Fechar menu lateral

5º Informativo – Concursos, eventos, clima, DNA e terremotos

1 – 13º Prêmio Jovem Talento em Ciências da Vida 2009

2 – Concurso Público ANTAQ (02 vagas para Biólogos)

3 – Concurso Público Secretaria de Saúde de Tocantins (27 vagas que Biólogos podem se candidatar)

4 – Concurso Público UFES (04 vagas para Biólogos)

5 – II Congresso Brasileiro de Biologia Marinha

6 – XVIII Encontro Brasileiro de Ictiologia

7 – XII Educação para o Risco Socioambiental

8 – Plano Nacional sobre Mudança do Clima

9 – Agricultura pode combater aquecimento

10 – Lançado Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos

11 – Confirmado metano em Marte

12 – Celebrando (o estudo d)a vida

13 – Micróbio muda tradução de informações do DNA

14 – Ano-novo, vida nova

15 – Grupo põe neurociência social em dúvida

16 – Plaquetas subestimadas

17 – Cientistas revelam como HIV se esconde

18 – Boca contém receptores de nicotina

19 – Gene aponta risco cardíaco

20 – Mente feminina é mais propensa a pensar em comida

21 – Terremotos e mudança no clima destruíram cidades peruanas há 3.600 anos

22 – Micróbios da obesidade

  

1 – 13º Prêmio Jovem Talento em Ciências da Vida 2009


A Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular – SBBq e a GE Health Care Life Sciences convidam todos os estudantes e recém-doutores dos países da América Latina a participar do 13º Prêmio Jovem Talento em Ciências da Vida 2009. Poderão se inscrever no prêmio pós-graduandos (nível doutorado) e recém-doutores que tenham defendido sua tese a partir de 30 maio de 2008. Os candidatos selecionados serão convidados a participarem de um Simpósio durante a XXXVIII Reunião Anual da SBBq, que será realizado em 2009. O primeiro colocado ganhará 1.500 dólares, convite para apresentar seu trabalho de pesquisa durante a 38º Reunião Anual da SBBq em 2009 e passagem aérea para participar de um congresso internacional de sua escolha. O candidato deve enviar os documentos para inscrição do prêmio até dia 03 de fevereiro de 2009 (data de postagem). O formulário de inscrição, o endereço para o envio dos documentos e maiores informações podem ser acessados pelo link: http://www.sbbq.org.br/v2/index.php?option=com_content&task=view&id=567 .

2 – Concurso Público ANTAQ (02 vagas para Biólogos)

Vinculada ao Ministério dos Transportes, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) vai realizar concurso público em parceria com o Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (Cespe/UnB). A agência é responsável por regular e fiscalizar o transporte aquaviário no Brasil e vai selecionar 140 novos servidores. As 02 vagas para Biólogos são destinadas a cidade de Brasília (DF) e a remuneração oferecida é de R$8.389,60. As inscrições devem ser feitas pela internet, por meio do endereço eletrônico www.cespe.unb.br/concursos/antaq2009 , até o dia 10 de fevereiro de 2009 (terça-feira). Para ter acesso ao edital do concurso, clique no link:

http://www.cespe.unb.br/concursos/antaq2009/arquivos/ED_1_2008_ANTAQ_ABT_FINAL.PDF .

3 – Concurso Público Secretaria de Saúde de Tocantins (27 vagas que Biólogos podem se candidatar)

A Secretaria de Saúde de Tocantins – SESAU/TO abriu as inscrições para concurso público destinado ao provimento de cargos do quadro dos profissionais de saúde do estado. Além das 14 vagas destinadas especificamente para profissionais formados em Ciências Biológicas, existem 3 cargos que os Biólogos também podem se candidatar: Executivo em Saúde (curso superior em qualquer área do conhecimento, com pós-graduação em Saúde Pública), Gestor em Saúde (curso superior em qualquer área do conhecimento, com pós-graduação em Saúde Pública, ou Saúde Coletiva, ou Vigilância em Saúde, ou Administração Hospitalar, ou Auditoria em Serviços de Saúde, ou Gestão dos Serviços da Saúde Pública) e Inspetor em Vigilância da Saúde (curso superior em área da saúde). As inscrições serão realizadas exclusivamente via internet, no site do concurso http://sesau.unitins.br/ , até o dia 22 de janeiro de 2009 (quinta-feira). Todas as vagas são destinadas a cidade de Palmas (TO). As vagas Executivo em Saúde e Inspetor em Vigilância da Saúde têm remuneração de R$2.570,40, já a vaga para Gestor em Saúde tem salário mensal de R$3.727,08. Para maiores informações, acesse o edital do concurso no link: http://concursos.unitins.br/concursos/download/arquivos/[633651125606446250]Edital_001_2008.pdf .

4 – Concurso Público UFES (04 vagas para Biólogos)

A Universidade Federal do Espírito Santo – UFES (www.ufes.br) abriu as inscrições para provimento de cargos de professor de 3º Grau do Quadro Permanente, em regime de trabalho de dedicação exclusiva. As vagas para Biólogos são nas áreas de Botânica/Criptógamas, Ecologia/Ecologia de Ecossistemas, Genética/Genética da Conservação e Zoologia/Zoologia de Invertebrados. A remuneração mensal é de R$6.497,04. Os interessados deverão formalizar a inscrição na Secretaria do Departamento de Ciências Biológicas e Agrárias do Centro Universitário Norte do Espírito Santo (Rua Humberto de Almeida Franklin, 257 – bairro Universitário, São Mateus/ES), de segunda a sexta-feira, no horário de 9h às 12h e das 14h às 17h. As inscrições poderão ser realizadas até o dia 03 de fevereiro de 2009 (terça-feira). O edital do concurso pode ser conferido pelo link: http://www.proad.ufes.br/drh/downloads/edital/Edital%20N%C2%BA%2057-2008-R.pdf .

5 – II Congresso Brasileiro de Biologia Marinha

O II Congresso Brasileiro de Biologia Marinha (II CBBM) será realizado no período de 24 a 28 de maio de 2009, no Hotel Atlântico Búzios, no Município de Armação de Búzios (RJ). O evento contará com palestras, mesas-redondas e grupos de trabalo, além de apresentação de políticas nacionais de financiamento implementadas por agências públicas de fomento à pesquisa em Biologia Marinha. Os resumos deverão ser submetidos para apreciação da comissão organizadora do congresso até o dia 21 de janeiro de 2009 (quarta-feira). Terão descontos especiais as inscrições realizadas até o dia 31 de janeiro de 2009 (sábado). Maiores informações no site oficial do evento: www.uff.br/cbbm2009 .

6 – XVIII Encontro Brasileiro de Ictiologia

De 25 a 30 de janeiro de 2009, irá acontecer em Cuiabá (MT) o XVIII Encontro Brasileiro de Ictiologia. O evento terá como objetivo reunir pesquisadores, profissionais, empresas e estudantes, visando apresentar, analisar e discutir trabalhos científicos, novidades, tendências e demais assuntos de interesse da comunidade atuante na área de Ictiologia. O tema principal do Encontro este ano será “Ictiologia e Desenvolvimento”. Inscrições e maiores informações no site oficial do evento: www.xviiiebi.com.br .

