1 – XLV Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical – MEDTROP 2009
2 – XVI Internacional e X Congresso Nacional em Toxinologia
3 – 2º Workshop Internacional sobre Avanços em Produção Mais Limpa
4 – Curso de Ilustração Científica
5 – Concurso Público UESPI (10 vagas para Biólogos)
6 – Concurso Público UFG (05 vagas para Biólogos)
7 – Alga entra no “menu” dos biocombustíveis
8 – Antártica em alerta
9 – Estações do ano chegam dois dias antes
10 – Brasileiros descobrem ‘réptil’ com cara de mamífero no Rio Grande do Sul
11 – Preciosidades na web
13 – Cientistas descobrem nova síndrome genética no RN
14 – Amazônia tem mais de 10 mil plantas com potencial medicinal
15 – Mares mortos
16 – Harpias nascem em cativeiro
1 – XLV Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical – MEDTROP 2009
O Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical reúne anualmente uma grande diversidade de profissionais, pesquisadores e professores que atuam na grande área da saúde pública. O evento irá acontecer entre os dias 08 e 12 de março de 20009, em Recife e Olinda (PE). Terão descontos as inscriçõ es feitas até o dia 31 de janeiro de 2009 (sábado). Maiores informações no site oficial do evento: http://www.medtrop2009.com.br/ .
2 – XVI Internacional e X Congresso Nacional em Toxinologia
“Biodiversidade em toxinas: ferramentas para a pesquisa biológica e o desenvolvimento de drogas” é o tema do 16º Congresso Mundial da Sociedade Internacional de Toxinologia e do 10º Congresso da Sociedade Brasileira de Toxinologia, que serão realizados simultaneamente no Cabo de Santo Agostinho (PE), entre os dias 15 e 20 de março de 2009. A programação prevê conferências, simpósios e palestras. Segundo os organizadores, o objet ivo é abordar avanços científicos na área e a transferência de conhecimento e as novas tecnologias, além de fazer uma avaliação do papel da toxinologia no contexto da pesquisa científica mundial. Terão descontos especiais as inscrições realizadas até o dia 1º de fevereiro de 2009 (domingo). Maiores informações no site oficial do evento: www.istsbtx2009.com.br .
3 – 2º Workshop Internacional sobre Avanços em Produção Mais Limpa
Estão abertas as inscrições de trabalhos científicos para o 2º Workshop Internacional sobre Avanços em Produção Mais Limpa, que ocorrerá de 20 a 22 de maio de 2009, em São Paulo. O objetivo do evento, que terá o tema central “Os elementos-chave para a sustentabilidade do planeta: Energia, água e mudanças climáticas”, é promover a troca de informações e de resultados de trabalhos entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros sobre tecnologias, conceitos e políticas de produção limpa. Entre os palestrantes estão José Goldemberg (USP), Cam Metcalf, (Universidade de Louisville), Philip Fearnside (Inpa) e Pedro O choa George, (Universidade de Cienfuegos). Os trabalhos devem ser enviados até o dia 16 de fevereiro de 2009 (segunda-feira). Maiores informações pelo site www.advancesincleanerproduction.net .
4 – Curso de Ilustração Científica
A Fundep (www.fundep.br) abriu inscrições para o curso de Extensão de Ilustração Científica, que qualifica ilustradores com base em normas internacionais de representação gráfica para as publicações científicas. Os únicos pré-requisitos são habilidade em desenho e ensino médio completo. São oferecidas 20 vagas, duas delas para bolsistas. O curso tem custo de R$350 à vista ou R$400 em quatro parcelas de R$100. As aulas serão aos sábados, de 07 de março a 27 de junho de 2009, das 13h às 17h, no Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG. Para obter maiores informações, acesse o link: http://www.fundep.ufmg.br/cursos/mostraturma.asp?turma=3910**1*1/09 .
5 – Concurso Público UESPI (10 vagas para Biólogos)
A Universidade Estadual do Piauí – UESPI (www.uespi.br) abriu as inscrições para concurso público destinado ao provimento de cargos de Professor Adjunto e Assistente. As inscrições deverã o ser efetuadas no entre os dias 26 de janeiro e 20 de fevereiro de 2009, no Auditório do Pirajá, campus Poeta Torquato Neto (Rua João Cabral, 2231, CEP 64002-150, Caixa Postal 381, bairro Pirajá, Teresina – PI), de segunda a sexta, nos horários de 08h30 às 12h e das 14h às 17h30 (horário local). As vagas para Biólogos são nas áreas de: biologia, genética, zoologia e ecologia. O edital do concurso pode ser acessado pelo link: http://www.uespi.br/downloads/uploads/edital_pe_2009.pdf .
6 – Concurso Público UFG (05 vagas para Biólogos)
A Universidade Federal de Goiás – UFG (www.ufg.br) abriu as inscrições para concurso público destinado ao provimento do cargo de Professor da Carreira do Magistério Superior. As vagas para Biólogos com inscrições até 23 de fevereiro de 2009 são: Histologia e Embriologia, Biologia do Desenvolvimento, Histologia e Desenvolvimento Buco- Dental; Biologia Celular e Biologia dos Tecidos, Órgãos e Sistemas; Histologia e Embriologia e Educação a Distância; Bioquímica e/ou Biologia Molecular: Enzimologia e/ou Química de Proteínas; Bioquímica e/ou Biologia Molecular: Genômica e/ou Proteômica e/ou Bioinformática; Farmacologia. A remuneração mensal é de R$6.497,14. As inscrições deverão ser feitas no site da UFG e o local de atuação das vagas é em Goiânia. O edital pode ser acessado pelo link: http://www.crbio4.org.br/images/stories/food/editalufg.pdf .
