1 – “Cresça rápido, morra cedo” é o destino das árvores da Amazônia
2 – ‘Homem de ferro’ vai explorar o fundo do mar
3 – Revolução neandertal
1 – “Cresça rápido, morra cedo” é o destino das árvores da Amazônia
Curta existência e evolução de espécies explica diversidade do bioma
Uma estratégia de vida cujo lema seria “cresça rápido, morra cedo” pode explicar a grande diversidade de árvores na Amazônia. Estima-se que 16 mil espécies de árvores – cerca de 30% das conhecidas no mundo – são encontradas no bioma.
– Uma das grandes questões para entender a biodiversidade da Amazônia é por que temos um amplo grupo com 100, 200, até 300 espécies de árvores – explica Tim Baker, da Escola de Geografia da Universidade de Leeds, no Reino Unido, coautor de uma pesquisa sobre o tema publicada esta semana na revista “Ecology Letters”.
A equipe internacional de cientistas atribui a diversidade a “uma interação entre fatores extrínsecos – como eventos históricos que causaram extinções ou deram oportunidades para a formação de novas espécies – e características intrínsecas de linhagens diferentes, que influenciaram como elas responderam a estes eventos.
Em entrevista à BBC News, Baker contou que os pesquisadores encontraram uma mesma característica em todos os grupos.
– Todas parecem compartilhar uma estratégia de vida em que elas vivem rápido e morrem cedo. Seu tempo de vida curto, então elas passam muito rapidamente de uma geração para a outra.
Esta estratégia, segundo Baker, é consistente com outro fator que promove a formação de novas espécies.
– É possível encontrar, na Amazônia, várias espécies dentro de uma mesma linhagem.
A busca por peculiaridades ecológicas que expliquem a grande diversidade em grupos de árvores tropicais foi muito vaga, devido à falta de informações.
– A novidade deste estudo é que acabamos de descobrir um dado que explica a riqueza de espécies em um ecossistema tropical – destaca.
A primeira etapa, segundo ele, foi a obtenção de dados sobre o número de espécies de cada gênero, assim como sua “idade”. Ou seja, quais foram os primeiros gêneros a evoluírem. Depois, foi possível calcular a velocidade com que se diversificaram.
– Na segunda parte da pesquisa, coletamos informações sobre todas as características presentes nesses gêneros que possam estar relacionadas à velocidade de sua diversificação.
Desta forma, foi possível conseguir detalhes sobre o crescimento das árvores e sua taxa de mortalidade.
– Isso nos deu uma ideia de por quanto tempo essas diferentes espécies de árvores sobrevivem – diz Baker. – Há uma série de mecanismos que levam à diversidade da floresta tropical. (O Globo) http://oglobo.globo.com/ciencia/cresca-rapido-morra-cedo-o-destino-das-arvores-da-amazonia-11792712
2 – ‘Homem de ferro’ vai explorar o fundo do mar
‘Exoesqueleto’ feito com tecnologia de alta geração promete desvendar segredos de organismos e compostos químicos a mais de 300 metros de profundidade
Cientistas há muito tempo acreditam que os organismos e compostos químicos encontrados em mar profundo poderia ajudá-los a resolver muitos mistérios médicos. O maior desafio, no entanto, tem sido o acesso. Criaturas bioluminescentes, por exemplo, vivem a centenas de metros de profundidade e não são capazes de sobreviver à pressão da superfície. Assim, neurocientistas interessados em estudar as possíveis relações entre os padrões de bioluminescência e as atividades do cérebro humano não têm o equipamento necessário para observar peixes de profundidade em seu ambiente nativo.
Um novo “homem de ferro” – feito com liga de alumínio, poderá mudar isso em breve. Trata-se de um exoesqueleto robótico de dois metros de altura e 240 quilos que permite que um mergulhador explore uma região a até 305 metros de profundidade, sem sucumbir à pressão fria e intensa, que é 30 vezes maior que na superfície.
Mais do que fornecer proteção, o equipamento apresenta propulsores controlado por 1,6 cavalos de potência e 18 juntas rotativas nos braços e pernas para proporcionar uma liberdade de movimento. Estes são só alguns dos benefícios prometidos pelo novo aparelho para a exploração do oceano.
O teste real, que deverá custar 1,3 milhões de dólares, será feito em julho, quando os pesquisadores do “J. Stephen Barlow Bluewater Expedition” mergulharão em uma região a 160 quilômetros da costa de New England, nos Estados Unidos.
Lá, o piloto do “exoesqueleto” vai investigar uma área chamada “The Canyons”. Um dos o objetivos da expedição é gravar padrões das variedades de organismos luminescentes da região e identificar novas moléculas bioluminescentes com potencial para aplicações médicas.
O piloto Michael Lombardi descerá a uma velocidade de cerca de 30 metros por minuto até atingir sua profundidade alvo, 10 minutos depois. Este mergulho será feito à noite, quando os peixes que vivem no fundo do oceano fazem sua migração vertical diária para o meio do oceano, a cerca de 300 metros de profundidade. Um submarino robótico chamado DeepReef -ROV irá acompanhá o traslado, fornecendo luzes, câmeras e outros equipamentos.
Equipado para o abismo
O processo de mergulho usa um avançado sistema de realimentação de oxigênio. O fornecimento é reciclado na cabine. O dióxido de carbono é removido quimicamente e o espaço é reabastecido com o oxigênio. O processo pode fornecer 50 horas de suporte de vida, apesar de o mergulho teste estar programada para durar não mais do que algumas horas.
