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Informativo 583 – Borboletas; extinção e última Idade do Gelo

1 – Borboletas trarão benefícios em longo prazo para a região Amazônica

2 – Extinção de animais gigantes há milhares de anos impacta solo da Amazônia até hoje

3 – Oscilação da órbita da Terra ajudou a pôr fim à última Idade do Gelo

 

1 – Borboletas trarão benefícios em longo prazo para a região Amazônica

Segundo o técnico do Inpa, Francisco Xavier, Manaus (AM) é uma rota de passagem dessa espécie, que está “visitando a cidade”
 
“Elas estão migrando para o Sul do Amazonas e para o norte do Mato Grosso para se reproduzir”, afirma o técnico em Ciência e Tecnologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Francisco Felipe Xavier Filho, que explica o fenômeno das borboletas que surpreendeu moradores da cidade de Manaus (AM) nas últimas semanas.
 
Segundo Xavier, que trabalha na Coleção de Invertebrados do Instituto, é comum a espécieAugiades crinisus migrar para se reproduzir, em conjunto com outras espécies migratórias, mas relata que é a primeira vez que observa o aparecimento em grande quantidade dessa espécie sobrevoando a cidade. De acordo com o técnico, o clima, pelo fato de ser o final do período chuvoso e início do verão, interferiu no processo de maturação da espécie.
 
“O clima pode ter influenciado para que as borboletas desta espécie tenham se tornadas adultas na mesma época e em vários lugares, pois sempre acontece no começo do verão, é quando elas migram em busca de um lugar adequado para se reproduzirem”, explica.
 
Essa migração, de acordo com Xavier, é importante para haver mistura dos genes das borboletas, porque permite que a espécie tenha melhor carga genética repassada para seus descendentes, para que se adaptem às mudanças climáticas. “A polinização também é um grande benefício que as borboletas trazem, pois elas se alimentam do néctar das flores, e involuntariamente, transferem o pólen de uma flor para outra, auxiliando a reprodução da vegetação na região, trazendo assim grandes benefícios para a agricultura”, esclarece.
 
Além disso, essa espécie, que já foi vista em vários locais da capital amazonense, e também do interior do estado, é capaz de transferir aos seus descendentes uma memória genética, tornando-os capazes de retornarem para o norte. “Aqui na região existem populações locais de Augiades crinisus, mas ela é difícil de ser vista no meio urbano e até mesmo na floresta. Aqui na coleção do Instituto, por exemplo, temos apenas cinco exemplares dessa espécie, por isso se tornou um fenômeno atípico”, relata o técnico.
 
Xavier e a entomóloga Gilcélia Lourido, formada pelo Programa de Pós-Graduação em Entomologia (PPG-ENT) do Inpa e especialista em lepidópteros, fizeram observações durante quatro dias e verificaram que a migração continua com grande quantidade de exemplares. “Uma das rotas é pela zona norte da cidade onde elas seguem em direção ao sul passando pelo centro da cidade. Verificamos também que elas aproveitam os fragmentos florestais do Inpa e de outras áreas verdes para se alimentam do néctar das flores e principalmente para descansar”, conclui. (Assessoria de Comunicação do Inpa)

 

2 – Extinção de animais gigantes há milhares de anos impacta solo da Amazônia até hoje

Região atualmente sofre com desequilíbrio de minerais devido à falta de fertilização de grandes animais de 12 mil anos atrás
 
Vastas áreas da Amazônia estão crescendo mais lentamente do que há milhares de anos devido à falta de fertilizantes no solo, materiais que eram fornecidos pela chamada “megafauna” – conjunto de grandes mamíferos que foram extintos com a chegada o homem ao local.
 
Um estudo de como os nutrientes do solo são distribuídos na bacia amazônica revelou que há uma escassez de minerais vitais, tais como fósforo, pois grandes mamíferos já não percorrem a região para fertilizar o solo com seu esterco.
Cientistas acreditam que a extinção de grandes herbívoros – como a preguiça de cinco toneladas e o gliptodonte, parecido com um tatu do tamanho de um carro pequeno – leva a um sério desequilíbrio de minerais no solo cujo impacto é sentido até hoje.
 
– A Amazônia oriental em particular é limitada em fósforo, o que significa que se fosse adicionado o mineral na região, as árvores cresceriam mais rápido – afirmou Christopher Doughty, da Universidade de Oxford, autor do estudo.
 
Os minerais são levados do alto dos Andes pelo rio Amazonas e seus afluentes, mas os elementos tendem a permanecer no solo lamacento das planícies de inundação em vez de dispersos de forma mais ampla.
 
Isto não era o que ocorria há dezenas de milhares de anos, quando gerações após gerações de megafauna eram alimentadas com plantas em áreas de planícies de inundação e depois seguiam para áreas mais altas, onde fertilizavam o solo com seus excrementos e cadáveres, dizem cientistas.
 
O estudo, publicado na “Nature Geoscience”, calcula que 98% de dispersão de nutrientes foram perdidos desde a extinção da megafauna, o que aconteceu na mesma época em que os humanos colonizaram o norte da América do Sul.
 