7 – Alga entra no “menu” dos biocombustíveis
Com rápida reprodução e boa produtividade de óleo, as microalgas são vistas como opção plausível de alternativa ao petróleo
Bettina Barros escreve para o “Valor Econômico”:
Com alguns anos de atraso, o governo brasileiro começa a dar sinais concretos de que incluirá em sua política energética pesquisas com microalgas para a produção de biocombustíveis.
Estudadas há pelo menos 20 anos em iniciativas independentes de pesquisadores brasileiros, esses vegetais microscópicos entraram no foco do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Se antes as pesquisas se limitavam aos setores de cosméticos e fármacos, o interesse volta-se agora para a produção do biocombustível em escala comercial e viável do ponto de vista econômico.
O novo item do cardápio de matérias-primas pesquisadas para a produção de biocombustíveis chega com alguns atrativos. Com rápida reprodução e boa produtividade de óleo, as microalgas são vistas como opção plausível de alternativa ao petróleo. Contam ainda com uma vantagem ainda imbatível: reproduzidas em tanques de água marinha, elas não entram em conflito na disputa por terras agrícolas, questão-chave no debate atual.
De olho nesse futuro mercado, o Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnologia (CNPq), vinculado ao MCT e em parceria com o Ministério da Pesca e Aqüicultura, lançou em 2008 um edital inédito para a contratação de projetos com o objetivo de investigar a fundo o potencial das algas para finalidade energética. Sessenta e três projetos foram apresentados, 11 selecionados.
Paralelamente, a Petrobras também dá seus passos. Desde 2006, a estatal trabalha em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande (FURG), no Rio Grande do Sul, para desenvolver o novo biocombustível. O projeto já entra em sua segunda fase.
“Temos que suprir a necessidade de matéria-prima para a produção de biodiesel, que tire a dependência da soja. E o mais rápido possível”, diz Rafael Menezes, coordenador de ações de desenvolvimento energético do Ministério da Ciência e Tecnologia.
As pesquisas foram divididas em cinco áreas prioritárias: o estudo do potencial de cepas de microalgas; a avaliação das propriedades físico-químicas do biodiesel de algas; os processos mais econômicos e eficientes; a avaliação da viabilidade econômica do cultivo e o desenvolvimento de técnicas para maximizar a produtividade do óleo.
Em dois anos, o CNPq investirá o total de R$ 4,5 milhões em busca das respostas de ao menos parte das perguntas científicas. A primeira delas é também o maior desafio: como produzir combustível de algas a um baixo custo?
“Esse tem sido o maior entrave à produção, aqui e no exterior”, explica Armando Vieira, pesquisador da Universidade Federal de São Carlos e um dos selecionados no edital. Por isso, diz ele, é que ações recentes envolvendo o combustível de alga são simbólicas – marketing, acima de tudo.
Vieira refere-se ao vôo demonstrativo realizado no início deste ano pela companhia aérea americana Continental Airlines, que colocou no ar um avião com um quarto do combustível oriundo de uma mistura de pinhão-manso e algas. “O processo para a produção de combustível de algas ainda é muito caro. Não é viável hoje para realizar vôos. Se quiserem, eu também faço esse combustível. Mas vai ser uma fortuna. US$ 10 por litro”, especula.
As cifras proibitivas devem-se ao processo industrial de concentração, separação e secagem das algas. Por serem extremamente pequenas, com tamanhos que variam de 2 a 200 micrômetros (uma milionésima parte do metro), as algas necessitam ser primeiro aglutinadas para então serem separadas da água. Isso só é possível através de filtragem, centrifugação ou por uso de floculantes. Além de técnicas caras, consomem muita energia.
“Uma centrífuga grande chega a custar hoje algo como US$ 100 mil. Filtros, US$ 5 a unidade. E são necessários centenas”, afirma Paulo César Oliveira, da FURG.
Oliveira pertence à equipe de cientistas que desenvolve as pesquisas com algas para a Petrobras. Durante a primeira fase do projeto, os pesquisadores coletaram espécies nativas do Rio Grande do Norte e identificaram 40 espécies de microalgas. “Ainda estão sendo realizados estudos para verificar se entre elas há novas ocorrências em relação as 30 mil já catalogadas pela ciência”, afirma, em nota, a estatal.
Nos próximos 24 meses, o desafio do grupo será o escalonamento da produção, passando dos experimentos atuais com três mil litros de água para tanques maiores, de 10 mil litros. “A idéia é tirar até três quilos de algas por litro d’água, no período de dez dias”, diz o pesquisador.
A previsão de quando o combustível de algas estará no mercado é uma incógnita. Pesquisadores mais adiantados falam em uma década. No exterior, a corrida pelo “petróleo verde” dá passos mais largos. Nos Estados Unidos, a expectativa do setor privado é de produzir o biocombustível em metade desse tempo.
