1 – Cerca de 25% das espécies de tubarão e raia correm risco de extinção
2 – Brasil tem só um fiscal por 579 km² de área protegida
3 – Nova espécie de anta é descoberta na Amazônia
1 – Cerca de 25% das espécies de tubarão e raia correm risco de extinção
A principal ameaça é a pesca, deliberada ou acidental, praticada contra os animais que vivem em regiões mais rasas
Um estudo desenvolvido pelo setor de ecologia marítima da Universidade de Simon Fraser, em Burnaby, no Canadá, chegou a uma conclusão alarmante: 25% de todas as espécies de tubarão a raia em todo o planeta estão sob ameaça de extinção.
Foram avaliadas 1.041 tipos de peixes cartilaginosos ou condropterígeos – grupo que engloba tubarões, raias e tubarões fantasmas. Desse total, 25 espécies estão criticamente em perigo, 43 estão ameaçadas e 113 estão vulneráveis – de acordo com os critérios de uma lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
Outras 132 espécies adicionais estão classificadas como “quase ameaçadas”. A respeito das demais 487, não havia dados suficientes para se chegar a uma conclusão. O trabalho foi publicado na revista cientifica “eLife”.
– O grande perigo está relacionado às maiores espécies de raias de tubarões, especialmente aquelas que vivem em águas rasas e acessíveis à pesca -, apontou o líder do estudo e vice-presidente do IUCN, Nicholas Dulvy.
Segundo ele, o risco de extinção para estes grupos é substancialmente maior do que para a maioria dos outros vertebrados. A principal ameaça é a pesca, tanto deliberada quanto acidental. Por isso, o grupo pede mudanças urgentes na forma como é gerenciada atualmente a preservação dos tubarões e peixes cartilaginosos.
– Alterações urgentes são necessárias para garantir um futuro saudável a esses animais e aos ecossistemas que os sustentam. Caso isso não aconteça, todo nós teremos que aceitar o fim econômico, ecológico e biológico dessas várias espécies – apontou Dulvy.
Eliminação preventiva
Em meio a esses dados críticos, a Austrália liberou na última semana a eliminação de tubarões descobertos perto de praias muito frequentadas da costa oeste, depois de uma série de ataques mortais. A medida foi extremamente criticada por ambientalistas.
O governo federal aprovou um programa de redução dos riscos ligados aos tubarões, apresentado pelas autoridades do estado da Austrália Ocidental, onde seis banhistas foram mortos nos últimos dois anos.
Concretamente, linhas com iscas poderão ser lançadas a um quilômetros de praias frequentadas do estado a partir de 30 de abril. O governo local deseja poder eliminar todos os tubarões com mais de três metros capturados desta forma: o grande branco, o tubarão-tigre e o tubarão-buldogue.
A ONG The Humane Society classificou a medida como “absoluta vergonha”, “desprovida de justificação científica” e contrária às convenções internacionais sobre a proteção desses animais. (O Globo) http://oglobo.globo.com/ciencia/cerca-de-25-das-especies-de-tubarao-raia-correm-risco-de-extincao-11396343#ixzz2rbepSQ35
2 – Brasil tem só um fiscal por 579 km² de área protegida
Falta de agentes facilita desmatamento em unidades de conservação e terras indígenas
A área de 1,8 milhão de km² envolvendo unidades de conservação federais e terras indígenas conta hoje com 3.200 agentes públicos voltados à fiscalização nos três principais órgãos de vigilância e proteção: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), Fundação Nacional do Índio (Funai) e Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio). Isso significa que cada fiscal é responsável por 579 km² – área equivalente à metade da cidade do Rio de Janeiro.
Mas a situação é ainda mais dramática. O Ibama, por exemplo, é responsável também por fiscalizar o cumprimento do Código Florestal em propriedades privadas, inibir pesca ilegal, combater garimpos clandestinos, entre outras funções. A estratégia tem sido aliar o uso de tecnologia e inteligência. Imagens de satélites indicam os problemas e os órgãos realizam operações conjuntas, com reforço da Polícia Federal e do Exército.
