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Informativo 573 – Nova espécie e Pé de luz

1 – Tecnologia ajuda a descobrir uma nova espécie de ave na Amazônia 
2 – Pé de luz: grupo americano quer criar plantas brilhantes

 

1 – Tecnologia ajuda a descobrir uma nova espécie de ave na Amazônia 

Avanços tecnológicos de pesquisa permitiram a um grupo de pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi e da Universidade Federal do Pará identificar o torom-de-alta-floresta
 
A Floresta Amazônica e sua grande biodiversidade dão outro exemplo de que ainda há muito a desvendar. Com a ajuda da tecnologia, um grupo de pesquisadores descobriu uma nova espécie endêmica de ave em uma região antropizada (sob a influência humana) da Amazônia.
 
Lincoln Carneiro, Luiz Gonzaga, Péricles Rêgo, Iracilda Sampaio, Horacio Schneider e Alexandre Aleixo descreveram o torom-de-alta-floresta (Hylopezeus whittakeri) no artigo “Systematic evision of the Spotted Antpitta (Grallariidae: Hylopezeus macularius), with description of a cryptic species from brazilian amazonia”.
 
A nova espécie, até recentemente, era considerada uma das três subespécies, ou populações, da ave torom-carijó (Hylopezeus macularius). Apenas alguns quesitos, como o canto e plumagem, diferenciavam as subespécies. A ave era encontrada em grande parte da Amazônia brasileira, principalmente no sul do Rio Amazonas, e também na porção amazônica de outros países como Venezuela, Colômbia e Bolívia.
 
Os pesquisadores investigaram o grau de diferenciação genética entre as subespécies e a possibilidade de pelo menos uma delas se diferenciar tanto das demais a ponto de ser considerada uma espécie à parte. Depois de analisar morfologicamente, geneticamente e bioacusticamente (cantos e chamados) todas as populações conhecidas, chegou-se À conclusão de que uma nova espécie, ainda não formalmente descrita, estava “escondida” dentre as populações do torom-carijó.
 
Gravações
Foi o avanço nas tecnologias de pesquisa que permitiu a um grupo de pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG/MCTI) e da Universidade Federal do Pará (Ufpa) identificar o torom-de-alta-floresta. Eles verificaram mais de 100 gravações com 310 sons distintos em 51 localidades, analisando frequência, ritmo e duração das notas de cada indivíduo. A equipe também examinou 97 espécimes taxidermizados e depositados em coleções do Brasil e do exterior, além de sequenciar 28 indivíduos para o DNA mitocondrial.
 
Acredita-se que o surgimento da nova espécie tenha ocorrido em função de isolamento geográfico. Barreiras naturais como os grandes rios amazônicos podem ser a causa de isolamento de determinados pássaros. O torom-de-alta-floresta é endêmico da região entre os rios Madeira e Xingu, um dos setores mais antropizados da Amazônia, cortado pelas rodovias Transamazônica e BR-163, ambas constituindo eixos de desenvolvimento e de deflorestamento.
 
A pesquisa é um dos resultados obtidos pelo sub-projeto Papel das Alterações Climáticas e de Paisagem na Evolução Passada e Futura de Espécies de Vertebrados e Plantas Superiores de Especial Interesse para a Conservação na Amazônia, que integra o projeto INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia.
 
Coordenado pelos pesquisadores Alexandre Aleixo e Ana Albernaz, esse sub-projeto avalia o grau de suscetibilidade natural histórica de espécies do Arco do Desmatamento na Amazônia, principalmente aquelas ameaçadas de extinção, às alterações climáticas e de paisagem. O interesse dos cientistas é projetar possíveis extinções e alterações futuras na biota amazônica em diferentes cenários influenciados pelo aquecimento global e pelos usos da terra.
 
Proteção
Neste mês, 15 novas espécies de aves foram anunciadas por meio de artigos científicos na enciclopédia internacional Handbook of the Birds of the World (em português, Manual ou Coletânea de Aves do Mundo). Descobertas como essas podem definir novas áreas de interesse para conservação. (Fernando Cabezas e Joice Santos, Agência Museu Goeldi)

 

2 – Pé de luz: grupo americano quer criar plantas brilhantes

Em apenas duas semanas, projeto arrecadou US$ 250 mil na internet. Medida gera controvérsia entre organizações ambientais, que apelam para governo dos EUA
 
Com a pretensão de conferir um novo significado ao termo “luz natural”, um pequeno grupo de biotecnologistas e empresários iniciou um projeto para desenvolvimento de plantas que brilham, abrindo um caminho em potencial para árvores que substituiriam postes de luz e flores de vasos luminosos. A intensidade da iluminação seria suficiente para permitir que uma pessoa pudesse ler próximo à vegetação.
 