E por uma razão simples. Ali, as microalgas são usadas há décadas na produção de encapsulantes e na aqüacultura, para alimentar peixes e outros animais. Com a crise do petróleo, nos anos 70, o governo adotou a estratégia de estimular a aplicação desses organismos marinhos para a produção de energia a partir da biomassa, na tentativa de reduzir a dependência pelo óleo. Linhas de investimento especiais foram criadas pelo Departamento de Energia, resultando em dezenas de pesquisas do setor privado e universidades .
A boa notícia é que, superado o problema do custo de produção, o combustível de alga terá, com efeito, uma vantagem competitiva. Diferentemente de outras oleaginosas, as microalgas se reproduzem de forma exponencial. Mantidas em tanques rasos, elas conseguem se duplicar em qualquer tipo de água, da salgada à salobra. Seu principal alimento é o dióxido de carbono (CO2), o que lhes confere um segundo papel de “comedoras” de gases que afetam o ambiente.
Outra vantagem, como já se disse, é que as microalgas não competem com outras culturas. Portanto, seu cultivo não exige o deslocamento de áreas tradicionalmente voltadas para a alimentação humana (um argumento forte sobretudo nos Estados Unidos, onde o milho é a matéria-prima para o etanol).
Pesa ainda a sua produtividade. A soja, principal base do biodiesel no Brasil, rende de 400 a 600 quilos de óleo por hectare e tem apenas um ciclo por ano. O girassol produz de 630 a 900 quilos. Mas uma pesquisa recente do Instituto de Biologia da Universidade Federal Fluminense indica que microalgas encontradas no litoral brasileiro têm potencial energético para produzir 90 mil quilos de óleo por hectare. É uma interessante nova frente de ação.
“Estamos falando de algo novo e que até pouco tempo atrás era totalmente ignorado. Muitas pessoas achavam que eu perdia tempo com estes assuntos ‘estranhos’. Agora tudo mudou”, conta Sergio Lourenço, pesquisador da Universidade Federal Fluminense, responsável pelo estudo. “Perdemos terreno por nunca ter investido o suficiente nessa frente”.
(Valor Econômico, 22/1)
8 – Antártica em alerta
Pela primeira vez, estudo revela aumento da temperatura média
Durante muito tempo cientistas que estudam as mudanças climáticas na Terra acreditaram que enquanto o planeta aquecia, grande parte da Antártica esfriava. Mas isso mudou.
O único continente que parecia imune ao aquecimento global está esquentando rapidamente. Novos estudos mostram que nos últimos 50 anos a região registrou uma elevação média na temperatura de 0,5 grau Celsius, cerca de 0,1 grau por década. Os dados foram publicados na revista britânica “Nature”. Estas mudanças têm influência direta no Brasil, pois a Antártica participa da regulação do clima no país.
Cerca de 90% do gelo do planeta encontra-se na Antártica. Até agora, a comunidade científica pensava que todo o interior do continente gelado estava esfriando e que a temperatura só aumentava na sua península, próxima ao extremo da América do Sul. Com base em análises de registros de estações terrestres e satélites, agora os autores da pesquisa contestam a ideia de que as temperaturas se mantêm em equilíbrio entre o oeste e o leste do Continente Polar.
A temperatura subiu de 1957 a 2006, especialmente no inverno e na primavera. É verdade que a parte leste da Antártica esfriou entre 1970 e 2000, mas desde então reaqueceu.
Com isto, a média sobe, explicou um dos coordenadores do estudo, Eric Steig, da Universidade de Washington e diretor do Quaternary Research Center.
“O aquecimento na Antártica ocidental (oeste) tem sido de um décimo de grau Celsius por década nos últimos 50 anos, anulando completamente o esfriamento da parte leste (oriental) durante o período de 1970 a 2000”, disse um comunicado da Universidade de Washington.
Buraco de ozônio ajudou a esfriar
Este aumento, similar ao do resto do planeta, está relacionado com alterações na circulação atmosférica, variações na temperatura da superfície dos mares e com a diminuição do gelo na região pacífica do oceano Sul. A curto prazo, este aquecimento não terá conseqüências graves.
Porém, com o tempo, a desestabilização da camada de gelo é uma possibilidade, afirmam os autores: – O oeste da Antártica é muito diferente do leste, e há uma barreira física, as Montanhas Transantárticas, que separam estas duas partes.
A camada de gelo da primeira está a uma altura de 1.830 metros do nível do mar e a segunda a 3.050 metros.
Uma das razões pelas quais se acreditava que a maior parte da Antártica esfriava é a presença do buraco na camada de ozônio, que aparece a partir da primavera na Região Polar do Hemisfério Sul. Este fenômeno seria responsável pela queda de temperatura na parte oriental, especialmente no outono.
– O buraco na camada de ozônio pode esfriar a Antártica ocidental, mas não intensamente como os fatores que produzem aquecimento. A Antártida ainda continuará coberta de gelo por milhares de anos, independentemente da ação humana. Porém poderá derreter-se, elevando o nível dos mares – disse Steig.
