Fechar menu lateral

Informativo 594 – Urgente; risco; diesel e desoxigenação

1 – Pesquisadores alertam sobre necessidade urgente de proteger os oceanos

2 – Expedição procura espécies de primatas em risco de extinção na Amazônia

3 – Poluentes do diesel atrapalham abelhas a encontrarem flores

4 – Estudo prevê “extinção em massa” nos oceanos devido a aquecimento, desoxigenação e acidez

 

1 – Pesquisadores alertam sobre necessidade urgente de proteger os oceanos

As informações, que configuram um alerta urgente, estão no artigo Politics should walk with Science towards protection of the oceans (“A política deve caminhar com a ciência na proteção dos oceanos”)
 
Estima-se que 41% dos mares e oceanos do planeta se encontrem fortemente impactados pela ação humana, segundo estudos. Trata-se de um problema grave que não tem recebido a merecida atenção. Um exemplo está no ritmo de implementação da diretriz relativa à proteção marinha definida pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), da Organização das Nações Unidas (ONU).
 
Aprovada por 193 países mais a União Europeia durante a 10ª Conferência das Partes da CDB, realizada em Nagoya, Japão, em outubro de 2010, essa diretriz estabeleceu que, até 2020, pelo menos 10% das áreas costeiras e marinhas, especialmente aquelas importantes por sua biodiversidade, deveriam estar protegidas.
 
Decorrido quase um terço do prazo, porém, as chamadas Áreas de Proteção Marinha (APMs) não cobrem mais do que 1,17% da superfície dos mares e oceanos do planeta. Dos 151 países com linha de costa, apenas 12 excederam os 10%. E a maior potência do mundo, os Estados Unidos, dotada de extensos litorais tanto no Atlântico como no Pacífico, não aderiu ao protocolo.
 
As informações, que configuram um alerta urgente, estão no artigo Politicsshouldwalkwith Science towardsprotectionoftheoceans (“A política deve caminhar com a ciência na proteção dos oceanos”), assinado pelo brasileiro Antonio Carlos Marques, professor associado do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, e pelo uruguaio Alvar Carranza, pesquisador do Museu Nacional de História Natural, do Uruguai. Enviado ao MarinePollutionBulletin, o texto, que será publicado como editorial da versão impressa do periódico, está disponível on-line em www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0025326X13004530.
 
O artigo também destaca que, com uma das mais extensas costas do mundo – de 9.200 quilômetros, se forem consideradas as saliências e reentrâncias -, o Brasil possui apenas 1,5% de seu litoral protegido por APMs. Além disso, 9% das áreas consideradas prioritárias para conservação já foram concedidas a companhias petroleiras para exploração. As costas altamente povoadas dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro concentram a maioria das reservas de petróleo do país.
 
Os dados publicados são derivados de dois projetos apoiados pela FAPESP e coordenados por Marques: um projeto de Auxílio à Pesquisa – Regular, que apoia a Rede Nacional de Pesquisa em Biodiversidade Marinha (Sisbiota Mar), e um Projeto Temático para pesquisar fatores que geram e regulam a evolução e diversidade marinhas.
 
“Como um expediente para cumprir a meta, alguns governos têm criado Áreas de Proteção Marinha gigantescas, mas em torno de ilhas ou arquipélagos praticamente desabitados, muito distantes do próprio país”, disse Marques à Agência FAPESP.
 
“A maior APM do mundo, situada no arquipélago de Chagos, tem mais de meio milhão de quilômetros quadrados. É uma área enorme, que cumpre, com sobra, a meta do Reino Unido”, disse. O arquipélago faz parte do Território Britânico do Oceano Índico.
 
“Porém a população dessa área se resume ao contingente rotativo de uma base britânica. A ninguém mais. Além disso, as características da área, situada no meio do Oceano Índico, em nada correspondem à biodiversidade do Reino Unido”, prosseguiu.
 
Embora reconheça o valor de uma APM como essa, Marques argumenta que sua criação não é necessariamente efetiva em termos de preservação ambiental. Segundo ele, cumpre-se o aspecto quantitativo, mas não o qualitativo, ou seja, não oferece proteção efetiva ao litoral do país onde está a maior parte de sua população. E o que é mais grave, segundo Marques, é que o mesmo expediente foi adotado em todas as outras grandes APMs criadas recentemente.
 