7 – XII Educação para o Risco Socioambiental


A prefeitura de Belo Horizonte irá promover o XII curso de Educação para o Risco Socioambiental. O evento tem o objetivo de contribuir para a formação de educadores ambientais voltados para a percepção de riscos socioambientais. O curso irá acontecer nas sextas-feiras, entre os dias 13 de fevereiro a 07 de julho de 2009, no horário de de 8h30 às 12h. As inscrições devem ser feitas de 03 a 04 de fevereiro de 2009, no Centro de Extensão em Educação Ambiental / Sala Verde – SMAMA (Av. Afonso Pena 4000 – 6º andar – Cruzeiro – BH). Maiores informações pelo link: http://bionarede.blogspot.com/2009/01/xii-educao-para-o-risco-socioambiental.html .

8 – Plano Nacional sobre Mudança do Clima

O Brasil é o quarto emissor de gases que interferem no efeito estufa e a maior parte é proveniente do desmatamento. O país também está atrasado em firmar uma política frente às alterações no clima porque é um dos países que ratificaram a Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o assunto. Entretanto, o governo federal lançou, no final do mês de dezembro de 2008, a versão final do Plano Nacional sobre Mudança do Clima, elaborado pelo Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima. O plano do governo possui três eixos principais: Mitigação – com o objetivo de reduzir a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa; Vulnerabilidade e adaptação – como reduzir e saber lidar com os impactos da mudança do clima; Pesquisa – dar meios para alcançar os objetivos do plano. Para acessar o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, clique no link: http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=96&idConteudo=7929 .

9 – Agricultura pode combater aquecimento

Troca de plantas atuais por variedades que refletem mais luz solar pode ajudar a resfriar a Terra, dizem pesquisadores. Estratégia é solução apenas parcial, mas complementa corte de emissão de CO2; medida seria mais eficaz na Europa, Ásia, EUA e Canadá

Afra Balazina escreve para a “Folha de SP”:

A agricultura pode ser um grande aliado para evitar o aquecimento global. E uma forma “realista e prática” para combater a mudança climática é optar por cultivar as variedades de plantas que refletem mais a luz solar. A ideia é defendida por pesquisadores da Universidade de Bristol, no Reino Unido, na revista científica “Current Biology” (http://www.cell.com/current-biology).

Segundo eles, a iniciativa poderia esfriar em 1C a temperatura média do verão na América do Norte, na Europa e na Ásia. Pode parecer pouca coisa, mas cientistas preveem que, se houver um aumento da temperatura em mais de 2C, por exemplo, poderão ficar mais frequentes as secas graves, tormentas e inundações.

Segundo os pesquisadores, alguma plantas cultiváveis têm mais “albedo” -refletem mais luz solar de volta para o espaço- do que outras. Ampliá-las ajudaria a resfriar a Terra.

Uma plantação cultivada normalmente já tem mais albedo do que uma floresta nativa, mas derrubar árvores não é bom negócio porque quando elas se decompõem, provoca uma grande emissão de carbono e gases de efeito estufa para a atmosfera. A substituição de uma planta cultivada por outra, porém, não teria esse efeito negativo, e pode ser considerada.

O novo estudo afirma que a adoção de plantas mais reflexivas não prejudicaria a produção de alimentos no mundo. A escolha poderia se dar entre variedades da mesma planta, levando em conta o albedo de cada uma, e não a troca de uma espécie por outra.

Essa “biogeoengenharia” é mais barata e viável do que planos mirabolantes de lançar partículas resfriadoras na atmosfera ou construir um guarda-sol gigante no espaço, afirmam os cientistas.

Escolha de plantas

Mas quais seriam então as melhores variedades para plantar? “Há relativamente poucas pesquisas disponíveis sobre o modo como diferentes variedades da mesma cultura, bem como as diferentes culturas, distinguem-se em reflexividade”, disse à “Folha” Andy Ridgwell, um dos autores do estudo. “Nós queremos abordar isso na nossa próxima investigação.”

Segundo Ridgwell, estudos sobre as diferentes variedades de milho já mostram que a disposição e orientação das folhas mudam em cada uma delas, e isso altera seu albedo.

Já a diferença na reflexividade entre variedades de cevada é menor do que a observada no milho. No sorgo, as variedades também apresentam diferentes reflexidades. “Mas não há muito mais informação disponível no momento além dessas”, afirma o pesquisador.

Para ele, o sistema de créditos de carbono poderia ser usado para incentivar o produtor a optar por uma variedade mais reflexiva durante o plantio.

América do Sul

Apesar de o potencial para esse tipo de mudança ser grande na Europa, Ásia e América do Norte, o impacto da medida seria pequeno no Brasil, diz Ridgwell. “A densidade e extensão de terras aráveis na América do Sul, ignorando as pastagens e áreas de florestas, pelo menos como é atualmente prescrita no modelo climático global, é relativamente baixa quando comparada com a faixa de plantações que se estende pela Eurásia”, afirma. Se as pastagens fossem levadas em conta, porém, o efeito para a América do Sul seria maior.

Solução parcial

Ridgwell diz que a “biogeoengenharia” cumpriria um papel complementar aos esforços para reduzir emissões de gases do efeito estufa, a real solução para frear o aquecimento.

“Se não houver uma redução das emissões de CO2, por exemplo, não será resolvida a questão da ameaça à vida marinha pela progressiva acidificação do oceano”, afirma o cientista. “É preciso que haja um sentimento de urgência sobre o problema agora.”

O uso de plantas agriculturáveis com grande albedo seria apenas uma medida temporária para reduzir a gravidade das ondas de calor e seus impactos na agricultura e na saúde do “Norte industrializado”.
(Folha de SP, 16/1)

10 – Lançado Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos

Em dezembro passado, foi aprovado, por meio de portaria interministerial, o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF) e criado o Comitê Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos

O programa é uma iniciativa conjunta dos ministérios da Saúde; Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Cultura; Desenvolvimento Agrário; Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior; Integração Nacional; Meio Ambiente; Ciência e Tecnologia; e da Casa Civil da Presidência da República.

Comitê

O Comitê Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos terá, entre outras atribuições, a função de definir critérios, parâmetros, indicadores e metodologia voltados à avaliação da PNPMF, sendo as informações geradas no interior dos vários planos, programas, projetos, ações e atividades decorrentes dessa Política Nacional; avaliar a ampliação das opções terapêuticas aos usuários e a garantia de acesso a plantas medicinais, fitoterápicos e serviços relacionados à Fitoterapia no SUS; acompanhar as iniciativas de promoção à pesquisa, desenvolvimento de tecnologias e inovações nas diversas fases da cadeia produtiva; e acompanhar a consonância da Política e do Programa com as demais políticas nacionais.