Saiba mais sobre o continente gelado
Refrigerador da Terra: A Antártica controla o clima no Hemisfério Sul. E mudanças climáticas no Brasil podem ser, em parte, resposta às alterações no continente gelado. As frentes frias, por exemplo, nascem lá. Os ventos atingem 327 quilômetros por hora e a temperatura chega a 55 graus Celsius negativos, muito mais baixa que a do Ártico, de menos 15 a 20 graus Celsius.
Gelo por toda parte: Pelo menos 98% da superfície está sempre recoberta por gelo, um manto de cinco quilômetros de espessura e volume de 25 milhões de quilômetros cúbicos. Se todo este gelo fosse transferido para o Brasil, daria para cobrir todo o país com uma camada de 2,9 mil metros de espessura. Se fosse totalmente derretido, aumentaria o nível do mar em 60 metros.
Água doce: De 70% a 80% da água doce do planeta estão no continente. Ele é cercado por uma camada de mar congelado, cuja superfície varia de 2,7 milhões de quilômetros quadrados no verão a 22 milhões de quilômetros quadrados no inverno.
Animais e plantas: No mar a vida é rica. Em terra é restrita à pequena faixa junto ao mar, livre de gelo no verão. É onde estão pequenos invertebrados, microorganismos e uma flora abundante em líquens e musgos, além de fungos, algas e poucas gramíneas. Focas e aves procuram esta área para reprodução e descanso.
(O Globo, 22/1)
9 – Estações do ano chegam dois dias antes
Ação humana pode estar causando variações e alterações dos picos de calor e frio
Não só houve aumento da temperatura média global nos últimos 50 anos, mas as estações do ano tem tido o seu início alterado, chegando até dois dias antes do normal, tanto no Hemisfério Sul como no Hemisfério Norte, revela um estudo realizado por cientistas das universidades de Berkeley e Harvard, nos EUA.
Assim como a atividade humana produz gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global, ela também pode ser a causa das mudanças nos ciclos das estações e também dos seus picos de calor e frio, de acordo com Alexander R. Stine, pesquisador da Universidade de Berkeley, uma das autoras do relatório, publicado na revista “Nature”.
– Há cem anos existe um padrão de variabilidade muito natural – explica Stine. – Em seguida, vemos uma grande quebra desse padrão, ao mesmo tempo que a temperatura média global começa a aumentar, o que nos faz suspeitar da influência da atividade humana.
Padrões de circulação atmosférica também estão mudando Embora a causa desta mudança sazonal não esteja clara, pesquisadores dizem que a mudança parece estar relacionada, em parte, a um determinado padrão de ventos que também foi mudando ao longo do mesmo período.
Este padrão de circulação atmosférica, conhecido como Modo Anular Norte, é o mais importante para controlar o tipo do vento e fazer um inverno no Hemisfério Norte diferente do outro. Os pesquisadores descobriram que este padrão também é importante para controlar a chegada das estações.
Seja qual for a causa, asseguram os pesquisadores de Berkely, os modelos do atual Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) não preveem esta mudança no ciclo das estações.
As temperaturas em qualquer momento do ano podem ser muito diferentes na Terra e sobre os oceanos.
E uma mudança na intensidade e na direção dos ventos pode mover uma grande quantidade de calor do oceano para terra, o que pode afetar o calendário das estações.
No entanto, esta parece ser apenas uma explicação parcial porque a relação entre este padrão de circulação e da alteração no calendário das estações do ano não é suficientemente forte para explicar a magnitude da mudança sazonal.
(O Globo, 22/1)
10 – Brasileiros descobrem ‘réptil’ com cara de mamífero no Rio Grande do Sul
Membro do grupo dos cinodontes têm estranhos calombos nas costelas. Animal de 230 milhões de anos provavelmente era herbívoro cavador
Reinaldo José Lopes escreve para o “G1”:
Há 230 milhões de anos, o território que hoje conhecemos como Rio Grande do Sul era um viveiro de cinodontes, estranhos seres peludos e reptilianos cuja linhagem daria origem aos mamíferos. E provavelmente nenhum era mais estranho que o Protuberum cabralensis, ou “Bolotudo”, como a criatura foi apelidada pelos paleontólogos gaúchos que acabam de revelar sua existência à comunidade científica. As costelas do bicho terminavam em calombos que possivelmente o ajudavam a cavar tocas e/ou a se proteger de predadores.
“De fato, era quase uma carapaça, o que o torna bem diferente de todos os cinodontes conhecidos”, contou ao G1 Marina Bento Soares, do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Soares ajudou a descrever formalmente a nova espécie junto com seus colegas Cesar Leandro Schultz, também da UFRGS, e Míriam Reichel, que hoje é aluna de doutorado da Universidade de Alberta (Canadá).
A história da descoberta do bicho é tão peculiar quanto a anatomia dele. Os primeiros sinais de sua existência vieram em 1977, quando o padre Daniel Cargnin, entusiasta amador da paleontologia que morreu no ano passado, achou algumas costelas e vértebras esquisitas misturadas a outras espécies extintas de répteis. Em 1989, o religioso coletou mais material, parte de um esqueleto articulado e um crânio, no município de Novo Cabrais (daí o nome da espécie, cabralensis). O fóssil foi parar num museu, mas não chegou a ser estudado.
