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Informativo 570 – Paulo Vanzolini; polinização e Caatinga

1 – Morre o compositor e zoólogo Paulo Vanzolini

2 – Estudo traz uma síntese do efeito de diferentes aspectos locais e da paisagem na polinização por abelhas nativas em agroecossistemas.

3 – Caatinga pode ser mais eficiente do que florestas tropicais na absorção de gás carbônico

 

1 – Morre o compositor e zoólogo Paulo Vanzolini

Além de brilhante carreira na zoologia, Vanzolini entrou para rol dos maiores compositores da música brasileira
O compositor e zoólogo Paulo Vanzolini morreu na noite deste domingo (29). A morte foi anunciada pelo Hospital Israelita Albert Einsten, em São Paulo, onde estava internado desde quinta-feira (25), na Unidade de Terapia Intensiva, em decorrência de pneumonia. Com velório fechado ao público, o corpo de Vanzolini será enterrado na tarde de hoje no Cemitério da Consolação.

Formado em medicina no Brasil e com doutorado em biologia pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, o zoólogo dedicou seus estudos aos répteis e anfíbios. Foi diretor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) e autor da lei que criou a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Sócio da SBPC desde sua fundação em 1948, o pesquisador foi conselheiro da entidade por dois mandatos: de 1973 a 1977, sob a presidência de Oscar Sala; e entre 1983 e 1987, no mandato de Crodowaldo Pavan. Sua contribuição na área das Ciências Biológicas rendeu o prêmio da Ordem Nacional do Mérito Científico com a classe Grã-Cruz. Também foi premiado pela Fundação Guggenheim, de Nova York.

Além de brilhante carreira na zoologia, Paulo Vanzolini entrou para rol dos maiores compositores da música brasileira com sambas clássicos, como “Ronda”, “Praça Clóvis”, “Volta por Cima” e “Na Boca da Noite”.

(Jornal da Ciência)

Veja outras notícias sobre a morte de Paulo Vanzolini:

O Globo:
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2013/04/morre-o-compositor-paulo-vanzolini.html

Folha de São Paulo:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/04/1270107-compositor-paulo-vanzolini-morre-aos-89-anos-em-sao-paulo.shtml

Correio Braziliense:
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2013/04/29/interna_brasil,363043/morre-aos-89-anos-o-compositor-de-ronda-paulo-vanzolini.shtml

O Estado de São Paulo:
http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,morre-o-cientista-do-samba,1026721,0.htm

 

2 – Estudo traz uma síntese do efeito de diferentes aspectos locais e da paisagem na polinização por abelhas nativas em agroecossistemas.

Artigo de Valdir Lamim-Guedes para o Jornal da Ciência
As abelhas são o principal grupo de polinizadores, ou seja, animais que fazem a transferência de pólen de uma flor para outra, possibilitando a fertilização dos óvulos e, consequentemente, o desenvolvimento do fruto e sementes. A dependência dos polinizadores pelas plantas é variável, desde plantas totalmente dependentes, como o maracujá, até relativamente independentes, cujo café é um exemplo, e aquelas que não dependem de polinizadores, como é o caso da banana.

Muitos estudos têm ressaltado a importância da polinização para o sucesso da produção agrícola, permitindo ganhos entre 5 e 40% em cafezais, por exemplo. Também são apresentadas novas evidências da importância da paisagem em torno das plantações para o fornecimento de um bom serviço ambiental de polinização, ou seja, para que existam abelhas ou outros polinizadores que façam a transferência de pólen entre flores, deve haver morfologias adequadas da flor e do animal, e que o fluxo de pólen seja apropriado.

Um estudo publicado recentemente, na renomada revista Ecology Letters, traz pela primeira vez uma síntese global, quantitativa, combinando composição da paisagem (se há florestas, monoculturas, policulturas), tipo de manejo das áreas agrícolas (convencional ou orgânico) e diversidade vegetal de cada sítio. O paper, que sintetiza dados de outros 39 estudos, concentrou-se nas abelhas por serem bem conhecidas e por polinizarem a maior parte das espécies vegetais, embora borboletas, aves e morcegos entre outros animais também sejam polinizadores.

O estudo, assinado por 41 autores, incluindo a Profa. Dra. Blandina Viana, da Universidade Federal da Bahia, reforçou que regiões mais diversas, tanto em relação à paisagem, como em espécies vegetais, apresentaram mais abelhas (maior abundância) de diferentes espécies (maior riqueza de espécies). Além disto, ambientes com manejo orgânico e com alta diversidade botânica (sistema agroflorestal e/ou de policultura, como hortas) também são ambientes melhores para as abelhas, isto é, fornecem recursos alimentares, basicamente néctar e pólen, e locais para fazer seus ninhos.