Composição

Comporão o comitê um representante titular e outro suplente de cada instituição a seguir:

– Casa Civil;
– Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; MCT; da Cultura; do Desenvolvimento Agrário; do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; do Desenvolvimento Social e Combate a Fome; MEC; da Integração Nacional; do Meio Ambiente; da Saúde;
– Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa);
– Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz);
– Representante da Agricultura Familiar;
– Representante da Agricultura;
– Representante do Bioma Amazônia;
– Representante do Bioma Caatinga;
– Representante do Bioma Cerrado;
– Representante do Bioma Mata Atlântica/Ecossistemas Costeiros e Marinhos;
– Representante do Bioma Pampa;
– Representante do Bioma Pantanal;
– Representante da Indústria;
– Representante da Manipulação;
– Representante da Pesquisa;
– Representante de Povos e Comunidades Tradicionais; e
– Representante dos Serviços de Saúde – Gestor Municipal e Estadual do SUS.

A coordenação do comitê ficará a cargo do Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE/MS). Comporão a estrutura da instância um grupo técnico interministerial e uma secretaria executiva.
(Gestão C&T, 798)

11 – Confirmado metano em Marte

Gás é indício de vida pois na Terra 90% da substância é gerada por seres vivos; Nasa não descarta origem geoquímica

Carlos Orsi escreve para “O Estado de SP”:

Cientistas americanos confirmaram a presença de grandes massas de metano, um componente do gás natural, na atmosfera de Marte. Na Terra, 90% do metano existente no ar é produzido por seres vivos, e o mesmo pode ser verdade no planeta vermelho.

“Tanto a origem biótica quanto a abiótica são possíveis”, diz o principal autor do estudo que descreve o metano marciano, Michael Mumma, do Centro de Voo Espacial Goddard, da Nasa. “Isso eleva substancialmente a probabilidade de que houve vida lá ou que ela sobrevive até o presente”, acrescentou – com a ressalva de que a presença de vida em Marte ainda está longe de ser provada.

A alternativa à explicação biológica seria uma origem geoquímica, a partir de uma reação envolvendo rocha aquecida do interior do planeta e água, ou a partir da liberação de metano antigo congelado, aprisionado no subsolo. Segundo Mumma, apenas missões com astronautas ou robôs, enviadas aos locais de onde o metano parece se originar, poderão eliminar a dúvida.

Ao comentar a descoberta em um evento realizado pela Nasa, a geóloga Lisa Pratt, da Universidade de Indiana, disse que o metano de origem geológica na Terra é tão raro que considera que a origem biológica para o gás em Marte “pode até ser mais plausível”. Ela lembrou que existem seres vivos que se alimentam de metano, e que poderiam se acumular junto a fontes do gás. “Essa descoberta nos dá um alvo. O metano é também um recurso.” Ela disse que para confirmar a presença de vida nesses locais seria preciso escavar vários metros abaixo da superfície.

Os primeiros sinais de metano em Marte haviam sido detectados em 2003, mas a presença do gás ainda era controversa. Unindo observações feitas naquele ano a outras de 2006, a equipe de Mumma obteve o que ele chama de “detecção definitiva” da substância.

Os pesquisadores obtiveram a confirmação realizando uma análise espectroscópica da luz solar refletida por Marte em direção à Terra, e encontraram a assinatura do metano. A análise das flutuações na intensidade dessa assinatura fez com que concluíssem que o gás é emitido nos meses quentes – primavera e verão – e que se origina, provavelmente, em três regiões do hemisfério norte: Arabia Terra, Nili Fossae e Syrtis Major. Junto com o metano, a equipe de Mumma também viu a assinatura de água, que é um ingrediente essencial à vida.

O artigo que descreve a descoberta, publicado online na tarde de ontem pelo serviço ScienceExpress, da revista Science, cita como possível modelo para a fonte biológica do gás algumas comunidades de micro-organismos encontradas vivendo a quilômetros de profundidade, na Terra, que se alimentam de hidrogênio, desligado das moléculas de água pela radiação natural das rochas, e gás carbônico. Esses organismos produzem metano. “Pode ser possível que uma biota semelhante sobreviva por eras abaixo do gelo em Marte, onde a água é líquida.” Os gases acumulados nessas áreas seriam liberados de forma sazonal, com a abertura dos poros de rochas e do solo.

A quantidade de metano detectada em Marte no verão de 2003 foi de 19 mil toneladas. Os cientistas não sabem dizer se a liberação se deu de forma gradual ou explosiva. A taxa média estimada de emissão é de pouco menos de 52 toneladas por dia.
(O Estado de SP, 16/1)

12 – Celebrando (o estudo d)a vida

Antes da teoria da evolução, não se podia explicar a diversidade

Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro “A Harmonia do Mundo”. Artigo publicado na “Folha de SP”:

No início do ano, escrevi sobre a festa dos céus, o Ano Internacional da Astronomia, que será celebrado durante 2009 pelo mundo afora. Só o congresso da União Internacional da Astronomia reunirá cerca de 6 mil astrônomos no Rio em agosto. Mas essa não é a única festa da ciência neste ano. A biologia também tem muito o que celebrar. Este é o ano do bicentenário do nascimento de Charles Darwin e o 150 anos da publicação de seu livro revolucionário “A Origem das Espécies”, onde o naturalista elaborou os princípios de sua teoria da evolução das espécies.

Poucos nomes na história da ciência são tão celebrados quanto Darwin. O que Galileu, Newton e Einstein representam para a física, Dalton e Lavoisier para a química, Darwin representa para a biologia. Antes dele, não havia explicações plausíveis para a incrível diversidade da vida que vemos na natureza, de micróbios unicelulares, plantas e peixes aos insetos, aves e mamíferos.

No mundo ocidental, a explicação aceita era bíblica: Deus criou a vegetação no terceiro dia, os peixes e as aves no quinto, e os animais terrestres e o homem no sexto. Mesmo que fósseis de animais estranhos (leia-se dinossauros e mamíferos terrestres agigantados) fossem conhecidos, o argumento para a sua ausência invocava o Dilúvio e a Arca de Noé. Pelo jeito, os monstros não foram bem recebidos no grande barco. Talvez alguns teólogos oferecessem razões mais sofisticadas, mas essa era a opinião de muitos.

De todas as suas características, as que Darwin mais celebrava eram a meticulosidade e a capacidade de perceber detalhes quando outros não os viam. Quando jovem, atravessou o mundo no navio Beagle, colhendo espécies diversas da flora, passando horas observando o comportamento da fauna local, colecionando fatos e anotações. Ficou muito impressionado com a beleza do Brasil.

Sua curiosidade pela riqueza com que a vida se manifestava à sua volta e a paixão pelo conhecimento davam-lhe a infinita paciência necessária para observar as menores variações dentre espécies de acordo com o ambiente e o clima, a importância da geologia na determinação das espécies de uma região, a complexa relação entre a flora e a fauna.