“O padre Daniel e o irmão dele eram paleontólogos amadores, viviam bisbilhotando afloramentos de rocha e trazendo muitas dicas para nós”, diz Soares. “O material do cinodonte não estava preparado [os pesquisadores precisam limpar cuidadosamente as rochas em volta do fóssil para poder examinar sua anatomia]. Foi a Míriam que decidiu dar atenção a isso e estudou o material durante seu mestrado”, explica ela. Reichel também é responsável pelo apelido de “Bolotudo”, epíteto que a reconstrução do animal, feita por ela e mostrada acima, justifica um bocado bem.
Além da morfologia única nas costelas e nas costas, o animal também apresentava uma espécie de carapaça no teto do crânio, o que pode reforçar a idéia de que ele tinha adaptações únicas para viver debaixo da terra. “As marcas de inserção dos músculos no esqueleto dele também indicam que era um animal bem robusto. Não encontramos as patas, cujas garras normalmente indicam com clareza o hábito de cavador, mas parece bastante provável”, afirma Soares.
Em tamanho, a paleontóloga afirma que o animal se aproximava de um cão da raça labrador de hoje, com pouco mais de 1 m de comprimento. Membro do grupo de cinodontes conhecido como traversodontídeos, muito diversificado há 230 milhões de anos, o bicho certamente era herbívoro, tal como seus parentes mais próximos, e provavelmente tinha ao menos alguns pêlos no corpo, bem como sangue quente.
Apesar da semelhança com os mamíferos de hoje, Soares explica que os nossos ancestrais diretos eram cinodontes de outra estirpe, bem menores e comedores de insetos. O P. cabralensis viveu durante o auge dos cinodontes, no chamado Triássico Médio; há cerca de 200 milhões de anos, quando o Triássico acabou, uma onda de extinções praticamente varreu esses bichos do mapa, deixando apenas duas famílias de cinodontes para contar a história. Os únicos parentes do grupo vivos ainda hoje são mesmo os mamíferos.
(G1, 22/1)
11 – Preciosidades na web
Biblioteca Digital de Obras Raras e Especiais da USP disponibiliza para pesquisadores e público em geral o conteúdo integral de títulos existentes nas diversas bibliotecas da universidade
A Biblioteca Digital de Obras Raras e Especiais da Universidade de São Paulo (USP) acaba de disponibilizar, para consulta livre na internet, algumas das principais obras do acervo da universidade, que inclui livros anteriores à sua fundação.
A iniciativa, mantida pelo Sistema Integrado de Bibliotecas (SIBi) da USP, tem o objetivo de colocar preciosidades, algumas dos séculos 15 e 16, à disposição de um público mais amplo sem, por outro lado, danificá-las pelo manuseio.
Trata-se ainda, segundo os organizadores, de ampliar e democratizar o acesso, fazendo com que o pesquisador não tenha que se deslocar nem marcar a consulta para conhecer as publicações, atendendo ainda àqueles que, por curiosidade intelectual, também buscam esse tipo de material.
Desde o fim da década de 1980, preocupado com a preservação desse material, o SIBi já desenvolvia projetos, alguns deles com apoio da Fapesp, para identificar e tratar tecnicamente as obras, ou seja, catalogá-las e conservá-las.
Para a Biblioteca Digital de Obras Raras e Especiais, inicialmente foram selecionados 38 livros em várias áreas do conhecimento, obedecendo aos critérios de antiguidade, valor histórico e inexistência de novas impressões ou edições do título.
Alguns livros foram digitalizados integralmente e estão disponíveis para consulta ou impressão para uso não comercial, enquanto outros tiveram apenas suas capas digitalizadas.
Entre os títulos está o Liber Chronicarum, uma história do mundo escrita em 1493, ricamente ilustrada e colorida à mão, com texto em gótico e notas manuscritas, além de Ordenações de Dom Manuel, de 1539, livro que traz em sua primeira folha uma xilogravura representando as armas portuguesas.
Mais informações: http://www.obrasraras.usp.br
(Agência Fapesp, 22/01)
12 – Cientistas descobrem nova síndrome genética no RN
Doença, que provoca deformidades, afeta seis membros de uma mesma família. Achado foi descrito por 11 pesquisadores brasileiros e um americano; agora, eles estudam qual gene está relacionado ao problema
Flávia Mantovani escreve para a “Folha de SP”:
Foi descoberta, no Rio Grande do Norte, uma nova síndrome genética. A doença, que provoca más-formações nos membros superiores e inferiores, foi encontrada em seis pessoas da mesma família que moram no município de Riacho de Santana, no oeste do Estado.
O achado foi relatado na edição de dezembro da revista “American Journal of Medical Genetics”. Assinam o artigo 11 especialistas brasileiros -de instituições como USP (Universidade de São Paulo) e Universidade Federal do Rio Grande do Norte- e um americano.
A coordenadora do trabalho de campo, a bióloga Silvana dos Santos, também foi responsável pela descoberta, há quatro anos, de uma doença neurodegenerativa batizada de Spoan, encontrada pela primeira vez em moradores de outra cidade potiguar, Serrinha dos Pintos.