Usando uma sofisticada forma de engenharia genética, chamada de biologia sintética, o projeto está atraindo atenção não apenas por suas metas ambiciosas, como também pela forma que é conduzido.
 
Ambientalistas apelam para governo
Em vez de ser realizado por uma corporação ou um laboratório acadêmico, o programa tem como palco um laboratório comum – um método de trabalho cada vez mais difundido nos EUA. Ao mesmo tempo, a biotecnologia torna-se barata o suficiente para dar origem a um movimento conhecido como faça-você-mesmo (FVM).
 
Esta é a forma de financiamento do projeto. Os iluminadores de árvore já arrecadaram mais de US$ 250 mil através do site Kickstarter. Aproximadamente 4,5 mil pessoas contribuíram com os biotecnologistas.
 
Poucos anos antes deste estudo, um grupo universitário criou uma planta de tabaco luminosa, implantando nela genes de uma bactéria marinha que emite luz. A iluminação, porém, era tão fraca que só poderia ser percebida se as folhas fossem observadas por pelo menos cinco minutos em um câmara escura.
 
Por enquanto, o objetivo do novo projeto é modesto: “Queremos ter uma planta que será perfeitamente visível no escuro, mas não esperamos, ao menos no estágio inicial, que ela substitua lâmpadas”, ressaltam os biotecnologistas no site Kickstarter.
 
O grupo, no entanto, gerou controvérsia ao usar o espaço para sugerir que cientistas criassem “novas formas de vida”. Por mais que a mensagem pareça promissora, seus críticos estão alarmados com a ideia de que esses experimentos sejam realizados em garagens. Temem a geração, mesmo que acidental, de organismos malignos.
 
Duas organizações ambientais, a Amigos da Terra e o Grupo ETC, pediram para o Kickstarter não divulgar o projeto em sua página na internet. O apelo contra a iluminação de plantas também foi endereçado ao Departamento de Agricultura dos EUA, responsável pela regulação de culturas geneticamente modificadas.
 
De acordo com seus críticos, o novo projeto “provavelmente resultará no lançamento difundido, aleatório e descontrolado de sementes e plantas obtidas por técnicas controversas e arriscadas da biologia sintética”.
 
As organizações ressaltam que a iniciativa promete entregar sementes aos contribuintes, tornando-o, talvez, “o primeiro com intenção declarada de liberar organismos de ‘biologia sintética’ para o mundo inteiro”. O Kickstarter afirmou que os críticos deveriam levar sua queixa aos organizadores do projeto. O Departamento de Agricultura ainda não se pronunciou.
 
Antony Evans, coordenador do projeto das plantas brilhantes, garantiu em uma entrevista que a atividade é segura:
 
– O que faremos é idêntico ao realizado em laboratórios de pesquisa e grandes instituições nos últimos vinte anos. Temos plena consciência do precedente que abriremos com o esquema faça-você-mesmo. Parte dos recursos será usado para discutir medidas de política pública.
 
A biologia sintética é um termo nebuloso, difícil de ser diferenciado da engenharia genética. Em seu modo mais simples, a última envolve extrair um gene de um organismo e implantá-lo no DNA de outra forma de vida. A biologia sintética, por sua vez, envolve a síntese do DNA para que ele seja inserido. Sua flexibilidade permite ultrapassar os genes encontrados na natureza.
 
O projeto da planta brilhante é a menina dos olhos de Evans, um empresário de São Francisco, na Califórnia, e do bioquímico Omri Amirav-Drory. Eles se conheceram na Universidade Singularity, um programa que introduz empreendedores à tecnologia futurística. Amirav-Drory comanda a companhia Genome Compiler, coordenadora de um programa que desenha e sintetiza sequências de DNA.
 
Kyle Taylor, que recebeu seu doutorado em biologia molecular e celular no ano passado pela Universidade de Stanford, comandará a instalação do DNA sintético na planta. A pesquisa será feita, ao menos inicialmente, no BioCurious, um laboratório comum no Vale do Silício, que se descreve como um “espaço hacker para a biotecnologia”. (Andrew Pollack, do New York Times / O Globo).