Profundamente influenciado pelo geólogo Charles Lyell, que considerava seu mentor, Darwin aos poucos percebeu que tal riqueza nas espécies só poderia ser possível se pequenas variações ocorressem ao longo de enormes intervalos de tempo. A filosofia de Lyell pregava que as rochas terrestres representam a sua longa história, registrando nas suas propriedades as várias transformações que sofreram ao longo dos milênios.

Os mesmo processos que sofreram no passado continuam ativos no presente. A partir de suas meticulosas observações, Darwin concluiu que algo semelhante ocorria com os seres vivos; eles também sofriam pequenas modificações ao longo do tempo.

As que facilitavam a sua sobrevivência seriam passadas de prole em prole mais eficientemente, enquanto que aquelas que dificultavam a sobrevivência dos animais seriam aos poucos eliminadas. Com isso, após muitas gerações, a espécie como um todo se alteraria, tornando-se gradualmente distinta de seus ancestrais. A funcionalidade dos bicos de certos pássaros, por exemplo, ilustra bem a adaptabilidade de acordo com o ambiente.

Esse processo de seleção natural forneceu, pela primeira vez na história, um mecanismo racional capaz de explicar a multiplicidade da vida e a sua ligação com o passado. O legado de Darwin é, antes de mais nada, uma celebração da liberdade que nos é acessível quando nos dispomos a refletir sobre o mundo em que vivemos.
(Folha de SP, 18/1)

13 – Micróbio muda tradução de informações do DNA

Protozoário enxerga “palavras” iguais de forma distinta, de acordo com contexto; Maquinário genético de criatura que usa cílios para se locomover contraria um dos dogmas centrais da biologia molecular moderna

Claudio Angelo escreve para a “Folha de SP”:

Como todo bom advogado sabe, às vezes a interpretação é mais importante que o texto em si. E isso parece valer também quando o texto em questão é a sequência de letras do DNA. É o que indica o estudo de um organismo de uma célula só chamado Euplotes.

Um grupo de cientistas acaba de mostrar que um mesmo trecho de três letras do genoma da criatura pode ser “lido” de formas diferentes dependendo do contexto, o que faz com que moléculas diferentes sejam sintetizadas pela célula. Isso contraria um dos dogmas da biologia molecular, segundo o qual cada um desses tripletos de DNA -os códons- só podem codificar uma molécula.

Um códon é a receita para a construção de cada um dos aminoácidos, os tijolos básicos dos quais os seres vivos são feitos. As proteínas, moléculas que fazem de tudo dentro da célula, são compostas de dezenas ou centenas de aminoácidos enfileirados.

Existem na natureza 22 tipos de aminoácidos, cada um definido por uma sequência de três letras no DNA ou RNA. Assim, o aminoácido fenilalanina é codificado pela sequência UUU no RNA, a leucina pelas “letras” CUC e o triptofano pelo códon UGG, por exemplo.

Cientistas já sabiam que um mesmo aminoácido podia ser produzido por combinações diferentes de códons. Mas o inverso era considerado impossível, pois seria uma violação das características centrais do código genético. Se uma mesma sequência pode produzir duas moléculas diferentes, afinal, a evolução e a hereditariedade se tornam mais complicadas. Quem garante, por exemplo, que um gene herdado por um animal de seus pais terá a mesma função do gene original?

Entra em cena o Euplotes crassus, um protozoário. Biólogos da Universidade de Nebraska (EUA), descobriram que nessa criatura às vezes o códon UGA, que normalmente codifica o aminoácido cisteína, pode codificar também a selenocisteína. Relataram a descoberta em estudo na revista “Science”.

De alguma forma, explicam os pesquisadores, o DNA do Euplotes “sabe” quando inserir uma selenocisteína no lugar da cisteína. Ele não faz isso aleatoriamente, só nos genes que produzem proteínas que incluem selenocisteína. “Achamos que a função-padrão do códon UGA é inserir uma cisteína”, disse à Folha o bioquímico Vadim Gladyshev, líder do grupo de pesquisas que fez o estudo.

No entanto, explica, nos genes de proteínas com selenocisteína, há uma região do RNA que não é traduzida. Se há outros códons UGA no mesmo gene, diz Gladyshev, essa sequência “pode ficar enterrada na estrutura geral do RNA mensageiro [molécula que lê e copia a informação do DNA] ou impedida de interagir com o maquinário celular, então isso não interfere na inserção normal da cisteína”. Em algumas condições, como na tradução dos genes de selenoproteína, esse elemento é “exposto” e interage com a máquina de tradução da célula de modo a ordenar a inserção da selenocisteína.

Gladyshev diz que, por enquanto, essa bizarrice genética só é conhecida no Euplotes. Embora ele mesmo afirme que sua descoberta não força ninguém a repensar o código genético, ela abre uma possibilidade intrigante: a de que o código possa ter se tornado mais rico durante a evolução e que existam aminoácidos adicionais.
(Folha de SP, 17/1)

14 – Ano-novo, vida nova

“A obtenção do genoma mínimo replicante deve fornecer pistas essenciais para entender a origem da vida”

Alysson Muotri

Talvez a grande descoberta científica para 2009 seja o tão aguardado genoma sintético prometido pelo Instituto Venter de Pesquisa. Os rumores começaram tempos atrás, quando Craig Venter anunciou a busca por uma forma de vida sintética. A estratégia seria a de sintetizar um microrganismo (no caso, um tipo de bactéria, a Mycoplasma genitalium G37), com 582.970 pares de base (a unidade básica do DNA) e 482 genes, um dos menores genomas conhecidos até agora.

O desafio é grande. Não por falta de conhecimento, pois já acumulamos conhecimento suficiente sequenciando uma série de microrganismos, inclusive bactérias desse tipo. Então, qual seria o problema?

O primeiro obstáculo é tecnológico. A síntese de oligonucleotídeos (pequenas sequências de DNA) é um processo químico que funciona muito bem com fragmentos pequenos, mas é impreciso e instável com trechos maiores. Por exemplo, é possível sintetizar oligos perfeitos com até aproximadamente 150 pares de bases. A equipe de Venter (uns vinte cientistas liderados pelo Nobel Hamilton Smith, um dos descobridores das enzimas de restrição) conseguiu sintetizar pedaços de 5.000 bases num surto tecnológico, mas ainda assim ineficaz.

A solução para montar o um genoma inteiro seria um quebra-cabeças de pequenos oligos. Isso foi feito recombinando pedaços sintéticos de 5-7.000 bases. Pedaços maiores intermediários foram então clonados e amplificados em bactérias. O produto final foi obtido também por recombinação, mas dessa vez em leveduras, remontando o genoma inteiro. A equipe está agora sequenciando tudo isso novamente, para confirmar a correta montagem.