O nome da nova síndrome é mais longo -agenesia/hipoplasia de fíbula associada a oligodactilia e outros defeitos- e descreve tecnicamente suas manifestações: ausência ou formação incompleta da fíbula (osso localizado na lateral da perna) e falta de dedos nos pés associados a outros problemas como defeitos nas unhas. Ocorre, ainda, formação incompleta do fêmur, e dois dos afetados tinham dedos a mais nas mãos.
Trata-se de quatro irmãos, além do filho de dez anos de um deles e um primo dos quatro. A maioria tem baixa estatura -de 1,33 m a 1,53 m, no caso dos adultos- e pés retorcidos. Eles têm dificuldade de locomoção, mas se adaptaram e não usam acessórios como bengalas.
Atualmente, está sendo investigado qual é o gene que sofre mutação e causa o problema. A principal hipótese é que se trate de um gene autossômico (relativo a cromossomo que não seja sexual) dominante. Nesse caso, basta herdar de um dos pais o gene com a mutação para ter a síndrome.
Mas não se descarta a chance de que o gene seja recessivo e que a consanguinidade contribua para a manifestação do problema, já que a região tem grande tradição de casamentos na mesma família.
Além de os sintomas da família não corresponderem aos de doenças conhecidas, os afetados passaram por testes de DNA que descartaram outros problemas genéticos.
Início
O trabalho de Silvana dos Santos no Nordeste começou no início da década, quando ela se interessou pelo caso de uma vizinha cadeirante que era filha de um casal de primos e natural de Serrinha dos Pintos.
“Minha rua era um pedaço de Serrinha dos Pintos em São Paulo, estava cheia de gente de lá. Passei um tempo na cidade e vi que havia outras pessoas com os sintomas. Fiquei de 2001 a 2003 tentando encontrar um diagnóstico para minha vizinha, mas ninguém identificava, pois ainda não havia”, conta ela.
Após estudar a doença, a bióloga viu que se tratava de uma síndrome neurodegenerativa nova, que foi chamada de Spoan e descrita pela primeira vez em 2005. Hoje, já foram identificados 73 pacientes.
A continuação do trabalho ocorreu em Serrinha dos Pintos, Riacho de Santana e mais três cidades do Estado, escolhidas por terem grande tradição em casamentos consanguíneos -o que aumenta a chance de nascer um portador de problemas genéticos- e por estarem entre os locais que têm mais deficientes no Brasil.
Santos e sua equipe visitaram todos os deficientes nesses municípios. “Fui de casa em casa. Quando via repetição nos sintomas, o mesmo defeito nos pés, por exemplo, investigava, pois não há dúvidas de que é genético. Foi um trabalho de oito meses”, conta ela, que acredita que haja mais doenças genéticas inéditas na região e se mudou para Campina Grande (PB), onde leciona na Universidade Estadual da Paraíba, para continuar a pesquisar o tema no Nordeste.
Teste genético
A ideia é criar, agora, um teste genético para diagnosticar a nova síndrome. “Além da importância científica da descrição da síndrome, teremos aplicações práticas. Poderemos fazer aconselhamento genético com essas famílias, por exemplo”, afirma Paulo Alberto Otto, chefe do departamento de genética e biologia evolutiva do Instituto de Biociências da USP e coordenador do projeto.
Silvana Santos acredita que a descoberta ajude a desvendar mecanismos como o de formação da fíbula e que também possa orientar políticas públicas. “Como são doenças que podem se repetir ao longo das gerações, poderemos identificá-las o mais cedo possível e melhorar a qualidade de vida dos pacientes”, diz.
(Folha de SP, 23/1)
14 – Amazônia tem mais de 10 mil plantas com potencial medicinal
Do total, 300 foram catalogadas pelo instituto de pesquisas da região
Carlos Albuquerque escreve para “O Globo”:
Açaí, araçá, araticum, babaçu, bacaba, bacuri, biribá, breu branco, buriti, buritirana, cacau, camu-camu, canarana, castanha-do-Brasil, cupuaçu, graviola, jambo, jenipapo, mamorana, mangaba, murici, pequi, pitanga, pupunha, sapota, taperebá, umbu, unha de gato, uxi e zingiber. Essas são algumas das mais de dez mil plantas da Amazônia – região de notória biodiversidade – que possuem princípios ativos que podem ser utilizados na área medicinal, de cosméticos e no controle de pragas. Dessas, 300 já foram catalogadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT).
Esses dados também constam do Plano de Amazônia Sustentável (PAS), lançado pelo governo no ano passado, que faz uma análise detalhada do potencial desses produtos e tem, entre seus objetivos, segundo o ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, “a construção de alternativas de produção economicamente viáveis e ambientalmente seguras para as populações de pequenos produtores”.
Traduzindo: exploração sustentável de uma região que abriga outras 300 espécies de frutas comestíveis e uma rica fauna silvestre. Ao todo, a Amazônia possui cerca de 30 mil espécies de plantas superiores.
Para o pesquisador Juan Revilla Cordenas, que trabalha no Inpa, em Manaus, tamanha riqueza precisa ser explorada de forma racional e profissional.
– A diversidade da Amazônia é conhecida. O que precisamos é transformar esse conhecimento em uma produção rentável, sem que isso signifique devastação ou prejuízo para as populações locais – diz ele, que é autor do livro “Plantas da Amazônia – Oportunidades Econômicas e Sustentáveis”.
