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Informativo 604 – Ameaça e 1,4 milhão de anos

1 – Pragas se espalham pelo mundo e ameaçam o futuro da banana

2 – Fóssil de 1,4 milhão de anos revela a evolução das mãos humanas

 

1 – Pragas se espalham pelo mundo e ameaçam o futuro da banana

 

Fungos arrasam a produção da Ásia e da África; insetos infestam a Costa Rica

Um dos frutos mais consumidos do mundo, a banana pode ter sua existência comprometida por pragas. De um lado, os frutos da África e Ásia sofrem com a introdução do fungo Fusarium oxysorum (FOC). Do outro, a Costa Rica declarou na semana passada estado de emergência com a descoberta de insetos que deixam a banana escurecida, espantando os exportadores que a levam para Europa e EUA.

 

Encontrado pela primeira vez na China nos anos 1990, o FOC desceu o continente até Indonésia e, por outra via, penetrou a África, chegando em Moçambique. Uma pesquisa publicada na semana passada na revista “Nature” alertou que ainda não se sabe como o fungo chegou àquele país, e que, dali, pode chegar à América Latina.

 

– O Fusarium é um fungo de solo. Seus esporos, que podem transmitir doenças, não são dispersos pelo vento ou pela água – lembra Edson Perito Amorim, coordenador do Programa de Melhoramento Genético de Banana da Embrapa Mandioca e Fruticultura. – Então, a hipótese mais provável é que o transporte de mudas contaminadas, inclusive pela ação humana, tenha feito a praga chegar à África.

 

Para evitar a vulnerabilidade do fruto à FOC, cientistas australianos testam o cruzamento da espécie de banana mais comum, aCavendish cultivar, com uma selvagem, a Musa acuminata, que tem genes resistentes ao fungo. Os primeiros experimentos, segundo os pesquisadores, foram “promissores”, mas ainda é preciso realizar novos testes.

 

Governos latino-americanos já elaboraram um plano de contingenciamento para evitar a entrada do FOC. No entanto, a Costa Rica, segunda maior exportadora mundial de bananas – atrás apenas do Equador – vê sua produção arrasada por outras pragas. Insetos das espécies Diaspis boisduvalii e Pseudococcus elisae já atingem uma área de 24 mil hectares e, em outubro, provocaram um prejuízo de R$ 594 milhões, segundo a Corporação Bananeira Nacional.

 

“Embora os danos sejam estéticos, com a provocação de manchas negras na banana, esta é uma razão suficiente para que o países importadores rejeitem o produto”, ressalta um comunicado do Serviço Fitossanitário do país (SFE). O cultivo de bananas é responsável por 40 mil empregos diretos e 100 mil indiretos.

 

– As plantações da Costa Rica já enfrentam problemas com insetos. Agora, o governo está preocupado também com os fungos – revela Amorim. – Por isso as autoridades estão evitando a importação de mudas, que podem estar contaminadas.

 

Metade da produção costarriquenha é destinada à União Europeia. Quase todo o restante vai para os EUA.

 

– Não sabemos se os fungos chegarão à América Latina nem quando isso ocorreria – pondera Amorim. – O Brasil não está imune ao FOC. Para defender o mercado interno, estamos desenvolvemos projetos de melhoramento genético, resultando em bananas resistentes ao fungo e que tenham bom gosto e aroma. Mas hoje o fruto é cultivado em 500 mil hectares e só podemos defender essa área se tivermos um grande financiamento para pesquisa e prevenção. (Renato Grandelle/O Globo) http://oglobo.globo.com/ciencia/pragas-se-espalham-pelo-mundo-ameacam-futuro-da-banana-11087450#ixzz2njtZLtB7

 

2 – Fóssil de 1,4 milhão de anos revela a evolução das mãos humanas

 

Osso encontrado no Quênia dá pistas sobre desenvolvimento da capacidade de fabricar e manusear ferramentas