Genes malvados fora

A equipe teve o cuidado de retirar alguns genes responsáveis pela patogenicidade (a capacidade de gerar doenças) desse micoplasma, além de adicionar “marcas d’água” no genoma sintético. Com isso, pode-se diferenciar o micoplasma sintético do natural. Também foram adicionados genes que conferem resistência a certos antibióticos, para seleção em laboratório.

Outro problema seria como “empacotar” esse genoma dentro de um citoplasma do micoplasma receptivo. Em 2007, o grupo mostrou a prova de princípio de que isso é factível, trocando o genoma entre duas espécies de micoplasma. No entanto, a estrutura do genoma sintético, sem proteínas associadas ao DNA, é bem mais frágil e duvida-se que o mesmo método funcione.

A equipe de Venter ainda não definiu como pretende fazer a transferência do genoma, mas a idéia seria de que o DNA sintético encontraria um ambiente favorável e que “pegasse no tranco”, aproveitando o maquinário protéico já existente no hospedeiro. Uma vez feito isso, o novo organismo será batizado de Mycoplasma laboratorium.

Se conseguir, Venter vai estar muito próximo de conseguir uma outra façanha: o genoma mínimo. Com seu micoplasma sintético, a equipe pode agora começar a manipular esse genoma, retirando sistematicamente genes da composição original até chegar ao mínimo necessário para manter o organismo capaz de se reproduzir por autoclonagem.

Obviamente, o genoma sintético foi patenteado por Venter, mesmo com acirrados debates sobre a real propriedade intelectual do produto final. Críticos dizem que o genoma sintético não passa de uma cópia do natural, mas o método em si seria a novidade. Na verdade, Venter está de olho em versões biotecnológicas de seu experimento. A bactéria artificial poderia ser uma maneira mais eficiente de produzir biocombustível ou armas biológicas, por exemplo.

Longe de ignorar todas as eventuais aplicações do experimento de Venter, prefiro me concentrar em questões mais fundamentais. Para mim, a obtenção do genoma mínimo replicante deve fornecer pistas essenciais para entender a origem da vida. Não acredito que vai ser fácil. Mesmo conhecendo a função de cada um dos 482 genes do micoplasma, ainda não temos uma visão interativa dos produtos gênicos. Além disso, ainda estamos engatinhando no quesito interação do genoma com o ambiente.

Vai ser muito interessante descobrir que o genoma mínimo continua tendo 482 genes!
(G1, 16/1)

15 – Grupo põe neurociência social em dúvida

Equipe da Universidade da Califórnia diz que método pode inflacionar a força da ligação entre região cerebral e emoção. Após analisar 50 estudos, o pesquisador Hal Pashler questionou cerca de 30 investigações; cientistas criticados o contestam

Alguns dos resultados mais quentes no domínio da incipiente neurociência social, em que emoções e características comportamentais estão ligadas à atividade em uma região específica do cérebro, podem ser inflados e, em alguns casos, ser inteiramente falsos.

É o que aponta o grupo do psicólogo Hal Pashler, da Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA). Ele analisou mais de 50 estudos que se apoiam em ressonância magnética funcional do crânio, e questionou os autores sobre seus métodos.

A equipe de Pashler diz que, na maioria dos estudos, que relaciona regiões cerebrais com sentimentos como rejeição social e ciúme, os pesquisadores interpretam os dados através de um método que inflaciona a verdadeira força da ligação entre uma região cerebral e a emoção ou comportamento.

A afirmação é contestada por pelo menos dois dos grupos criticados, que argumentam que Pashler entendeu mal os resultados e que suas conclusões são apoiadas por outros estudos.

Em muitos das pesquisas, os cientistas fazem uma varredura em cérebros de voluntários quando eles completam uma tarefa concebida para suscitar uma emoção especial. Então, os pesquisadores dividem as imagens das varreduras em cubos chamados voxels -cada um deles pode conter milhares de neurônios- e tentam correlacionar a atividade dos voxels com as alterações emocionais relatadas pelos voluntários.

O problema surge quando pesquisadores tentam calcular a força desta correlação. Isto tem de ser feito em duas fases. A primeira é identificar as regiões em que a correlação entre a atividade dos voxels e a emoção ultrapassa um determinado limiar. Na segunda etapa, os pesquisadores avaliam a força da correlação naquela região.

Pashler recomenda que dois conjuntos independentes de exames seja utilizado nessas fases. Se o mesmo conjunto é usado para ambos, há um aumento do risco de interpretar erroneamente ruídos aleatórios como um verdadeiro sinal.

No entanto, em quase 30 dos estudos analisados pelo grupo, os pesquisadores utilizaram a mesma varredura para identificar os voxels de interesse e determinar a correlação final -o que pode produzir ligações entre emoções e regiões cerebrais que, na verdade, não existem.

falta de dados confiáveis ocorre pela impossibilidade de fazer mais ressonâncias magnéticas -já que são caras- e de conseguir mais voluntários.

Nikolaus Kriegeskorte, do Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA, tenta medir o número de estudos de neurociência que utilizam esse método porque também acredita que sejam problemáticos. Em 2007, parte de um artigo foi retirado do periódico “Nature Neuroscience” após um pesquisador mostrar que ruídos aleatórios poderiam ter produzido a correlação relatada. (Da “New Scientist”)
(Folha de SP, 19/1)

16 – Plaquetas subestimadas

Pesquisa feita nos EUA com participação brasileira mostra que plaquetas são capazes de sequestrar, transportar e liberar fatores que regulam crescimento dos vasos sanguíneos. Estudo poderá ter aplicação em diagnóstico de câncer

Um estudo realizado nos Estados Unidos, com participação brasileira, mostrou que as plaquetas sanguíneas têm a capacidade de sequestrar, armazenar, transportar e liberar seletivamente os fatores que regulam a angiogênese – o mecanismo de crescimento de novos vasos sanguíneos a partir dos já existentes.

A descoberta, de acordo com os autores, poderá ser aplicada no futuro no desenvolvimento de métodos de diagnóstico e de terapias para o tratamento do câncer.

A pesquisa, que teve seus resultados publicados na revista Blood, no fim de dezembro, foi coordenada por Judah Folkman (1933-2008), do Children’s Hospital, em Boston (Estados Unidos), instituição ligada à Escola Médica da Universidade Harvard.

Folkman, que estuda os processos de crescimento dos vasos sanguíneos desde 1960, foi o fundador de um ramo da pesquisa sobre o câncer conhecido como terapia antiangiogênica. Esse método de tratamento se baseia em bloquear o crescimento de novos vasos sanguíneos no tumor, interrompendo o suprimento de nutrientes para a massa cancerígena.

De acordo com uma das autoras do artigo – a pesquisadora brasileira Flavia Cassiola, que na época da realização do estudo fazia pós-doutorado no Children’s Hospital – a descoberta representa não apenas um passo em direção às aplicações em diagnósticos e terapias, mas um importante avanço no conhecimento.