“Verificamos, e divulgamos em nosso artigo, que a população média das 10 maiores APMs do mundo, computada em raios de 10 quilômetros em torno das mesmas, é de apenas 5.038 pessoas”, informou Marques. E essa média é puxada para cima por apenas duas APMs, a Reserva Marinha de Galápagos (Equador) e o Parque Nacional da Grande Barreira de Corais (Austrália), ambas com pouco mais de 25 mil habitantes. A população total das demais APMs não chega a 4 mil indivíduos, sendo nula em três delas.
 
“Para os governos, é uma medida muito cômoda criar áreas de proteção ambiental em regiões como essas, porque o desgaste socioeconômico de tal implementação é baixíssimo. Exceto por uma ou outra indústria pesqueira, ninguém vai reclamar muito. É uma situação muito diferente da que ocorreria se as APMs fossem criadas nos litorais dos respectivos países”, disse Marques.
 
O pesquisador ressalta que essas áreas remotas são úteis, como nas APMs de Galápagos e da Barreira de Corais, pela especialidade dos ecossistemas protegidos. Mas as APMs não seriam representativas da gama de ambientes dos países.
 
Fracassos e sucessos
“Nossa principal intenção ao escrever o artigo foi destacar que existe uma necessidade de proteção, que pode ser parcialmente atendida pela meta de 10%, mas essa proteção tem que respeitar os ambientes reais dos países. Não basta alcançar o número sem que haja uma correspondência entre quantidade e qualidade”, disse Marques.
 
O pesquisador conta que, ao enviar o artigo para o MarinePollutionBulletin, um de seus objetivos foi estabelecer uma interlocução com o editor do periódico, Charles Sheppard, da Universityof Warwick, no Reino Unido. Sheppard é considerado uma das maiores autoridades em conservação marinha do mundo e foi um dos mentores da APM britânica do arquipélago de Chagos.
 
“A resposta do professor Sheppard foi a mais positiva que eu poderia esperar, tanto que ele decidiu publicar nosso artigo como editorial do MarinePollutionBulletin.
 
De acordo com Marques, os dados básicos e as análises gerados pelos cientistas são vitais para o melhor uso dos recursos, ao estabelecer áreas de preservação.
 
“É necessário entender se a área é a ideal para ser protegida do ponto de vista evolutivo, genético, biogeográfico, ecológico etc. Há exemplos de sucesso em que isso foi observado e exemplos de fracassos em que foi ignorado. O melhor cenário possível é aquele em que cientistas, técnicos e políticos participam francamente do processo”, disse. (José Tadeu Arantes – Agência Fapesp) http://agencia.fapesp.br/17981

 

2 – Expedição procura espécies de primatas em risco de extinção na Amazônia

Madeireiras e caçadores pressionam unidade de conservação no Oeste maranhense. Um dos macacos é perseguido porque seu rabo serve como espanador
 
Uma equipe de pesquisadores percorrerá centenas de quilômetros quadrados no Oeste maranhense em busca de duas espécies de primatas, classificadas como criticamente em perigo de extinção. A expedição de dez dias, que será iniciada terça-feira, vai procurar o cuxiú-preto e o caiarara-Kaapor. Suas populações vivem dentro de uma unidade de conservação, a Reserva Biológica Gurupi, invadida por traficantes de animais silvestres e madeireiros.
 
Segundo o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, a área da Gurupi é uma das últimas remanescentes de floresta na Amazônia Oriental. O desmatamento, no entanto, está intensificando a fragmentação da área verde, isolando populações de primatas.
 
– Sabemos que na região há conflitos territoriais com terras indígenas e assentamentos rurais – ressalta Leandro Jerusalinsky, coordenador do CPB. – Estas são algumas razões para que as populações dos primatas estejam divididas. Quando isso acontece, a variedade genética das espécies é comprometida, e aumenta seu risco de extinção.
 
Rabo cortado para espanador
O caiarara está na lista dos 25 primatas mais ameaçados do mundo, elaborada pelo Grupo Especialista em Primatas da União Internacional para a Conservação da Natureza e pela Sociedade Internacional de Primatologia. A espécie é altamente sensível mesmo aos níveis mais leves de perturbação ambiental, como o corte seletivo.
 