A capacidade de fabricar e usar ferramentas precisas com as mãos é uma das características anatômicas mais marcantes dos humanos modernos, mas o momento na evolução onde ela surgiu ainda é um mistério para os cientistas, alimentado pela escassez do registro fóssil de mãos de hominídeos entre 1,8 milhão e 800 mil anos atrás. Agora, porém, um osso de 1,4 milhão de anos encontrado no Quênia pode ajudar a dar pistas sobre seu aparecimento. Segundo os pesquisadores da Universidade do Missouri, nos EUA, o fóssil, identificado como o terceiro metacarpo (ossos que formam a “base” dos dedos, ligando-os aos punhos), pertenceria a uma das mais antigas espécies humanas conhecidas, o Homo erectus, e mostra que essa habilidade começou a se desenvolver pelo menos 500 mil anos antes do que se imaginava.

 

– O que faz deste osso tão distinto é a presença de um processo estiloide, ou projeção do osso, na ponta que se conecta com os punhos – explica Carol Ward, professora de patologia e ciências anatômicas da Universidade do Missouri e coautora de artigo sobre a descoberta, publicado na edição desta semana do periódico científico “Proceedings of the National Academy of Science” (PNAS). – Até agora, o processo estiloide só tinha sido encontrado em nós, nos neandertais e em outros humanos arcaicos.

 

De acordo com os pesquisadores, o processo estiloide ajuda a encaixar os ossos das mãos nos dos punhos, permitindo que movimentos de pinça de polegares e dedos transfiram maior pressão para os próprios punhos e palmas. Ele refletiria assim a maior destreza que deu aos humanos antigos a vantagem de poder manipular objetos com força e precisão, algo que seus predecessores não tinham. Não por acaso, o fóssil do osso foi encontrado próximo a sítios arqueológicos onde foram achadas algumas das mais antigas ferramentas de pedra conhecidas, como machados de mais de 1,6 milhão de anos.

 

– Com esta descoberta estamos preenchendo uma lacuna na história evolucionária das mãos humanas – comentou Ward. – Esta pode até não ser a primeira aparição de mão humana moderna, mas acreditamos estar bem próximos de sua origem, já que não vemos estas características anatômicas em qualquer fóssil de hominídeo com mais de 1,8 milhão de anos de idade. Nossas mãos especializadas e destras talvez tenham estado conosco durante a maior parte da história de nosso gênero, Homo. Elas são, e têm sido há quase 1,5 milhão de anos, fundamentais para nossa sobrevivência.

 

Cuidado com os mortos

Em outro estudo também publicado na edição desta semana da PNAS, cientistas confirmaram que os neandertais, “primos” dos humanos modernos extintos há cerca de 30 mil anos, também enterravam seus mortos. A conclusão dos cientistas do Centro Internacional de Pesquisas em Humanidades e Ciências Sociais (CIRHUS), associação entre o Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França (CNRS) e a Universidade de Nova York, põe fim a polêmica instaurada desde 1908, quando restos de um neandertal foram encontrados em um buraco escavado numa caverna de La Chapelle-aux-Saints, no Sudoeste da França.

 

Desde então, havia um debate acirrado se o corpo foi deliberadamente depositado no local. Diante disso, William Rendu e colegas decidiram escavar outras cavernas na região a partir de 1999, encontrando mais três esqueletos, de um adulto e duas crianças. Além disso, análise geológica dos buracos onde eles foram achados indicam que eles não eram uma formação natural do piso das cavernas. Rendu e sua equipe também analisaram novamente os restos encontrados em 1908, demonstrando que não apresentavam sinais de desgaste pelo clima ou de terem sido atacados por animais.

 

– A natureza relativamente intocada destes restos de 50 mil anos sugere que eles foram cobertos logo depois da morte, apoiando fortemente nossa conclusão de que os neandertais desta parte da Europa agiam para enterrar seus mortos – destacou Rendu. – Embora não possamos saber se a prática era parte de um ritual ou meramente pragmática, a descoberta reduz a distância comportamental entre nós e eles. (Cesar Baima/ O Globo) http://oglobo.globo.com/ciencia/fossil-de-14-milhao-de-anos-revela-evolucao-das-maos-humanas-11085796#ixzz2njyCKAPq