“Acredito que a descoberta poderá mudar o rumo das pesquisas sobre a biologia das plaquetas, que ainda hoje são vistas essencialmente como fatores de coagulação. Agora sabemos que elas têm outras funções, que sequestram ativamente os reguladores de angiogênese e os distribuem seletivamente”, disse à “Agência Fapesp”.

Segundo Flavia, o estudo observou especialmente como as plaquetas conseguem armazenar os reguladores de angiogênese. O grupo se concentrou no estudo de um dos principais reguladores, o fator de crescimento vascular endotelial (VEGF, na sigla em inglês).

“Observamos que as plaquetas têm a capacidade de sequestrar os reguladores de angiogênese da corrente sanguínea, armazená-los e liberá-los de forma seletiva em determinadas regiões do corpo”, disse a pesquisadora, que acaba de se transferir para o Centro para Sistemas em Nanoescala da Universidade de Harvard, em Cambridge.

A angiogênese é um processo natural que ocorre, por exemplo, quando um corte ou ferimento provoca a necessidade de reconstrução da rede de vasos. Nesse caso, o organismo precisa de estimuladores de angiogênese como o VGEF.

“Mas esses vasos não podem crescer indefinidamente. A partir de determinado momento, o corpo percebe que está na hora de deter o processo, que é então invertido. Os inibidores, também por meio das plaquetas, começam então a ser liberados”, explicou.

Flavia afirma que, graças aos avanços obtidos pelos trabalhos de Folker, o grupo já sabia que as plaquetas contêm proteínas reguladoras da angiogênese. O novo estudo mostrou que a acumulação de reguladores nas plaquetas de animais com tumores malignos ultrapassa amplamente sua concentração no plasma. Os níveis dos reguladores em plaquetas de animais sem tumores também caíram.

“Essas características fazem das plaquetas alvos interessantes para o desenvolvimento de métodos diagnósticos. Isso é importante porque ensaios clínicos com agentes antiangiogênicos não haviam sido capazes de validar os reguladores presentes no plasma como marcadores confiáveis da presença de tumores”, disse.

Tratamento do câncer

O grupo estudou dois tipos de lipossarcomas, tumores que aparecem em células adiposas em tecidos profundos. Segundo Flavia, trata-se de um tumor relativamente raro, mas que é altamente angiogênico.

“Ele se desenvolve de duas maneiras. Em uma delas, quando começa a formar seu núcleo, já inicia também a formação de novos vasos. Na outra versão, ele cresce sem formar esses vasos. A partir de certo momento, ele aciona o mecanismo de angiogênese e passa a crescer desordenadamente”, explicou.

O laboratório nos Estados Unidos onde Flavia estava conta com os dois tipos de células do lipossarcoma de camundongos: com desenvolvimento angiogênico e dormente. Utilizando técnicas espectroscópicas, os pesquisadores fizeram uma análise proteômica das plaquetas dos dois grupos.

“O grupo com o tumor bastante angiogênico tinha alta concentração dos fatores dentro das plaquetas, mas não do plasma. Como notamos isso, começamos a estudar formas de prever a recorrência de câncer com base no estudo do proteoma das plaquetas”, disse.

Para isso, o sangue do paciente foi coletado e, em seguida, as plaquetas foram isoladas e quebradas. Os fatores de angiogênese dentro delas foi, então, medido. “Conhecendo os níveis de presença desses, podemos dizer se o paciente tem predisposição para desenvolver certo câncer ou se um paciente curado tem risco de novo crescimento do tumor”, afirmou.

Embora não tenham núcleo, as plaquetas são células versáteis que viajam por todo o corpo e possuem grânulos de armazenagem de proteínas. “É uma célula de fácil isolamento. Com um simples exame de sangue de rotina podemos trabalhar com ela. Se conseguirmos desenvolver um kit para diagnóstico, teremos uma solução pouco invasiva à disposição”, disse Flavia.

O próximo passo, segundo a cientista, é detalhar melhor o mecanismo com o qual as plaquetas sequestram e estocam os agentes angiogênicos e, especialmente, como o liberam seletivamente.

“Se conseguirmos bloquear de alguma forma a liberação desses agentes, além da aplicação para diagnósticos teríamos também uma nova forma de tratamento do câncer”, destacou.

O artigo Platelets actively sequester angiogenesis regulators, de Flavia Cassiola e outros, pode ser lido por assinantes da Blood em http://bloodjournal.hematologylibrary.org
(Agência Fapesp, 19/01)

17 – Cientistas revelam como HIV se esconde

Vírus latente é imune a antirretroviral; estudo dá pista para ‘tirá-lo da toca’

Alexandre Gonçalves escreve para “O Estado de SP”:

Pesquisadores da Universidade de Sevilha, na Espanha, desvendaram o mecanismo que faz com que o HIV permaneça adormecido em algumas células. “Estudos anteriores mostraram que a maior parte das informações genéticas do vírus fica armazenada em regiões ativas dos cromossomos humanos”, explica Sebastián Chávez, coautor do trabalho. “Este era o paradoxo difícil de explicar: como o vírus permanece inativo se está escondido em uma região ativa do DNA humano?”

O DNA funciona como uma biblioteca com receitas para a produção dos componentes essenciais à manutenção da vida. Quando a célula deseja produzir uma determinada substância, recorre à estante e abre os livros – na realidade, os genes – que contêm as informações necessárias. Algumas vezes, a célula consulta livros por engano, mas há proteínas – conhecidas pelos cientistas como remodeladores de cromatina – que os fecham e devolvem à estante antes de a célula sintetizar a substância que descrevem.

Os cientistas inseriram trechos das informações genéticas virais em células de levedura de cerveja. Logo depois, inibiram alguns remodeladores de cromatina. A célula começou a produzir substâncias próprias da estrutura dos vírus, pois os trechos do DNA com informação viral permaneciam abertos depois de consultados uma vez.

Repetiram, então, a experiência com células de defesa humanas infectadas pelo HIV adormecido. Sem os remodeladores de cromatina Spt6 e Chd1, o vírus despertou e começou a se reproduzir.

Enquanto o HIV está inativo, permanece imune aos antirretrovirais. Uma pesquisa publicada em outubro na revista científica PNAS já havia mostrado que basta um único vírus sobreviver e despertar para a infecção ressurgir. Por isso, pessoas que vivem com o HIV não podem abandonar a medicação.