Produção pode gerar empregos e renda
Para o pesquisador, essa flora – principalmente as plantas de uso medicinal – pode ser tornar uma excelente atividade econômica para a população da floresta, gerando empregos e renda, desde que sua exploração seja feita de forma correta.
– O país tem todas as condições para transformar as plantas com atividade terapêutica em produtos farmacêuticos rentáveis de forma eficaz – assegura. – Temos a matéria-prima e as comunidades estão mais conscientes desse potencial. O problema é que tudo isto está só no papel. Precisamos passar para a prática, para a produção. Falta um pouco mais de confiança dos empresários para investir nesta área e esta confiança só pode ser dada pelo governo.
O pesquisador do Inpa lembra que o Conselho Nacional de Saúde aprovou, em 2005, um decreto que propõe o uso de plantas medicinais no Sistema Único de Saúde (SUS), com “segurança, eficácia e qualidade”, segundo o documento.
– Mas daí em diante não aconteceu quase nada. Esse uso das plantas medicinais no SUS ficou no papel, não aconteceu muita coisa. Temos a lei, mas não estamos fazendo nada. Falta um diagnóstico, saber quem faz que tipo de pesquisa, quem está estudando o quê, para termos um panorama geral. É como se tivéssemos um grande armazém, cujos produtos estão estocados, esperando para vermos qual a sua utilidade.
Pau-rosa, um exemplo de sustentabilidade Ele cita o caso do pau-rosa, espécie ameaçada de extinção, cujo óleo pode ser usado como perfume.
– O óleo do pau-rosa é um perfume completo. Digo isso porque para se fazer um perfume é necessário obter um coquetel de substâncias. O pau-rosa tem tudo isso. E também pode ser usado como um fixador. O interessante é que estamos estudando as folhas da árvore para extrair o óleo. Antes, usávamos as raízes e o tronco. Com as folhas, evitamos a derrubada e a renovação é maior. É um exemplo de exploração sustentável.
Cordenas ressalta, porém, que esse trabalho – aliar sustentabilidade com os direitos dos povos da floresta – inevitavelmente vai esbarrar nos interesses da indústria. Um tema delicado, reconhece ele.
– A indústria tem interesse na descoberta dos princípios ativos dessas plantas, através dos quais o seu valor pode ser reproduzido em laboratório. A partir daí a planta não é mais necessária – explica. – Quando a empresa está fora do Brasil, isso pode ser um problema. Mas a indústria brasileira pode fazer esse trabalho, de forma completa, desde que coloquemos nossos conhecimentos científicos a seu favor. O governo deve ser intermediário desse processo.
(O Globo, 25/1)
15 – Mares mortos
Estudo publicado na Nature Geoscience aponta para um aumento dramático na quantidade de zonas mortas nos oceanos em decorrência do aquecimento global
Se nada for feito para enfrentar o problema do aquecimento global, em breve os oceanos começarão a sufocar. Um estudo publicado neste domingo (25/1) na revista Nature Geoscience verificou um aumento considerado dramático na quantidade de zonas mortas nos oceanos, áreas com tão pouco oxigênio que não permitem a sobrevivência da vida marinha.
Essas zonas podem ser causadas pela contaminação da água por causa do uso excessivo de fertilizantes ou pela queima de combustíveis fósseis. Mas, enquanto zonas costeiras mortas podem ser recuperadas pelo controle no uso de fertilizantes, as áreas com pouco oxigênio, resultantes do aquecimento, podem continuar sem vida por até milhares de anos.
O estudo foi feito por pesquisadores da Dinamarca, que apontam uma expansão de zonas mortas por uma potência de 10 (o número atual vezes 10 bilhões) ou mais nos próximos 100 mil anos. Estima-se que atualmente existam mais de 400 zonas mortas nos oceanos.
“Se, como muitos modelos climáticos apontam, a circulação nos oceanos se alterar e enfraquecer por conta do aquecimento global, essas zonas quase sem oxigênio expandirão grandemente e invadirão as profundezas oceânicas”, disse Gary Shaffer, do Instituto Niels Bohr da Universidade de Copenhague, primeiro autor do artigo.
Casos extremos de depleção do oxigênio nos oceanos para um estado de anóxia são considerados candidatos importantes para explicar alguns dos grandes eventos de extinção em massa na história terrestre, como o maior deles, no fim do período Permiano, há cerca de 250 milhões de anos.
Além disso, como destacam os pesquisadores, à medida que as zonas com pouco oxigênio se expandem, nutrientes essenciais são eliminados dos oceanos pelo processo de desnitrificação (perda de nitrogênio). Esse processo, por sua vez, altera a produção biológica nas camadas mais superficiais (e mais iluminadas) dos oceanos, com o aumento na atividade de espécies de plâncton que são capazes de fixar o nitrogênio livre.
O resultado, apontam os cientistas, são mudanças grandes e imprevisíveis no ecossistema e na produtividade dos oceanos. Outro componente para piorar o cenário é o aumento na acidez oceânica, promovido pelas maiores concentrações de dióxido de carbono atmosférico resultantes da queima de combustíveis fósseis.