– Mesmo que 12 mil anos seja uma escala de tempo que vai além da nossa compreensão, este estudo mostra que as extinções da época afetam a saúde do planeta até hoje – afirmou Doughty. – Simplificando, quanto maior o animal, maior será o seu papel na distribuição de nutrientes que enriquecem o ambiente.
 
O desmatamento da Amazônia está dificultando a dispersão ainda mais porque, apesar de a atividade humana levar mais fertilizantes ao solo, eles ficam concentrados devido às práticas agrícolas. A megafauna agia da mesma forma que as artérias dos corpo humano, distribuindo nutrientes cada vez mais longe da fonte, explicam os cientistas. (O Globo / The Independent)
http://oglobo.globo.com/ciencia/extincao-de-animais-gigantes-ha-milhares-de-anos-impacta-solo-da-amazonia-ate-hoje-9472462#ixzz2br9IWT3G

 

3 – Oscilação da órbita da Terra ajudou a pôr fim à última Idade do Gelo

Estudo mostra que, graças à maior radiação solar, o Oeste da Antártica começou a se aquecer antes do que se imaginava
 
Oscilações na órbita da Terra mergulham o planeta em frequentes Idades do Gelo, mas também ajudam a interromper estes períodos de temperaturas globais mais baixas. Este processo já é conhecido dos cientistas há mais de um século, mas um novo estudo publicado na edição desta semana da revista “Nature” indica que o gradual aquecimento da região Oeste da Antártica devido à maior radiação solar não só começou antes do que se imaginava como acelerou a mudança climática quando do início do fim da última Idade do Gelo, há cerca de 20 mil anos.
 
Até agora, os cientistas acreditavam que a última Idade do Gelo acabou no Hemisfério Norte 20 mil anos atrás, mas as evidências eram de que no Sul o aquecimento só teve início cerca de 2 mil anos depois, sugerindo que o nosso hemisfério apenas respondeu ao processo deflagrado pelo outro. Estas informações, no entanto, foram na sua maior parte levantadas a partir da análise de amostras de gelo coletadas no Leste da Antártica, a mais elevada e fria região do continente gelado.
 
Para o novo estudo, porém, os pesquisadores se concentraram em uma amostra colhida no lado oposto da Antártica. Alcançando uma profundidade de mais de 3 quilômetros, ela é uma das maiores já coletadas no continente e permite observar cerca de 68 mil anos da história climática da Terra. Até agora, os cientistas analisaram camadas da amostra que datam de até 30 mil anos atrás e verificaram que há 22 mil anos o Oeste da Antártica já estava se aquecendo.
 
– Nos acostumamos a ver a Antártica como este continente passivo à espera de outras coisas o afetarem, mas neste caso ela está mostrando sinais de mudanças bem antes de “saber” o que se passava no Norte – explica T.J. Fudge, aluno de doutorado da Universidade de Washington e um dos autores do artigo publicado na “Nature”.
 
Segundo Fudge, o fim da última Idade do Gelo é o maior processo de mudança climática do passado que os cientistas já puderam investigar por meio de amostras glaciais e tem o potencial de explicar muito sobre como funciona o clima no planeta. Separado do Leste da Antártica por uma cordilheira, o Oeste do continente é mais sensível às alterações climáticas e estudos recentes mostram que a região está se aquecendo rapidamente nas últimas décadas.
 
– O local onde foi colhida a amostra é próximo da costa e é de se imaginar que ele sente mais a influência do litoral do que locais no interior onde a maior parte das amostras de altitudes elevadas do Leste da Antártica foi coletada – acrescenta Edward Brook, paleoclimatologista da Universidade do Estado do Oregon e coautor do artigo. – Com o aumento da radiação solar, houve uma redução da cobertura de gelo sobre o oceano meridional e um aquecimento da Antártica Ocidental, com o subsequente crescimento da concentração de CO2 (dióxido de carbono, um dos principais gases do efeito estufa) levando o processo a uma escala global. A novidade é que na nossa observação o Oeste da Antártica não esperou por uma “deixa” do Hemisfério Norte para começar a se aquecer.
 
De acordo com Brook, este aquecimento inicial derreteu parte das calotas polares, liberando o CO2 que estava preso nos oceanos e acelerando o fim da Idade do Gelo, mas o aumento na concentração deste gás-estufa na atmosfera pela ação humana nas últimas décadas é bem mais rápido e pronunciado, assim como o aquecimento global que ele pode causar.
 
– As oscilações na órbita da Terra acontecem em uma escala de milhares de anos, mas a concentração de dióxido de carbono hoje está mudando em uma escala de décadas, então a mudança climática está se dando de uma forma muito mais rápida hoje – conclui Fudge. (Cesar Baima / O Globo)
http://oglobo.globo.com/ciencia/oscilacao-da-orbita-da-terra-ajudou-por-fim-ultima-idade-do-gelo-9543498#ixzz2c2pafl1g