“Ainda estamos muito longe de uma terapia”, afirma Sánchez. Ele explica que não bastaria usar a mesma técnica para tornar todos os vírus ativos e, portanto, vulneráveis aos antirretrovirais. “Uma terapia desse tipo seria tóxica, pois outros processos celulares precisam dos remodeladores de cromatina.” Mesmo assim, ele considera a descoberta importante para a compreensão do metabolismo do HIV. O trabalho foi publicado na PloS Genetics.
(O Estado de SP, 20/1)

18 – Boca contém receptores de nicotina, diz estudo

Substância estimula dois sistemas na boca: um relacionado ao sabor amargo e outro específico da nicotina

Não é só o cérebro que tem receptores de nicotina, a substância dos cigarros que cria o vício. Também existem receptores nicotínicos nas papilas gustativas, segundo estudo publicado ontem na revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Os especialistas acreditavam que a nicotina precisava migrar para o cérebro, após passar pelos pulmões e pela corrente sanguínea, para gerar seus efeitos. Mas uma equipe das Universidades do Porto, em Portugal, da Virgínia e Duke, nos EUA, e do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, no Brasil, descobriu que há um segundo caminho de reconhecimento da nicotina que provavelmente contribui para o desenvolvimento do vício. É na boca que se encontram tais receptores, responsáveis pela ativação do córtex gustativo na ínsula, uma das áreas do cérebro.

Os cientistas chegaram a essa conclusão após modificar geneticamente ratos de laboratório para que não tivessem a proteína TRPM5, relacionada ao reconhecimento de sabores amargos (como nicotina e quinina).

Apesar de não sintetizar essa proteína, os ratos geneticamente modificados foram capazes de distinguir a nicotina da quinina e da água por um caminho independente do sentido de gosto. Isso porque a nicotina estimula dois sistemas na boca: um relacionado ao sabor amargo e outro específico da nicotina.

Sabe-se que danos nessa região do cérebro podem cortar instantaneamente o vício de fumar. Por isso, os cientistas avaliam agora a interação entre os receptores bucais e os efeitos da substância no cérebro. Caso isso seja confirmado, seu bloqueio tópico com novos fármacos pode tornar-se uma arma mais eficaz contra o tabagismo, sem efeitos colaterais. (EFE)
(O Estado de SP, 20/1)

19 – Gene aponta risco cardíaco

Cientistas descobrem uma mutação que enfraquece o músculo do coração

Pelo menos 1% da população mundial, cerca de 60 milhões de pessoas, a maioria descendentes de indianos, tem uma mutação genética que enfraquece o coração. A descoberta publicada na revista “Nature Genetics” é o mais forte elo entre um defeito no DNA e o risco de sofrer do coração, a primeira causa de morte no mundo.

Esta alteração aumenta em sete vezes a chance de um indivíduo ter cardiomiopatia, o mau funcionamento do músculo cardíaco. A notícia boa é que a equipe de cientistas da Índia, da Grã Bretanha e dos Estados Unidos afirma que a anomalia pode ser detectada precocemente, ainda na gestação. E, mais tarde, seus portadores seriam orientados a seguir um estilo de vida saudável. Além disso, o estudo abre caminho para o desenvolvimento de novos tratamentos.

A mutação ocorre devido a supressão de 25 letras do gene que codifica uma proteína essencial para o músculo cardíaco, responsável pela contração. Ela é encontrada em 4% dos indianos. Na investigação, os cientistas analisaram o DNA de 800 cardíacos na Índia e compararam com o de 699 sem o mal. E descobriram que a mutação associada à cardiomiopatia era muito mais frequente entre aqueles com o problema no coração.

Para saber a extensão do problema, os autores acompanharam 6.273 pessoas selecionadas ao acaso em 35 estados da Índia. Em seguida, eles ampliaram o estudo na tentativa de determinar o nível de disseminação da anormalidade nos genes na diáspora do sudeste asiático.

Tratamento muitas vezes é paliativo

Ao realizarem exames em 2.085 voluntários de 26 países, concluíram que a anormalidade genética se restringia a pessoas com seus ancestrais no sudeste asiático, que viviam na Índia, no Paquistão, no Sri Lanka, na Indonésia e na Malásia.

O problema é que mutações como esta não emitem qualquer aviso de que a pessoa está em perigo, diz o pesquisador Perundurai Dhandapany, da Universidade Madurai Kamaraj.

O defeito foi inicialmente identificada há cinco anos em duas famílias indianas com insuficiência cardíaca.

Mas só depois de estudar quase 1.500 pessoas de diferentes regiões do país que os cientistas perceberam sua importância.

– Esta mutação produz uma proteína anormal. Os jovens a degradam e ficam saudáveis graças a um mecanismo chamado proteossoma. Porém a partir da meia idade isto não funciona mais e os sintomas aparecem, explica Kumarasamy Thangaraj, do Centro de Biologia Molecular e Celular em Hyderabad, principal autor do estudo.

Provavelmente, a mutação apareceu na Índia há 33 mil anos e se dispersou. À medida que a cardiomiopatia cardíaca piora, o coração torna-se mais debilitado e apresenta menor capacidade de bombear sangue. Isto pode causar insuficiência cardíaca, com alteração do ritmo cardíaco, acúmulo de líquido nos pulmões e infecção.

Atualmente a cardiomiopatia é controlada com medicamentos, implante de marcapassos e desfibriladores.

Estes recursos apenas aliviam os sintomas. Em alguns casos a saída é o transplante.

– É uma descoberta genética de grande importância – afirma Sir Mark Walport, diretor do Wellcome Trust. – A doença cardíaca é uma das principais causas de óbito no mundo. Agora que os investigadores descobriram esta mutação, presente em uma em cada 25 pessoas de origem indiana, temos esperança de reduzir os danos decorrentes deste mal.
(O Globo, 20/1)

20 – Mente feminina é mais propensa a pensar em comida

Homens afastam “tentações calóricas” do pensamento com mais facilidade, indica pesquisa com mapeamento cerebral

Ricardo Bonalume Neto escreve para a “Folha de SP”:

O cérebro do homem tem mais “força de vontade” que o da mulher para controlar o desejo de comida, indica estudo com voluntários que ficaram 17 horas em jejum e depois foram estimulados com imagens de seus alimentos preferidos.

O experimento, realizado nos EUA, tem seu resultado publicado na edição de hoje da revista “PNAS”. Para o estudo, os cientistas pediam aos participantes do teste que tentassem inibir a fome, ignorando o estímulo visual e pensando em outras coisas. Tanto homens como mulheres conseguiam diminuir a fome. O cérebro masculino, porém, revelou uma atividade menor nas áreas envolvidas com regulação de emoções. O cérebro feminino, aparentemente, continuava “ligadão” no desejo de alimento.

“Nosso estudo era sobre comparar a diferença de gênero na capacidade de inibição do desejo de comida durante estimulação. É sobre controle cognitivo”, disse à Folha o principal autor, Gene-Jack Wang, do Laboratório Nacional Brookhaven, de Upton (EUA).

O estudo foi feito com 13 mulheres e 10 homens de peso normal, com média de IMC (Índice de Massa Corporal) de 24,8, considerado normal.

Depois de estimulados, os cérebros dos participantes eram examinados através de PET (tomografia por emissão de pósitrons). Os cérebros dos homens que adotavam a técnica de “inibição cognitiva” desligavam várias áreas associadas à regulação da emoção, como a amígdala, o hipocampo, a ínsula e o córtex orbito-frontal.

O estudo do grupo de Wang lembra que a capacidade de controlar emoções é fundamental, e que danos nesse sistema de inibição podem levar a distúrbios alimentares.