Segundo Jerusalinsky, os primatas de Gurupi são caçados principalmente para alimentação e prisão em cativeiro. Mas outros fatores menos conhecidos contribuem para o desaparecimento das espécies. O cuxiú, por exemplo, tem o rabo cortado para servir como espanador.
 
A equipe do CPB quer estudar a densidade populacional do cuxiú e do caiarara. A partir deste cálculo, seria possível estimar quantos indivíduos dessas espécies ainda restam na floresta.
 
A conta também influenciaria o traçado da reserva do Gurupi. Sua área poderia ser expandida se os primatas ameaçados estiverem fora da unidade de conservação.
 
O analista ambiental, porém, descarta a possibilidade de que os primatas sejam remanejados para áreas no interior da floresta, mais protegidas da ação humana.
 
– Os primatas não iriam se adaptar à nova região, e ainda ameaçariam as espécies que vivem naquela localidade – explica. – Devemos descartar qualquer possibilidade de retirá-los de sua área original.
 
De acordo com o pesquisador, a ameaça a espécies presentes no arco do desmatamento – a região às margens da floresta, explorada pela agroindústria – exige uma reação urgente do governo federal.
 
– Estamos no limiar entre ter que partir para medidas extremas: remanejar as espécies ou assegurar a preservação de seu habitat – alerta. – A decisão é fundamental para assegurar a sobrevivência dessas unidades de conservação e manter sua biodiversidade.
 
Além do cuxiú e do caiarara, outras cinco espécies de primatas estão na reserva do Gurupi. O CPB também estudará sua abundância populacional, além de identificar as principais ameaças. O Brasil é o país com maior número de espécies de primatas no mundo: são 118.
 
Unidade de conservação pode ser extinta
A expedição em Gurupi veio no momento certo para a reserva, cuja existência é questionada por madeireiros. A reserva biológica, criada em 1988 com tamanho estimado de 3,4 mil km², teve sua área reduzida para 2,7 mil km². Agora, tramita pela Câmara dos Deputados um projeto de decreto legislativo que reivindica a extinção da unidade, alegando que sua criação não levou em conta da situação fundiária daquela região.
 
– É um projeto incentivado por madeireiros do Maranhão e do Pará, que têm interesse na exploração econômica da unidade – lamenta Evane Lisboa, chefe da reserva há oito anos. – Temos apenas 14 pessoas para fiscalizar toda a região. É muito difícil conter a sua invasão.
 
Nos últimos meses, o Ibama fechou mais de 20 serrarias na região do Gurupi. Cerca de 3 mil metros cúbicos de madeira foram apreendidos, o suficiente para preencher mais de 150 caminhões.
 
Lisboa elabora um inventário sobre a quantidade de animais ameaçados de extinção presentes na reserva biológica. Ainda não há previsão de quando o projeto será concluído.
 
A expedição é parte do Projeto Primatas em Unidades de Conservação da Amazônia (Puca), fundado em 2009 para coletar informações sobre primatas e seus habitats. Os estudos contribuem para elaborar inventários populacionais das espécies e criar unidades de preservação.
 
O programa também emite alertas sobre o impacto ambiental a áreas habitadas por primatas e visita áreas que abrigam espécies altamente ameaçadas de extinção.
 
Esta será a única expedição da Puca em 2013. A reserva do Gurupi foi escolhida justamente por ser a única unidade de conservação integral da Amazônia a abrigar duas espécies de primatas altamente ameaçadas de extinção. Além do CPB, o grupo tem analistas ambientais de reservas de Amazonas, Roraima e Rondônia. (Renato Grandelle/O Globo) http://oglobo.globo.com/ciencia/expedicao-procura-especies-de-primatas-em-risco-de-extincao-na-amazonia-10246888#ixzz2glK7sIO2

 

3 – Poluentes do diesel atrapalham abelhas a encontrarem flores

Perda de eficiência na polinização pode afetar a segurança alimentar global, dizem pesquisadores
 
A queima de diesel lança poluentes na atmosfera que podem afetar a capacidade das abelhas de reconhecerem o cheiro das flores. De acordo com pesquisa da Universidade de Southampton, do Reino Unido, os odores florais são fundamentais para que o inseto localize, identifique e reconheça a planta da qual ele extrai o néctar. Os coordenadores da pesquisa, Tracey Newman e o professor Guy Poppy, ressaltam que a perda de eficiência na polinização afeta a segurança alimentar global.
 