No extremo oposto, existem os desertos verdes, extensas áreas de monocultura com menor riqueza de espécies de abelhas e baixa densidade. Consequentemente, a eficiência da polinização é comprometida. Os pesquisadores encontraram uma relação inversa entre a proximidade de ambientes semelhantes e a presença e diversidade de abelhas. Contudo, ainda é incerta a resistência destes animais à fragmentação de ecossistemas.

O mérito do estudo está em confirmar diversas evidências já levantadas em outro trabalhos, a partir de uma extensa base de dados coletados em 5 continentes. O estudo revela que a persistência dos polinizadores dependerá tanto da manutenção do habitat de alta qualidade em torno das áreas de agricultura, assim como na adoção de práticas de gestão locais que possam compensar os impactos da monocultura intensiva. Estas práticas incluem a redução no uso de agrotóxicos e a existência de vegetação nativa no meio das monoculturas, formando corredores que funcionam como refúgios para as abelhas nativas.

Ao fazer a síntese de estudos realizados com diferentes plantas cultivadas em várias partes do mundo, o trabalho amplia as suas conclusões. Ele é uma importante contribuição para a definição de políticas públicas nacionais e internacionais para a manutenção dos serviços de polinização, assim como para a proteção das abelhas nativas.

Em comparação com o mico-leão-dourado e outras espécies bandeiras – por serem usadas para defender outras espécies menos chamativas da atenção do público -, os serviços de polinização e as abelhas podem ser usadas para defender formas de produção agrícola mais sustentáveis.

Referência
Kennedy, C. M. et al. A global quantitative synthesis of local and landscape effects on wild bee pollinators in agroecosystems. Ecology Letters. Vol. 16, nº. 5, p. 584-599, maio de 2013 (publicado primeiro on-line). Disponível em . (com acesso gratuito). Valdir Lamim-Guedes é biólogo e mestre em ecologia pela Universidade Federal de Ouro Preto.

 

3 – Caatinga pode ser mais eficiente do que florestas tropicais na absorção de gás carbônico

Duas estações micrometeorológicas em Campina Grande, na Paraíba, vão monitorar o dióxido de carbono absorvido pelas plantas da região
A vegetação da Caatinga pode ser proporcionalmente mais eficiente do que as florestas úmidas para absorver o gás carbônico presente na atmosfera, em um processo natural, conhecido como sequestro de carbono. É o que pesquisadores do Instituto Nacional do Semiárido, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, querem provar. Para isso, iniciaram um estudo por meio do qual foram instaladas duas estações micrometeorológicas em Campina Grande, na Paraíba, para monitorar o dióxido de carbono absorvido pelas plantas da região.

Segundo o físico Bergson Bezerra, pesquisador do Insa, o grupo pretende, com os resultados, conscientizar os governos e, principalmente, a população que vive no Semiárido sobre a importância de se preservar a vegetação nativa como forma de mitigar os impactos das alterações no clima da região.

“Construiu-se um preconceito em relação à Caatinga, sustentado na ideia de que ela representa um ambiente hostil e inóspito. As pessoas sempre acreditaram que ela não servia para nada, que era melhor retirar toda a Caatinga e substituí-la por [vegetações] frutíferas, por exemplo”, disse. “Queremos provar cientificamente que isso não tem fundamentação”, completou.

O pesquisador defende que se o produtor rural recuperar essas áreas com espécies nativas estará contribuindo não apenas para a “preservação do patrimônio do Semiárido”, mas também para o combate às alterações climáticas, por meio da absorção eficiente do carbono na atmosfera.

“Estudos revelam que as florestas tropicais têm alta capacidade de sequestrar carbono [da atmosfera], mas elas também apresentam altos níveis de emissão, que ocorre, por exemplo, com a queda de folhas. Já a Caatinga, não sequestra tanto, mas emite quase nada e queremos investigar esse grau de eficiência, que acreditamos ser maior no caso da Caatinga”, disse.

Bergson Bezerra enfatizou que os três primeiros meses de observação, já trouxeram “resultados auspiciosos”. “Será um estudo de longo prazo, com conclusão prevista para 2015. Mas essa observação preliminar já nos permitiu constatar que mesmo no período seco, quando a planta fica totalmente sem folha e com estresse hídrico, ainda há sequestro de carbono, ou seja, ela ainda cumpre seu papel ambiental.”

Ele ressaltou que com a chegada da estação chuvosa, nos meses de maio e junho, os pesquisadores acreditam que a atividade fotossintética será acentuada, com sequestro de carbono ainda mais intenso.

A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro e um dos mais alterados pelas atividades humanas. Trata-se de um tipo de vegetação que tem fauna e flora com grande diversidade de espécies e cobre a maior parte da área com clima Semiárido, principalmente da Região Nordeste. Ela é apontada pelos pesquisadores como um dos biomas mais vulneráveis às mudanças climáticas associadas aos efeitos de aquecimento global e pela exploração pelo homem de forma desordenada e insustentável. (Thais Leitão, Agência Brasil).