Considerado apenas o desmatamento, as notícias dos últimos dois anos não foram boas. Em 2012, a derrubada de árvores na Mata Atlântica foi a maior desde 2008. O principal destino das toras foi a indústria de carvão. Na Amazônia, após quatro anos em queda, o desmatamento voltou a aumentar para abrir espaço para o gado e a soja. As terras indígenas tampouco estão a salvo, com constante invasão de madeireiros e conflitos com posseiros.
– A falta de fiscais é apenas o primeiro problema. O Ibama e o ICMBio lavram multas, mas só 2% delas são pagas. O governo investe em programas para conter o desmatamento, mas induz a ação dos madeireiros quando não toma medidas preventivas. A obra da BR-163 é um exemplo: pouco foi feito para evitar o desmatamento na região – afirma o procurador Bruno Soares Valente, do Ministério Público Federal no Pará, estado responsável por 40% da área de 5.843 km² desmatada no ano passado na Amazônia Legal.
Drones podem ser usados em reservas
Giovanna Palazzi, diretora de criação e manejo de unidades de conservação do ICMBio, que administra 313 unidades federais, o equivalente a 8,8% do território do país, reconhece que o desafio de fiscalizar é gigantesco e que a rede de parcerias entre os órgãos federais é a única forma de atacar a diversidade de problemas, do fogo em unidades de conservação à sobrepesca. Além dos satélites de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o órgão conta com imagens do Programa Nacional de Rastreamento de Embarcações Pesqueiras por Satélite (Preps) e, desde o ano passado, com imagens de maior resolução em terra, do Cadastro Ambiental Rural.
– A tendência é melhorar a tecnologia e cruzar informações de diversos bancos de dados para definir estratégias. Na fiscalização tradicional, quando descobrimos um método usado para burlar regras, os infratores inventam outros – diz Giovanna.
No fim do ano passado, o ICMBio iniciou no Parque Nacional do Pau-Brasil, em Porto Seguro (BA), os testes do Veículo Aéreo não Tripulado (Vant), mais conhecido como drone. O modelo Nauru 500 é equipado com uma câmera de alta resolução, permitindo geração de mapas semanais do parque, que tem uma área de 18,9 mil hectares de Mata Atlântica a ser preservada. Num dia, o drone é capaz de sobrevoar toda a área e detectar, por exemplo, extração de madeira ou caça. Com o sensor de calor, é possível também detectar a presença de invasores antes que eles comecem a agir.
– O Vant pode ajudar muito, mas ainda é um equipamento caro, que precisa de manutenção – diz Giovanna.
A Funai, apesar de responsável pela proteção das terras indígenas, não tem poder de multar invasores, apenas de notificá-los. Para agir, depende de apoio policial e de outros órgãos.
– Estamos falando de 13,3% das terras do país. Muitas áreas são de difícil acesso e é necessário ter capilaridade para alcançá-las. Boa parte dos nossos servidores estão perto de se aposentar e há a necessidade de trazer mais pessoas. Estamos falando do contato com 305 etnias, interlocutores muito diversos – diz Tatiana Vilaça, coordenadora de prevenção de ilícitos em terras indígenas da Funai.
Fiscais sofrem ameaças
Tatiana afirma que há ainda dificuldade de manter servidores da Funai em alguns postos em áreas isoladas ou de conflito. O posto da Coordenação Técnica Local da Funai é o único equipamento do Estado em municípios como Boca do Acre (AC), Brasnorte (MT), Tucumã (PA), São Félix do Xingu (PA), Zé Doca e Grajaú (MA) e Tonantins (AM), por exemplo. Nestas áreas, não há postos da Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal ou Ibama:
– Há casos em que os nossos representantes sofrem ameaças e temos que tirá-los do município- diz Tatiana, lembrando que a presença física do Estado reduz o desmatamento ilegal e que nenhuma operação de fiscalização surte efeito isoladamente. – É preciso uma resposta para a questão econômica dos municípios no entorno de terras indígenas, com a implantação de políticas públicas permanentes que resultem em oferta de trabalho e assistência social. Quando a fiscalização acaba, as políticas públicas têm de continuar – diz ela.
Paulo Barreto, pesquisador do Imazon, acredita que a fiscalização é só o começo na responsabilização de alguém por um crime. Se não houver punição, a tendência é que o crime volte a acontecer.
– Costumo dizer que faltam muito mais advogados do que de fiscais na área ambiental. Temos um esforço em fiscalizar e multar, mas nossa maior fragilidade está no julgamento e na aplicação da pena.