O trabalho, publicado no periódico “Scientific Reports” nesta quinta-feira, analisou os odores das flores em dois ambientes: um ar limpo e outro contaminado por poluentes do diesel. No primeiro caso, o cheiro das plantas não foi alterado. No segundo, dois de oito elementos produzidos nas flores desapareceram completamente em apenas um minuto, alterando o perfil químico das substâncias de odor.
 
De acordo com os pesquisadores, os gases NOx (óxidos nitrosos) foram os principais responsáveis pela mudança do cheiro das flores para um novo odor que já não é mais reconhecido pelas abelhas. Polinizando menos as flores, as abelhas passam a contribuir com menor intensidade para a produção agrícola em todo o mundo.
 
– As abelhas têm um olfato sensível e uma excepcional capacidade de aprender e memorizar novos odores – explicou Tracey. – Mas os gases NOx representam alguns dos mais reativos produzidos a partir da combustão de diesel e de outros combustíveis fósseis. Nossos resultados sugerem que a poluição altera os componentes do odor floral, o que afeta o reconhecimento da planta pela abelha. (O Globo) http://oglobo.globo.com/ciencia/poluentes-do-diesel-atrapalham-abelhas-encontrarem-flores-10237990#ixzz2glKzyh00

 

4 – Estudo prevê “extinção em massa” nos oceanos devido a aquecimento, desoxigenação e acidez

Relatório adverte para a acidez sem precedentes dos oceanos, enquanto prossegue a queima de carvão e petróleo e as emissões de dióxido de carbono
 
Um grupo de cientistas advertiu esta quinta-feira que a situação dos oceanos está pior do que se pensava devido a uma combinação mortal: o aquecimento, a desoxigenação e a acidificação.
 
– Estamos expondo os organismos a uma pressão evolutiva insuportável – adverte relatório do Programa Internacional sobre o Estado dos Oceanos (IPSO, na sigla em inglês) e da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
 
– A próxima extinção em massa (de espécies) pode ter começado – alerta o informe.
 
O relatório adverte para a acidez sem precedentes dos oceanos, enquanto prossegue a queima de carvão e petróleo e as emissões de dióxido de carbono (CO2), um terço das quais é absorvida pelo mar.
 
As atuais emissões CO2, cerca de 30 gigatoneladas por ano, são pelo menos dez vezes maiores do que as que antecederam a anterior grande extinção de espécies da Terra, há 55 milhões de anos, diz o estudo. Este grau de acidez nos oceanos não se via há 300 milhões de anos.
 
– As previsões sobre a concentração de oxigênio nos oceanos apontam para uma queda de 1% a 7% antes de 2100 – afirmam, a respeito da desoxigenação.
 
Dois fenômenos se conjugam: uma “tendência geral à diminuição dos níveis de oxigênio nos oceanos tropicais e nas áreas do Pacífico norte nos últimos 50 anos” – provocada pelo aquecimento global – e “um incrível aumento da hipoxia costeira (baixa quantidade de oxigênio)”, vinculada aos rejeitos agrícolas e às águas residuais.
 
– Muitos organismos vão se encontrar em ambientes inadequados – prossegue o estudo.
 
Os autores propõem intervenções urgentes, como reduzir os gases de efeito estufa a níveis anteriores à revolução industrial, uma meta das Nações Unidas que parece cada vez mais distante. Eles pedem também a supressão de subsídios governamentais à pesca, que contribui para a exploração excessiva, e a proibição de técnicas de pesca destrutivas, como as redes de arrasto que varrem o fundo do mar.
 
Os mares cobrem aproximadamente três quartos da superfície da Terra, proporcionam metade do oxigênio que respiramos e alimentam bilhões de pessoas.
 
– A saúde dos oceanos está decaindo muito mais rápido do que pensávamos – destacou o diretor científico do IPSO no documento.
 
– Estamos vendo mudanças maiores, acontecendo mais rápido e com efeitos mais iminentes do que tínhamos antecipado. A situação deveria ser de grande inquietação para todo mundo – sentenciou.
 (Zero Hora com informações da AFP) http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/planeta-ciencia/noticia/2013/10/estudo-preve-extincao-em-massa-nos-oceanos-devido-a-aquecimento-desoxigenacao-e-acidez-4289355.html