“O resultado disso tudo é que o futuro dos oceanos como uma grande reserva de alimentos é incerto. A redução das emissões de combustíveis fósseis é necessária nas próximas gerações para limitar a atual depleção do oxigênio e a acidificação oceânica e seus efeitos adversos de longo prazo”, disse Shaffer.
O artigo Long-term ocean oxygen depletion in response to carbon dioxide emissions from fossil fuels, de Gary Shaffer e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em http://www.nature.com/ngeo
(Agência Fapesp, 26/1)
16 – Harpias nascem em cativeiro
Pesquisadores do Refúgio Biológico Bela Vista, unidade de proteção vinculada à Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu, conseguiram reproduzir duas harpias (Harpia harpyja), ave símbolo do Brasão de Armas do Paraná considerada praticamente extinta no Sul do país e rara no Brasil
O primeiro filhote do animal, também conhecido como gavião-real ou uiraçu-verdadeiro, nasceu no dia 15 de janeiro com aproximadamente 100 gramas, e o segundo, no dia 20 de janeiro, com 62 gramas.
O Refúgio Biológico Bela Vista foi criado para receber plantas e animais desalojados durante a formação do reservatório da usina hidrelétrica. Natural de áreas florestais como a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica, os maiores remanescentes de harpias – que pertencem à família Accipitridae e ocorrem desde a América central até o sul da Argentina – encontram-se na Amazônia.
Segundo Wanderlei de Moraes, veterinário do Refúgio Biológico e um dos coordenadores do trabalho, trata-se dos primeiros filhotes da espécie reproduzidos com sucesso, nos últimos anos, em cativeiro na região Sul do país.
“Contando com o nosso casal da ave, a estimativa é que existam apenas oito harpias nos zoológicos da região Sul do Brasil. No Paraná, a harpia é considerada ‘criticamente ameaçada de extinção’ e, no Rio Grande do Sul, como ‘provavelmente extinta'”, disse à “Agência Fapesp”, baseando-se nos dados do Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná do Instituto Ambiental do Paraná (IAP).
O macho do casal está no refúgio desde 2000, após ser resgatado em uma caixa de papelão em uma rodovia de Foz do Iguaçu. A fêmea chegou em 2002 de Juazeiro, na Bahia, resultado de operações contra o tráfico de animais silvestres.
Em 2007 e 2008, o mesmo casal de harpias teve três crias, mas nenhuma sobreviveu: a mãe não deu comida e eles não resistiram. A solução, desta vez, foi separar os filhotes da mãe e mantê-los isolados por 30 dias em estufas, onde se alimentaram cinco vezes ao dia.
“Essas três primeiras experiências mostraram que o casal não tinha experiência suficiente para chocar e criar os filhotes sozinhos. Por isso, optamos pela criação artificial das aves recém-nascidas em uma estufa com temperatura e alimentação controladas”, disse Moraes. Segundo ele, o processo segue um protocolo conhecido como Condor, criado por pesquisadores argentinos do Zoológico de Buenos Aires.
Aos cerca de cinco anos de idade, ao atingir a maturidade sexual, os dois filhotes deverão voltar ao contato com os pais. Para Moraes, esse é só o começo do trabalho de recuperação da espécie no Paraná.
“Ainda estamos engatinhando no processo de reintrodução da harpia na natureza, o que deve demorar décadas até chegarmos a um número satisfatório de exemplares que possam ser soltos na floresta. O correto é soltar uma população inteira de cativeiro, chamada de geneticamente viável, e não apenas alguns indivíduos”, explicou.
Sem contato com humanos
“O nascimento desses dois filhotes mostra que as técnicas utilizadas com base no Protocolo Condor estão funcionando. A ideia, agora, é aprimorar no Brasil esse protocolo de criação até a sistematização em nossas criações. Uma nova postura [ninhada] deverá ocorrer com o mesmo casal no fim de março e os dois filhotinhos que acabaram de nascer poderão se reproduzir daqui a pelo menos quatro anos”, disse.
De acordo com o Protocolo Condor, para não atrapalhar o processo de reprodução, as intervenções humanas ocorrem apenas nos exames clínicos e durante a limpeza no criadouro. Como o contato excessivo com o animal pode fazer com que ele identifique a pessoa como um possível parceiro sexual e, por conta disso, não vir a se reproduzir, a maior parte das interações ocorre por meio de fotos e sons dos pais dos filhotes.
“Essa é uma espécie extremamente difícil de ser reproduzida em cativeiro. Ela não pode ser muito incomodada. Para copular, o casal deve ser mantido totalmente isolado do contato humano, em criadouros especiais revestidos por tapumes, panos e com comida oferecida por meio de tubos de PVC, para que os animais não vejam nem as pessoas que dão o alimento”, disse Moraes.
Segundo ele, além da família de harpias do Refúgio Biológico, os outros lugares que abrigam a espécie no Paraná são o Parque das Aves, também em Foz do Iguaçu, e o zoológico de Curitiba.
“Sabemos também da existência de poucos indivíduos na Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, além de haver um criador bem conhecido em Belo Horizonte. Recentemente houve ainda alguns nascimentos em criadouros em São Paulo, após os ovos terem sido chocados artificialmente. Mas a situação da ave é extremamente crítica no Brasil”, disse.
(Agência Fapesp, 26/1)