Ela afirma que o Ibama, por exemplo, ainda não consegue arrecadar a maioria absoluta das multas aplicadas, mas a atuação do órgão passou a ser mais efetiva com o poder de confiscar e leiloar bens apreendidos, como madeira e maquinário usado no corte, no caso de desmatamento. Barreto afirma que desmatadores contumazes só se assustam quando há risco de prisão.
– Um advogado que defende alguns casos me disse que eles pagam qualquer dinheiro para evitar a cadeia. Quando descrevo a situação no Brasil a interlocutores de outros países, eles dizem que só mesmo prisão para resolver o problema. Por isso, é preciso que a lei também seja mais rigorosa – afirma Barreto, acrescentando que uma das discussões em curso na Amazônia é a aplicação da lei de lavagem de dinheiro, uma vez que há roubo de recursos públicos e, portanto, a origem do ganho é ilegal. (Cleide Carvalho/O Globo) http://oglobo.globo.com/pais/brasil-tem-so-um-fiscal-por-579-km-de-area-protegida-11410382#ixzz2rbkcssF8
3 – Nova espécie de anta é descoberta na Amazônia
Animal é o segundo maior mamífero da América do Sul e pesa cerca de 100kg. Índios e comunidades ribeirinhas contribuíram com o estudo
Ela está na Amazônia há séculos, tem seus crânios empilhados em reservas indígenas e já foi caçada em frente a um presidente americano, mas a comunidade científica ainda não havia estudado aquela anta. Nesta semana um estudo publicado pelo “Journal of Mammalogy” revelou que trata-se de uma nova espécie, batizada deTapirus kabomani. É o segundo maior mamífero da América do Sul, perdendo apenas para aTapirus terrestris, a anta brasileira.
A T. kabomani é a primeira anta revelada em 150 anos. Encontrada na divisa dos estados de Amazonas e Rondônia, ela é conhecida pela comunidade ribeirinha como anta pretinha, já que sua coloração é mais escura do que a anta brasileira. A pretinha pesa cerca de 100kg (três vezes menos do que a T. terrestris), tem patas mais curtas e crina menos proeminente.
Os estudos da anta pretinha começaram dez anos atrás, em escavações paleontológicas no Acre. Lá, uma equipe da Universidade Federal de Rondônia (Unir) encontrou crânios de antas diferentes da espécie já conhecida.
Nos anos seguintes, pesquisadores da Unir e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) visitaram uma reserva indígena próxima a Porto Velho (RO). A tribo karitiana, que habita aquela região amazônica, empilha crânios de animais caçados – uma forma dos homens mostrarem “status” e atraírem mulheres. Lá, os crânios das antas brasileiras e pretinhas já eram separados. Os índios, então, já sabiam que havia uma diferença entre as espécies.
– Vimos que alguns hábitos são diferentes – revela Fabrício Rodrigues dos Santos, coautor do estudo e professor de Evolução do Departamento de Biologia Rural da UFMG. – A anta pretinha vive em campos abertos. A brasileira prefere a floresta fechada.
Até agora, os pesquisadores só flagraram a anta pretinha com câmeras de armadilha fotográfica, que registram seu deslocamento à noite, período em que se alimenta.
A anta foi alvo caçadores que acompanhava o sertanista Marechal Rondon e o presidente americano Theodore Roosevelt.
– Entre 1912 e 1913, eles participavam de uma expedição em busca de um rio no Amazonas, que era conhecido como Rio da Dúvida – conta. – Quatro caçadores, que os acompanharam, mataram quatro antas. Uma delas é a pretinha e está exposta no Museu Americano de História Natural, em Nova York. Tentamos trazê-la para estudar o DNA de sua pele, mas a transferência não foi autorizada nos EUA.
A próxima etapa do estudo é identificar a distribuição na Amazônia da nova espécie e seu status de conservação. Estima-se que a existência da anta pretinha esteja ameaçada, já que a brasileira, que seria mais comum, é considerada vulnerável a extinção. (Renato Grandelle/O Globo) http://oglobo.globo.com/ciencia/nova-especie-de-anta-descoberta-na-amazonia-11095054#ixzz2nplevr2m