandiosidade desses cardumes, aumentaria a conscientização em torno da sua preservação – afirma o oceanógrafo Nicholas Makris, do MIT, que conduziu o estudo, feito na costa leste dos EUA
Grupo migra à noite e se dispersa pela manhã
Há muito tempo os cientistas tentam descobrir como se formam tais agrupamentos. Mas até agora os estudos têm sido teóricos, simulações ou experimentos em laboratório.
Recolher informações sobre esses grupos sempre foi difícil, já que os peixes se dispersam em zonas profundas do oceano, o que dificulta sua localização e observação.
Agora, com o auxílio de modernas técnicas de mapeamento do fundo do mar, os cientistas conseguiram observar o agrupamento de um gigantesco cardume, formado por milhões de arenques, sua migração e posterior desagregação.
De acordo com os pesquisadores do MIT, que compararam o cardume a uma “ola que se move em torno de um estádio de futebol”, essa foi a primeira vez que foi investigado tal comportamento na natureza numa escala tão grande.
O estudo revela que, quando alguns peixes se unem, eles produzem uma reação em cadeia que culmina com a formação de cardumes de milhões de animais que viajam juntos e ordenadamente por dezenas de quilômetros no oceano.
Segundo os pesquisadores, quando um cardume de arenques alcança uma determinada densidade, se inicia um processo de agrupamento sincronizado de milhões de indivíduos que os leva a percorrer, ao anoitecer, enormes extensões até alcançarem águas superficiais, onde fazem a desova.
Tais cardumes podem se estender por até 40 quilômetros. Quando o dia chega, o grupo se desfaz, com os peixes se dirigindo às regiões mais profundas do oceano, onde ficam protegidos pela escuridão.
(O Globo, 27/3)