A interação entre genética e ambiente tem levado a uma epidemia de obesidade nos EUA, dizem os médicos. A predisposição nos genes se alia à maior facilidade de obtenção de alimentos calóricos demais.

“Nossa descoberta de uma falta de reação à inibição em mulheres é consistente com estudos comportamentais”, escreveram os cientistas.

Bacon, pizza e chocolate

Os alimentos escolhidos para o teste vieram de uma lista apresentada pelos pesquisadores. Havia legumes e vegetais na lista. Mas os favoritos eram “bombas calóricas”: pizza, lasanha, cheeseburger, sanduíche de bacon, queijo e ovo, sorvete ou bolo de chocolate.

“Gordura e açúcar provêm um monte de calorias. Levou milhares de anos para os nossos ancestrais descobrirem isso para nós. Não tínhamos o “luxo” disso até os últimos quarenta anos, quando pudemos produzir grande quantidade de comida a preço barato”, diz Wang.

“Vários estudos recentes provaram que roedores que recebem açúcar intermitentemente se tornam tão viciados nele como se fosse álcool”, diz Wang. Ele cita também uma pesquisa que monitorou centenas de homens e mulheres por 20 anos e mostrou várias diferenças no histórico de peso.

Homens ganharam em média 4,5 kg por década; mulheres tiveram ganho de 2,3 kg entre 1982 e 1992, e de 4,1 kg de 1992 a 2002. Em 1982, 90% das mulheres tinham peso normal, número que caiu para 74% duas décadas depois. Entre homens, 79% tinham peso normal em 1982 e apenas 43% em 2002.

Entre os obesos (IMC acima de 30), os números foram parecidos. Havia só 1% de homens ou mulheres obesos quando adolescentes, mas o valor subiu para 8% entre mulheres e 9% entre homens 20 anos depois.
(Folha de SP, 20/1)

21 – Terremotos e mudança no clima destruíram cidades peruanas há 3.600 anos

Estudo baseou-se em uma série de evidências geológicas nos sítios arqueológicos de Caral (localizado no interior, 182 km ao norte de Lima) e de Áspero, no litoral

Eduardo Geraque escreve para a “Folha de SP”:

Uma mudança ambiental radical -com terremotos e inundações- é o que provavelmente aniquilou a cultura de Caral-Supe, no Peru, uma das primeiras grandes civilizações sul-americanas. Um estudo publicado hoje mostra como esse povo, que ocupou o norte do país por 2.000 anos, abandonou a região de forma abrupta, em apenas 200 anos.

O principal fator foi uma alteração natural no ciclo climático ocorrida há 3.600 anos, com intensos El Ninõs, diz um estudo publicado hoje na revista “PNAS”, liderado pelo antropólogo Daniel Sandweiis, da Universidade do Maine (EUA).

O trabalho se baseou em uma série de evidências geológicas nos sítios arqueológicos de Caral (localizado no interior, 182 km ao norte de Lima) e de Áspero, no litoral.

O cenário descrito por Michael Moseley, cientista da Universidade da Flórida que também participou do estudo, é desolador. “No final do período analisado [entre 3.600 e 3.800 anos atrás] alguns templos foram reconstruídos, mas outros não.”

Em Áspero, diz Moseley, o povo chegou a viver entre os templos danificados, perto de terras férteis que tinham sofrido depósitos de sedimentos e virado arenais. “Houve até rejeição aos deuses, algo que aumentou quando a invasão da areia ficou maior.”

O aumento de sedimentos no local foi resultado de uma sequência de eventos. Terremotos, primeiro, alteraram a configuração geológica local. Ao mesmo tempo, inundações afetarem diretamente as cidades e carregaram mais areia para a região.

O depósito de sedimento perto da costa, então, fez com que o rio Supe -eixo do vale que abrigava a civilização- fosse modificado. A pesca e a irrigação que sustentavam a economia local ruíram.

Segundo os cientistas, o desfecho foi quase imediato. A sociedade de Caral-Supe, que prosperou no norte do Peru 4.000 anos antes dos incas, acabou sucumbindo às intempéries da natureza.

Os povos que passaram a habitar a região depois mudaram seu modo de agir, afirmam os cientistas envolvidos na pesquisa. “Essas novas pessoas usavam cerâmica, uma espécie de tecelagem e uma maior diversidade agrícola”, diz Moseley.
(Folha de SP, 20/1)

22 – Micróbios da obesidade

Estudo publicado na Pnas indica relação entre a obesidade e a composição de bactérias no intestino

Um universo grande em uma pequena área. Em termos numéricos e de diversidade, as bactérias no intestino de uma única pessoa superam toda a população humana no planeta. São dezenas de trilhões de microrganismos de milhares de famílias genéticas distintas que compõem o microbioma que ajuda o organismo a realizar uma grande variedade de funções digestivas e regulatórias, muitas das quais ainda pouco compreendidas.

Como essa mistura microbiana está ligada a mudanças associadas à obesidade, ela se configura uma questão clínica importante que tem recebido bastante atenção da pesquisa médica. Agora, um novo estudo indica que a composição dos micróbios no intestino pode conter uma chave para uma das causas da obesidade e, consequentemente, o prospecto de um futuro tratamento para o problema que atinge milhões de pessoas em todo o mundo.

Em artigo que será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Science, um grupo de pesquisadores nos Estados Unidos descreve uma relação entre diferentes populações microbianas no intestino e peso corporal.

A ligação foi verificada em três grupos distintos de indivíduos: com peso normal; que passaram por cirurgia de redução do estômago; e pacientes com obesidade mórbida. A obesidade é uma condição séria associada com diabetes, doenças cardiovasculares, câncer e outros problemas. Nos Estados Unidos, cerca de 300 mil pessoas morrem todos os anos de doenças relacionadas à obesidade.

Segundo os autores do estudo, populações microbianas distintas no intestino fazem com que o corpo precise de mais energia, tornando-o mais suscetível a desenvolver obesidade. São diferenças pequenas, mas que, com o tempo, afetam grandemente o peso do indivíduo.

A pesquisa feita em voluntários identificou que a composição microbiana em pessoas obesas era diferente da de indivíduos com peso normal e também daqueles que passaram por cirurgia para redução do estômago.

Para os cientistas, o resultado sugere que as drásticas mudanças anatômicas promovidas pela cirurgia afetam o microbioma, o que colaboraria para apontar a eficácia do procedimento no tratamento da obesidade.

Os pesquisadores destacam que o estudo é preliminar e que mais trabalhos são necessários para estabelecer as diferenças na composição da microbiota do intestino de acordo com diferenças em idade, dieta e prática de exercícios. Mas apontam a importância da relação encontrada entre as populações microbianas e a obesidade.

O artigo Human gut microbiota in obesity and after gastric bypass, de Husen Zhang e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da Pnas em www.pnas.org
(Agência Fapesp, 20/01)