Um mergulho comum para estas mesmas profundidades exigiria uma mistura muito mais complexa de gases, incluindo oxigênio, azoto e hélio.
A ação terá uma corda com 2,5 centímetros de diâmetro dotada de elementos de cobre e de fibra óptica que fornecem energia e comunicações para Lombardi. Ele vai usar a fibra para transmitir informações sobre o seu sistema de oxigênio, bem como o equipamento de vídeo.
Cada uma das luvas do robô é equipado com ferramentas que podem ser utilizadas durante o mergulho. Elas incluem um tubo de sucção que vai trazer os organismos em um cartucho devidamente pressurizado. Lombardi vai colocar imediatamente cada cartucho na frente da câmera do DeepReef -ROV, que irá enviar imagens para os investigadores monitorando seu trabalho a partir da superfície.
Os cientistas da expedição irão analisar as imagens e decidir se trarão o cartucho ou irão liberar o animal.
Ciência de alto mar
Apesar de estar cercado por tecnologia sofisticada, o toque humano de Lombardi é a chave para o sucesso da missão. Cabe a ele identificar e capturar as amostras que possam ser de interesse para os seus colegas.
– Os olhos humanos são ainda mais sensíveis do que qualquer uma das câmeras que temos – disse à revista Nature Vincent Pieribone, cientista-chefe do “Bluewater Expedition”.
Pieribone é particularmente interessados no que Lombardi vai encontrar. Com a ajuda da proteína verde fluorescente da água-viva Aequorea victoria, por exemplo, os cientistas foram capazes de ver os processos como o desenvolvimento de células nervosas no cérebro – anteriormente invisíveis para eles.
Caso a expedição de julho seja um sucesso, os pesquisadores deverão enviar o equipamento para estudar recifes de corais em profundidade, bem como as criaturas que vivem dentro e ao redor dessas estruturas submarinas. (O Globo) http://oglobo.globo.com/ciencia/homem-de-ferro-vai-explorar-fundo-do-mar-11789724
3 – Revolução neandertal
SvantePääbo, cientista que liderou o mapeamento do genoma do homem de Neandertal, conta em livro sua descoberta que abalou a antropologia
A história de como os humanos deixaram a África e povoaram o resto do mundo tem hoje seu foco em pesquisas sobre o DNA, deixando os fósseis –matéria-prima indispensável da antropologia– meio fora dos holofotes. Há quem questione se essa mudança é benéfica, mas é difícil desvincular essa revolução acadêmica do nome de um cientista: SvantePääbo.
Em novo livro, o geneticista sueco radicado na Alemanha conta como essa mudança de perspectiva se instalou. Para tal, narra a história de seu principal objetivo científico, o sequenciamento do genoma do homem de Neandertal, a última criatura do gênero Homo a pisar na Terra antes de o Homo sapiens tomar o planeta inteiro para si.
Pääbo é o sujeito magricela que aparece em uma fotografia estampada em vários jornais em 7 de maio de 2010 na qual está olhando para um crânio de neandertal. Naquele dia, quando o cientista publicou a primeira versão do genoma do hominídeo extinto, teorias de evolução humana baseadas apenas na interpretação do formato de fósseis começaram a ter de ser alteradas para acomodar algumas revelações.
Aquela que chamou mais a atenção, sem dúvida, foi a de que H. sapiens e H. neanderthalensis legaram ao planeta os frutos de uma inusitada história de amor. Pessoas de etnias europeias ainda carregam no DNA cerca de 3% de ancestralidade neandertal.
O genoma desse hominídeo e a descoberta subsequente de uma linhagem totalmente nova do gênero Homo –os denisovanos, descritos por Pääbo com base no DNA extraído de um único osso de dedo– mostraram que a saída da África foi um processo bem mais complexo.
Achar DNA em ossos com dezenas de milhares de anos, porém, não era (e não é) coisa trivial. Pääbo, que se descreve como um sujeito paranoico por limpeza (para evitar contaminar amostras), também exigia de si repetir seus experimentos inúmeras vezes, cada vez que obtinha um bom resultado. Não poupa, por isso, criticas às revistas “Science” e “Nature” por terem publicado estudos que considera de baixo padrão.
Com o modesto título “Neanderthal Man”, o livro conta muito mais do que a história do sequenciamento de um genoma. Pääbo começou sua carreira acadêmica patinando entre disciplinas tão distintas quanto egiptologia e bioquímica. Seu ponto de virada foi a extração de DNA de uma múmia egípcia, estudo que realizou escondido de seu orientador de doutorado, usando uma amostra cedida por um museu da Alemanha Oriental. (O curador que cedeu o pedaço de múmia foi depois abordado pela Stasi, a polícia comunista.)
Uma boa parte do livro é dedicada a tecnicalidades de extração de DNA, apesar de as histórias de negociações para obtenção de fósseis serem mais interessantes.
No meio dos trabalhos de sequenciamento do neandertal, Pääbo conta sobre o racha com seu colaborador Ed Rubin, do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, que passou a competir diretamente por amostras de fósseis.
Além de intriga, há também um bocado de romance para o que se espera de um livro de ciência. Abertamente bissexual, Pääbo não se intimida em contar a história de um triângulo amoroso que envolveu sua mulher e outro cientista de seu instituto.
Nada disso, porém, é narrado mais passionalmente do que a epopeia científica do genoma do neandertal, que mudou a noção sobre o que significa ser humano. (Rafael Garcia/Folha de S.Paulo) http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/155225-revolucao-neandertal.shtml