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Informativo 582 – Fóssil de jacaré e antibiótico do fundo do mar

1 – Fóssil de jacaré do Jurássico é descoberto no Maranhão

2 – Em rara descoberta, cientistas extraem antibiótico de bactéria do fundo do mar

 

1 – Fóssil de jacaré do Jurássico é descoberto no Maranhão

Animal de 160 milhões de anos media 1 metro e tinha focinho comprido
 
Nas rochas do interior do Maranhão, pesquisadores da USP de Ribeirão Preto desencavaram fósseis de um dos mais antigos membros do grupo ao qual pertencem os jacarés e crocodilos de hoje.
 
Com cerca de 160 milhões de anos, o bicho, batizado de Batrachomimuspastosbonensis, também é importante por ser o primeiro vertebrado do país (à exceção de peixes) com restos que datam do período Jurássico, a mais famosa fase da Era dos Dinossauros, contou à Folha o coordenador da pesquisa, o paleontólogo Max Langer.
 
Fatores climáticos e geológicos fazem com que fósseis jurássicos sejam raros no país. Tanto é assim que, quando toparam com o crânio da criatura em maio do ano passado, Langer e seus ex-alunos Felipe Montefeltro e Marco Aurélio de França acharam que se tratava de um anfíbio dos grandes.
 
Explica-se: na região também há camadas geológicas de um período mais remoto, o Permiano, que terminou há 250 milhões de anos. Nessa época, anfíbios com estrutura corporal parecida com a dos jacarés atuais patrulhavam os rios maranhenses.
 
Desfeito o engano, os cientistas homenagearam a confusão ao batizar a espécie –Batrachomimus quer dizer “imitador de sapo”, enquanto pastosbonensis se refere ao município de Pastos Bons, onde o bicho foi encontrado.
 
Além do crânio, os paleontólogos acharam cacos das patas e da armadura óssea do bicho. Era um animal pequeno –cerca de 1 m de comprimento– e de focinho comprido e fino, lembrando os gaviais, bichos modernos nativos da Índia. A dentição deixa clara a predileção da criatura por uma dieta de peixes.
 
FAMÍLIA COMPLICADA
 
Isso não parece surpreendente, a não ser pelo fato de que, nessa época, os parentes remotos dos crocodilos eram, em sua maioria, bichos terrestres de pernas relativamente compridas, alguns até comendo plantas ou insetos.
 
O esqueleto do B. pastosbonensis, por outro lado, indica que ele não era membro dessas linhagens extintas esquisitonas (do ponto de vista moderno), mas sim do grupo dos Neosuchia, aquele ao qual pertencem os jacarés modernos. Dentro desse subgrupo, o fóssil maranhense é um dos mais antigos.
 
A análise feita pelos cientistas da USP sugere um parentesco com bichos que viveram na China, na Mongólia e no Uzbequistão.
 
É possível que os ancestrais de todos esses bichos já tivessem se dispersado pelo planeta quando havia um único supercontinente na Terra, seguindo trajetórias evolutivas separadas.
 
Os paleontólogos propõem outra ideia para explicar a semelhança desses protojacarés com os anfíbios grandalhões. Segundo eles, é possível que a extinção de tais anfíbios tenha deixado aberta a porteira para novos predadores semiaquáticos, o que levou alguns membros do grupo dos crocodilos a adotar a vida dentro d’água.
 
A descrição do bicho está na revista “Naturwissenschaften”. O estudo teve apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e do CNPq.
 
(Reinaldo José Lopes/Folha de S.Paulo)
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/121812-fossil-de-jacare-do-jurassico-e-descoberto-no-maranhao.shtml

 

2 – Em rara descoberta, cientistas extraem antibiótico de bactéria do fundo do mar

Nova classe de medicamento é eficaz conta o antraz, usado por terroristas em ataques biológicos
 
Pesquisadores da Califórnia publicaram ontem detalhes sobre uma rara descoberta farmacêutica. Os cientistas conseguiram extrair de um micro-organismo marinho uma nova classe de antibióticos, a antrazimicina. Como o nome sugere, a substância foi capaz de matar a bactéria do antraz – já usada como arma biológica por terroristas – e a MRSA, uma espécie de estafilococo resistente a outros tipos de antibióticos.
 
A última descoberta de um antibiótico extraído do ambiente natural, e não por meio de manipulação em laboratórios, foi em 2003. O composto californiano, de acordo com os pesquisadores, tem uma estrutura química única e pode servir de base para criar uma série de novas drogas terapêuticas. O composto é derivado dos actinomicetos, bactérias aquáticas importantes na decomposição orgânica nos oceanos e conhecido por ser praga em plantas.
 
– A descoberta de um novo composto antibiótico de verdade é bastante rara – disse o líder da pesquisa, William Fenical, do Instituto Scripps de Oceanografia, ao site especializado Science Alert. – E não é uma descoberta solitária. Ela abre oportunidade para o desenvolvimento de (medicamentos) análogos, potencialmente centenas.
 
Arma contra o terrorismo
O cientista, professor de Oceanografia e Ciência Farmacêutica do Scripps, deu exemplo de Alexander Fleming, que descobriu a penicilina em 1928, substância que deu base para a formação de mais de 25 medicamentos.
 
De acordo com o trabalho, publicado na revista científica alemã “Angewandte Chemie”, a antrazimicina foi capaz de neutralizar ou eliminar a infecção por MRSA em 85% dos testes. Já o antraz é menos resistente aos antibióticos que o MRSA, mas desde que se tornou uma conhecida arma biológica pós-atentados de 11 de setembro de 2001, há o temor de que cientistas mal-intencionados criem cepas resistentes aos tratamentos atuais. Os autores do estudo esperam que antrazimicina permitirá às agências governamentais criarem um novo antibiótico secreto que terroristas não consigam neutralizar por meio de manipulação biológica.
 
A descoberta surge como novo argumento para a preservação ecológica dos oceanos. O líder da pesquisa acrescentou que existem cerca seis medicamentos derivados de substâncias encontradas nos mares em circulação. Além dessas, há outros 26 compostos farmacêuticos em testes clínicos, entre eles drogas para o tratamento do câncer e o controle de dores crônicas e inflamações.
 
– O potencial de descobertas em oceanos é enorme. Os oceanos são, de longe, as maiores fontes de biodiversidade que temos. Mas farmacêuticas não tem especialização nem inclinação para fazer descobertas em oceanos – disse Fenical.
 
(O Globo)
http://oglobo.globo.com/ciencia/em-rara-descoberta-cientistas-extraem-antibiotico-de-bacteria-do-fundo-do-mar-9309305#ixzz2aosqWJiV